quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Na vida real
Na vida real os super-heróis não ganham. Na vida real o mundo é dos sacanas, dos incompetentes, daqueles intelectualmente limitados. Esta é a verdade.
Há umas semanas atrás dava-vos conta que euzinha, sozinha, tinha vencido a maldade. E… caramba, naquela batalha parecia mesmo que sim! Mas parece que hoje cresci 10 anos. E vejo agora, com maior lucidez, que afinal foi só isso mesmo, uma batalha. É que da guerra nunca gloriosos os super-herois.
Os meus pais encheram-me de bons valores e dons hábitos. Os maus que hoje tenho fui eu que entretanto os fui ganhando nas esquinas desta vida. Eles ensinaram aquilo que eu sempre pensei ensinar aos meus filhos: sê honesto e leal, fiel para com os outros como para contigo mesmo, dá o melhor de ti e esforça-te por ser cada dia um bocadinho melhor que seja, traz felicidade aos outros e ao mundo, alarga os teus horizontes para além daquilo que os olhos vêm, dá o melhor de ti em cada trabalho, em cada aula, em cada página. Basicamente, disseram-me para sair de casa para o mundo como uma boa pessoa. Uma pessoa de bem. Integra.
E eu, que sempre achei que eles tinham feito um bom trabalho, dou hoje por mim a pensar que deveriam ter-me pedido menos. Deveriam ter-me ensinado a ser pior, e não melhor. Deveriam ter-me guiado pelo caminho fácil da maldade e mediocridade. Deveriam ter feito de mim uma alga intelectual.
Porque é deles que o mundo é. Dos Ruis Pedros Soares deste mundo. Dos abcessos deste mundo. De gente que não faz nem deixa fazer, que não sabe fazer nem gosta dos que sabem.
Olho para trás e começo a pensar que talvez a minha vida tenha sido um grande desperdício. Tantas horas perdidas a trabalhar, tantos fins-de-semana fechada em casa, tantas noites sozinha ao computador, tantas férias que nunca foram feitas. E tudo na suposição de um dia o trabalho iria ser reconhecido. Que ingenuidade a minha. O talento não é reconhecido. O que se incentiva é o nivelamento por baixo, onde quem sobressai são os bajuladores. De modo que mais feliz seria eu hoje se tivesse dedicado a os últimos 20 anos à fina arte do bajuleio, da mentira e da incompetência. Tenho a certeza que se tivesse lixado um colega ou outro hoje estava em melhor sítio. Se me tivesse apropriado de trabalho que não era o meu quase garanto que não chegava ao fim do mês com contas pendentes. Em suma, fui mal ensinada. Pais, educai os vossos filhos para a preguiça, a estupidez, o paludismo intelectual e, sobretudo, para a desonestidade.
Desejava tanto não ser tão boa naquilo que faço. Que mais feliz eu seria se não o meu Tico e o Teço não fossem tão operacionais. Ó céus, transformai-me agora mesmo numa paralelepípedo. Dai-me a tacanhez intelectual que tanto preciso para singrar.
Bem aventurados os limitados, porque deles é o reino da Terra.
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Às vezes, quando penso assim, quase me esbofeteio e reclamo comigo "estás a ver coisas onde não existem e... pior que isso... estás a ser má!" Mas depois vem a vida, com dias como o que deves ter tido quando escreveste o post, e também eu me convenço que bom, bom, era aprender umas rezas que potenciassem diarreias alheias.
ResponderEliminarEnfim... o mundo, minha querida, não está preparado para quem é... deixou-se atolar por gente que parece ser.
Beijinhos e saudadinhas