quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Como sobreviver a um coração partido


Volta e meia o meu cérebro precisa de junk food intelectual. Precisa de coisas fúteis, bonitas e brilhantes, de vestidos, festas e palermices. É um tonto este cérebro, mas é o que tenho, tem-me dado muitas alegrias, de modo que lhe faço a vontade. Gravo os documentos e faço um zapping na televisão ou uma navegação na web para ver as últimas novidades naquele mundo lá fora onde se bebe champanhe ao pequeno-almoço e se dão gorjetas de 10 mil dólares.
E uma coisa posso concluir: quando se tem dinheiro sobrevive-se melhor a um coração partido.
Há um par de dias atrás sofri um choque emocional quando ouvi num canal da especialidade que a Scarlett Johansson e o marido, aquele cavalheiro de abdominais bem definidos chamado Ryan Reynolds, se divorciaram. Ora, isto deixa-me triste.
Os finais de contos de fadas deixa-me sempre perturbada, sejam desgostos de amigos íntimos sejam de gente que nunca vi. Sou atacada por uma angústia, um desânimo, um descrédito. No fundo, cada vez que a coisa corre mal com os outros torna-se mais real o mal que pode correr – e corre – comigo.
Um amigo com o qual partilhei o meu nó na garganta apontou-me alguns aspectos positivos deste desastre amoroso.
Mas…
Que me interessa a mim que o senhor das abdominais esteja agora no mercado? Eu opero num diferente círculo comercial, de modo que pouco me aproveita a sua recém-adquirida disponibilidade amorosa, até porque estou em crer que já existia antes.
Que me importa a mim que possam ser mais felizes separados? Talvez sejam, talvez não. Este argumento, que tantas ouvi em relação aos desfechos trágicos das minhas próprias histórias, nunca me deu alivio. Porque até chegarmos ao ponto em que efectivamente no sentimos melhor ainda há espaço e tempo para nos sentirmos pior, muito mal mesmo.
Não é que eu esteja propriamente a viver dores que não são minhas. Já me bastam as que tenho, não sou masoquista ao ponto de chorar o desgosto dos outros. Mas tão-pouco posso evitar sentir um bocadinho daquela dor (talvez porque já a vivi e revivi na pele).
Mas sobretudo o que me custa é aceitar que aquele rompimento seja (mais uma) prova de que nada dura para sempre.
Agora, uma coisa é certa: por muito desgostosa que a menina Scarlett esteja neste momento (e acredito que sim, porque ser humano implica que não se passe incólume por episódios destes) a verdade é que a sua fabulosa vida e o seu fabuloso dinheiro vão tornar bem mais fácil a cicatrização do pobre coração despedaçado.
É que enquanto eu me fecho em casa uma semana, a carpir as mágoas, a olhar para uma pilha de livros e uma sala vazia, a menina foi para Jamaica com as amigas, apanhar sol e beber cocktails. E provavelmente quando regressar vai gastar mais um milhão em compras, fazer uma lipo ou uma plástica ao nariz (que não precisa, mas só porque pode) e arranjar um boy toy 5 anos mais novo e 10 abdominais mais acima.
Não é que estas coisas sejam remédio milagroso para desgostos de amor mas… caramba, não seria tão mais fácil se eu estivesse agora numa praia paradisíaca a afundar tristezas num mojito?
Provavelmente não.
Provavelmente eu continuaria a comportar-me da mesma forma patética. Estou em crer que por mais dinheiro, fama e sucesso que tivesse continuaria a meter pensinhos rápidos no coração e a tomar xaropes de lágrimas e soluços para ver se a dor passava.
Devo dizer que até acho que lido com relativa graciosidade com contrariedades, mas só as de outro tipo. Os desgostos amorosos, esses malvados, deitam-me completamente abaixo.
Por isso se há coisa que eu admiro nos outros é a capacidade de passar por estes atribulados revés como se fosse um mero tropeção na calçada.
Há dias uma amiga confidenciou-me que o seu casamento tinha acabado. E eu entrei naquele pânico súbito que estas notícias sempre me trazem e perguntei-lhe em aflição se estava tudo bem, se precisava de alguma coisa, garanti-lhe que eu estava aqui para a ouvir. E ela respondeu com a maior das tranquilidades que estava óptima, que a decisão tinha sido dela, que continuavam amigos, e que estava super feliz com a sua nova vida de solteira, com todos os encontros e oportunidades que a mesma lhe proporcionava.
Li estas palavras – foi por mail a conversa – e senti-me a criatura mais tola do planeta. Aliviada por ela, mas envergonhada por ser incapaz de perceber a felicidade e serenidade desta mulher. Não posso garantir que semelhante alegria tenha chegado para ficar ou se não será apenas momentânea, como o canto do cisne antes da solidão se instalar. Mas ainda que assim seja não posso deixar de a admirar.
Eu, porém, nunca poderia ser como ela, nem como a Scarlett, nem como todas essas pessoas admiráveis que seguem em frente depois de se defrontarem com o fim de uma história que certo dia se pensou ser eterna.
Desde logo porque a minha versão da “fuga para um sítio paradisíaco” foi para um Bilbao frio e chuvoso, onde passei uma semana a trabalhar e a beber aquele terrível café espanhol como alternativa às piñas coladas. Ao invés de wild friends tive a gentil e jamais irretribuivel companhia de uma queridíssima amiga, contudo, tão ou mais triste e magoada do que eu. Tivemos as nossas sessões de choro, de raiva e de desânimo, e a maior loucura que cometemos foi ir ao Corte Inglês gastar dinheiro que não tínhamos, com o qual comprei um vestido que mal tenho coragem de usar e umas Levis que só consigo enfiar em mim deitada na cama e deixando de respirar durante 10 minutos.
As insanidades que não se cometem às ordens de um coração partido!

2 comentários:

  1. Este texto pareceu-me autobiográfico.
    Np mês de dezembro também o meu namorado se lembrou de que já não gostava de mim, que este sentimento teria passado gradualmente (se 3 dias são graduais). A forma como o fez não foi nada em comparação ao que me aconteceu com o choque. Tive uma paragem cardíaca. Ele só me ligou preocupado mas não apareceu sequer para me visitar. Depois de um amor perfeito, de juramentos eternos por parte dele, acabou. Acabou e eu não vi nada acabar. Passado algum tempo disse-lhe que tinha superado esse amor. O que ele não sabe é que lhe menti. Continuo a ama-lo, continuo a chorar todos os dias ao ponto de ter uns olhos horrorosos de tão vermelhos e inchados. Chorei quando nao o tinha. Quando o tive fui a pessoa mais feliz do mundo. MAs o amor acaba. A verdade eq em toda a minha vida nunca acreditei no amor, nem no amor eterno até o ter conhecido. Ele virou a minha vida de patas para o ar. O tempo que o tivve foram os melhores. Eu sei que ele também teve bons momentos, éramos felizes. Mas como se deixa de amar uma pessoa num processo graduas de dias?! Fugi para Londres, para curar o desgosto, voltei na sexta e...
    Ao ponto de descobrir hoje que pouco depois da nossa relação acabar, ele já teve um caso com uma mulher que, segundo ele começou a gostar pouco antes, isso tudo antes de pôr um ponto final na relação. Porque segundo ele somos amigos e pode-se falar nisso. Mas não, não se pode. Não quando ainda o amo tanto ao ponto de todo o meu organismo doer, ao ponto de não conseguir comer, de não parar de chorar, de me sentir tão vazia que só penso que aquela paragem cardíaca deveria ter-se mantido e que a reanimação por parte do INEM teria sido escusada. Como adulta sinto-me patética, ao sofrer assim por alguém que não me quer mais. MAs como não sofrer, se foi o único homem que se amou numa vida?! Enfim, aqui estou eu a massacrar quem está a ler isto, mas de certa forma, neste momento, não me sinto tao infeliz, pq por uns minutos as lágrimas pararam de correr. E sei que um dia não correrão mais, mas até lá, quanto tempo tenho que esperar?! semanas? meses? anos?
    O coração partido é a maior dor que se enfrenta e infelizmente não existem analgésicos de efeito imediato. OH meu deus, quem me dera que existisse algo que pusesse um termo a esta dor.
    Gostei do artigo. Encontrei o seu blog ao acaso e ainda bem. Sou solidária quanto ao seu mal e vivo-o da mesma maneira.

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  2. Ola....li o seu comentario e posso dizer que nao tive a mesma experiencia que voce, com essa intensidade de ser um namorado, mas simpatizei com a sua historia. Na verdade, sou brasileira e moro aqui em Londres tambem faz 8 meses. Conheci um italiano no finalzinho de 2010 e comecamos a sair direto. Tudo perfeito...nao ouso dizer que foram os dias mais felizes da minha vida mas foi a primeira vez na vida que senti uma paixao ardente correspondida..foi perfeito.. Soh que o fato eh que ele voltou a morar na italia quinta passada depois de mais de 5 anos morando aqui...e ele sumiu...Se estou sofrendo? Demais....hoje eu me permiti ficar triste e nao fiz nada o dia inteiro...comi chocolate, pipoca e bebi coca-cola. So que aquele ditado " o que nao me mata, me fortalece" eh uma verdade.. Me permiti ficar triste hoje mas amanha eu vou sacodir a poeira...porque o mundo nao para porque a gente esta triste. Eu sinto exatamente esse vazio...a minha familia fica me pressionando pra casar...eh uma cobranca deles e uma sensacao de fracasso minha.... Nao podemos deixar que esses sentimentos dominem a gente... nao foi o primeiro que me magoou e provavel que nao seja o ultimo...mas sei que cada vez mais tenho controle da minha vida, e nao vou colocar minha auto estima no buraco,a dor nao vai passar de uma hora pra outra, mas o tempo vai curar, tenha certeza disso.. sei do meu valor, se valorize! Porque a vida continua!

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