sexta-feira, 15 de abril de 2011

Íntimo e pessoal: o assunto das casas de banho


Parece que agora estão na moda as casas de banho mistas. Enfim, não exactamente mistas porque em bom rigor temos aquela fina, finíssima, parededita de contraplacado a separar as minhas águas das deles. Mas, ainda assim, casas de banho caracterizadas por uma promiscuidade com a qual não posso pactuar.
Esta modernice já não é nova para mim.
Era uma jovem e ingénua estudante em Roma, acabadinha de chegar a terras de S. Berlusconi das Donzelas Castas, quando um dia na universidade senti vontade de fazer o meu xixi. No melhor italiano que na altura expressava as minhas dúvidas e emoções lá perguntei onde era a dita, supondo que não seria necessário especificar que procurava a casinha das meninas, até porque o tamanho do meu rabo e dos saltos dos meus sapatos não deixam grandes dúvidas quanto ao sexo biológico de quem vos escreve. Segui as instruções tal qual me foram transmitidas pelo meu cérebro confuso com tanto som estranho naquela língua cantada. Mas acabei por entrar num lobby de quarto de banho onde um senhor, de costas para mim, fazia a sua mijinha no urinol.
Com suma preocupação afastei-me rapidamente do local do crime e lancei as culpas por esta situação porno-embaraçosa ao meu fraco domínio da linguagem. De modo que interceptei outro jovem e incauto estudante e de novo lhe perguntei pela casa de banho, desta feita tendo o cuidado de especificar que procurava qualquer coisa cor-de-rosa e com rendinhas. De novo segui as orientações do mapa mental que desenhara na cabeça, e … eis-me de novo à entrada da dita porta, com o dito senhor ainda de pilinha na mão, em pleno acto de necessidades (pilinha que eu não vi, faço notar, porque sou míope e o órgão em questão não tinha provavelmente tamanho suficiente para o poder vislumbrar da soleira da porta). Ali fiquei, naquele limbo, uma espécie de purgatório entre o inferno da minha bexiga prestes a rebentar e o paraíso de uma sanita semi-semi-semi-limpa.
Uma alma caridosa e sensível ao meu sofrimento de pessoa que está muito apertadinha para um xixi lá me explicou que ali na Faculdade os xixis eram feitos lado a lado. Nem queria acreditar naquilo que estava a ouvir. Quer-me V. Exc. dizer que na terra do Vaticano, do catolicismo e dos eleitos para entrar no Céu, se admitia tamanha pouca-vergonha?
Não no sentido sexual da coisa, que eu nisso sempre achei que entre adultos e com consentimento vale tudo menos tirar olhos. Eu é que não estava preparada para dar o meu consentimento a que um daqueles machos latinos ouvisse o barulho do meu xixi. Pronto. Mas como não tinha outro remédio, lá engoli em seco e me arrastei sorrateiramente para a casa de banho, onde devo ter feito o xixi mais rápido de que há memória na história da humanidade.
Já não me recordo ao certo, mas tenho para mim que durante o resto da minha estadia na universidade devo ter parado de beber água ou passado a usar fraldas para adultos incontinentes, porque a verdade é que não tenho mais nenhuma memória de outra visita à casa de banho.
Sucede porém que o meu trauma antigo foi há dias ressuscitado quando dei de caras com outras destas bárbaras obras de arquitectura num sítio que frequento … com alguma frequência, digamos assim.
Fiquei estupefacta. Que coisas dessas se façam na terra onde o líder come prostitutas menores de idade, ainda vá que não vá, mas nós somos gente séria caramba. Não gostamos de ordinarices destas. Se é para ser ordinário e lascivo, vá-se buscar um par de algemas e um chicote. Agora, coisas estranhas enquanto se trata das necessidades fisiológicas, isso não.
Numa altura em que tanto se fala de privacidade – privacidade de dados, privacidade de telecomunicações, privacidade genética – não haverá para aí também uma privacidade fisiológica?
Uma amiga ainda me explicou as possíveis vantagens deste novo paradigma na relação triangular: homem/mulher/necessidades. De facto, quem tem filhos meninos que não sejam suficientemente crescidos a ponto de já baixarem as calças sozinhos, mas já não tão crescidos a ponto de aceitarem passivamente ir com a mãe à casa de banho das meninas (mal desconfiam eles que daqui a uns anos não quererão outra coisa) sente um alivio ao poder ter ali o melhor dos dois mundos. Assim pode acompanhar o filhote varão à casa de banho sem tratamento inumano e degradante à pobre criança, quantas vezes forçada a ver senhoras velhotas ainda a subir a cinta e a combinação.
Mas como eu já sei subir e baixar as minhas calças não partilho essa alegria. E não consigo deixar de ficar constrangida com a mera ideia de casa som, de cada movimento meu, poder ser percepcionado por todo um vasto e anónimo (ou não tão anónimo) universo masculino.
A verdade é esta: há uma série de coisas que devem ficar reservadas só para nós: palitar os dentes, limpar o nariz, passar o fio dental, mudar de tampão e fazer as coisas que se fazem sentada na sanita.

4 comentários:

  1. Podes crer...

    Acho que nos cruzámos nesse sítio há dias. Aflitivo não se vislumbrar alternativa, pipoca, aflitivo!

    Beijinho*

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  2. É nestas alturas que se sete a falta de uma capa académica baby

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  3. Ahahahah não sabia da existência desta realidade, que sinceramente me faz um bocado confusão :S mas temos que nos adaptar ao sítio onde nos encontramos, no fundo é tudo uma questão de hábito...e abstracção vá lol :D
    Sigo-te ;)

    http://closet-e-beauty.blogspot.com/

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  4. Hum... coisinhas bonitas para as Cinderelas usarem. Visitem este closet ;)

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