terça-feira, 23 de março de 2010
A infelicidade das mulheres pensantes
Há uns anos atrás, quando eu vivia outra vida e era quase uma pessoa diferente, um amigo meu libanês (e sabe-se como os árabes gostam das mulheres de cabelo claro) dizia-me, com grande mágoa, que eu poderia ser a mulher da vida dele, se não fosse um grande defeito que me maculava. Engane-se quem pensa que se referia a qualquer aptidão especial pelo dinheiro (I’m not a gold-digger!), a hábitos cleptomaníacos, à carência de cuidados de higiene ou a bizarras práticas sexuais. Esse tremendo defeito, que manchava a minha versão de “mulher ideal” era, afinal, a existência do Tico e do Teco.
“Caríssima (dizia-me ele, de olhar lânguido e triste) tu és a paixão da vida minha, mas tens um defeito que não posso aceitar numa mulher: tu pensas”.
Curiosamente, tive um déjà vu desta cena melodramática no meu último date (e não me refiro apenas ao último que tive, mas também ao último que muito provavelmente terei na minha vida), quando o cavalheiro me informou, no final da noite, que não estava habituado a ter junto a si mulheres como eu. Notem bem: não obstante estar fascinado pela minha pessoa, incomodava-o o facto de eu ser tão… eu (estou a citar a criatura). Pensava demais, era segura demais, havia olhares a mais poisados em mim! Tudo demais, tudo em excesso, como se eu própria transbordasse da sua mísera e insignificante figura.
Relato estas duas histórias para demonstrar o quê? Que a maior infelicidade que pode calhar a uma mulher não é ser gorda, careca ou zarolha, porque as feias eles suportam. É ser pensante. Isto é um pecado que não tem perdão. Aquilo que faria de nós o melhor e mais interessante dos homens torna-nos, na versão “fêmea”, seres pouco cotados na bolsa de valores amorosa.
Nunca vamos poder ser mulheres troféu, porque o mais certo era começarmos a opinar e a ter ideias. E mulher que opina… deve deixar crescer o buço e conformar-se com a sua posição de criatura assexuada. E como eu queria ser mulher troféu. Muitas vezes me arrependo de ter investido tanto em livros, cursos e museus, de ter perdido tanto tempo na universidade e de, ainda agora, me esgotar com teses infindáveis. Mais valia ter aproveitado esse tempo para aprender a dançar no varão, e investido o dinheiro numa operação de aumento mamário, que sempre me daria mais felicidade e reconhecimento entre as hostes masculinas.
A infelicidade das mulheres pensantes é nunca poderem ser mulheres troféu!
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Pois, e eu não encontro mulheres pensantes que me achem atraente...
ResponderEliminarParece-me que essa infelicidade se traduz nos machos e fêmeas do Sec. XXI andarem de costas costas voltadas? Porque se um homem não consegue suportar uma mulher por ser Ela, inteligente e pensante, só pode ser do Sec. passado...
Por outro lado é desses homenzinhos que elas gostam mais...
Vou voltar para a minha vidinha infeliz, rodeado de mulheres bonitas, gordas, zarolhas, feias e burras que nem uma porta... mas que engomam a roupa e dobram meias que é um primor!
;-)
Reconheço as minhas fraquezas: sou péssima a dobrar roupa, cozer meias, engomar, limpar as pratas e afins. Mas olha que faço uns bolos…
ResponderEliminarDe modo que se um dia encontrar um príncipe (ou um sapo, já estou por tudo) que “seja mais bolos” junto os trapinhos com ele.
Se assim for, tão perfeita alquimista de "bulinária", mesmo que um príncipe seja encontrado, rapidamente se transforma num sapo... ;)
ResponderEliminarE também não é justo colocar dobrar roupa, cozer meias, e limpar pratas na mesma balança que fazer bolos. Sempre ouvi dizer que um homem se conquista pelo estômago... Facilmente são preteridas essas habilidades femininas em prol de uma tarte de maçã com canela!
(Se bem que um suculento "petit gateaux" do Pingo Doce, antecedido do mágico Plim do micro-ondas e empoleirado numas pernas bamboleantes sejam argumentos de sobra para mim!)
Bom, mas da minha humilde experiência os Sapos andam às moscas e os Príncipes é que ficam com os bolos todos... Venham eles da mais requintada patisserie ou fruto do suor e lágrimas de um par de pernas, pensantes ou não!
Olha, com papas e bolos se enganam os tolos... ;-p
Faço uma tarte Tatin que é qualquer coisa! E a imagem de mim a devorá-la também é digno de ser visto!
ResponderEliminarQuanto aos petit gateau, devo dizer que em regra os dos restaurantes, mesmo daqueles finérrimos que me deixam na penúria (em regra para passar fome, que eu não sou mulher de nouvelle cuisine) fiquem bastante aquém dos do Pingo Doce. Excepto um que comi no outro noutro continente e cujo nome já faz adivinhar o que aquilo não é: vulcão de chocolate. Mas, adiante. Cabe ainda dizer que há um par de semanas fiz um grand gateau – ou seja, a escorrer como o pequenino, mas em tamanho grande – que suscitou aplausos de vários críticos culinários.
Se com tudo isto o príncipe se transformar em sapo, paciência. Eu até acho certa piada a homens de pancinha. Até porque, como já cantava a Cassia Eller, os príncipes tendem a virar sapos de qualquer forma.
Ahhhhh...
ResponderEliminarDesde que comi um petit gateau pela primeira vez, que me questiono se não daria para fazer um gigante! Isso seria um sonho realizado...
Que demais. ;)
Sim, tive uma overdose de chocolate nesse dia...
ResponderEliminarUm dia envio-te a receita. O truque está no tempo que o "bichinho" fica no forno ;)
Ora pois eu, coitada de mim, só tenho vocação para comer, o que é uma infelicidade, por um lado porque não herdei a pericia do meu pai, que é chef, e por outro lado faz com que eu seja gorda que nem um cepo. feliz ou infelizmente conquistei um homem sem ser pelo estômago, pelo menos faz comidinha da boa, nham nham.
ResponderEliminarIsso das gajas pensantes e dos gajos é verdade sim senhora. Agora não, mas nos tempos em que eu tinha um ar inteligente e muitas aspirações académicas - para onde raio é q isso foi, gaita - tive uns quantos episódios desses. o pessoal achava-me divertida e simpática. mas eu falava muito ( e ainda hoje falo!!!) e puxava assuntos giros e interessantes em vez de enrolar uma pastilha com o dedo e sentar no colinho...