terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Até (e especialmente) as mulheres fabulosas têm vidas desgraçadas.



Até (e especialmente) as mulheres fabulosas têm vidas desgraçadas.
Seria de esperara que quando se é lindo, carismático, inteligente, divertido, rico, bem-formado, poderoso, sexy, enfim, quando se é aquilo que todos nós queremos ser, a vida seria uma bola de algodão doce.
Mas não. Bem pelo contrário. Parece que quanto mais fabuloso se é mais complexas são as coisas. Como se o universo pretendesse de uma forma qualquer vingar-se das benesses que nos foram dadas.
Tenho uma amiga fantástica. Daquelas que quando a conheci fiquei quase apaixonada por ela (na versão não lésbica da coisa, entenda-se). É uma das pessoas mais inteligentes que conheço, uma profissional reputadíssima na sua área, competente, uma líder nata. Mas ao mesmo tempo é também uma mulher muito bonita e sensual, de extremo bom gosto, que faz os homens virar cabeças onde quer que vá. E ao mesmo tempo ainda – como se isso fosse possível – tem um coração maior que o mundo.
Pois vim eu a descobrir que dentro da sua agitada vida, entre viagens e eventos, ela está, na verdade, sozinha. Vive há um quarto de século com um marido incapaz de apreciar a mulher fantástica que tem ao lado. Conheceu-o com vinte e poucos anos, na força de uma juventude que ainda mantém, quando ela era a aluna e ele o professor. E como as mulheres facilmente se deixam seduzir pelo charme e pela inteligência, acabou casada com um homem 14 anos mais velho, sobrevivente de um casamento, e com alguma fama de D. Juan entre as alunas.
Ora, reza a história que viveram felizes durante uma dezena de anos. Ela feliz por se sentir amada e respeitada, ele feliz por a fazer pensar assim enquanto mantinha o seu leque de conquistas. É curioso, não é? Quase todos apostaríamos que quando uma mulher jovem e bonita decide amarrar a sua vida a um homem mais velho, menos bonito, mais gasto pelo tempo, seria ele a temer a traição. Em boa verdade não sei se ele viveu esse temor e por isso decidiu agir em contra-reacção antecipada, ou se pura e simplesmente aquilo lhe estava no sangue, mas a verdade é que um certo dia alguém lhe disse a ela: “Desconfio que o teu marido anda a comer a minha namorada”. E ela riu-se. Como poderia tal coisa alguma vez ser possível? Pois se ela é que era linda, fantástica e maravilhosa? Se alguém algum dia viesse a trair, teria que ser ela, não ele.
E assim viveram outra dezena de anos, ele cava mais assoberbado pelo crescente sucesso dela à medida que a sua própria carreira e genialidade se desvanecia, ela cada vez mais descobria que na verdade houve muitas alunas depois daquela, muitos casos, muitas traições. E ela, como um bicho feriado, respondeu na mesma moeda, e começou a ter casos aqui e ali, coisa fácil para quem viaja muito e pode conhecer pessoas interessantes em qualquer momento.
Contou-me isto enquanto se vestia e se maquilhava. Eu atravessada em cima da cama a olhá-la, a admirá-la, em pensar em como aquela mulher era fantástica. Ela falava com um misto de dor e raiva. E eu pensava para comigo: o que é que esta mulher está a fazer com um palhaço destes? Ela podia ter bem melhor. E foi isto mesmo que lhe perguntei. Ela olhou para mim com uns olhos tristes (tão tristes que eram os olhos dela) e respondeu-me: “Ele é a minha família. Estamos juntos há 25 anos. Nunca estive tanto tempo com alguém, nem mesmo com a minha própria família. Ele é família”.
E assim vivia ela.

E eu penso de mim para mim que a vida é sarcástica. Por um lado, dá-nos tudo. Por outro tira-nos mais ainda. Quanto mais bem sucedidos somos profissionalmente mais fracassos somos na intimidade. Isn’t that ironic? Don’t think? Será que há alguma regra na natureza que nos impeça de ter tudo? Uma nova forma de divisão da riqueza, de tal modo que o sucesso profissional e mesmo social tem que ser contra-balançado com desastre atrás de desastre entre as quatro paredes? Chegas a casa cheia de ti mesma, com o ego elevadíssimo por um trabalho bem feito, e dás contigo sozinha a jantar em frente à televisão e a pensar em desligar o telefone de qualquer forma porque ele não toca? Recebes elogios de estranhos e as pessoas que mais te deveriam admirar dizem-te um dia que, afinal, deixaram de gostar de ti? Como é que possível que toda gente te ache fantástica menos a pessoa fantástica que escolheste para ti?
Certamente que esta regra tem as suas excepções. Tenho no meu rol de amigas e conhecidas gente bem sucedida em todos os domínios. As iluminadas, creio eu! Mas tenho sobretudo gente admirável, cheia de histórias e de experiências de vida, que viu mundo, que sabe coisas, com um CV do tamanho de um oceano, e que, basicamente regressam sozinhos a casa todas as noites, ou esporadicamente acompanhados, com uma daquelas companhias que se vai embora ao nascer do sol. Jantam em casa das famílias dos amigos, viajam sozinhas, e podem esticar-se à vontade na cama porque não há perigo de deitar alguém abaixo.
Ora, as mulheres fabulosas merecem melhor do que isto. Ou não?

3 comentários:

  1. Tás a ver o que fazem os homens? está-lhes no sangue, tentam sempre anular o que os faz sentir ameaçados. :)

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  2. Por outro lado... serão estas mulheres assim tão fabulosas se ainda assim escolhem ficar com estes homens no matter what? Se calhar somos só medianamente fabulosas...

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