segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Onde estava você no 11 de Setembro?


Ontem passei o dia sentada em frente ao meu PC, a braços com este atentado terrorista que eu própria lancei à minha vida: a tese.
Há 9 anos atrás, em 2001, recordo-me de uma breve imagem na televisão enquanto mudava de canal, que mostrava um avião a chocar contra um gigante edifício. Naquela altura o mundo era diferente, e não pensei duas vezes na cena, que julguei tratar-se de um filme. Saí de casa, enfiei a cabeça na tese que na altura me atormentava a existência e só horas depois soube que nunca mais nada seria como antes.
Tenho vários amigos muçulmanos, uns mais radicais nas suas convicções, outros totalmente alheados, outros ferozmente contra o que se passou. Admito que não seja fácil viver a sua fé nos dias de hoje quando se vive no Ocidente. Ou melhor, para eles não é fácil, pura e simplesmente, viver entre nós. É preciso levar as coisas com serenidade, paciência, e muito sentido de humor. Recordo com carinho o convite do Mohammed para irmos dançar salsa num clube. Sugeri que regressássemos de táxi à student house, porque as ruas de Washington àquela hora da noite não eram propriamente seguras. Ele encolheu os ombros, desenhou um sorriso maroto na cara e respondeu-me: “Vera, sou árabe! Se formos interceptados por alguém, ou mesmo por um gang, eles olham para mim e desatam a fugir com medo que eu seja terrorista”.
Bem sei que a história do 9/11 está mal contada. Andam por aí muitos mitos urbanos, muitos rumores e teorias da conspiração veiculadas por documentários mais ou menos bem fundamentados. A vontade de desmistificar o que sucedeu naquele dia confunde-se com a vontade de desmascarar o presidente, a Condoleezza, enfim, aqueles outros terroristas que ocupa os lugares mais importantes do mundo. Também eu partilho as perplexidades de muita gente, e creio que a tragédia não foi tão inevitável assim. O governo sabia de antemão dos atentados? Tenho para mim que sim, até porque pouca coisa se passa neste mundo que, de uma forma ou de outra, não chegue à Sala Oval. Várias pessoas influentes foram avisadas para não voar nesse dia? Talvez (embora eu o não o tenha sido). Os serviços secretos israelitas estavam a par da operação? Bem, sem desprestigiar o engenho da Mossad parece-me já demasiado elaborado, embora não descarte totalmente a hipótese.
Mas nos vários 11’s de Setembro que já vivi desde então o pensamento que mais me tem ocupado o espírito é o das centenas de pessoas que morreram nesse dia, e dos milhares que morreram nos atentados terroristas que desde então se seguiram.
Acho o terrorismo um dos actos mais cobardes que existe. Gente que não dá a cara, que actua na sombra como ratazanas, que se vangloria com a morte e o sofrimento, que elege por alvos pessoas que não têm nada a ver com a guerra que eles inventaram. Nem precisamos de ir muito longe para descobrir, aqui ao mesmo ao lado, várias famílias de Guardas Civis que já sentiram na pele o ódio, a cobardia e a tacanhez da ETA. E para reforçar ainda mais a ideia de que o terrorismo não é apanágio de uma religião bem podemos recordar o que os cristãos fizeram em certo período da história e as barbáries da Santa Inquisição e da evangelização forçada de povos “selvagens”. Isto para dizer que todos temos as nossas máculas.
Ainda assim não consigo deixar de me chocar ao pensar que uma cultura tão activa e florescente como a árabe tenha decaído a este ponto. Durante séculos os árabes foram exímios astrónomos, matemáticos, físicos, pensadores, artistas. Nos dias de hoje, alguém me sabe dizer o nome de um pintor, de um escritor, de um cientista? Certamente que existirão vários no meio daquele punhado bem grande de gente boa e admirável, mas em regra acabam mortos às mãos de um fanatismo religioso da pior espécie ou então são forçados a abandonar o país.
E foi tudo isto que ontem me passou pela cabeça enquanto tentava distribuir atenções entre a tese e os documentários que os vários canais de televisão passavam insistentemente. E acho bem que o façam. Acho bem que não esqueçamos. Mas para tentar aprender com o que se passou, e não para remoer velhos ódios e planear vinganças.
Visitei o Ground Zero pela primeira vez um ano após o “aero-massacre”. Estava apinhado de gente com flores, fotos, orações e lágrimas, muitas lágrimas. O ano passado voltei lá e desta vez só encontrei tapumes e máquinas escavadoras. Da próxima vez não sei o que irei encontrar. Fala-se por aí que será um centro muçulmano, e muita gente considera que a escolha da localização foi de um tremendo mau-gosto, para não dizer outra coisa. Provavelmente até é. Confesso que não sei se irá fazer sarar a ferida ou antes, acicatá-la. O que sei é que aquele foi o dia em que o mundo mudou. Mudou a politica, as relações entre os povos, as penas dos crimes de terrorismo. Até mudou a forma como eu faço as minhas malas antes de viajar. Mas, pior que tudo, mudou todos aqueles que perdem alguém.

Sem comentários:

Enviar um comentário