sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O mundo não é tão pequenino assim



Num tempo em que tanto se fala da aldeia global quase nos convencemos que o mundo diminuiu de tamanho. E é bem verdade que quando preciso de uma decisão de um obscuro tribunal alemão me basta ir à net buscá-la, que logo que o meu avião aterra noutro continente me basta ligar o telefone para ouvir a voz da minha mãe e que à custa de mails, do msn e do FB posso seguir de perto – por vezes perto demais – as vidas dos amigos que fui fazendo nas viagens.
Acabaram-se as cartas enviadas por navio e as chamadas telefónicas pedidas à telefonista. Quase parece possível alimentar um amor à distância, sobretudo desde que os senhores inteligentes inventaram webcam’s. O phone-sex e o cyber-sex já não são só coisas de tarados ressabiados que pagam ao minuto, mas o dia a dia de muita gente separada por fronteiras e mesmo oceanos. Resumindo, se fossemos Penélopes e o nosso Ulisses se fizesse ao mar dificilmente ficaríamos a tecer uma concha interminável de tricot. Mais depressa comprávamos um Mac e um Blackberry e nos metíamos a enviar smiles e abreviaturas próprias de putos de 14 anos.
Infelizmente, o romance vivido a quilómetros é pura utopia, e nem os Bill Gates deste mundo a conseguiram até agora tornar realidade.
Foi a consciência desta impossibilidade que me levou a abandonar de vez paixonetas por polacos, libaneses and so on e decidir que, se queria mesmo uma casa com uma cerca branca, um cachorro e dois gémeos tinha que começar e encontrar encantos vários no produto nacional. Não desdenho do que temos, até porque o que é nacional é bom. Mas tempos houve em que preferia os made in qualquer outro sitio, até porque, em bom rigor, a minha existência de saltimbanco a isso conduzia.
Mas a vida é traiçoeira qb, e bem pode suceder que o tuga das nossas vidas seja um desses tipos que não pare muito tempo no mesmo sítio: um futebolista, um piloto, um tipo qualquer que ande com a casa às costas?
Já disse e redisse que as relações à distância estão condenadas ao fracasso, por melhores que sejam as nossas intenções, por maior que se revele a nossa força de vontade, por mais bem formados que sejamos ou por muito apaixonados que estejamos. É que a solidão é um monstro aterrador e mais tarde ou mais cedo vai-nos fazer procurar um ombro amigo. Nesse altura tenho para mim que pouco valerão as conversas no msn, as fotos que se enviam, os mails com poemas, as mensagens antes de dormir. O que o ser humano precisa é de toque de pele. Não sexo necessariamente. Mas o toque quente de outro corpo, na mão, no rosto, no joelho que seja.
Antigamente não era bem assim. Todos conhecemos histórias de emigrantes, de aventureiros, que partiram em busca de um sonho, de uma vida melhor, deixando por cá namoradas e mulheres, e assim as encontrando no seu retorno. A diferença é que nesses tempos a vida as mulheres era bem mais reprimidas, de modo que nem a sociedade lhes admitia que procurassem uma vida mais feliz fora da sua existência solitária, nem elas tinham sido educadas para isso. E assim esperavam. Por vezes traiam e esperavam. Mas esperavam sempre. Ou então iam com eles. É que esses tempos idos as mulheres não tinham que se preocupar com carreiras, e como a maioria tinha por profissão lavadora de louça ou cuidadora de filhos tanto o podiam fazer cá como do outro lado do mundo. De modo que era bem mais simples ser uma Pochahontas que deixa tudo (o pouco que tinham) para trás e partiam com o seu John. Hoje em dia o mundo complexificou-se. Já não é tão fácil para uma mulher fazer a mala e partir. E o doutoramento? E a empresa? E a nova promoção? E a realização profissional? E a realização pessoal? E todos os anos que andei a estudar? Por outro lado, muitas vezes somos nós as que partimos e eles os que ficam e, verdade seja dita, não tenho conhecimento de nenhum espécime masculino que tenha deixado a sua vidinha para acompanhar a cara-metade nas suas viagens pelo mundo. É que ter o eterno estatuto de “mulher do…” parece, apesar de tudo, mais aceitável do que ser o “marido da”, sem mais nada, mas apenas isso.
Quando confrontados com a aproximação de uma partida reagimos de formas diversas. Há quem chore na almofada antes de dormir. Há quem enverede pela chantagem emocional e por mais apoio que tenha dado no inicio ao projecto da cara-metade agora faz-se de sofredor na vã tentativa que o outro ceda, sem perceber que, afinal, é a relação que está a ceder. Há quem seja mais espevitado e comece a fazer planos para uma partida conjunta. E há quem, pura e simplesmente, se decida a terminar já tudo para não vir sofrer mais no futuro.
São decisões complicadas, que implicam que estejamos bem certos das nossas prioridades e do que queremos das nossas vidas. No meu caso, de uma coisa estou certa: a internet pode até resolver os meus problemas de pesquisa científica, mas nunca poderia substituir uma mão forte na minha.

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