sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Porque é que continuo a acreditar em histórias de amor


Segundo parece (pelo menos assim li no jornal do metro e li na nota de rodapé das noticias da SIC, logo, tem mesmo que ser verdade) a taxa de divórcios está a aumentar exponencialmente. Dizem as estatísticas que um em cada dois casamentos termina em divórcio e que o aconselhamento conjugal é cada vez mais procurado, inclusivamente por namorados.
E a corroborar a faceta científica da coisa eis a melhor prova destes factos: olhar para o lado e ver aquilo que me rodeia. Grande parte dos meus colegas de faculdade e de liceu está sozinho. Não porque nunca tenham encontrado ninguém especial, até porque os anos de procura já não são poucos assim. Mas porque o encontraram e o perderam. Ou foram perdidos por alguém. Os namoros da faculdade terminaram há muito. Relações mais maturas que tenham tido também tiveram fins dolorosos, com caixas a ser empacotadas na divisão de livros, de Cd’s e do restante espólio de uma breve vida juntos. Alguns já vão inclusive no segundo casamento quando eu ainda nem o primeiro tive. Aliás, se há prova cabal de que as histórias de amor já não são o que eram essa prova sou eu. Olhando para trás a minha é um mar de destroços amorosos, fracasso atrás de fracasso. Quase impele a uma dissertação de doutoramento sobre o motivo pelo qual são tão bem sucedida noutros campos e uma nódoa tão grande neste. E em jeito de conclusão, mas a corroborar tudo o que ficou dito, esse maravilhoso mundo do cinema de Hollywood, onde dantes os filmes tinham sempre finais felizes, com casais apaixonados ao por do sol, e hoje filme que se preze e que vença Óscar tem que terminar com uma morte ou uma despedida.
Mas eu, que sou uma tola assumida, continuo a acreditar em mais laranjas, em amor do caixão à cova, em happy endings, em tudo isto acredito com a mesmíssima convicção com que acredito que h+a vida noutros planetas e que D. Sebastião ainda vai regressar um dia. E é isso que me faz passar horas a fio na minha vertente de conselheira sentimental, chorar baba a e ranho nos casamentos, vibrar com os romancezinhos das amigas… sei lá, só me falta vestir as asinhas e disparar setas.
Porque é que as histórias de amor já não duram dezenas de anos? Porque é que já não se celebram bodas de prata? Como é que ficámos todos tão egoístas?
As pessoas discutem. E o mundo não termina por isso. Tentamos acomodar-nos às nossas limitações e às limitações do outro. E por vezes as relações humanas passam por provações, e desentendimentos, e incompatibilidades de feitio, mas é por isso mesmo que somos humanos e não máquinas. E o mais curioso para mim é que estas mesmas pessoas que não conseguem levar a bom termo a sua história de amor, e desistem aos primeiros percalços, são exactamente as mesmas pessoas que demonstram uma incrível tenacidade no seu trabalho, que se caracterizam pela sua ambição, e persistência, e espírito de luta. Mas depois são incapazes de tamanha devoção na sua vida pessoal, não sei se porque se entretanto esgotarão as suas foras noutras baralhas se será porque não acham que mereça o esforço. Once again, é tudo uma questão de prioridades. Ora, se não desistimos de um curso, de um projecto, de um sonho, como raio é que nos passa pela cabeça desistir das pessoas?
É verdade que “simplesmente” gostar não é suficiente. Já acreditei que sim e já descobri que não. As relações exigem esforço, dedicação, persistência, adaptação. E há alturas em que precisamos mesmo de engolir o orgulho, voltar atrás e pedir desculpa. Ou desculpar, o que também não é fácil.
Ainda estou para saber como é que nos convencemos todos que amar era fácil. Que bastava apaixonar-nos e depois seriamos felizes e comeríamos perdizes. Não é fácil, é um projecto a longo prazo que exige muito investimento pessoal.
“It's not always rainbows and butterflies
It's compromise that moves us along…”
Mas por algum motivo espalhou-se esse mito urbano de que all we need is love e que a partir daí seriam tudo rosas e anjos. E enquanto continuarmos a acreditar nisso continuaremos a cair na armadilha e desistir porque não é fácil. O mais laranjas podem ser a pain in the ass mas, em última instância, são quem mais feliz nos faz, e por isso não há esforço que seja demasiado. Mas a nossa geração, a minha geração, não foi educada para outros sacrifícios que não se relacionem com o sucesso profissional. Por isso este nos parece desmedido. Por isso também terminamos a noite bêbados e sozinhos em casa, a ver o Casablanca.
Face a tudo isto, como posso ainda acreditar em histórias de amor? Não sei. Gostava de apresentar aqui dados prementes e incontestáveis, eventualmente demonstráveis com uma fórmula matemática… mas não tenho nada disso. Suponho que continuo a acreditar porque se assim fosse já nem me levantava da cama.

5 comentários:

  1. É que nem preciso de gastar dinheiro em terapias! :) Tenho aqui o melhor aconselhamento!

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  2. Vera. És mesmo tonta. Não vês que agora é tão fantástico que podemos ter vários happy ends dos vários filmes da nossa vida! O período in between é só para prepararmos a rodagem do próximo filme! Pensa positivo: está aí o Verão de São Martinho!!!

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  3. Gosto cada vez mais de te ler, um beijinho, Vera.

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  4. Gosto cada vez mais de te ler, um beijinho, Vera.

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  5. Pipoca, como tu sabes, a aprendeste num bar manhoso de hotel algures em Valencia, não posso aconselhar sobre aquilo que não sei.
    (nevertheless, insisto em faze-lo).

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