quarta-feira, 4 de maio de 2011

A conta por favor. Quero pagar o jantar e a miúda


Será que quando aceitamos um convite para jantar no contexto de um suposto date, é suposto que esse suposto cavalheiro pague as despesas da noite? Não as supostas, mas efectivas, entenda-se.
Esta tem sido uma discussão reincidente entre mim e o meu grupo de amigos e amigas.
Ora, para não variar, a doutrina divide-se.
Um amigo meu chamou-me retrógrada, feminista de meia haste, e outros epítetos que tal. E eu dou-lhe meia razão. Não nos epítetos, claro está, mas na justificação subjacente. O argumento dele é que não se pode exigir só a igualdade que nos convém e rejeitar a outra. E eu assino por baixo.
Demorámos muitos anos para ter os mesmos empregos, os mesmos salários, a mesma liberdade sexual. Não podemos deitar tudo a perder por causa da conta de um jantar. E a isto ainda acrescento outra linha argumentativa: será que quando o tipo paga o jantar pensa que também nos está a pagar a nós? Será que os 50 ou 60 euros de entradas, vinho, prato e sobremesa, são uma espécie de fundo de garantia de naquela noite não vai para casa de mãos a abanar… so to say?
Admito que este é um receio que já me tem passado pela cabeça no momento em que o empregado aparece com a máquina multibanco. Se eu o deixar pagar corro o risco de na sua cabeça este meu comportamento funcionar como promessa de uma noite bem passada, mas num sentido diferente daquele que eu tenho em vista?
Porém, escrevi demasiado sobre a igualdade de género para me dar ao luxo de poder fazer afirmações mais provocatórias. E por isso vou fazer uma dessas agora, que mais não seja para animar as hostes: não me choca nada, pelo contrário até acho desejável, que a igualdade de género não impere em todos os domínios da vida.
E assim entramos de rompante na teoria do outro sector doutrinal a este respeito: de facto, no âmbito de um date, o homem deve pagar.
A sedução é um jogo estranho, de gato e rato por assim dizer. Nesse estranho jogo espero – uma legítima expectativa – que vou ser seduzida. E eu, tão liberal em tantas outras coisas, acabo por ser tremendamente conservadora nestas, e gosto de sair com cavalheiros que me vão buscar a casa, me abrem a porta do carro, me deixam caminhar do lado do passeio, pagam a conta e me ajudam a vestir o casaco no final.
Feministas deste mundo, desculpai se vos desiludo, mas eu acho que lutámos para isto mesmo: para cada uma de nós poder viver a vida como bem entende. E no meu manual de instruções aparece esta regra: homem que esteja interessado em mim tem que me mimar.
Não tem dinheiro? Não me importo de comer um McChicken.
Não está para estas coisas? Há muitas mulheres por aí.
No final dá o dinheiro por mal empregue porque vai sozinho para casa? Isto não é uma troca de serviços, é uma demonstração de gentileza.
Claro está que se a noite correr bem e continuarmos a peregrinação dos jantares, e daí transitarmos para os fins-de-semana e para as férias, não estou à espera que a alminha continue a suportar financeiramente o romance. Em bom rigor, depois daquela primeira, noite já não espero nada. Depois depende da conta bancária de cada um e da sua forma de estar na vida. Faço até muito gosto em pagar muitos cafés, muitos jantares, muitas viagens. Após o tiro de partida devemo-nos ir revezando nesta corrida sob pena de um se tornar um peso morto para o outro. Mas… as impressões é que contam certo?
Escuso de dizer que esta regra não se aplica a amigos. Porque esses já nos estão no coração, já não precisam de nos impressionar, de nos ganhar. Por isso podem dar-se ao luxo de nos pedir boleia sempre que queiram, de viver dos jantares e das farras que lhes pagamos, até de vomitar na nossa frente. No fundo, quase se denota aqui uma injustiça: é que os amigos já têm de forma gratuita aquilo que os potenciais namorados demoram muito tempo a ter. Por outro lado, talvez não seja tão injusto assim porque os potenciais namorados terão coisas de nós que os meros amigos nem sequer suspeitam. De modo que vislumbro aqui um equilibro quase cósmico.
E agora a pergunta fatal: repeti o date com algum quase-cavalheiro que tenha ficado aquém da expectativa?
Não. Dou por mais bem empregue o meu dinheiro se pegar num amigo meu e o convidar para jantar.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Mil e uma razões para não me casar contigo


Guys, o príncipe William lixou-vos e bem. Basicamente, estragou-vos toda e qualquer desculpa possível para adiar um casamento que se apresenta como mais que anunciado.
Senão, raciocinem comigo: se o herdeiro à coroa britânica, instituição de larga tradição tem um rasgo de paixão, e depois de uma atribulada relação de anos decide sentar a seu lado uma plebeia, não será que se esvaziam assim todas as eventuais desculpas que alguém pode dar para não se casar?
Comemos por concordar que a vida do príncipe herdeiro deve ser – ou melhor, é – desgraçada. Não lhe invejo a riqueza, as mordomias ou os privilégios. Uma vida em que qualquer suspiro é ouvido na outra parte do mundo, em que não pode coçar os tintins sem que o resto do planeta saiba imediatamente, não pode escolher o profissão, nem onde morar nem com quem casar, essa não seria vida para mim.
Pois bem. Se um tipo que vive debaixo de tais constrições manda tudo às urtigas para se casar com uma mulher que ama, mesmo não tendo título nem dote, que dizer dos mil milhões de desculpas que todos os dias se ouvem para fugir à aliança no dedo?
Amo-te, mas não tenho um emprego estável.
Amo-te, mas não preciso de melhorar a minha situação económica.
Amo-te, mas tenho que me divorciar primeiro.
Amo-te, mas os meus filhos não aceitariam que eu me casasse.
Amo-te, mas um dia destes posso ter que ir trabalhar para o outro lado mundo.
Amo-te, mas não sei consigo dormir todas as noites acompanhado.
Amo-te, mas acho que não consigo prescindir de todas as outras mulheres que andam por aí.
Face ao exemplo do príncipe, todos aqueles que queimaram dias, meses, anos, a protelar um casamento não têm agora outro remédio senão reconhecer: Não te amo. Não me caso contigo porque não te amo. Só por isso. Fiz-te perder estes anos todos porque tinha medo de ficar sozinho e não encontrei ninguém por quem me apaixonasse. Não porque te ame a ti.
Não existe obrigação alguma de casar. Não é um papel que vai fazer a diferença na relação. Ou melhor, se alguma diferença faz será para pior certamente, porque a pressão do “até que a morte nos separe” pode matar muitas histórias de amor. Rectifico. Pode matar muitas pseudo-histórias de amor. Porque aquelas que são de verdade resistem a muita coisa: doenças, vulcões, tornados e, obviamente, vínculos matrimonias.
As pessoas são livres de nunca se casarem. Se essa for uma escolha a dois, livre e esclarecida, nada a apontar. Podem não se querer casar por miríades de razões, e todas elas certamente legítimas, sob pena de nos erguermos em juiz das razões de um e de outro. Mas têm que invocar que razões são essas. Não podem é esconder-se atrás de falsas desculpas para esconder aquela que é, em última instância, a razão suprema: não gosto de ti o suficiente para assumir um compromisso que nos una até que a morte nos separe ou até que um advogado me consigo um bom acordo de divórcio.
O príncipe tinha todas as razões e mais algumas para não casar com a Kate, mas ponderou que nunca delas era suficiente para a perder. Porquê? Porque gostava dela. E supostamente quando as pessoas gostam uma da outra comprometem-se para vida.
Este post não é uma apologia ao casamento. Longe disso. O abrupto número de divórcios a que se assiste hoje em dia (e que nem preciso de ir procurar em qualquer estatística do INE, basta-me olhar para aqueles que me rodeiam), acrescido do imenso desgaste e sofrimento que implica para todas as partes envolvidas, faz-me ter cada vez mais certeza de que o casamento deve ficar reservado apenas àquelas pessoas que efectivamente se ama. E note-se que nem aí é garantia segura que as coisas irão correr bem, pois o ser humano ama e desama com a mesma facilidade com que expira e inspira.
A vida a dois é uma coisa muito complicada. A vida a dois com uma aliança no dedo e uma promessa de “estou contigo” na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, é uma coisa ainda mais complicada, pois a pressão de saber que é para sempre pode bem fazer com que esse tal “para sempre” termine mais depressa. Se tudo isto é tão complicado e desafiante, deve-se partir para esta batalha armado e unhas e dentes, que é como quem diz, cheio de amor, paixão, respeito, cumplicidade, carinho, cheio de tudo. Quem só quer estar, passar um tempo, dormir acompanhado, ter alguém a quem apresentar aos pais, fugir à etiqueta de “encalhado”, responder à pressão social, enfim, quem não ama, não deve casar. Deve simplesmente ir ficando e ver o tempo passar. De modo que esta reflexão não é uma apologia ao casamento. Mas é um repúdio das mentiras, das falsas desculpas e da cobardia. É um apontar de dedo a todos o que não tem tomates para dizer: Não caso porque não gosto de ti.