domingo, 8 de agosto de 2010

ENCONTROS IMEDIATOS DE 49.º GRAU


Desde que pela primeira vez vi aquele ser esverdeado com pescoço de girafa a pedalar pela lua que sonho em encontrar um extraterrestre. E quase que sei que um dia vou ter um desses encontros imediatos de 3.º grau.
Mas depois há os outros, os encontros imediatos de 49.º grau. Nem sequer em refiro àquelas situações embaraçosas ou, no mínimo indesejadas, em que damos de caras com quem não queríamos ver, ou, pelo menos, não queríamos ver naquele concreto contexto (tipo… esbarrar com o chefe na praia quando se faz topless). Refiro-me antes àquelas outras, em que sentimos a terra tremer debaixo dos pés. Todos já magoámos muito e todos fomos já muito magoados. Da r de caras com essa pessoa, a quem fizemos ou que nos fez a nós e faz-nos gelar o sangue, acelerar o coração. Mas, mais do que isso, são esses episódios das nossas vidas que decidem o tipo de pessoas que somos: a bigger person ou um anão moral?
Há uns tempos atrás encontrei uma pessoa que não esperava rever tão cedo. Pelo menos se o destino dependesse exclusivamente do meu esforço assim seria. E encontrei-a no sitio mais inusitado, da forma mais inesperada. Não tive sequer tempo de ter medo. Ou de encenar uma entrada dramática. Aconteceu e pronto, assim como acontecem as grandes coisas na nossa vida.
Antes de mais cabe sublinhar que a presença das pessoas, mais que “vista”, é “sentida”. Não é tanto o olho a indicar-nos a a sua presença, mas uma espécie de instinto, o tal 6.º sentido, a colocar-nos de alerta.
O primeiro instinto é fingir que não vemos. Para quem é lendariamente distraída e míope como eu a coisa até poderia funcionar. Esconder os olhos por entre os caracóis, olhar para todo o lado como uma barata tonta parecendo que quero ver tudo e não vejo nada. Estava eu neste limbo comportamental, pensando de mim para mim o que fazer, quando decidi que era agora ou nunca. Aqueles minutos iriam decidir para sempre quem eu era e de que fibra era feita.
Tudo isto me faz lembrar a primeira vez que dormi sozinha no meu quarto sem qualquer luz de presença. Há que enfrentar os nossos medos, os nossos papões, ou seremos seus reféns para sempre.
Por mais que me apetecesse estender o meu dedinho de luz e sussurar “Elliot, go home”, não o fiz. Dirigi-me a ele. Lá vai ela, formosa, e muito segura. Segura de mim. Segura de quem sou eu hoje em dia, tão diferente daquela outra no último dia em que o vi. Passos firmes no salto alto, cabeça erguida, sorriso de Mona Lisa, aproximo-me e dou-lhe um beijo, como se dá a um desconhecido que acaba de nós ser apresentado e com quem queremos ser minimamente afáveis. “Olá, como estás, há quanto tempo?”. Não havia ali temor, nem rancor, nem amor. Não havia nada, a não ser a confirmação de que aquilo que era já não é. Ela, ao lado dele, deve ter pressentido que não era um encontro qualquer, e estendeu a mão, rapidamente, numa forma de marcar território. Nestas coisas as mulheres são como os animais, e gostam de espetar logo a sua bandeirinha como sinal de posse. E eu olhei-a. Como se olha alguém que está mas não está. Estendi a minha mão também.
Garanto que não houve ali ponta de ciúme, ou mágoa. De curiosidade sim. Estará ele bem? Será feliz? Em que pensa? Em que pensou como me viu? Será que ainda pensa em mim? Se os humanos pudessem ler pensamentos…
Acima de tudo, foi a minha forma de perdoar. De o deixar seguir em paz, e de me permitir a mesma faze-lo também. Um pouco como fazemos com as pessoas quando morrem e desaparecem para sempre das nossas vidas.

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