sábado, 12 de fevereiro de 2011
Juntos até que o divórcio nos separe
É um dado estatisticamente comprovado: o número de divórcio está aumentar mais assustadoramente do que o número de sapatos no meu armário. Dizem as línguas informadas que em cada dia do passado ano 72 casais outrora felizes oficializaram a sua ruptura. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística Portugal é neste momento um país com um divórcio por cada dois casamentos.
Ora, eu, romanticazinha de meia-cara sem cara-metade, fico perplexa, desiludida e, sobretudo, terrivelmente triste. Que raio nos aconteceu que já não conseguimos viver uns com os outros? Como é que nos tornámos tão egoístas e intolerantes? Será que este empedernido desejo de sermos jovens – forever young, I wanna be – nos transformou para sempre em putos mimados, que não vêm nada mais à frente senão o seu próprio biberão? A pior faceta do Peter Pan, so to say.
Como nunca fui casada não faço ideia do motivo exacto pelo qual um casamento acaba. Mas como já fui – e por diversas vezes – namorada, tenho uma ideia bastante aproximada do motivo pelo qual os namoros acabam. Claro que é diferente. Em principio – escrito este a negrito e sublinhado – enquanto se namora a paixão ainda vive na sua mais plena intensidade, não há monotonia nem desgaste. As coisas mudam quando, com ou sem aliança, se partilha o mesmo tecto. De repente, o outro deixa de ser tão interessante e tão misterioso. É que uma coisa é ansiar pela sua chegada, perfumado e arranjadinho. Outra é vê-lo de roupa interior esburacada, ouvi-lo na casa de banho, passar noites intermináveis ao lado dele a vê-lo jogar Pés. Acordar ao lado dela sem maquilhagem, ou de olhos esborratados porque se esqueceu de limpar a cara à noite, esperar duas horas por ela enquanto escolhe a cor do cinto e apanha e desapanha o cabelo frente ao espelho.
Não me admiro nada que a geração anterior não compreenda este novo fenómeno social, porque a verdade é que tão-pouco eu a compreendo. Não sei se eles eram mais felizes do que nós o somos agora. No tempo dos nossos avós ninguém se divorciava e muita gente manteve durante uma vida inteira um casamento doloroso, recheado de traições e mesmo de maus-tratos. No tempo dos nossos pais pouca gente se divorciava, e os que ousaram fazer-se deparam-se com uma censura social tão forte que provavelmente pensaram várias vezes em voltar atrás. Hoje o divórcio é uma pequena vicissitude na vida de uma pessoa adulta, superável com qualquer semana de férias num resort na Jamaica ou qualquer boy toy que nos suavize a perda. E muitas vezes nem sequer há perda ou tristeza disso porque a assinatura do papel só traz alívio e liberdade. Porquê? Bem, segundo uma voz sensata da geração anterior hoje somos intolerantes. Provavelmente também gostamos menos do que gostávamos dantes. Estamos mais rodeados por tentações, num ambiente mais tolerante a escorregadelas e, muitas vezes, mesmo incentivador de escapadinhas. O que antes era permitido apenas aos meninos está hoje ao alcance das meninas. É a igualdade de sexos no seus pior, ou seja, nivelando para baixo. Trabalhamos mais, estamos mais ausentes e chegamos a casa mais cansados e mais frustrados pela competição. E somos mais intolerantes. Não admitimos que o outro deixe a tampa da sanita para cima, ou o gel de banho aberto, ou que chegue a casa 20 minutos mais tarde, ou que esteja cansado e não queira sair ou que, simplesmente, ele seja ele e não um outro ele que idealizámos na nossa cabeça.
Quererá isto dizer que estamos irremediavelmente condenados a estes casamentos modernos onde cada um vive em sua casa e passam férias separados um do outro? Mas, assim sendo, porque se casam? Não seria mais simples e avisado continuar solteiríssimo e fazer o que lhes dê na real gana? De que me serve assumir um compromisso se no fundo continuo sozinha? Só por só… mais vale descompromissada.
Provavelmente sou antiquada. Dona uma alma antiga, como já ouvi dizer. Tenho a cabeça cheia de tolas ideias românticas, fruto de anos e anos a ler livros e a ver filmes. Uma espécie de lavagem cerebral que me lixa a vida e me torna uma inadaptada no mundo moderno. Mas eu ainda acredito que se é para passar a vida com alguém, então, é mesmo para nos comprometermos nesse intuito. Amor e uma cabana, blablablabla, e até que a morte nos separe.
Se tiverem dúvidas sobre a vossa capacidade para tolerar o barulho do outro a comer a sopa, ou o seu ressonar, ou a forma como deixa a roupa espalhada por toda a casa; ou tiverem medo de parar de gostar quando ele deixar crescer a barriga ou o bigode; ou não saberem se conseguirão resistir aos encantos de toda aquela gente divertida e sexy que vai enchendo as nossas vidas… enfim, se não tiverem certeza de nada disso, não se casem. E sobretudo, não deixem que ninguém se case convosco.
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Segundo essa teoria, temos outro problema: ninguem consegue dar o passo ao casamento. Se antes de casamento precisamos de prevenir mil e mais uma situação que poderão nos separar, nunca há certezas, pois, porque há sempre uma 1002ª situação que não conseguimos prevenir!
ResponderEliminarObviamente que há os imponderáveis da veis. Mas há coisas que todos sabemos acerca de nós mesmos. É a esses "dados cientificamente comprovados" que me refiro, mesmo sabendo que nem esses são imutáveis.
ResponderEliminarA Cinderela, pode não ter encontrado o sapato mas neste texto percebi que alguém um dia vai ter sorte, ele vai aparecer.
ResponderEliminarO mundo lá fora é sedutor mas anda normalmente à procura da situação que podemos destruir por ele.