domingo, 13 de junho de 2010

A síndrome da emoção excessiva


É bem patente que fisicamente não sigo o estereótipo da mulher latina. Sim, o tamanho do rabo está cá (para mal das minhas calorias) mas o resto situa-me algures entre uma emigrante da Europa do Leste e uma princesa russa caída em desgraça.
Mas cá dentro, ah, cá dentro sou do mais latino que há. You know what I mean. O sangue ferve-me nas veias de uma forma tal que poderia estrelar um ovo no antebraço.
É claro que me reporto a concepções estereotipadas do que são os povos do norte e do sul. Conheço por aí alguns hispânicos que são tão insonsos e “indoces” como a comida da minha avó, ao passo que o meu primeiro namoradinho, um polaco de quase 2 metros (sim, a certa altura da minha vida cheguei a acreditar que o meu apelido iria ser Jacinsky) parecia um latin stallion. Mas, de modo geral, os que estão abaixo da linha do Equador ou mesmo nós, que mais perto estamos dela, partilhamos alguns traços psicológicos que nos podem tornar apaixonantes… ou exasperantes. Por tudo é nós é, simplesmente, excessivo.
Acho que nunca na minha vida estive feliz. Nem triste. Porque aquilo que os outros chamam felicidade para mim torna-se o sentimento de suprema exultação, uma orgia cá dentro que me faz pensar estar acima dos comuns mortais, que se bastam com aquele estado de superficial alegria. Tristeza? Não. Uma demência que me arrasta para as profundezas mais recônditas da alma, lugares escuros e inóspitos, que me causam sintomas físicos profundos, como se tivesse sido assaltada por uma doença mortal: insónias, dores de estômago, vómitos. O sonho de qualquer mulher em regime de dieta porque nesse estado de sonambulismo emagreço mais depressa do que a Kate Moss.
Nem sequer acho que alguma vez na minha vida estive aborrecida com alguém. Tenho fúrias mortais em relação às pessoas, dignas do “Padrinho” de um filme de mafioso. Quando me magoam as minhas mágoas levam anos a sarar, deixando cicatrizes imensas, algumas duram até hoje. Em suma, nada é levado de ânimo leve.
Dito isto, é fácil antever como sou nas paixões. Arrebatadores, loucas, possessivas. Como se em cada relação revivesse Julieta pronta a morrer pelo seu Romeu.
Não é difícil concluir que as relações comigo são, no mínimo, atribuladas. Com os amigos, com todos aqueles de quem gosto, e especialmente, com aqueles de quem mais gosto. Não sou aventura para homens mais pacatos. Todas as minhas paixões foram atribuladas, cheias de discussões constantes para depois acabarem em lágrimas, pedidos de perdão, baba e ranho por tudo quanto é sítio, cenas melodramáticas. Ora, isto pode ser extenuante. Para mim, o amor é assim, mas como as pessoas normais têm percepções bem mais saudáveis do que é a vida em relação esbarro sempre na minha incapacidade para experimentar a serenidade de um amor tranquilo. Continuo à procura.
Nem sei ao certo o que mais me conviria a mim. Se alguém tão efusivo como eu, se alguém que, com a sua placitude, acalmasse a minha índole. Quanto estou com criaturas vulcânicas percebo perfeitamente que nos levaremos facilmente à loucura e que aquela paixão tem os dias contados, sob pena de tudo terminar num crime passional. Quando estou com homens tranquilos sinto a falta daquele ímpeto e parece que vou morrendo aos poucos de tédio.
Não sei viver de outra forma. Tenho-me esforçado por ser mais comedida, mais sensata, mais serena, mas não está no meu código genético. Se a vida de alguns dava um filme indiano, já a minha dava um romance do Dostoevsky.
Não me estou a vitimizar. Na verdade, nem sei se conseguiria a vida plácida e tranquila que o ser humano médio vive. De certa forma, a possibilidade de poder exponenciar as minhas emoções quase que tem alguma coisa de divino e me aproxima dos deuses. Lá no Olimpo não havia espaço para sentimentozinhos. É verdade que a minha tristeza é sempre uma angústia, e nunca sei se não me cai em cima uma dor tão profunda e lancinante que acabe de vez comigo e com este pobre coração já tão desgastado. Mas, por outro lado, quando estou feliz a minha felicidade é maior do que a vossa. E quando estou apaixonada sinto o amor como uma autêntica Dama das Camélias.
Viva. Sinto-me sempre viva porque, afinal, sinto tudo. Nunca posso dizer que a minha existência é monótona. Viver no abismo. In the edge. Puxar a corda sempre mais um pouco. A emoção é sempre um bocadinho mais intensa. Quase que diria que sou viciada nisto. A minha heroína são os sentimentos. E o temor de uma overdose emocional está sempre à espreita.
Será isto uma doença? Uma deficiência? Será que me permite ter uns dias de baixa por cada mês? Ser-me-á permitido descontar no IRS a minha incapacidade psicológica? Ou, melhor ainda, posso ter um autocolante com um o desenho de uma cadeira de rodas na alma que me permita estacionar nos lugares para deficientes no centro comercial?

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