sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O relincho, esse piropo tão galante


Esta manhã, quando me arrastava para o ginásio nas minhas imundas calças de fato de treino e carinha deslavada de quem acordou há pouco, um tipo passou por mim (compreenderão de seguida porque não o chamo de “senhor”) e baliu. Sim, baliu. Meéééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééé! Como uma ovelha. Ou uma cabra. A verdade é que não sei bem quem bale, e na verdade pouco me importa, não fosse o facto de hoje me terem balido…
Ora, já não é a primeira vez que me emitem um som animal como sinal de alguma coisa que tomo como excitação e entusiasmo (em suma, o equivalente a um piropo no mundo das bestas). Há um par de anos atrás ia eu pela rua para um hot-but-not-hot encontro com o meu melhor amigo quando um tipo abranda o carro junto a mim, mete a cabeça fora da janela e… relincha. Assim mesmo, relincha. Até estaria disposta a imitar aqui o som produzido não fosse o pequeno pormenor de não o conseguir reproduzir. Mas posso garantir que era um autêntico relincho. Cheguei chocadíssima junto do meu Pedro, e contei-lhe a história com o mesmo ar estupefacto que teria se tivesse visto Jesus Cristo descer à terra. Mas o meu amiguinho do coração – e tradutor das reacções masculinas nas suas horas vagas - lá me explicou que aquilo era uma forma de os homens manifestarem o seu instinto mais animal e mais básico no que respeita a mulheres e ao sexo, em suma, ao desejo sexual,
Já possuidora deste conhecimento científico fui novamente confrontada com um destes encontros animalescos. Não obstante nesta altura ser já uma alma esclarecida nos mistérios do sexo oposto não pude evitar ficar surpreendida. Surpreendida porque desta feita tinha perante mim um grupito de cavalheiros que se dedicam à área da construção. Ora, toda a mulher portuguesa sabe que ao passar por estes espécimes humanos há um certo número de coisas que irá ouvir. “Ó filha, és tão boa!”, “Ai que rica gaiola pa meter o meu passarinho!”, “A tua mãe deve ser uma ostra para ter cuspido uma pérola destas”. Tudo isto dito numa voz tremente e à boca cheia, sobretudo o “boa”, que sai assim num som côncavo porque a boca se enche para o pronunciar.
As bocas de pedreiro são um dado adquirido, no qual já depositámos inclusive algumas expectativas. Como bem se compreende, estas expectativas saem defraudadas quando em vez de tão elogiosas palavras ouvimos outra coisa qualquer. Como já sucedeu uma vez comigo, em que criei essa expectativa quando os vi lá ao fundinho da rua, e em vez da tão espera pérola ouço uma coisa do tipo: “Olha, lá vem a Barbie girl”. Barbie girl???? Isto é o fim do mundo tal como o conhecemos. Agora temos pedreiragem que já não manda bocas ordinárias e em vez disso mostra dotes de conhecimento pop. Inadmissível!
Mas pior que ouvir a musiquinha da Barbie girl é mesmo ouvir um homem a ladrar-nos. Yap. Um ser humano a ladrar. Eu olhei boquiaberta à espera de ver um pitbull saltar detrás do andaime e eis que ouço a voz do coleguinha do dito com este comentário jocoso: “Ah cão, que mordias a menina toda!”.
E com esta que me fiquei.
Mas de facto estes episódios deixaram-me a pensar… será que tenho tido um comportamento pouco adequado para demonstrar o meu interesse face ao género oposto? Será que da próxima vez que dê de caras com um moreno alto no bar ou no shopping devo começar a cacarejar? Enfim, estou aberta a sugestões. Reconheço que até ao momento tenho optado por olhar timidamente para a peça, para logo de seguida baixar os olhos aflita não vá ele vir falar comigo. Eventualmente, e na melhor das hipóteses, lanço-lhe um sorriso tímido. Mas admito que possa ter incorrido num perigoso equivoco todo este tempo e que provavelmente a melhor abordagem seria começar a cacarejar e a dar-lhe bicadas. Ou a mugir. Que homem resistirá a um mugido?
Admito que sinto falta dos galanteios que ouvia nos meus tempos áureos de Roma. Embora grande parte dos italianos jogue na outra equipa não deixa de ser certo que continuam a gostar muito de mulheres e a presentear-nos com alguns dos mais elegantes e românticos piropos que ouvi na minha vida.
Já aqui, na Tuga, as modas são outras e o mais certo é sermos brindadas com um zurro ou um relincho.
Face a isto tenho que convir que me escapa totalmente o motivo pelo qual continuo solteira….

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