segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Aviões, aeroportos e (já agora) pilotos


Detesto viajar.
Reformulo: tenho uma verdadeira paixão por ir a sítios, mas também um verdadeiro horror em chegar até eles.
Para mim o meio de locomoção adequado seria mesmo a pé (levando nos pés sabrinas e os saltos altos de Cinderela num saquinho de plástico do Continente, claro está), não fosse o facto de os meus (mínimos) 20kg de bagagem dificultarem a coisa se não tiver um carrinho de mão comigo.
Senão vejamos: a bicicleta faz-me doer o rabiosque; de carro enjoo a ponto de desejar morrer naquele mesmo momento (passo o resto do dia indisposta e, pior que tudo, perco um bocadinho o apetite e deixo de comer tudo o que me aparece à frente); até de comboio enjoo; nos barcos também tenho tradição de enjoar (em suma, sou uma enjoada), e acho os aviões um tédio.
Concentremo-nos nos aviões, porque de facto as verdadeiras viagens são aquelas que nos separam do destino por milhares de quilómetros. Quaisquer 200 quilómetros são, quando muito, uma volta ao bilhar grande. Enquanto não se anda no ar (o corpo todo, não apenas a cabeça) não se viaja, no sentido próprio da coisa. O problema, meus caros, é que eu acho um tédio andar no ar.
Não é medo, é tédio mesmo. Bom, confesso que sempre que me recordo do primeiro episódio do Lost fico com algum receio de entrar no bicho que voa, mas se o meu destino fosse ir parar numa paradisíaca ilha com o Sawyer… posso imaginar fins piores (e ficamos por aqui…)!
Mas, como dizia, não é medo. É um profundo tédio por ir ali sentada. Pelas horas antecedentes que temos que aguentar no aeroporto. Pela ginástica acrobática que faço ao tentar meter-me a mim e à minha bagagem na casa de banho do aeroporto quando calha a não me aguentar antes de despachar as malas, e pergunto para mim mesma se alguém já se terá lembrado de fazer cubículos maiores. Pela angústia do check-in até saber se levo ou não excesso de peso (e, já agora, as pessoas mais gordinhas não deveriam também pagar os quilos a mais? Afinal, o que uns levam em banhoca podia eu levar em sapatinhos. Enfim… é só um pensamento…). Pela passagem no controlo de segurança, onde tenho que deixar os meus pertences por ali à solta enquanto tiro o PC da mochila, e depois é certo e sabido que alguma coisa em mim há-de apitar (entre os múltiplos piercings e o metal que tenho nos dentes aceitam-se apostas), e não é que isso me importe se fosse um senhor alto e jeitosos a tocar-me delicadamente com as suas mãos gigantes, mas não, é sempre uma tipa balofa a apalpar-me e eu que não estou para cenas lésbicas ali. Pelo deambular pelos corredores torcendo-me toda para não rastejar a minha sede de compras no duty free. Pela entrada para ao avião, com aqueles cromos que levam eternidades a arrumar as coisas e a entrar para o seu lugar. Pela estúpida vontade que me dá de fazer xixi antes de ser permitido usar os lavabos. Pela espera até que sirvam a primeira refeição, que anseio em perfeita esgana, porque me recuso terminantemente a comer no aeroporto e a pagar 1 euro e meio por um café mal tirados e 4 euros por uma sandes de pão duro e fiambre com gordura, de modo que só como a comida que me dão no avião, até porque também já a paguei e me custou bem cara, e depois calha-me sempre qualquer caca com queijo, e eu que sou alérgica fico ali a olhar para aquilo e pergunto aos senhores empregados que nos servem no ar (rectius, hospedeira e comissário de bordo) se não há mais nada que me possam dispensar, e como tenho tido a sorte de encontrar almas caridosas lá me vão arranjando umas barritas de cereais que tinham reservadas para eles próprios, sendo que nesta altura estar-se-ão a perguntar porque raio não peço eu uma refeição especial, e a isto respondo que fiquei traumatizada com os tomates grelhados ao pequeno almoço que já me têm servido, bem como outras iguarias das refeições especiais, de modo que arrisco a passar meio dia sem comer só para, caso possa deglutinar, comer alguma coisinha menos indecente. Pelo espera até sair do avião, e de novo os cromos que pensam que não está ninguém atrás deles para sair dali. Pelos suores frios que me dão sempre que a minha mala tarda em aparece no tapete rolante, porque afinal já são uma série de malas pedidas e não recomendo passar mais que um dia com a mesma roupa interior. Pela saída (finalmente) do aeroporto, e a busca de um táxi que me leve a whatever place, sabendo de antemão que vou ser enganada no preço.
Em suma, detesto aeroportos e andar de avião.
Dito isto, seria um grande paradoxo se a minha meia laranja viesse a ser um piloto.

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