segunda-feira, 15 de novembro de 2010

EASY RIDER


Embora a febre motard me corra na família nunca padeci dessa doença. Até dispensei a acelera que muitos coleguinhas tinham no liceu. O maior fascínio das motas para mim residia – e nem este era particularmente perturbador – na ideia de um tipo de óculos Ray Ban a conduzir a dita por uma estrada deserta, muito ao estilo do Dylan de Beverly Hills 90210, o mito da minha juventude.
Posso até confidenciar que olhava para os tipos das motos com certa…
Desconfiança? Enfim, é sabido que os idiotas que gostar de circular a 200km/h provocam acidentes seríssimos só pelo prazer de sentir a adrenalina. Ora, eu acho que cada um tem o direito de se matar como queira (daí ser firme defensora de eutanásia e dos testamentos em vida), não tem é o direito de andar a matar os outros e destruir familiar.
Paternalismo? Convenhamos que o ridículo da vestimenta de cabedal, com o lencito à Xutos, barbas a roçar a cintura e um ar, no mínimo, avesso à limpeza, me despertava certo paternalismo.
Curiosidade? Pois se a coisa tem tantos adeptos já desconfiava que não havia de ser má de todo e que algum encanto se escondia por entre km de alcatrão e terra batida.
Mas como de tudo nos calha na vida este fim-de-semana bateu-me à porta o convite para um passeio de mota. Mota… quer dizer, nem sei ao certo como lhe chamar. Para mim aquilo parecia um tanque de guerra de duas rodas. Aceitei à falta de melhor programa e aliciada pela companhia. Mas a medo. Muito medo. Na noite anterior sempre que fechava os olhos me imaginava contra os rails de uma auto-estrada, desmembrada ou, no mínimo, decapitada. Ora, se esse não foi um fim simpático para a Maria Antonieta, não vejo porque o deva ser para mim. Mas como o objectivo é defrontarmos os nossos medos lá fui eu fazer de pendura (“uma miúda das motas”) neste Domingo de Agosto
Primeiro desafio: escolher a vestimenta apropriada. Porque não tendo sequer um blusão de protecção, colocava-se a questão de saber como me proteger do frio e de algum potencial embate. Antes de mais, exclusão de roupas que se pudessem enredar na mota ou que subissem de tal modo ao sabor do vento e da velocidade que os restantes motociclistas e automobilistas vislumbrassem a rendinha da minha roupa interior.
Segundo desafio: enfiar a minha gigante cabeça no capacete. É que além de uma juba de leão (só eu sei, porque não fico em casa, lalalalalala) agraciou-me Deus (ou o demónio) com um cérebro monumental, de modo que nem me cabe na cabeça (tenho para mim que a principal razão do meu cabeção é mesmo massa cinzenta e não puro vácuo). Depois de prender a cabeça lá dentro, de tal forma que seria precisos 10 homens a puxar-me pelo pescoço para me “desenfiar” de novo, dei por vi a divagar sobre o bonito estado dos meus caracóis quando tirasse a carapuça. Mas decidi que iria adoptar um movimento à “anuncio de champô”, de modo que mal me “desencapacetei” eis-me a abanar a cabeça para todo o lado, ao melhor estilo da Pantene.
Terceiro desafio: subir para a mota. Porque, como disse, aquilo era mais bem um touro. Um bisonte. Uma coisa grande. Equilíbrio. Não caias na frente desta gente toda por favor. Agarrei-me como pude ao condutor, com unhas, dentes, e que mais tivesse eu para me manter firme, e levantei a perna. De pouco me serviu a minha afamada flexibilidade, porque acabei por dar com a biqueira da bota na mala da mota. Mas finalmente sentei o rabiosque e pensei que aquele fora o meu movimento mais arriscando. Ufa!!!!... Mas quando a coisa se pôs em movimento vi o quão crasso fora o meu erro de julgamento.
Quarto desafio: manter-se em cima da mota. É que aquilo anda. E faz curvas. E inclina-se. E passa entre os carros, que nem sempre nos vêm e muito menos gostar de se sentir ultrapassados por gente de duas rodas. E como, segundo parece, o condutor sente alguma dificuldade em conduzir comigo abraçada ao seu troco como se fora um macaquinho agarrado à mãe, não me restou outra saída senão os apoios laterais. E lá fui, hirta como um pau de vassoura. Depois dos primeiros km deixei de lhe dar “capacetadas” sempre que ele abrandava, e ao fim do dia até já, pasme-se, me atrevi a libertar as mãos e coçar o pescoço.
Balanço final: ainda tenho muito para aprender, mas a Elisabete Jacinto que sou cuide. Hoje nasceu uma motard. Esy rider, easy going.

1 comentário:

  1. bem minha querida, mandei-me para o chão a rir com esta. Fantastica.
    Eu cá adoro motas e não perdi a esperança de tirar a carta e ter uma.
    Lembro-me de uma noite de inverno, há uns bons anos, em que aceitei boleia de um desconhecido, só pq ele tinha uma honda intruder. nem a chuva, nem o medo, nem os conselhos da minha mae me impediram... e foram 10 minutos fantásticos.

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