sábado, 2 de outubro de 2010
Esforço, dedicação e glória
Não, não é o slogan de um qualquer clube de futebol, daqueles que só nos dão tristezas (mas que de quando em vez , muito de quando em vez, fazem uma goleada). É antes o lema de vida dos que elegem um objectivo, uma meta, uma realização pessoal, um sonho.
Quando um homem sonha o mundo pula e avança. Mas muitas vezes a percepção que temos é que o mundo avança sem nós, tão esmagados que estamos no curso, na tese, nos treinos, na promoção.
Tantas noites, em casa, sozinha, em frente ao PC, ponho-me a pensar se vale a pena. E há momentos em que chego a suspeitar que a minha alma ficou mais pequena, bem pequenina… porque já não sei se vale a pena. Sem dúvida que eu sabia que ia abdicar de muita coisa. Noitadas com amigos, laços de família, férias, manhãs na cama, relações até. E de dinheiro também. É que ninguém enriqueceu a perseguir um sonho. Pode porventura enriquecer depois de lá chegar – e nem isso é certo – mas o caminho é um trajecto de mendigo, com contas a pagar ao fim do mês e euros contados até ao cêntimo. Sonhar pode não custar nada, mas concretizar um sonho tem o seu preço. Economicamente falamos de um investimento que nos pode arruinar o cartão de crédito.
Mas, mais do que isso, um enorme investimento pessoal em termos emocionais. Porque se dá muito de nós. Até nos sentirmos esgotados quando vamos para cama de madrugada, à mesmíssima altura em que os amigos voltam dos copos. Deitamo-nos na cama e estamos tão cansados que nem conseguimos dormir. Damos voltas e voltas na almofada. E porque a insónia é má conselheira começamos a duvidar. Duvidamos do nosso sonho, das nossas capacidades, de nós mesmos. Para no outro dia acordar (ou simplesmente sair da cama sem acordar do sono que não se teve) e voltar tudo ao mesmo.
Este é também um caminho solitário. Desde logo porque não sobra tempo, disponibilidade - paciência direi mesmo - para mais ninguém. Depois, porque em bom rigor, muita pouca gente nos consegue aturar este desvario. É assim que o nosso círculo de amigos fica reduzido a uma esfera do tamanho de um Melhoral Infantil (que foi a coisa pequenina mais simpática de que me recordei neste instante porque em pequena gostava mais deles do que de Pintarolas) Só nós e o nosso sonho. A nossa dedicação a um projecto que parece nunca mais chegar ao fim.
Depois, um dia, chegamos lá. Trabalha-se uma vida inteira para uma concretização que dura um mero par de horas. Primeiro ficamos hilariantes. É a glória. O triunfo das capacidades humanas. Os amigos dão-nos os parabéns. E só dizemos para o “nós” que existe cá dentro como a partir de agora tudo vai ser diferente, a nossa vida mais mudar para tão melhor, tão, mas tão, que será como ter uma vida nova.
Acredito que para muitos é este o final de uma história feliz.
Depois… bem, depois, há os que são como eu.
Para nós o que acontece é que somos invadidos por um enorme vazio. E agora, que fazemos? Sim, é certo que podemos ainda apanhar o comboio da vida e passar a ter uma existência como as pessoas normais. Fins-de-semana fora. Jantares de família. Cafés na esplanada ao Domingo. Quem sabe, até mesmo um namorado. Mas, que faremos nós com isso? Ficamos mais bronzeados porque apanhamos mais sol nas tais esplanadas. Podemos acrescentar um ou dois nomes à nossa agenda de endereços. So what?
Já tenho o que quis, preciso agora de ter outra coisa qualquer. Isto por muita alegria, satisfação e orgulho pessoal que o “quis” me dê. Mas eu não vivo de feitos passados, vivo para projectos futuros.
Tem-me dito, e não em tom de elogio, que sou uma insatisfeita. Sei bem que é verdade, de modo que não contra-argumento. O que não percebo é porque é que isso é mau. Se eu posso ter mais coisas, fazer mais coisas, conseguir mais coisas, porque me hei-de satisfazer com o que tenho? O que há de tão louvável assim em dar-me por satisfeita com o que sou quando sei que posso ser bem melhor?
Mais longe. Mais alto. Mais depressa. Se não for assim é que não vale mesmo a pena.
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