quarta-feira, 30 de junho de 2010

Não, ainda não vi o Sexo e a Cidade II


Poderia debitar aqui um extenso rol de desculpas: estou assoberbada com trabalho, extenuada; mal me aguento em pé depois do sol se pôr, quanto mais sentar-se no escurinho do cinema, sítio ideal para uma soneca; fui raptada por extra-terrestres e só agora me libertaram; o cão comeu-me o trabalho de casa, eu sei lá, as típicas razões pelas quais não fazemos as coisas que deveríamos fazer.
Poderia debitá-las porque, exceptuando uma ou outra mais atrevida do ponto de vista lógico (e aqui refiro-me, obviamente, ao cansaço e ao excesso de trabalho) todas as outras são verdadeiras. Mas a mais profunda das razões pelas quais ainda não peguei no meu rabinho e o arrastei a um cinema perto de mim para ver a saga do Sex and the City é de cariz psico-emocional. O medo do fim. Por isso prefiro alimentar a esperança de ele ainda ali está, à minha espera, perfeito, tal como sobrevive na minha cabeça.
Sou tão seguidora do Sexo e da Cidade, mas tão, tão tãozinha, que no dia em que assisti ao último episódio perguntei a mim mesma se haveria vida depois daquele momento. Depois da comoção inicial lá consegui recuperar do duro golpe psicológico e da sensação de perda, até porque entretanto se começou a falar da hipótese do filme, a que assisti no meio de intensa emoção. Não me desiludiu. Dificilmente o faria, convenhamos, já que, tal como uma amante apaixonada, perdoo as pequenas falhas no guarda-roupa, algum ou outro momento menos conseguido, enfim, ao amor da nossa vida perdoa-se tudo. Mas será que continuarei a fechar os olhos às pequenas gaffes? E se eu, nesta altura do campeonato, já estiver farta das meninas? E se ao lançar os olhitos para o ecrã as achar velhas e acabadas? É que, afinal, não fui só eu que entretanto celebrei aniversários. Com a diferença de que na vida real o envelhecimento é um facto que aceitamos com maior naturalidade do que as rugas das imagens imortais que povoam o nosso imaginário. É que ver a uma Samantha enxuta a fazer sexo oral a um tipo atrás da porta mete piada, mas ver uma tipa de avançada meia-idade com a piroca de um teen na boca se calhar já repugna. Os acidentes amorosos da Carrie servem-nos de algum consolo quando estamos na casa dos 30 e ainda procuramos o príncipe encantado, mas estou em crer que quando eu tiver 40 e tal anos gostaria que os problemas dela se identificassem mais com os meus: dores de cabeça com os filhos, crises de antecipação de meia-idade, essas coisas de gente mais adulta. Confesso: tenho receio que o Sexo e a Cidade continue ad eternum a enviar-nos sequelas até ao ponto em que perca a sua magia.
Sei que os homens questionam o motivo da nossa fidelidade às histórias das meninas. Não percebem como nos podemos nós - míseras criaturas de um Portugalzinho minúsculo, a viver de salários exíguos e com o uma vida cujo pico do glamour está em fazer compras no Clud Gourmet do Corte Inglês e não no Mini-Preço – identificar com aquelas fabulosas heroínas de calçam Manolos (nesta versão, Louboutin, que parece que o menino Manolo se queixou do excesso de publicidade aos seu produto) e vestem Prada (exactamente como diabo), que bebem um Cosmopolitam que custa tanto como o meu jantar, que dormem com 10 tipos por mês, sem apelo nem agravo, como quem diz, sem remorso nem vergonha. É certo que Lisboa não é a Big Apple, nem as minhas breves reflexões são as crónicas da Carrie, nem os homens altos são necessariamente Mr.’s Big’s. Mas isso é o embrulho. Porque o conteúdo, esse, é tão comum a todos nós como a qualquer mulher de uma sociedade do chamado mundo ocidental. Quem nunca reencontrou um ex-namorado, já quase esquecido, agora papá do filho de outra mulher , e pergunta para mim mesma: “onde é que eu estava com a cabeça quando larguei este tipo?”. Quem nunca se envolveu um homem tão medíocre e cobarde que tenha acabado uma relação por mail, mensagem ou post it? Quem nunca teve a companhia de uma amiga num daqueles momentos em que nos apetece atirar para a linha do comboio (e só não o fazemos porque estamos conscientes de que lixaríamos a vida a uma série de pessoas e além disso levaríamos para o funeral um cadáver bem feiinho) e agradecemos aos céus que ela exista, e esteja ali, por nós e para nós? Quem nunca se perdeu de amores por uma carteira, um vestido, uma anel, e num acto de loucura faz um desvio dos fundos privados da conta bancária? Quem nunca sentiu uma dor quase apendicitica no coração ao ver the special someone com outra mulher?
O que eu quero dizer com isto é que aqueles dramas, e alegrias, e desgostos, e temores, e esperanças, e ansiedades, e fúrias, são de nós, de todas nós. Com mais ou menos dinheiro, com mais ou menos quilos, com mais ou menos cruzetas no guarda-vestidos, há uma essência de ser mulher. Os problemas são quase sempre os mesmos. Os pensamentos. Os desejos.
Suponho que uma das maiores críticas que nos chegam das hostes masculinas se prende com o teor das conversas femininas, tal como ali vêm retratadas. Explicitas. Cruamente explicitas. É isso que demonstra que aquilo é pura ficção? As mulheres não falam assim? Não são tão fotográficas nas descrições sexuais? Até porque as mulheres não têm aventuras nem falam se sexo, só de amor? Please… gimmy a break. Quem diz tal barbaridade, das duas uma: ou nitidamente não conhece as mulheres, ou, nitidamente também, conhece apenas senhoras de 105 anos, criadas toda a vida em colégios de freiras, e, bem provavelmente, cegas, surdas e mudas. As mulheres falam de sexo. Oh sim, se falam! Contam coisas. Descrevem coisas. Às vezes até o tamanho das coisas. De modo que… cresçam!
Aliás, nem seria má ideia que dessem uma espreitadela no filme. Pode ser que assim nos percebam um bocadinho melhor (na medida em que seja possível compreender as mulheres, claro está).

4 comentários:

  1. Mais uma coisa em comum, miúda: http://poraquipasseimesmoeu.blogspot.com/2009/10/verdades-e-assim-assim_21.html
    (vi no teu facebook, embora não tenha e só consiga ver a primeira página :))
    Beijinho*

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  2. eu sou homem, apesar de as vezes as minha acções me fazerem duvidar disso, nada de problemas com o ser homem, mas mais a ver com a forma do que sinto e como me comporto em relação a esses seres que vieram de venus para aqui. Mas pronto eu sou homem e ja fui ver o sexo e a cidade II e apesar de te conhecer a pouco tempo, creio que vais gostar do filme.
    As piadas rapidas, inteligentes estão lá.
    As duvidas que todos nos que ja passamos dos 30 anos, e que estamos solteiros e em alguns casos casados estão lá, uma conclusão moralista e excelente esta la no fim.
    E podemos morar em Portugal, mas para ale mdo orgulho que tenho nisso e em ser portugues, tambem acho que a mulher portuguesa, mesmo as louras, são do melhor que a especie que veio de Venus tem para oferecer. Por isso te digo pega em em ti e nas tuas amigas e VAI VER O FILME, porque se ique vais gostar. ;)

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  3. Gosto especialmente da parte em que referes "mesmo as louras". Aposto que para quem gosta tanto de morenas essa custou a dizer (gotcha!!)

    Um beijinho A.

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