sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Excesso de bagagem
É inevitável: cada vez que euzinha vai voar passa as horas que antecedem a saída com grandes estudos científicos para determinar aquilo que é rigorosamente indispensável levar na mala (sapatos), e aquilo que é supérfluo (pasta de dentes, que pode ser comprada em qualquer chafarica). Mas mesmo assim não me livro de chegar ao check in e pedinchar por quilos extras, mostrar decote se tiver um homem a pesar a mala, apelar à solidariedade de género se tiver uma mulher, enfim, no amor, na guerra e nos chek in’s vale tudo. E de quando em vez (uaua!!!) acabo mesmo por pagar excesso de bagagem, o custo acrescido de quem não viaja leve na vida.
Essa sou eu. Nem leve nas malas nem leve no passado.
Também nas minhas relações carrego excesso de bagagem. Não porque tenha tido muitos namorados. Enfim, tive q.b. Digamos que não morro estúpida nem perita no tema. O problema são as memórias, as comparações, as mágoas, os traumas.
Creio que ninguém espera que uma pessoa nos seus trintas e tal seja virgem nesta matéria. Nem de sexo nem de coração. Já não alimentamos aquela expectativa tonta de sermos os primeiros na vida de alguém. Somos os segundos, os décimos terceiros, os quadragésimos quartos, sem que isso nos incomode porque nesta altura do campeonato já concluímos que o importante é sermos os mais importantes da vida de alguém e não, simplesmente, os primeiros. Só mesmo aos 18 anos é que queremos desbravar mares nunca antes navegados e amar criaturas nunca antes amadas.
Eu, pela minha parte, desconfio que ficaria muito desconfortável com alguém que nunca tivesse estado apaixonado. Como diabo saberia eu que ele gostava mesmo de mim? Reformulo: como diabo saberia ele que gostava mesmo de mim, se nunca tivesse gostado mesmo de alguém? Qual o seu ponto de comparação? Acho que passaria o resto da vida a pensar que ele tinha ficado comigo porque não conhecia outra coisa. E provavelmente ele também pensaria assim um dia. Por isso almejo para mim alguém que tenha um passado. Que tenha amado, desamado, sofrido. Que, parafraseando o grande Martinho da Vila, tenha tido muitas mulheres, de toda as cores, e que tenha parado em mim porque, depois de conhecer este mundo e o outro, achou que eu sou o melhor que qualquer mundo lhe pode dar.
De modo que eu quero alguém com bagagem. Mas uma bagagem que ainda respeite o limite de peso emocionalmente estipulado. Namorados com filhos e ex-mulheres já são demais para mim. Namorados com histórias não terminadas são demais para mim. Namorados muito amiguinhos das ex-namoradas e que continuem a dar-lhe abrigo em sua casa são demais para mim. Namorados traumatizados com relações anteriores são demais para mim. Namorados que quando bebem uns copos me comecem a falar da outra são demais para mim. Namorados que controlam todos os meus passos porque vivem na insegurança de uma traição antiga são demais para mim.
Serei eu intransigente no peso? Talvez. Mas mais vale barrar a mala logo no check in do que no momento de entrar no avião.
Mas, como todos temos telhados de vidro, eu tenho um telhado de cristal. E por isso, quem me apanhar a mim, cai-lhe no colo uma mala com o peso de todas as tristezas do universo. Uma mala estragada, de fecho avariado, já rota e, possivelmente, com mercadoria ilegal.
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