quarta-feira, 6 de abril de 2011

Just another blond girl in Germany (ideias soltas sobre a experiencia alemã)


Por motivos de trabalho tive que me deslocar a Colónia. Contrafeita, devo dizer. Não sou fã da Alemanha, nem de alemães, nem da língua, nem de bratwurst, nem de nada, digamos assim. Aqui, de onde vos escrevo, mordo a língua por tudo o que disse. Até fazer sangue. Porque estava redondamente enganada e cheia de falsas convicções…
A primeira surpresa desta viagem foi a lista de pessoas simpáticas que fui encontrando pelo caminho. Um dos motivos pelos quais continuo a gostar tanto de viajar prende-se com o facto de sempre encontrar pessoas gentis, que estão dispostas a alterar os seus planos para me encaixar a mim. Em Colónia houve quem se desviasse do caminho de casa para me indicar uma morada; um professor conseguiu incluir-se na sua pesada agenda; uma nova amiga arranjou tempo para me mostrar a cidade. Tenho tido a sorte de me cair em cima sempre o que há de melhor nas pessoas, incluindo os alemãs (e ainda estou só na parte espiritual).
Apesar dos meus preconceitos com carnes vermelhas, lá acabei por experimentar a especialidade da casa: carne de porco fumada com cerveja alemã. Aquilo que num primeiro pensamento me daria náuseas soube-me, efectivamente, bem. Aliás, toda a comida alemã me soube bem. À minha boca e à minha anca, diga-se de passagem. Mordo a língua por todas as vezes que amaldiçoei cerveja….
Outro mito que caiu por terra foi o da suposta beleza das meninas. Minhas amigas – ressalvando as inegáveis excepções – falo-vos de criaturas feias, de gosto duvidoso e, eis aqui a melhor parte, muitas delas rodas baixas e ancas largas… just like us! Sim, a Claudia Scheiffer não é, de todo, a alemã típica.
De tanto morder a língua, falo agora na língua. Até hoje resisti heroicamente a aprender alemão. Enfim, mantenho as aparências. Increvo-me em aulas, onde não vou, compro dicionários que não folheio, e agora até me deu para pagar traduções particulares que cada mês me deixam a conta bancária mais ínfima. Isto porque sempre achei o alemão um idioma bárbaro, duro, ríspido. De repente, a suavidade daquelas sílabas indecifráveis enchem-me os ouvidos. Quase estou pronto a ler a filosfia kantiana e heideggeriana na sua versão original.
Depois, o fantasma do nazismo. Acho que foi esse o principal motivo que tanto me fazia desgostar do povo. Mas todas as sociedades têm os seus momentos negros, e não vale a pena fustigarmo-nos eternamente pelos pecados dos pais. Devo até dizer que o povo, no geral, me pareceu um pouco tonto. No bom sentido, leia-se. Como aquele colega nerd, de óculos e borbulhas, que é o melhor da turma mas teima em esbarrar nos vidros. Custa a crer que tenham tido a pretensão de dominar o mundo. E, de novo, mordi a língua.
Mas a dentada que encerrará estas breves reflexões é mesmo daquelas de fazer sangue. Porque a gaffe em que incorre até ao momento em que finalmente vi a claridade era imesna. Assumo que sempre achei os cavalheiros alemães pouco interessantes. Demasiado pálidos. Demasiado sonso. Demasiado sem-graça. Nada que se comprasse à lábia e ar gingão do macho lusitano. Minhas senhora, bastou sentar-me numa esplanada para descobrir ali maravilhas nunca antes vistas nesta nossa varanda para o Atlântico. Devo dizer que, das muitas vezes que me lamentava ao meu orientador sobre as dificuldades em aprender alemão, ele me respondia sempre, paternalisticamente: “Sabe, alemão só se aprende de duas formas: ou pelo berço (refere-se o senhor ao facto de se nascer alemão) ou por almofada (nem explico a que se refere…)”. E repetidamente tenho respondido: “Senhor Doutor, tendo em conta que eu já nasci há uns anos e que os alemães são tão feiinhos, morrerei ignorante”. Feiinhos? Agora é que mordo mesmo a língua! Ein deutch man für mich, bitte!

5 comentários:

  1. ein deutscher Mann für dich... Selbstverständlich!

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  2. Que bem que sabe chegar ao fim do dia e deliciar-me com estes momentinhos em que leio estas palavras! =)

    Quando descobri o blog fiquei francamente mais descansada. Percebi que, afinal, naquele universo de gente que se acha muito altiva, reis de um qualquer reino, em que nós somos reles criaturas ignorantes, há pessoas normais. É que "lá" aparenta tudo uma arrogância e tamanha seriedade que nos arrumam com um olhar a um canto. Às vezes desabafo com colegas "Credooo, será que daqui a uns anos ficamos com aquele ar!?" Bem, já me estou a alongar... Quero apenas dizer que lhe dou os meus parabéns por conseguir ser um génio, e, em simultâneo, uma pessoa normal, com os mesmos dilemas que o comum dos mortais. Afinal, "lá" há pessoas que se riem e vêem comédias como eu! =)

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  3. Caríssimo anónimo, até lhe poderia agradecer tão gentis elogios. Mas não o posso fazer. Mas não o posso fazer... como se atreve a encher-me tanto o ego que de repente fiquei 20 kg mais gorda???? enh???

    Thanks. You made my day.

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  4. http://www.youtube.com/watch?v=lkismiXva3M

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  5. Bem... não diria tanto Aqualung... mas foi uma boa analogia :))

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