
Vivemos estranhos tempos meus amigos. Como diria Dickens, “it was the best of times, it was the worst of times”. O que a mim me perturba particularmente (para além da pedofilia, do terrorismo, da xenofobia e do racismo) é esta promiscuidade de géneros que nos leva a ficar em dúvida sobre que parte da relação nos incumbe a nós e que parte lhes incumbe a eles.
Já nem falo das situações em que o tipo ficar especado a olhar para nós na hora em que chega a conta do jantar, na vã esperança que movimentemos os nossos graciosos bracinhos para pegar na carteira (eu opto por jogar com ele ao célebre “vamos-lá-a-ver-quem-aguenta-mais-tempo-especado-até-ceder-perante-os-olhares-do-empregado-que-obviamente-vai-olhar-para-o-cavalheiro-e-não-para-a-senhora), nem do facto de eles saírem do carro e desatarem a andar como se não houvesse amanhã enquanto eu espero pacientemente que alguém me abra a porta do dito (sendo que, não voltando o marmanjo para trás, acabo por ter que ser eu a abrir a porta mas, então, faço questão de sair bem devagarinho, esticar as pernas, subir a saia, empinar o peito, passar a mão pelo cabelo, de tal forma que o fulaninho se vê forçado a vir colocar em mim a bandeirinha do “eu cheguei primeiro a esta mulher” e da próxima pensará certamente duas vezes se quer que o público em geral me veja sair do carro sozinha).
Mas não, nem falo de nada disto. Até porque estes são pequenos nadas importantes na vida de relação, mas que obviamente não substituem o respeito, a lealdade, o companheirismo, isso sim, verdadeiramente importantes quando se trata de decidir se é com aquela pessoa que vamos passar os próximos 50 anos.
O que a mim me incomoda é esta modernice de os homens pareceres mulheres. E, dir-me-ão os meus amigos que também aborrece a modernice análoga de as mulheres parecerem homens. Eu própria confesso que gosto de usar a minha gravata e o meu chapéu masculino dos anos 40. Que por vezes dou por mim sentada de perna aberta e a escorregar na cadeira. Mas sou, essencialmente, muito menina.
Por isso me custa tanto que os meninos não sejam meninos. Uma coisa é um homem ser limpinho, de meias lavadas e sem cheiros suspeitos. Outra coisa, diferente da uma coisa, é fazerem limpezas de pele, arranjaram as unhas e as sobrancelhas, voltarem atrás porque a meia não combina com a camisa, terem mãos delicadas como pele de bebé, viverem obcecados com os pneus e as calorias. Eu ainda admito uma ou outra destas manias isoladas, mas quando me aparecem em duo, ou em triplo, ou em batalhão, aí, levanto a mãozinha e grito: STOP!
Minhas senhoras, meus senhores, que fazer quando ela se despacha primeiro do que ele, e é ela que tem que ficar pacientemente sentada, a ler o jornal e a fumar um cigarro, enquanto ele escolhe a gravata e corta os pêlos do nariz (achei que esta imagem ficava bonita)?
Há regras básicas, vitais, inabaláveis em qualquer relação: i) ele não pode ser mais bonito do que eu; ii) ele não pode demorar mais tempo a prepara-se do que eu; iii) ele não pode ter mais ocupar mais espaço no guarda-vestidos do que eu; iv) ele não pode ter menos pêlos do que eu.
Pois que hei-de eu pensar quando estou no ginásio a flagelar-me com abdominais e flexões e de repente pouso os olhinhos (míopes) na bela da perna depilada. Por momentos fico na dúvida se a perna é de uma “ela” ou é de um “ele”, mas tanto músculo não engana: estou perante um Schwarzenegger depenado. Que raio vos passou na cabeça para começarem a arrancar pêlos? E não se ficam pelas pernas. Sobem ao peito passando pelas partes intermédias. Recordo as palavras de um amigo meu que me explicava a sua fobia gay com o argumento de que na cama perna peluda com perna peluda não bate certo. Pois bem, eu acho que este mesmo argumento serve para fundamentar a minha fobia metrossexual: em momento íntimos não quero a minha pernoca depilada a roçar-me numa outra perna… igualmente depilada. E tremo só de pensar no momento em que ele me pergunte: “com a tua depiladora ou com a minha”?, como sucessor do clássico “na tua casa ou na minha”? É que certamente atrás dessa pergunta virão indagações sobre o meu blush ou o dele, os meus tampões ou os dele, os meus ovários ou os dele.