domingo, 15 de agosto de 2010

V.I.P. (Verdadeiramente Idiotas Patéticos)


I like parties as much as the next guy. Por isso talvez que a um olhar menos atento pareçam surpreendentes as caretas que faço quando uma amiga mais festeira e cheia de boa vontade me anuncia “deixei o teu nome na lista!”.
Longe vão os tempos em que para ir a uma festa bastava ter a vontade e a capacidade de tornar uma noite memorável. Hoje em dia isso, na verdade, isso releva bem pouco. O factor X tornou-se o desejo de ser visto em certo e determinado sitio e com certas e determinadas pessoas. A chave dourada para isso acontecer é “ter o nome na lista”. Lista? Que lista? A lista. Que lista? A lista. Que lista? A lista. Que lista? A lista. Que lista? A lista. Que lista? A lista. Que lista? O papel. Perdão, a lista.
A so called “lista” é, segundo me explicaram, o mecanismo encontrado para seleccionar as pessoas que serão agraciadas com o tremendo privilégio de poder estar presentes na festa. Ora, esta explicação suscita-me um manancial de dúvidas:
Primeiro, porque orque é que uma festa carece de seleccionar os convidados? Afinal já nem os jogadores para a selecção são propriamente seleccionados, mas desconfio que chamados segundo o critério do pitui-pituá.
Depois, e mais importante, com que critérios é operada a dita selecção? Mérito pessoal? Grupo social a que se pertence? A questão é que – e digo isto atendendo ao escassíssimo número de festas em que tenho tido a honra de ser “listada” – em regra fico bastante decepcionada com a selecção humana. Por conseguinte, tudo me leva a crer que os restantes convivas sofram a mesma desilusão que eu. Certamente que muitos olharão para mim e pensarão como diabo terei eu conseguido ali entrar, uma fulana como eu que não dá conversa, nem sequer um sorrisinho. Estou absolutamente convicta que os outros membros da lista preferiam que ali estivesse outra pessoa mais, digamos, “aberta” à bebida, ao flirt, até mesmo a conversa fútil com um par de mamas de plástico (com a ressalva que eu até adoro futilidades). Isto porque em regra eu também preferiria que a maior parte dos outros ali não estivesse, porque os acho demasiado abertos aos copos, ao engate de fraquíssimo gosto e a conversas fúteis com mamas de plástico.
Uma dúvida final, mas não menos importante: qual o sentido de haver convidados VIP numa festa? E, sobretudo, que raio é isso do “VIP”? Ou seja, como se decide que eu sou VIP mas tu não? Com base no QI? Nos prémios ganhos? No montante da conta bancária? No número de operações plásticas? Na quantidade e divórcios e ex-namorados que se tem no currículo? Nas aparições em Novas Gentes and so on?
Em via de princípio não tenho nada contra VIP’s. Com muito gosto o meu pezinho pisaria uma festa em que uma parte dos convidados tivesse um cartãozinho vermelho ao pescoço, ou uma pulseira colorida, que lhes desse o direito a uma cadeira especial ou a um copo maior, ficando eu feliz apenas de respirar o mesmo ar que eles. Com a ressalva dos ditos serem vencedoras de Óscares, brilhantes directores de cinema, cientistas que acabaram de descobrir a cura do HIV, atletas olímpicos, empresários astutos. Acontece porém que as “pessoas muitos importantes” que dão ares de gala nas nossas festarolas são um bocadinho - coisa de nada - menos importantes que isso. Em regra falamos de modelos que nunca ninguém viu na vida em cima de uma passerelle, actores dos Morangos com Açúcar (eu, pessoalmente, prefiro com iogurte, mas há gostos para tudo), ex-mulheres e ex-namoradas de futebolistas caídos em desgraça (ou verdade, seja dita, qualquer ex de quem quer que seja), os próprios caídos em desgraça, gente que se submeteu à extrema humilhação de ter todos os seus movimentos – incluindo sexo e cocó – filmados por uma câmara e visto por todos aqueles que ainda tenham paciência para isso, vulgarmente chamados “ex-concorrentes do Big Brother”, e, de modo geral, qualquer criatura humana que apareça em público com pouca roupa. Está bem de ver que tenho alguma relutância em passear o meu palminho de cérebro no meio de VIP’s destes. Chamem-lhe sobranceria intelectual se quiserem, mas seria bom, para variar, querer estar num sítio com pessoa que admiramos e não com gente acerca de quem gostamos de coscuvilhar (eu, pelo menos, gosto).
Mas de quando em vez gosto de sair da minha gruta e dar um arzinho da minha graça numa dessas festas, que mais não seja para ver como vivem os “in” cá do burgo, ou seja, os modernos e famosos. Sempre com a consciência de que não pertenço a esse mundo. I’m just a simple girl from Kansas. E no meio da festa acabo invariavelmente sentada, sozinha, a um canto a pensar: “Toto, I've a feeling we're not in Kansas any more”.

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