domingo, 19 de dezembro de 2010

Quatro casamentos (e um possível funeral)



Este fim-de-semana tive um casamento. E com este faço os 4 necessários para a seguir
me calhar na rifa um funeral.
Como qualquer pessoa medianamente sensata não morro de amores por casamentos. Ou seja, eu, que de todo não sou sensata, acabo por revelar aqui alguma sensatez. Bem sei que acaba por ser um contra-senso face à minha já desmesuradamente conhecida veia romântica, mas a verdade é que os casamentos têm muito pouco de romântico. Românticas são as cabanas juntos à praia, os jantares à luz das velas e os anéis de noivado escondidos em petit gateaux de chocolate. O casamento é uma espécie de antecâmara para o divórcio, e não há nada de romântico em criancinhas a correr, passando as suas mãozinhas gordas e gordurosas de rissol de carne pela seda do meu vestido, e o pai da noiva, já bêbado e a chorar, mas ainda a propor brindes. A melhor parte do casamento é mesmo poder ver o modelito da noiva. E a seguir dizer mal. Porque só ver não é interessante se não lhe pudermos despejar o nosso veneno em cima.
Sucede que nos últimos tempos tenho mudado a minha opinião acerca dos casamentos. Talvez porque esteja a ficar mais velha e pense se não deveria ter enveredado por outro destino, um daqueles com vestidos de folhos brancos e bolos de 7 andares. Talvez porque tenho uma fixação obsessiva por vestidos de noiva e apetecia-me casar só para poder vestir uma coisa daquelas, ainda que me divorciasse depois (mas após a noite de núpcias e a lua de mel, está bem de ver). Ou talvez porque os últimos casamentos a que tenho ido já não são de primos distantes nem de filhos de amigos dos meus pais, mas dos meus próprios amigos.
Ora, isto faz uma grande diferença. Porque agora consigo sentir um bocadinho da alegria deles. Sinto-a como se fosse minha. Até dou comigo de lágrima ao canto do olho em plena igreja. Imagino-os os dois, juntos e felizes, e qualquer réstia de sarcasmos face à boda se desvanece.
Claro que ainda assim continuo a ver as cerimónias de casamento como um autêntico calvário para mim. Este último não foi excepção, apesar de ser a celebração do incondicionado amor de um amigo muito querido.
1.º dificuldade: a escolha da farpela. Desculpem, mas quem se atreve a casar em Dezembro? Já não é a primeira vez que me pregam esta partida. Pois como é que uma Barbie vai encontrar roupinha para usar com temperaturas quase negativas? Sobretudo se for friorenta como eu? Levo a botija de água quente colada ao rabo? Apareço de gola alta, galochas e um gorro? Obviamente que a única solução possível para mim é usar um dos meus “vestidinhos de gala” (seja lá o que isso for), 4 casacos em cima, e ir preparada para dar ao dente a comer e a gemer. De frio. Óbvio… (digo eu).
2.º dificuldade: encontrar acompanhante é sempre tarefa complexa. Já partilhei alguns pensamentos e experiências sobre este ponto, de modo que não me alongo, mas sempre direi que esta é uma daquelas alturas em que um namorado faz muita falta na vida de uma miúda. Para isto e para mudar os fusíveis.
3.º dificuldade: sentarmo-nos a uma mesa em que não conhecemos ninguém. Bem, na verdade, não sei o que é pior, se ficar sentada com desconhecidos, se com conhecidos que preferíamos não conhecer. Mas é uma daquelas situações em que se tem que fazer conversa, e eu sou péssima em diálogos sobre meteorologia e afins. Já para não falar das vezes em que os coleguinhas de mesa emborcam um copo a mais e o resto do copo vem parar ao meu vestido.
4.º dificuldade: as fotos. Primeiro, não sou fotogénica. Segundo, não sou fotogénica. Terceiro, não sou fotogénica. Quarto, parece uma corrida louca para chegar aos noivos antes dos outros 200 convidados para poder aparecer na tão desejada fotografia com o parzinho.
5.º dificuldade: o atirar do ramo. Já coloquei a minha vida em risco um par de vezes na vã tentativa de o apanhar. Nem sei ao certo para quê. Desde logo, porque não tenho base científica para crer que as florinhas funcionem como amuleto de noivas. Mas também porque ainda não estou certa que quero que funcione comigo. Acho que aquilo que me impele é mesmo o desafio de o poder apanhar no ar, superando um bando de mulheres enraivecidas. Já que nunca brilhei no voleibol poderia ao menos brilhar no voleibouquet. A questão é que ainda não consegui tal feito, e já quase me arrisquei a ser abalroada por uma senhora brasileira que fazia tanto gosto em casar-se com o seu Zé que veio a correr do fundo de uma sala escorregadia, e num acrobático salto conseguiu apanhar o bicho (o bicho ramo e talvez o bicho homem) ao mesmo tempo que me dava uma cotovelada no olhos. Mas valeu bem a pena o meu olho negro só para ver a cara do fulaninho quando ela se lhe atirou ao pescoço a gritar: “Apanhei amor, apanhei. Você tem qui casar comigo agora né?”.
Em suma, o casamento é um evento torturante para quem não se casa, e provavelmente também para quem se casa. Mas esse “quem” é um daqueles amigos que trazemos connosco no coração deixamos de nos importar com os olhos negros, as fotos e os vestidos que nos deixam a tiritar. É que, pensando bem, é especial que eles nos tenham escolhido para passar com eles um dia especial.

2 comentários:

  1. rsrss... Eu não me esforço nem um pouco para pegar o bouquet, na verdade prefiro mesmo sair da frente... e olha que sou brasileira... rsrsr

    Ja odiei casamentos... hoje me emociono... devo estar ficando velha também... rsrs

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  2. Eu falei na senhora na senhora brasileira porque foi dela que levei a cotovelada que me borrou o rimmel. Mas olha que eu já vi muitas tuguinhas a lutar por um punhado de flores Karina. Eu é que já aprendi a lição e fico escondidinha no canto.

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