quarta-feira, 2 de março de 2011

Facebook makes the world go ‘round


Há uns anos atrás era o dinheiro que fazia o mundo girar. O poder. O sexo. O amor. Nada disso. Todos enganados. Facebook makes the world go ‘round.
O livro das caras pode ser usado, desde logo, para aqueles fins comezinhos e banais que todos já conhecemos: uma forma de ter os amigos sempre ali à distância de uma tecla, pa breve distracção que interrompe o expediente diário de trabalho, um motor de busca de amigos de infância há muito perdidos pelo caminho da vida.
É também um sítio de engate. Nesta altura podemos até dar um passo atrás e dizer que não o usamos para esse fim, que desfaz o romantismo da coisa, mas a verdade é que desde o seu inicio que tem sido usado para esse objectivo e hoje, como revelam as estatísticas, parece que na maioria dos pedidos de divórcio se encontra uma referência ao FB por entre as queixas e requeixas das partes desavindas. A quem queremos nós enganar?
Quando o Mark Zuckerberg criou este bicho estava longe de imaginar as proporções que iria tomar tanto mais que a sua ideia inicial era arranjar uma forma de comer gajas. Basicamente isso: um mecanismo para os nerds deste mundo conhecerem miúdas.
Mas o FB começou a ser empregue para os mais variados e inusitados fins: para investigar parceiros de negócio, para averiguar o paradeiro de alvos a abater, para coscuvilhar a vida de coleguinhas de trabalho, para controlar os contactos das caras-metade, para os empregadores formarem opiniões sobre futuros e potenciais trabalhadores e (agarrem-se à cadeira) para planear revoluções.
Já lá vai o tempo em que os gritos de guerra ecoavam por tambores ou eram difundidos por entre as notas musicais de uma canção passada de forma aparentemente ingénua numa rádio. Hoje em dia vai-se ao mundo virtual e reúnem-se as hostes. Mas, claro está, seria moroso e trabalhoso enviar um mail a todos e a cada um dos potenciais revolucionários, de modo que é bem mais fácil anunciá-lo no site onde todos estão (excepto uma ou duas pessoas estranhas no mundo que não merecem o ar que respiram).
O mais estranho é que neste caso os utilizadores do FB acabaram por ser os mais insuspeitos de todos: gente que à partida etiquetaríamos de conservadora, a viver em Estados repressivos e ditatoriais, onde o acesso a muitas páginas da net é limitado.
Mas contra todas as hipóteses, eis que primeiro a Tunísia, depois o Egipto, agora a Líbia, e ao que parece o Iémen, a Jordânia e por aí fora, preparam-se para pôr fim a décadas de repressão e dão o seu grito do Ipiranga.
Ora, eu estou orgulhosa desta gente que procura assim o seu caminho de forma tão corajosa. Estou também um pouco temerosa do que aí vem, há que dizê-lo. Não tanto porque é quase certo que estes novos e independentes produtores de petróleo se unirão e em jeito de monopólio imporão preços tão exorbitantes para cada barril que provavelmente vamos ter que mudar muitos dos nossos hábitos de mundo civilizados e mecanizado. Mas não tanto por isso. É que a par de jovens cheios de ideais e de boas intenções caminha a Irmandade Muçulmana, senhores com mais ideias do que ideais e com a intenção de impor a Corão como Constituição nacional. Adivinha-se o ressurgir da luta contra os infiéis, leia-se, nós todos. Os líderes da Irmandade parecem não estar de acordo quando ao reconhecimento do Estado de Israel, e se há uns que estão dispostos a respeitar compromissos previamente assumidos (hum… parece que estou a falar dos eternos duelos entre homens e mulheres), outros há que já esclarecem abertamente que se for necessário ir para a guerra, pois irão. Será que estamos a caminhos de mais mártires e mais atentados?
Gostava de ter uma boa resposta para estas perguntas, mas não tenho. O único que posso dizer é que tempos estranhos se avizinham.
Sentava frente à TV a ver o mundo mudar recordo a minha imagem nesta mesma posição, há muitos, muitos, muitos anos atrás, quando via no telejornal a queda do muro de Berlim. Também aí tive aquela sensação que o mundo estava a mudar perante os meus olhos, que a História estava a ser feita e que nada iria ser como antes. Agora tenho exactamente a mesma percepção, simplesmente, não estou optimista com este aroma de jasmim.
Há muita coisa que não sabemos sobre os acontecimentos que mudaram a nossa História. Não sabemos o que levou à queda do Apartheid. À I Guerra Mundial. À II Guerra Mundial. Enfim, os historiados deram-nos uma ideia dos eventos relevantes mas o impulso, o rastilho, a génese, escapa-nos completamente. O mesmo se passa aqui. Não sabemos o que aconteceu na cabeça daquele primeiro tunisino que se lembrou que se calhar era mais simpático viver em democracia. Mas sabemos como se espalhou a ideia, como tomou forma e vida própria.
Pois bem, agorinha mesmo, num autêntico efeito dominó, temos metade do mundo árabe a unir-se numa só voz para derrubar ditadores quase ancestrais, tudo devido a um chamamento de um site para comer gajas.

1 comentário:

  1. Também me preocupa o que virá. Mas quero acreditar que nesses povos será para melhor. Quanto ao resto, lutemos contra a resignação. O pouco a pouco que tantas vezes nos parece remar contra a maré há-de dar frutos, ainda que lentamente. M.C.

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