quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Profissão: Cupido
Sim, sou uma daquelas pessoas chatas que acredita que algures pelo mundo caminha a nossa meia-laranja, que o amor dura para sempre e que ficaremos juntos até sermos velhinhos e partilharmos a mesma mantinha em frente à televisão. Choro até nas comédias românticas e mesmo nos desenhos animados, e em certo momento da minha vida já dei por mim a ouvir (Deus me perdoe!) Chris De Burgh e Michael Bolton.
Confesso: sou uma daquelas amigas chatas que está sempre a tentar juntar fulano com sicrana (ao tempo que eu andava para meter esta expressão num texto… e agora consegui!!!), que combina encontros aos pares, que organiza blind dates, que chega a guardar relatórios mentais de todos os amigos e amigas solteiros para o caso de poder juntar alguns deles.Ora, o mais estranho é que eu abomino que me façam isto a mim. Não poucas vezes me arranjaram encontrozinhos com rapazes muito prendados, mas eu fiz o meu melhor para os boicotar a todos Não é que tenha um ficheiro informatizado com as características e preferências de todos os meus conhecidos, nem tão-pouco uma agendinha cor-de-rosa onde escreva essas informações. Mas aqui dentro, na minha cabeça, vou registando o que se passa nas suas vidas. E de vez em quando consigo despertar uma curiosidade pela outra pessoa, marcar um café ou um jantar, e até já houve quem juntasse os trapinhos e tivesse filhos (enfim, até agora ainda só consegui um feito destes, mas continuo esperançosa). Não resisto a contar-vos esta história porque é linda e doce e não me deixa esquecer que coisas boas acontecem às pessoas boas.
Fui com ela a um jantar. Eu vivia fora e sempre que vinha a Portugal queria ser mimada pelos amigos, estar com eles e sentir-me em casa. Ela, a minha amiga mais querida, ficou ao meu lado. Ele estava algures entre o “amigo” e o “conhecido” e nem me recordo ao certo se tinha sido convidado por mim (é provável já que trabalhávamos juntos) ou se tinha sido levado por algum amigo comum. Ela tinha namorado, mas era só mais ou menos feliz. Creio que a relação estava mais adormecida que outra coisa, como sucede frequentemente com as relações a quilómetros de distância. A meio da noite ela pergunta-me: “Quem é aquele?”. Eu respondi qualquer coisa de irrelevante porque não percebi a pergunta. Ela insistiu. Eu digo-lhe que esqueça, e dei-lhe 20865 razões para não lhe ligar (sim, até os Cupidos falham de quando em vez). Ainda assim, apresentei-os. E quando me convenci da potencialidade daquele interesse, entrei a fundo no projecto. Segui a história a milhares de quilómetros de distância. Recebi telefonemas pela madrugada dentro, com os dilemas existenciais de quem está apaixonado e não sabe o que fazer. E um dia recebo finalmente o telefonema a dizer-me ia ser tia. Continuam juntos e felizes. E eu feliz com eles.
A verdade é que eu sou uma romântica. Mas mais do que isso, sou um pequeno Cupido que anda por aí a tentar juntar tudo o que é amigo, cão ou gato, porque não acredito que alguém possa verdadeiramente ser feliz sozinho.
Bem sei que muitos de vocês estão neste momento solteiríssimos, e talvez mesmo por opção consciente tenham terminado uma relação mais ou menos (im)perfeita. Compreendo que muitos preferem just to be left alone para fazer o que vos dê na realíssima gana antes que ter um carrapato agarrado ao coração, que vos massacra, vos questiona, vos tenta controlar os movimentos, enfim, um peso morto na vida de um adulto livre e desimpedido, independente e cheio de ânsia de viver.
Eu respeito isso. Mas, com todo o respeito que me merece essa crença, acho que estão errados. Acredito que o habitat natural do ser humano é a comunidade e a família. Acredito que, basicamente, o que todos queremos é amar e ser amados. Ser importantes para alguém. Fazer alguém feliz. Sentir a sua falta e que sinta a nossa. Mas isto é a minha opinião… a opinião de um tonto Cupido sem asas e sem flechas.
Ora, neste meu outro métier – que não é pago, mas já me tem feito tão feliz – já consegui fazer felizes algumas pessoas.
Face a tudo isto seria de esperar que eu – a conselheira sentimental que oferece opiniões a meio da noite por telefone e internet, a Miss Cupido dos corações desfeitos – vivesse um romance intenso numa relação douradora e apaixonada. Well, sabem como é. Em casa de ferreiro espeto de pau. Em casa de Cupido coração partido.
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