quinta-feira, 11 de março de 2010

A BOY’S GIRL


Sempre fui a boy’s girl. Não Maria-rapaz, note-se. Enfim, admito que na minha infância e nos primórdios da adolescência cheguei a ser confundida com um rapazinho. O cabelo curtinho não ajudava (obrigada mãe!), mas a certa altura transformei-me numa Barbie. E digo isto sem vergonha. Vivo na futilidade dos trapos, dos batons e dessas coisas todas que fazem os homens vomitar. Ainda assim – e isto é que é verdadeiramente surpreendente – sempre fui uma menina de meninos. Mais amigos que amigas. E bem mais próximos. A minha melhor amiga foi, e é, um menino, e com isto penso que digo tudo. Não meninos que me acompanham na secreta esperança de tirar uma lasquinha, de algum hipotética romance ou, que mais não seja, umas voltinhas de quando em quando. Nada disso. Falo de meninos que me vêm algures entre “um gajo sem pilinha que vai connosco para todo o lado” e a “irmã mais nova que há que respeitar”.
Nestes termos tenho visto intermináveis jogos de futebol (estou um autêntico Rui Santos… até pelos caracóis…), feito de motorista com o carro cheio de marmanjos bêbados (sendo que todos sabem que no meu carro ninguém vomita), chorado baba e ranho nos seus ombros (e nunca esquecerei aquelas palavras de consolo, que oscilam entre o kitsch/lamechas e o absolutamente destrutivo).
Esta é, provavelmente, a primeira altura da minha vida em que começo a acompanhar mais com mulheres. Até à data a ideia em si mesma dava-me alergia. Não me que falte assunto. Desde logo, sempre posso falar de sapatos, e temos conversa para uma semana. Não que me sinta ameaçada, ou elas por mim. Aliás, se há coisa que aprendi nestes últimos meses é que a tão falada rivalidade feminina é um mito urbano. Não nego a sua existência (yo no creo en bruxas, pero…), mas até aqui só me deparei com mulheres fantásticas que serão sempre, nas suas particularidades, “role models” para mim.
Mas a verdade é que nada disto me faz esquecer os meninos. E por isso mantenho o hábito de passar tempo sozinha com eles. E cada vez que isso sucede fico destroçada pela angústia de nunca me ter apaixonada por nenhum… nem eles por mim. Porque os meus meninos são os melhores homens do planeta. Admito que alguns deles encaixam no protótipo do “filho da puta”, que nem todos foram sempre correctos e gentis para com as mulheres do mundo. Mas em todos eles descubro pedacinhos da minha meia laranja. Será que os posso cortar e cozer, construindo um home-made namorado? Se o Dr. Frankenstein o fez, porque não eu? Será que tenho procurado nos amigos aquilo que não encontro nos outros homens? Mas, nesse caso, porque motivo então nunca houve click com nenhum deles?
Já me chegaram a dizer que a minha excessiva proximidade masculina me prejudica mais do que me beneficia. Porque conheço demasiado os homens (o que nunca impediu que caísse como as outras). Porque coloco a fasquia ao elevadíssimo nível dos meus melhore amigos, que são uns fora de série, e como a maior parte dos homens fica muito aquém desse limiar acabo por ter expectativas demasiado altas que depois saem goradas. Porque estar sempre acompanhada com meninos funciona como repelente para o restante público masculino.
Provavelmente tudo isto é verdade. Pelo menos, dava-me jeito que fosse, e com isso encontrava já uma explicação para muita coisa. Ainda assim, e embora aprecie uma tarde de compras com as amigas, nada bate as noites no meio deles, muitas vezes com a minha integridade física em risco, nas mãos de alguma nina mais ciumenta.

2 comentários:

  1. Fico agradavelmente feliz em saber que não sou a única a estar sempre rodeada de meninos-amigos, embora a minha mãe (e digamos “o povo”), ache que namoro com algum (as vezes receio quais serão os seus pensamentos…)… os meninos são magníficos como amigos, companheiros de noites… e confidentes.

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  2. e têm uma coisa fantástica - raramente vão contar os nossos segredos mais macabros à 1ª bitch que lhes aparece na mesa do café...
    concordo plenamente.

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