terça-feira, 22 de junho de 2010

Queiroz de Neve e os 7 golos (e sem bruxa má)


Parecia que não era, mas foi. Finalmente os portugueses têm alguma outra coisa em que pensar que não seja a crise. Claro que a morte do Nobel já tinha sido uma ajuda para nos distrair da desgraça (e que mal nós estamos para ser uma morte a funcionar como distracção), mas foram as 7 vezes que a bola entrou por aquela baliza adentro que verdadeiramente nos levaram para longe do PEC, da subida dos impostos, das portagens, do défice, do FMI, e de todos outros castigos que caem sobre os meninos maus que elegeram políticos ainda piores.
É sabido que somos o país dos F’s, (e não incluo aqui o bom do frango assado, nem o farfalhudo do bigode do GNR e do buço da Ti Maria, nem sequer o folclore transmontano). Mas não deixa de ser estranho que esta alegria nos seja dada por uma selecção com a qual andámos durante meses com as candeias às avessas.
Tudo começou porque o seleccionador não foi uma escolha consensual. Por muito que se tenha criticado o Felipão, certo é que ao vermos o carisma do professor muitos bradaram “volta Scolari, estás perdoado”. Afinal, o senhor poderia ter os seus defeitos, mas, pelo menos, ganhava jogos. E, basicament, é isso que se lhes pede. Tudo o mais – e neste “tudo” incluo o fenómeno social que se gerou à volta da selecção e que transformou este rectângulo num mar de janelas com a bandeira ao vento – foi apenas um bónus. Depois, as escolhas do Professor. Bem sei que não sendo nós um gigante demográfico como a China temos menos mão-de-obra disponível. Depois, falta-nos aquele específico ADN que faz com que os brasileiros e os argentinos nasçam já com uma bola nos pés. Mas, ainda assim, serão aqueles 23 os melhores que existem entre nós? Até eu sou mais prendada que o Paulo Ferreira caramba! Além do mais, é ou não verdade que demos ao mundo, num curto espaço de tempo, dois dos melhores jogadores, sendo que um deles ainda joga (e jogará enquanto as modelos e as actrizes não lhe sugarem a energia toda)? Valha-nos a escol a do Sporting, que não ganha jogos, mas cria génios. É caso para perguntar de quantos mais brasileiros necessitamos para ganhar o campeonato.
Depois temos os casos obscuros. O Nani vai e volta mais depresa do que eu me dispo num provador de roupa. Sem grandes explicações. Que isto do Mister (um must!) ser amigo do treinador do Manchester United traz consigo obrigações de silêncio, uma espécie de segredo médico que fica mal nestas coisas porque, ao fim ao cabo, o seleccionador nacional não deve lealdade a mais ninguém que não seja a todos nós, que lhe pagos aquele ordenado milionário que ainda está por justificar. É então que o português Anderson Luis de Souza comenta os actos do treinador e assim do nada surge-lhe uma lesão, na coxa direita. Perdão, na anca direita. Perdão, na anca esquerda. Pode ter havido 25 de Abril no país, mas não houve na selecção, e ai de quem falar contra o treinador. Tem que pedir desculpa. Desculpa de quê? Por pensar? Deco poderá ter sido muita coisa, entre elas inoportuno, mas ofensivo não foi. Ofensivo é o Rui Santos (devo ser a única pessoa no país inteiro que ainda gosta de o ouvir) que se esquece de comentar com suposta neutralidade, de tal forma anda cego com uma amizade com o Queiroz que lhe tira qualquer credibilidade nesta matéria.
Não vou discutir tácticas, até porque não domino suficientemente o futebol para saber se o 4-3-3 é ou não melhor do que o 3-4-3, ou se o Meireles está mais solto com o Tiago do que com o Deco. Afinal, o principal motivo pelo qual vejo os jogos são os jogadores. Especialmente quando tiram a camisola. Ou quando se chamam Roque Santa Cruz. Mas já ando nisto há tempo suficiente para não acalentar muitas esperanças com esta selecção e com este seleccionador.
Como se tudo isto não bastasse, o próprio Mundial em si parece inquinado. Ele são jornalistas e jogadores assaltados (logo os gregos, tadinhos?). Ele são selecções que se recusam a treinar. Ele são supostas deserções. Ele são jogos onde o árbitro valida um golo alimentado por duas intervenções de braço, e faz questão de dizer ao Fabiano, no meio de um sorriso trocista, que viu. Ele são jogadores com porte de porteiro de discoteca a cometer faltas graves durante 90 minutos sem um único cartão. Ele são expulsões vindas do nada quando um jogador dá a outro um ligeiro encontrão no peito e este outro se queixa calimericamente (“oh, pauvre de moi!!!”) da cara (faço notar que tudo isto num único jogo).
Dito isto, pareceria que nada de mais interessante se poderia passar neste Mundial. Mas não. Ontem à tarde passou-se uma coisa tão interessante que de repente o país parou. 10 milhões de portugueses a almoçar certeiramente ao mesmo tempo deram azo a uma euforia que até agora não tinham motivo para exprimir. E fizeram-nos 7 vezes.
Devo dizer que não esperava outra coisa. Ou melhor, esperava muitas coisas, porque desde os jogos de preparação até ao jogo com a Costa do Marfim aquele grupo transmitiu a ideia que andam todos para ali a tentar carregar com as panças (sobretudo tu Miguel). O que quero dizer é que, de quem aufere uma diária de 800 euros (o que dá 16 mil euros em três semanas), e está a gastar mais em mordomias do que todas as outras selecções (excepto a francesa, e já se viu no que dá), não se pode esperar outra coisa senão isto.
Temo que na 6.º feira, mesmo sem Kaká, o Brasil nos dê abada. É que nós jogámos bem. Mas, sobretudo, eles jogaram mal. E o Brasil, para mal das nossas conquistas pelos mares, raramente joga mal. Mas até até 6.º deixem-me viver inebriada com esta história de encantar.

5 comentários:

  1. Olá Vera!
    Tenho a dizer que não fiquei com a melhor das impressões acerca de ti, depois de seres minha professora(eras um bocado mazinha... mas talvez fosse eu quem devesse ter outra atitude). No entanto, tenho que admitir: porra!, escreves mesmo bem. Para além das histórias serem giras, tens uma escrita escorreita. Parabéns-espero que signifiquem alguma coisa, vindos de um mero aluno.

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  2. Caro XO Dtor
    Não sei bem o que dizer... o texto é elogiado, euzinha é que não.
    Só me ocorre garantir-te Nuno que sempre me diverti nas minhas aulas, e que gostaria que se tivessem divertido comigo. Mas gostaria ainda mais de pensar que tinham aprendido alguma coisa para lá de debitar o que vem nos livros, que se tornaram mais destemidos e com menos medo de cair no ridiculo, onde, afinal todos aimos em algum momento. Se isso aconteceu contigo ainda bem que fui má QB.
    ;)

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  3. Não foi minha intenção fazer qualquer ataque pessoal... Era apenas um feedback de um ex-aluno... Até eras uma professora à maneira, mas um bocado rígida. Não eras tu, era a UC, está claro!! Quem lá andou sabe ;)lol.
    Estou à espera dos teus livros (não de direito, embora também tenhas muito a dizer sobre a matéria!).
    Beijos

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  4. Eu sei que não era um ataque à pessoa. Se o fosse já estava a preparar a bomba atómica.
    Gosto sempre muito que gostem do que eu escrevo. E espero também que um dia gostem da tese. Porque antes da dita não há disposição nem disponibilidade para nenhum livro.
    E vai o teu esse feed back. Até porque gosto sempre de saber por onde andam os meus meninos, por mais crescidos que sejam.

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