sábado, 22 de maio de 2010
A insustentável leveza das amizades masculinas
México. Praias paradisíacas. Um resort digno de artigo da revista. Comida afrodisíaca. Cocktails que nos fazem perder a cabeça. O sol a escaldar na pele. Biquínis minúsculos e vestidos transparentes. Saunas e jacuzzis. Música quente que aproxima os corpos. Eu e… um amigo. Um amigo? Pois é bebé. Para aquelas de nós que passaram cerca de 90% da sua vida como mulheres adultas sem relação consistente os amigos são o refúgio (ou será o refugo?) possível que nos permitem fazer as coisas que as outras, sortudas, fazem com as suas caras-metades.
Sendo uma boy’s girl, tenho feito praticamente de tudo com os meninos da minha vida: fui acampar na praia e partilhei tenda à noite; deliciei-me com jantares pseudo-românticos, onde à luz das velas se ouviam violinos; arrastei-os a casamentos, baptizados e outras festas de famílias; massacrei-os em tardes de compras, insistindo para que espreitem como me fica o little (sublinhe-se o adjectivo) black dress; viajei com eles para o outro lado do mundo. Tendo sempre tido um melhor amigo na minha vida – e como é bom contar com um peito musculado onde chorar quando nos partem o coração – apercebo-me agora que meus os momentos mas significativos foram partilhados com esses in between, que não são amigas nem amantes, e em quem confiamos cegamos a escolha do batom.
Claro que esta convivência tão masculina sempre me despertou dilemas morais: qual o grau de critica que é admissível dirigir à nova namorada? Será que posso fazer birra quando não me atende o telefone? Quando dançamos juntos, a que distância devem estar os nossos narizes? Devo mudar de roupa na frente dele sem, pelo menos, lhe pedir que vire as costas?
Mas o maior dilema moral aparece quando temos que conviver com o amigo e o namorado. Eu, tu e ele (mas quem é o “tu” e quem é o “ele”?).
E assim regresso ao meu ponto de partida. Viagem ao México marcada. Namorado indisponível. Será que terei que recorrer de novo ao “closer friend”? O problema é que, exceptuando aquele que é quase como um irmão, em todos os outros amigos desponta a possibilidade de haver sempre algo mais. Afinal, somos homens e mulheres, e há instintos que nos ultrapassam. Qual o grau de elasticidade suportável por uma amizade sem que irremediavelmente se torne “one week stand”? E qual o grau de tolerância suportável por um namorado face ao leque de amigos, limpinhos e bem-compostos, que uma rapariga consegue ter?
Sempre defendi que os namorados vêm e vão, mas os amigos ficam. Mas sei também que quantos mais amigos, e mais próximos, tivermos pertinho de nós, mais depressa os namorados se vão.
Ah, os eternos dilemas morais! Acho que preciso de ir ao México pensar neles."
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