quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
A metamorfose (ou a teoria de como o meu Mr. Wrong pode ser o teu Mr. Right)
Porque será que a aquela história de amor connosco deu em história de terror e com outra pessoa qualquer ( e com aquela nossa mesma suposta e hipotética meia-laranja) funcionou tão bem, casaram, tiveram filhos, e vivem hoje apaixonados numa casa de cerca branca?
Certamente que todos contamos no nosso circulo de conhecidos com uma ou outra criatura, devoradora inveterada de espécimes do sexo oposto, que um dia, assim do nada, se transforma no apaixonado ou apaixonada mais devoto e embeiçado que neste mundo existiu desde Romeu e Julieta. Eu conheço um par de fenómenos destes (todos no masculino até ao momento, embora não descarte a ideia de algum dia uma das minhas amigas mais namoradeiras – que também as tenho – passar pelo mesmo processo de metamorfose). Tipos conhecidos pelo seu séquito de seguidoras, com uma fama que os precede e os persegue, cheios de histórias hilariantes, mas que certamente provocaram grossas lágrimas a alguma vitima mais incauta. Mas um belo dia, sem motivo aparente, conhecem uma donzela (e pelo menos num caso ou dois de donzela a tipa tinha só o “ela”) e o lobo mau dá lugar a um cordeirinho.
Ou então, numa outra versão semelhante desta mesma história, temos que a criatura fria, distante, taciturna, pouca dada a afectos e à sua manifestação, acorda um dia melosa, doce, disponível para todos os caprichos do seu amor, por força de uma paixoneta que transforma o cão raivoso em cachorrinho.
O Filipe era assim. Reza a história que não havia nesta cidade rabo de saia que lhe escapasse. Nunca conheci essa versão filipiana mas, por testemunho de ouvir dizer, sei que era bastante conhecida de porteiros de discotecas e outros personagens da noite. O Filipe que eu conheci vivia para a Rita, com a Rita, em função da Rita. Reza a história que se apaixonou perdidamente por ela mal a viu. Quando passou a fazer parte da minha lista de contactos hibernava em casa quando ela viajava e aos nossos insistentes convites para um copo ou um café respondi que, não estando ela… ele preferia esperá-la.
Enfim, este é um exemplo extremo, de como as pessoa dão voltas de 180.º graus na sua forma de estar no mundo. Mas em termos mais moderados proliferam relatos deste tipo, que sempre me fizeram alguma espécie. Porque é que com uma pessoa resulta tão mal e com outra resulta tão bem? O que muda exactamente? Muda o conjunto de circunstâncias exteriores, no sentido de que antes tínhamos ali um puto, um miúdo sem grande perspectiva de futuro que não fosse quantos copos ia beber e quantas gajas ia comer, e hoje temos um homenzinho, que já compreendeu que se continuar a viver assim vai terminar sozinho , a pensar em quantos copos a sua cirrose o vai deixar beber amanhã e quantos Viagras terá que tomar para criar, pelo menos, a ilusão rigidez corporal? Ou o que mudou foi a contraparte, porque a mulher errada (demasiado obcecada, demasiado impulsiva, demasiado complicada) deu lugar à mulher certa (curiosamente, mais obcecada, impulsiva e complicada do que a outra mas, ainda assim, a certa)?
Se calhar um bocadinho das duas coisas. Por um lado, as pessoas mudam com o passar dos anos e com as experiências pelas quais vão passado. Chama-se a isso “crescer”. Não acontece com todos, para mal dos nossos amores. Mas temos a esperança de que um dia ele bata com a cabeça num muro, ou tenha uma visão num sonho, ou simplesmente um amigo o chame à razão, e perceba que nós não estamos ali por não ter mais nada que fazer na vida, mas sim porque de entre as muitas coisas que temos na nossa vida ele é a mais importante, de modo que a ideia não é que ele se tenha que contentar connosco, mas sim que fique muito contente por estar connosco. Acontece que nem sempre a metamorfose se dá ainda perante a nossa presença. Muitas vezes passamos anos à espera que aconteça, mas a certo ponto damos o caso por encerrado, e depois, passado um par de semanas, ei-lo com o seu novo amor, como se de outro homem se tratasse. Provavelmente a nossa partida foi o clic que faltava.
Ou terá sido a chegada do novo amor que fez o tal clic? Será ela assim tão melhor? Objectivamente melhor, para todos os homens do planeta? Ou subjectivamente melhor para aquele homem em especial? Bem sei que são precisos dois para dançar o tango, mas bastará mudar um dos elementos para o par conseguir dar espectáculo? Ou não será que o tipo dança melhor agora porque ela, simplesmente, não se importa que ele lhe pise os pés? Ou seja, aquilo que para nós era irritante e ofensivo, para ela tem imensa piada, ou pelo menos não a atormenta, e por isso a coisa agora funciona onde antes emperrava. Será essa a diferença?
A minha teoria – nada cientifica, e apenas do foro empírico, e recheada de considerandos pessoais – é que a metamorfose resulta de toda esta multiplicidade de circunstâncias.
As várias relações vão moldando as pessoas e certamente todos contamos no nosso currículo com namorados que roçavam a idiotice, e que fomos domesticando com paciência e dedicação ao longo dos anos (Não te babes a olhar para outras mulher! Manifesta maior interesse por aquilo que se passa na minha vida! Não passes o fim de semana inteiro com os teus amigos!) e do qual abrimos mão após meses, senão anos, de trabalho intensivo, para hoje ser o acessório preferido de uma tipa qualquer, a quem caiu no colo já terminado e formatado. E caramba, que custa ver o produto do nosso trabalho pelo braço de uma consumidora final, que nada investiu naquele empreendimento amoroso.
Por outro lado, pode bem suceder que ele fosse um idiota para nós por não lhe demos o input suficiente para ser a better person. Se calhar nós puxámos o pior que havia nele, ao passo que o novo amor puxa o seu melhor. Em suma, por força de uma limitação pessoal não soubemos explorar da melhor forma aquele diamante em bruto, que continuou carvão nas nossas mãos e agora está feito num esplendoroso anel… na mão de outra mulher.
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