sexta-feira, 26 de março de 2010
Putos mimados
Um grupo de alunos de uma escola russa espancou uma professora de educação física. A senhora tinha 73 anos e, se me permitem divagar sobre a parte caricata da história, devo manifestar a minha admiração por uma avó ainda se atrever a dar aulas de educação física, ainda para mais a alunos da secundária, que em regra estão naquela idade cientificamente confirmada como sendo a mais idiota e irritante pela que passa o ser humano.
Mas voltemos ao tema: um grupo de alunos de uma escola russa espancou uma professora. Parece que nem sequer era a primeira vez. Só que desta deram-se ao luxo de se armar em Tarantinos e meteram o vídeo a circular na net.
O caso não é inédito. Nem é preciso mudar de continente. Também nós tivemos o nosso dramazeco de criatura mimada a dar-se ares de Rambo perante uma professora num dos melhores liceus do país.
A realidade é que a má-educação se tornou numa epidemia. Tão preocupados que estávamos com a gripe das aves e a gripe A que nem vimos que os nossos filhos - enfim, os filhos dos outros - se estavam a transformar em pequenas aberrações. Verdade seja dita: esta pandemia não afecta apenas os menores de idade. Todos já tivemos experiências de 3.º grau com gente perfeitamente repugnante. Recordo aqui a fulaninha de ar macilento que me passou à frente na fila do fast food e quando a interpelei me respondeu que o mundo “estava era para os espertos”. Já sei… quem se empanturra com chips e ketchup merece todos os desaforos imagináveis pelas maldades que faz ao corpinho, mas ainda assim tenho para mim que não sou obrigada a levar com frustrações alheias porque já tenho que lidar com os meus próprios demónios. Na vã tentativa de evitar um confronto público – até porque eu sou muito latina nestas coisas e fervo numa gota de água – abandonei o local. Mas como a criatura teimou em vir atrás de mim gritando esganiçadamente referências à minha pessoa e, o imperdoável, à mamã, decidi que a senhora que havia em mim tinha que fechar um bocadinho os olhos e deixar sair cá para fora the wild me. Não chegamos a vias de facto, mas bem perto por lá andámos. Estou orgulhosa? Não. Estou tremendamente embaraçada com esta história. E só a relato aqui para demonstrar a minha “tese” sobre estas questões: o mundo está cheio de putos mimados.
Quem são eles? Gente de horizontes limitados, mentes estreitas, terrivelmente frustraos com a pessoa que são e com a vidinha que levam, que vivem de mal com o mundo, e que gostam de descarregar nos outros toda a sua angústia, como forma de esconder a pequenez de que são feitos. Os alvos da tamanha mesquinhez costumam ser aqueles que são mais fracos, ou que têm aparência disso: uma senhora de 73 anos, os mais velhos, os mais novos, os mais doentes. No meu caso, este ar pseudo-angelical, de vestidinho às flores e cachinhos dourados no cabelo deve passar uma imagem de doçura, quase tontice. Mas como nem tudo o que parece é a senhora fulaninha teve o azar de marrar com alguém cujos maus feito e intolerância perante a tacanhez são quase lendários. De modo que o único consolo que tenho por ter perdido a compostura e adoptado comportamentos que em nada abonam a meu favor é pensar que, quem sabe, da próxima vez que a criatura abrir aquela boca para disparar palavras feias e maldosa apensará duas vezes se não irá dali com uma resposta mais certeira e, atrevo-me a dizer, com o nariz de encontro à testa.
É isso que falta a esta gentinha toda que por aí anda a magoar e a desrespeitar os outros: uma bela palmada ou um par de açoites bem dados. Hoje em dia isso parece tabu. Castigaras crianças? Nunca. Porque as traumatiza, porque no diálogo é que está o ganho, porque criará adultos revoltados. Meus senhores, não advogado maus tratos, nem sequer que a palmada se transforme no castigo por excelência. Mas causa-me espécie ver tanta criancinha por aí a berrar pelos cantos, a interromper conversas de adultos, a dizer palavras cujo significado só aprendi depois de fazer 18 anos (já sei, sou uma totó), a maltratar animais pelo puro prazer do sofrimento, a destratar os pais, professores e coleguinhas. E penso para com os meus botões e os zips que a tal palmada no rabo poderia mudar muita coisa.
Dir-me-ão que nem todos estes incidentes nascem de putos mimados de classe média alta. Bem sei que na génese de alguns deles estão problemas mais graves, de miséria e maus-tratos. Mas não temos todos nós problemas? Divórcios, mortes, pais desatentos e ausentes, doenças, pobreza, traumas variados, angustias, solidão. Vamos por isso desatar por aí aos tiros? E a ofender os outros? E a descarregar neles as nossas furiazinhas pessoais? Todos termos problemas. Ser pessoa significa aprender a viver com eles. Ter 13 anos não servem como desculpabilização. Quem tem discernimento para magoar os outros tem também para ser por isso responsabilizado.
É que estamos a criar uma geração de gente pequenina, minúscula, insignificante. Gentinha que venera a violência e o desrespeito, e que pensa que pode caminhar pela vida insultando e magoando os outros. Como se isso fosse um direito.
A culpa nem é deles, mas de todos nós. Cada a sociedade tem os adultos que merece. Estas adoráveis criancinhas são os adultos que vamos ter amanhã a governar o nosso mundo. E se há momento para lhes deitar a mão e fazer deles gente minimamente decente é agora, não quando tiverem 30 e tal anos e passaram à frente na fila do McDonalds. É que eu já não tenho disposição para educar putos mimados armados em adultos.
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E são sempre os filhos dos outros, porque: "o meu menino era incapaz de fazer uma coisa dessas... é um anjo!" que vómito!
ResponderEliminarNão sou adepto de se endireitar os rebentos à paulada, mas uma palmada bem dada nunca fez mal a ninguém e criou muitas e boas gerações. Reforço o "bem dada", porque a palmada não pode ser entendida (neste contexto) como um acto de violência ou de maltrato... "dar-lhe bem" não é bater com força, no sítio certo, nos rins para não se ver as nódoas negras ou queimar-lhes os mamilos com pontas de cigarros... A palmada deve ser utilizada, acima de tudo, como uma ferramenta de educação. E não é preciso bater... na maior parte das vezes uma palavra basta, uma repreensãozinha, um ralhete! e nos tempos que correm já nem isso parece ser aceitável... O que é preciso é saber dar a "palmada" no contexto e no tempo certo, ser assertivo e coerente nas repreensões.
Porque acho que o que falta aos putos de hoje são consequências dos seus actos criminosos infantis. Urge instruí-los de que as suas acções têm consequências, e isso pode passar tanto por uma palmada no rabo como por um castigo, uma repreensão, uma privação, etc... uma espécie de palmada de luva branca, digamos assim... isso e ser coerente, não deixar passar essas acções reprováveis porque o menino está triste, porque está aborrecido ou porque os pais têm vergonha de o repreender no meio daquele restaurante chique onde estão mais 50 pessoas as jantar! Não percebo, porque entretanto não têm vergonha que os putos andem armados em cowboys pelo restaurante a roubar pão das mesas vizinhas, a puxar a saia do casalinho romântico, ou a desafiar os restantes meninos mais bem comportados que estão concentrados em conseguir comer as ervilhas para terem direito à sobremesa!
Depois muitos desses putos mimados de 30 anos também andam armados em papás, e a bola de neve não pára de crescer...
Sou adepto da "palmada", não de bater mas de dar uma educação consciente e coerente de forma a preparar os futuros homenzinhos para o duro e cruel mundo que os espera... o primeiro passo será tratá-los como adultozinhos e começar a demonstrar desde bem cedo que o mundo é consequente e tudo nesta vida se paga!
Ui... isto já dava um post e nem sei porque te estou a chatear com estas coisas! Considera isto um desabafo, é que ainda sou de uma geração onde se notava bem quem levava uma palmadas em casa e quem tinha tudo quanto pedia ao pai natal... e irrita-me esta falta de educação generalizada e toda essa mimalhice que anda por aí, tudo ao abrigo da suposta Liberdade que é de nosso direito! O que não se ensina de pequenino é que a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro...
Tanto que haveria a complementar na senda disto que aqui deixaste. Como profissional do ensino e como pai, frita-se a minha lucidez réstia após réstia perante a bovinidade generalizada. Mimados, néscios, e a caminho da miséria mais abjecta.
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