sexta-feira, 22 de abril de 2011
Bravehearth: os heróis de hoje
Até há uns tempos atrás eu admirava a coragem daquelas que tinham decidido viver as suas vidas sozinhos. Gabava-lhes a bravura, a audácia, a capacidade de se aguentarem pela vida fora sem ajudas nem ombros onde encontra-se. De certa forma a vida a dois parecia uma muleta simpática onde amparar as agruras do dia-a-dia.
Creio que este é o entendimento do comum dos mortais. Recordo-me de a certa altura me lamentar para com uma amiga sobre a solidão e anexos da mesma, e de ela me ter olhado com certa compaixão enquanto perguntava porque raio não conseguia eu estar sozinha. Como se estar sozinha fosse uma coisa que se tivesse que se conseguir, um esforço sobre-humano, dada a grande dificuldade da aventura da solidão, em contraposição ao modo fácil de viver a vida, que seria estar acompanhado.
Eu estava errada. A minha amiga estava errada. Provavelmente metade do mundo está errado.
Porque viver sozinho é simples. It’s peanuts. O difícil é viver com alguém.
Quanto mais penso no assunto mais me convenço que a vida a solo é a opção mais fácil e mais segura. Tudo bem que tem os seus momentos de solidão. Mas nunca se cai em grandes desânimos nem em tristezas infinitas. Faz-se o que nos dá na realíssima gana sem ter que dar contas a vivalma. Podemos estar amuadas à vontade. Dormir com maquilhagem e acordar borradas. Não fazer a depilação durante meses. Ver programas lamechas todas as noites. Chegar a casa pública e explicitamente com os braços cheios de sacos de compras sem nos preocuparmos em escondê-las ou em inventar promoções/saldos/ofertas em lojas imaginárias. E não corremos o risco de nos sentirmos culpadas com algum olhar mais lascivo para o coleguinha de ginásio. Afinal, estamos livres. Livres e desimpedidas, that’s our middle name.
Não há aqui dificuldade, nem risco, nem acto de bravura.
Coragem mesmo é a de quem abre mão de tudo e se lança nesta misteriosa aventura chamada “amor”. O amor é um lugar estranho. Estranho e perigoso, cheios de areias movediças. De longas esperas por um telefonema. De concessões em férias e restaurantes. De ciúmes. De dor. De lágrimas.
Caramba, porque é que as pessoas se apaixonam? Seremos todos masoquistas, à espera de mas uma chicotada ou mais uma traição, enfim, aquilo que doer mais.
É preciso ter um coração brutal para estas coisas. Um coração enorme, do tamanho do mundo. E robusto, que se aguente à bronca com emoções fortes. Um daqueles corações inquebráveis, como os telemóveis anti-queda e os brinquedos dos bebés. Um coração que não rache nem se amolgue com qualquer embatezinho (leia-se, com traições, mentiras ou ausências).
Porque, sejamos honestos, esta gente que teima em viver a dois arrisca-se a perigos insuspeitos. Não há Boina Verde nem agente secreto que corra tamanhos riscos todos os dias. Cada manhã ao acordar se arriscar a ouvir a um “Querida, não te amo mais”, “Desculpa, estive com outra pessoa”, “Acho que devemos dar um tempo” ou “Afinal, não é isto que eu queria”.
Como é que se sobrevive a uma merda destas? Como raio é que se aguentam em cima das pernas depois deste terramoto lhes arruinar toda a vida que tinham sonhado e planeado e ansiado?
Será que há seguros de vida contra estes acidentes? Seguros contra rupturas de relações e traições? Enfim, se já há quem faça seguros às pernas e às mamas não vejo porque não se possa fazer aos corações.
Será que estas pessoas destemidas sabem naquilo que se estão a meter? Ou será que pensam que um capacete e um colete anti-bala é suficiente para as proteger? Porque se assim pensam lamento dizer-vos que estão profundamente erradas. Podem ter convosco juras de amor eternas, alianças de casamento, casa e carro comum, filhos, um cão e uma casa de cerca branca, mas nada, nadinha disto é garantia de esse amor vai permanecer para além da vossa esperança. Os amores são assim mesmo: nascem com os dias contados. São uma espécie de iogurte com o prazo de validade que, chegado ao fim tem que ser deitado fora.
Não sou a valente no meio da história. Eu escolhi o caminho fácil, onde não há desilusões, nem mágoas. Em troca desta segurança abdiquei de alguma outras pequenas coisas, é certo, mas o risco era demasiado elevado para achar que valia a pena.
Valentes são aqueles heróis de coração corajoso que vivem cada momento no fio da navalha, sem nunca saber quando irão ser trocados, atraiçoados, abandonados ou desamados.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Para mim a questão é simples, a solidão você escolhe, na vida a dois, você é escolhido.
ResponderEliminarÉ, estamos com uma placa protetora contra - possíveis ilusões amorosas, mas como não tê-las? Fazemos tantas loucuras, saimos do nosso controle, é como já disse a entrega do controle remoto, o coração que se entrega e simplesmente espera a docura de um beijo, um abraço ou simplesmente um olhar. Amar é dos deuses. Ainda não deixei de amar, o problema é a quem dar tanta coisa boa guardada no peito. Beijo e ótimo texto. Carmela Grune
ResponderEliminarJeferson, eu acho que só fica sózinho quem quer. Poderá não ser o amor da sua vida, mas sempre haverá neste mundo algum/alguma idiota que se perde de amores por ti. A questão é: vale a pena o risco?
ResponderEliminarNão sei se conseguimos evitar cair nessa tentação da paixão Carmela. Mas pelo menos podemos esforçar-mo-nos por isso.
ResponderEliminarUm abraço
não disse que conseguimos... tentamos colocar proteções, mas postei agora pouco no facebook "amar não é uma escolha é um encontro de almas perdidas".
ResponderEliminaramar é dos deuses!
And those by themselves by choice or by some reward
ResponderEliminarNo mistakes only now you're bored
This is the time of your life but you just can't tell
She Wants Revenge
Infelizmente, "Le temps détruit tout"...
ResponderEliminarRevenge?
ResponderEliminarNo.
Love.
Infelizmente não nos é possível ter a dimensão de infinito, tudo para nós tem um fim, um limite ou um prazo de validade, se a vida está sempre a tender para o fim, porque acha que uma relação tenderia para durar infinitamente?
ResponderEliminarTodas as relações são datadas, implicam cedências, viver implica cedências, mas encontrar a pessoa certa não é um assunto encerrado, não somos certos em todos os momentos, mas certo uma vez na vida é melhor que nunca sentir que a dormir ali ao lado está alguém com quem vale a pena acordar.