domingo, 30 de janeiro de 2011

ESTAVA A PENSAR EM EMIGRAR PARA A MAURITÂNIA….


Há uns dias atrás, no programa da Oprah (riem? Atire-me pedras quem nunca viu) recebi uma informação de extrema importância para a minha vida. Providencial, diria mesmo.
Meninas, preparem os passaportes: na Mauritânia o ideal de beleza consiste numa mulher gorda e cheia de estrias. Sim, o céu existe. E chama-se Mauritânia.
Mulheres cheiinhas, gordas, anafadas, cheias de gosma, com estrias rosadas a rasgar-lhes a pele. Tudo isso é admirado. De repente sinto-me tonta por me ter inscrito no Holmes . Mais produtivo seria enterrar-me no sofá com as Oreos, polindo a minha “beleza”.
De forma que estou a ponderar seriamente a hipótese de emigrar para a Mauritânia. Já comecei até a fazer a malinha. Roupa discreta, obviamente, que esta coisa de ser um país muçulmano pode causar alguns dissabores. Mas acho que consigo bem viver tapada dos pés à cabeça se tiver a garantia de ser uma deusa da beleza. Por outro lado, a burca esconde a celulite, logo, são só vantagens. Começo a não perceber porque se queixam as mulheres árabes… aqui do meu canto do Estado laico parece-me uma vidinha santa (no sentido “Ala-iano” da palavra, entenda-se) -
Recordam-se das vezes em que encolhemos a barriga quando passamos frente a um grupinho de meninos? São tempos idos. Agora há que enche-la de ar e espetá-la o mais possível, num misto de gravidez histérica e de balão.
Jeans descaídos que deixam antever o tão perigoso pneu a sair naquele maldito espacinho entre o cós das calças e a t-shirt? Um must.
Iogurtes light e outra comida de dieta? Jamais.
E o melhor – porque ainda há melhor do que o já relatado – é que este ideal estético só vale para as babes. No caso dos homens, querem-se magrinhos. It’s the end of the world as you know it, right? Porque na Mauritânia os papéis que cada um de nós desempenha durante o jantar apresentam-se invertidos:
- “Posso terminar o teu bolo de chocolate? – diz ela – é que se comeres isso tudo as calças deixam de te assentar bem.”
- “Achas que estou gordo?” – pergunta ele.
- “Gordo? Não diria tanto – responde ela, mediando as palavras – mas quando nos conhecemos a roupa assentava-te melhor”.
De modo que ele passa o resto da semana a salada de alface e batidos de dieta, o suficiente apenas para ter a energia necessária para correr 5 km todas as manhãs, enquanto ela abre uma lata de cerveja e se senta em frente à televisão a arrotar e comer amendoins.
Em suma, podemos comer o mundo, mas em termos de carne humana não temos que levar com um namorado balofo. O velho dogma de que é a magreza que nos há-de trazer um noivo bem-parecido é assim ultrapassado por um novo ideal de beleza, que impele os homens a procurar pegas de gordura onde agarrar.
“I have a dream”.
“My dream is Mauritânia.”

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A relevância de ser irrelevante


Todos queremos ser importantes. Alguns querem ser rei ou Primeiro-Ministro e estão dispostos a fazer um golpe de Estado por isso. Outros querem ser presidentes do Sporting, e da Câmara da Figueira, e da Câmara de Lisboa, e ainda por cima Primeiro-Ministro, e dão o golpe para isso. Outros bastam-se com ser Presidente da Junta.
Mas a maior parte de nós já se dá por feliz se for importante para alguém. Não um qualquer “alguém”. Ou seja, o padeiro, o carteiro e o vizinho da frente estão postos de lado (e daí… talvez não… mas isso é outra história). Queremos ser importantes na vida de alguém que seja importante para nós.
Ser importante é fazer a diferença. É ter a nossa ausência sentida e lamentava. É ser ouvido. Ser querido, desejado, amado, eu sei lá. É ser relevante.
Alguns estarão neste momento a dizer para convosco, ou para quem têm a felicidade de estar ao lado, que o que conta é sermos importantes para nós mesmo e caga no que resto. Enfim, que se há quem não goste algum outro ou alguma outra certamente gostará muito. Ora, eu até gostaria de assinar por baixo de semelhante afirmação, mas o máximo que consigo fazer é rabiscar uma rubrica mais ou menos ininteligível. É que a coisa não é tão simples assim.
Certamente que temos que gostar de nós, e se não gostarmos quem gostará, e blablablala… vejam o anúncio do leite Matinal e ficam com o resumo desta teoria. Mas eu gosto muito de mim há muito tempo. Não sigo desde que nasci, ou desde que me recordo dos meus raciocínios. Mas aos poucos aprendi a gostar de mim assim como sou, apaixonei-me perdidamente por mim e hoje vivo uma história de amor comigo própria. De modo que daremos por assente que já gostamos de nós.
Mas a existência humana é tramada e não se satisfaz com o amor próprio. Quer também o amor alheio. Quer ser importante na vida de alguém. Quer que alguém sinta a nossa falta quando não estamos. Que olhe para o relógio porque ainda não chegámos. Que espere por nós para jantar. Que se recorde do nosso aniversário. Que sonhe connosco. Que se preocupe com o nosso silêncio. Que anseie pela nossa opinião. Que tenha ciúmes nossos. Que nos queria para si.
É certo que esta relevância na vida de alguém nos impõe um ónus acrescido: o de estarmos à altura. E é tão simples desiludir os outros… Por algum motivo esperem sempre mais de nós do que aquilo que podemos dar. De modo que temos que andar com pezinhos de lã ao invés de fazer o que nos der na realíssima gana.
Postas as coisas nestes termos parece bem mais tentador sermos irrelevantes. Podemos chegar a casa à hora que quisermos, ou mesmo nem chegar. Passar a noite fora. Ir de férias sozinha, ou com amigas, ou com amigos, ou com alguém que acabámos de conhecer. Passar o dia em pijama e meses sem fazer a depilação. Encher a case de roupa inútil porque o espaço é todo nosso.
Tão-pouco nos termos que proteger, que nos preocupar com o dia em que deixarmos de ser importantes. Nada do que seja dito nos magoará porque nunca colocamos ninguém num sítio tal que adquira esse poder sobre nós.
Ah, ser livre como uma borboleta!
Mas será que isso é que queremos? Passar pela vida como a tal borboleta fugidia? Não havemos de querer pousar um dia, agarrar-nos a qualquer coisa? Ser prendidos? Ser arrebatados? Arrebatar?
Ser irrelevante não é nem sedutor, nem arrojado. É uma perda de tempo. É passar invisível pela vida. Incólume, é certo, porque ninguém nos magoa nem ninguém nos deixa ficar mal. Nem, por outro lado, deixamos ficar mal alguém. Porque, basicamente, nobody cares.
Sejamos honestos: não nos é irrelevante a nossa irrelevância.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Direitos de autor, propriedade intelectual e miúdas giras


Todo aquele que usufrui de um serviço, bem ou criação deve pagá-lo. Esta é uma obrigação básica da sociedade hodierna, justificada por conceitos como “prestações contratuais”, “preço de venda ao público”, “direitos de autor” ou “propriedade intelectual”. Ora, se assim é, porque motivo os homenzinhos que desfrutam da nossa presença não hão-de pagar os momentos de prazer estético e intelectual que lhes proporcionamos pelo simples facto de sermos nós?
Enfim, rectifico. Não pelo simples factos de nós sermos nós, porque o mero “nós” pode não ser particularmente interessante, ter olheiras e borbulhas, ser lisas que nem tábuas, ter celulite ou pernas gordas, cabelito ralo, em suma, podemos não ser geneticamente perfeitas.
Mas eis que as maravilhas das técnicas, dos ginásios, da maquilhagem e dos salões de beleza têm poder bastante para transformar seres potencialmente maravilhosos em criaturas efectivamente maravilhosas.
Ora, é isto que os homens não percebem: nós não nascemos exactamente assim como eles nos vêm. Parecidas sim, mas não rigorosamente iguais. E tudo isto que fazemos para lhes alegrar o dia de cada vez que pousam em nós aqueles olhitos não só exige esforço pessoal como, além disso, custa caro.
De modo que não se percebe porque não hão-de eles, que beneficiam da nossa presença – seja ao jantar, ou ao cruzarmo-nos com eles na rua, ou meramente quando nos avistam do outro lado do restaurante – pagar o justo preço desse beneficio. Chamem-lhes “direitos de beleza”, “taxa de utilização visual” ou (custo de produção pessoal”, chamem-lhe o que quiserem, mas, pelo amor da santa, exigem a retribuição que vos é devida.
A questão é esta: se eu não posso fazer o download de um filme da internet porque com esse comportamento estaria a violar os direitos de propriedade intelectual da pessoa que o fez, como se explica que o fulano que hoje se cruzou comigo na passadeira e que quase me deitava abaixo, tal a fúria com que quis passar pertinho de moi meme, não pague a vista que teve?
E que tal se em vez dos célebres chamamentos religiosos (“Ai Jesus!”) ou familiares (“Ai mãezinha!) abrissem a carteira, sacassem do Visa e dissessem. “Obrigada por este momento minha senhora. Gostei muito, especialmente da cor do batom. Aqui tem o pagamento que me cabe. Pode passar o cartão”? Vai dai, nós puxávamos da maquineta onde se passam os cartões de crédito (dada a minha ignorância não sei o nome técnico da coisa, de modo que doravante será conhecida como a “maquineta”) e debitávamos o devido valor correspondente ao gasto que tivemos naquele dia para ficarmos assim (leia-se, “maravilhosas”), custo este crescido dos direitos de autor que qualquer criador cobra por obra sua. Não que o pagamento seja muito – enfim, há-de ser proporcional à obra – mas pelo menos daria para passar nos saldos da Zara e comprar umas daquelas malhas básicas. E se o dia nos tivesse corrido bem quem sabe se não daria até para uns sapatinhos de pele ou uma sessão de massagens…
À luz desta nova concepção acabaram-se as contas de jantar partilhadas depois do fulano ter podido desfrutar do prazer da nossa companhia (entenda-se, da nossa vasta cultura adquirida ao longo de muitas horas na net de banda larga generosamente paga, enquanto batíamos as pestanas com rímel Channel, que não é propriamente dado), e os piropos de pedreiros sem a seguir levar para casa uma saquinha de cimento a título de devido pagamento.
Ora, se o mundo se regulasse por este novo princípio nem me incomodaria assim tanto o tipo que insiste em subir as escadas atrás de mim para me tirar as medidas. Queres ver? Força tarado. Mas já agora pagas a minha mensalidades no Holmes Place. É que não há almoços grátis nem há rabiosques grátis. Aliás, assim até teria um incentivo adicional naquele momento doloroso em que subo para a elíptica: a minha conta bancária.
Acham que esta teoria é sexista e humilhante par as mulheres? Longe disso. Também me prontifico desde já a pagar cada olhar guloso que lançar para ao coleguinha de ginásio que insiste em fazer flexões na minha (míope) frente. A cada um o que é seu (o que me vale a mim, e à minha carteira, é que muito raramente perco o olhar na carne alheia).
Moral da história: nem nos importamos particularmente das horas a fazer abdominais, de depilação com cera a escaldar, de fazer esfoliações, e agachamentos e máscaras para a pele, e de fechar a boca à segunda fatia de bolo de chocolate. Nem nos importamos disso. Mas não se atrevam a mandar-nos piropos para justificar a vossa suposta masculinidade e a utilizar-nos como devaneio de solitários divertimentos nocturnos, e depois não pagar direitos de autor pela fantasia sexual que vos proporcionamos.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Eu era feliz e não sabia


Sempre desejei ter o que não tenho. Passei grande parte da minha vida demasiado ansiosa com os objectivos que queria alcançar e com a vida que queria ter para conseguir efectivamente desfrutar aquela que tinha. E depois, quando finalmente, conseguia a tal vida ansiada, desejada e lutada, vinha a descobrir que, afinal, era só mais uma vida, nem sequer tão boa quanto aquela que eu tinha.
A minha mãe lidava com a esta inquietude minha suavizando-a com um conselho que me recordo de ouvir desde pequenina: “Cuidado com o que desejas, porque podes alcançá-lo”. No fundo, aquilo que na sabedoria popular é conhecido como o velho adágio “Só damos valor às coisas quando as perdemos”. Mas a forma mais sublime de expressar esta mesma ideia foi-me há dias recordada por um amigo, que, curiosamente, já me fez muito feliz a mim. E reza assim. “Eu era feliz e não sabia”.
Quantas vezes nos queixámos de amigos irritantes e até aproveitadores para depois mudarmos de cidade e sentirmos falta dos seus mimos e do seu apoio? Quantas vezes procurámos uma nova casa que substituísse aquele rés-do-chão bafiento e sem garagem para nos dormirmos num apartamento frio e húmido, onde nem os estores fecham? Quantas vezes maldizemos a nossa vida às 8h da manhã, no caminho para o emprego, mas mais tarde damos por nós sem nada para fazer às 8h da manhã, ao meio-dia, às 8h da noite, apenas muitos programas da Júlia Pinheiro e da Fátima Lopes para ver na televisão? Quantas vezes nos lamentámos pelas faltas do nosso suposto perfeito namorado, e agora que olhamos para o lado e não o vemos percebemos que na sua imperfeição tornava a nossa felicidade perfeita?
A história é esta:
Ela passou o tempo a dizer-lhe como a sua vida era desditosa, como ele era incapaz de a fazer rir, como cada dia era tão entediantemente igual aos outros, como nunca poderia aspirar àqueles momentos perfeitos que via nas amigas e nas vizinhas, como os filhos a fazia ficar mais velha e mais desgastada. Um dia ele cansou-se. Cansou-se das lamentações, das discussões, da frustração de não conseguir estar à altura. E disse: “Chega!”. Ela nem queria acreditar. Ficou ali no meio da sala parada a olhar para ele. E agora? Por breves instantes julgou-se livre com um passarinho e até lhe invejou a coragem de conseguir pôr fim àquilo que ela tinha suportado com pesar mas desprovida da valentia que lhe permitiria fugir. Mas depois passou um dia, e outro, e mais outro. Ela continuou sem se rir. Continuo velha e desgastada, as crianças continuavam irritantes. Os tais momentos felizes de contos de amigas – ou de contos de fadas talvez – nunca apareceram. E no meio de tudo isto, estava sozinha. À noite enroscava-se sozinha nela mesma, e com ela discutia, e dela se entediava. Porque naquele mundinho tão sozinho só mesmo ela existia. E assim, tão infeliz, percebeu o feliz que tinha sido.
Não que a felicidade e a infelicidade estejam assim tão separadas uma da outra. Na maior parte das vezes convivem juntas na mesma vida, ora se sobrepondo o sorriso, ora as lágrimas, frequentemente separados uns dos outros por um mero instante, uma sensação, uma palavra, um pensamento que seja. Ou nunca vos aconteceu estarem a saborear um daqueles momentos de intensa felicidade, que parece que não vão acabar nunca, mas depois uma resposta inesperada e acutilante é suficiente para vos deixar em estado catatónico? E a certa altura já não rimos por rir, mas rimos para não chorar.
Não que eu não admire a infelicidade. Admiro-a, e de certa forma até a desejo Reconheço que em boa parte esta minha sedução pela tristeza tem qualquer coisa de masoquista. Mas tem principalmente muito de pragmático. Porque se não fosse ela nunca conheceria a felicidade. Só consigo apreciar a alegria que enche a minha existência porque nem sempre a tenho comigo.
O bicho humano é o mais estranho de todos. Consegue ser tremendamente feliz e nem se aperceber disso, a não ser quando perde essa felicidade. Could it be more ironic?
Só sabes que é – perdão, eras – feliz quando deixas de o ser. Mas enquanto isso não acontece sentes-te a pessoa mais desgraçada, patética, miserável deste planeta.
Se assim é, quererá isto dizer que neste preciso momento eu sou, na verdade, dotada de uma felicidade extrema, mas não percebo? Serei eu hoje feliz sem saber?

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

ESPÉCIE: HOMINAE SALTUS ALTUS


Nos primórdios dos tempos, quando os nossos antepassados apareceram na face da Terra, gatinhavam com as 4 patas. Paulatinamente, por motivos que ainda hoje escapam à ciência, começaram a usar apenas os membros posteriores para se equilibrar e desse modo chegámos ao Homo Erectus. Mas eis que passados muitos milhares de anos se aperceberam que apoiando apenas as pontas dos pés no chão ficavam com corpos mais esbeltos e assim apareceu a maior invenção do mundo, a seguir à roda e aos gelados: o salto alto. Parece que no inicio não era apanágio feminino. Mas, convenhamos, nessa altura os homens usavam perucas aos canudos e pó de arroz no rosto, o que não era particularmente abonatório da sua masculinidade (eu ainda acho que homem que é homem não usa coisas de meninas, excepto se for escocês, e aí está autorizado a andar de saia, desde que sem boxers por baixo).
Hoje reivindicámos para nós os saltos altos. Eu, particularmente, reivindiquei para mim a pertença a essa espécie curiosa que prefere arriscar-se a torcer um tornozelo a arrastar os calcanhares pelo chão. E todos os que me conhecem sabem desta minha…particularidade, vá lá. Por isso não escondi o espanto quanto ontem à noite uma amiga, com quem partilharei hoje jantar, me escreve no msn: “Ah, um pormenor, traz sapatos rasos porque te quero levar a um sítio e o caminho até lá não é fácil”. Silêncio. Nem toquei nas teclas. Mas ergui o sobrolho. “Ó miúda, saltos rasos??? Mas queres que eu vá comprar uns?”. Não me compreendam mal, eu tenho sapatos rasos, divididos em três grandes grupos: sapatilhas para o ginásio, havaianas para a praia e sabrinas, para o que der e vier. Aliás, durante o dia, e excepto o período laboral, a minha regra é ser rasa. Compreendo que uma medica não faça operações enfiada em botins de camurça ou em pumps de cabedal com saltos assassinos, mas compreendam vocês que eu não sinto confortável a assistir a reuniões sendo a mais baixinha da sala. Chego a ir trabalhar de sabrinas calçadas e os saltos altos na bolsa, ou bem enfiados na pasta do PC e, à boa maneira dos Estates, mudar-me na casa de banho ou no elevador. Mas… sair à noite??? A noite pede saltos altos. A única excepção é a queima das fitas de Coimbra (by the way… há outra?), porque o parque não perdoa e os saltos se enterram imediatamente na terra empapada em vómito. Mas, fora disso, quanto mais alto melhor.
Porquê? Porque eu sou pequenina e gosto de ver o está para lá da linha do horizonte. Porque as pernas ficam incomensuravelmente mais bonitas em cima de 10cm. E porque quando se tem um namorado alto e se usa sapato raso arriscamo-nos a parecer o Frankenstein e o Igor: ele um Frankenstein lindo de morrer e eu um Igor baixote a atarracado.
Por isso, aborrecem-me à vontade com tornozelos partidos, dores nos ossos, lentidão no andar, saltos presos nas calças. Se eu não critico quem anda de salto raso, porque me criticam a mim? Cada um empoleira-se onde lhe der na realíssima gana, desde que não ande por aí a pisar pessoas ou cocós de cão. E eu, fazendo jus à minha espécie, olho para o mundo do alto dos meus 10cm de salto.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O primeiro dia de aulas


Há crianças que vibram com o primeiro dia de aulas, que mal podem esperar para conhecer os coleguinhas e que logo no recreio organizam a trupe que se manterá durante o resto do ano. Nunca fui uma dessas crianças.
Quando era pequena aterrorizava-me a mim própria com a perspectiva de um primeiro dia de aulas numa qualquer escola desconhecida. Sempre gostei de sentir medo. Tanto gosto que desde sempre me aterrorizo a mim mesma com pensamento que oscilam entre o soturno e o horripilante. Enquanto não pesei mais que 40 quilos os meus medos prendiam-se essencialmente com dois grandes terrores, que nada têm a ver com papões ou quartos escuros. O primeiro prendia-se com a morte das pessoas que me são mais próximas. O segundo, com o primeiro dia de aulas.
Aquele primeiro continua a fazer parte do meu catálogo de horrores, e bate-me o coração mais depressa só de pensar nele. O segundo foi sendo abandonado entre tantos primeiros dias, na escola primária, no ciclo, no liceu, na universidade.
Se assim, porque será que o primeiro dia de escritório ainda me incomoda?
Não é medo. É incómodo mesmo.
Chegamos a um edifico que mal conhecemos, perdermo-nos nos corredores, carregamos no botão errado do elevador, procuramos a casa de banho na copa e a copa na casa de banho, e ainda temos que olhar atentamente para a placa na porta para ter a certeza que estamos a entrar no nosso gabinete e não num outro qualquer.
As regras de funcionamento são um brave new world nas nossas vidas, e nem sempre os mundos novos são fácies de assimilar à primeira explicação. Em que pasta se gravam os documentos? Que tipo de letra usar? Com que grau de familiaridade ou de deferência tratamos os colegas? Devemos ir ao gabinete falar com eles ou ligar-lhes?
Enfim, uma selva a desbravar.
Mas mais do que as regras técnicas, o que custa são as ditas regras sociais.
Porque eu nem sempre tenho facilidade em lidar com pessoas que não conheço. Rectifico: eu nem sempre quero lidar com pessoas que não conheço e que, convenhamos, muitas vezes nem quero conhecer. Mas depois não posso evitar cumprimentá-los para manhã porque senão sou mal-educada. Nem encontrar-me com eles no bar. Nem esbarrar com eles no corredor. Nem procurá-los para esclarecer dúvidas.
Passados uns meses tudo isto será banal. Já serei livre de os amar ou odiar. Poderei comentar as suas vidas tal como comentarão a minha. Mas estes primeiros dias são uma espécie de estado de graça no qual vivemos todos. Ou de desgraça, tido depende da perspectiva.
De graça porque ainda não me apercebo das manias irritantes que cada um tem e, por outro lado, ainda sou bem sucedida a ocultar as minhas. De modo que aos olhos uns dos outros somos todos perfeitos.
Ainda ninguém sabe que me levanto da cadeira 20 vezes numa hora, que não consigo trabalhar com o ruído das conversas, que fico insuportável quando estou com fome, que não lido bem com correcções e avaliações por parte de pessoas que tenho com menos aptas do que eu, que nos dias em que estou afundada em problemas gosto de ficar sozinha na minha concha, que não admito que me mexam nas coisas sem autorização, sobretudo se for nas minhas bolachas.
Mas ninguém ainda sabe isso.
Nem eu sei nada deles. Não sei quem discute com quem, quem namora com quem, quem faz o trabalho de quem, quem é bom em quê, em suma, desconheço aquelas pequenas delicias sumarentas que tornam a vida real numa novela.
Porque eles estão do outro lado da sala, com as suas private jokes, as suas reuniõezinhas junto à máquina de café, e as combinações de fim de semana, ao passo que eu estou no meu cantinho, a fingir que não ouço as conversas que me rodeiam e que sei que não me são destinadas, ansiosa que passe a hora do almoço porque detesto comer sozinha e enquanto não se adquire o passe para o mundo secreto dos coleguinhas é esse o destino que nos espera entre as 13 e as 14h.
E quanto todos saem para almoçar parecemos olhar atentamente para o ecrã mas afinal olhamos pelo canto do olho para o grupo que sai feliz e sorridente, na vã expectativa que alguém volte atrás e nos pergunte se queremos ir também. E como ninguém o faz pegamos numa revista e lá vamos nós engolir uma sandes nos 10 minutos que tardamos em folhear a dita. Mas talvez seja melhor assim. Que raio se diz numa mesa onde não comecemos ninguém? Fazemos conversa casual ou mantemos o silêncio? Olhos baixos ou sorriso tímido? Ou, de forma ainda mais arranjada, rimo-nos às gargalhadas quando alguém contar uma piada?
Hoje superei o medo dos primeiros dias. Mantém-se o tal incómodo, que ainda não consigo controlar. Mas, sobretudo, a expectativa. De novos desafios. De dias melhores. De dias felizes. E essa expectativa também não é um experiência nova para mim, porque traduz exactamente a mesma emoção que se apoderava de mim naqueles primeiros dias de aulas em que abria o novo manual a não podia deixar de pensar, em êxtase, na quantidade imensa de coisas novas que ia aprender.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O mundo visto aos caracóis


Para nós, que atravessamos o mundo com uma pilha de caracóis na cabeça, a vida não é fácil.
Bem sei que me vão atirar agora à cara os milhares de milhões de mulheres que neste preciso momento estão a gastar os seus tostões numa permanente. E ainda bem, para que os cabeleireiros deste mundo possam viver, bem como os fabricantes de óleos para frisar, e de bigudis e de toda a panóplia de negócios associados. E ainda bem também (bem, bem, bem) porque a variedade cria riqueza.
Mas depois desta frase semi-filosófica, vamos à dura verdade: curly hair sucks.
Admito que já fiquei paradinha a olhar para um belo par de caracóis. Aqueles bem definidos e brilhantes que parecem formar uma almofadinha de penas em cima da cabeça. A questão é que, em regra, estes que me fascinam são os falsos caracóis, feitos com muito ferro de enrolar, muitos produtos e muitas horas de cabeleireiro. Nós, as tais que nascemos com o cabelo aos caracóis, temos que defrontar cada manhã uma dura batalha que em regra termina com a derrota brutal e humilhante de amarrar o cabelo com um elástico ranhoso e assim passar o dia.
Nunca em atrevi com o alisamento definitivo, ou que raio se chama a coisa. Já estive tentada a isso mas, que diabo, eu até já estive tentada a passar o meu cabelo com o ferro de engomar, de modo que ainda bem que por vezes (mas só por vezes) leva a melhor sobre as minhas tentações. Mas não resisto a de quando em vez passar no cabeleireiro e esticar o cabelo (que estas mãozinha de fada servem para folhear livros mas são absolutamente incapazes de derrotar a caracolagem).
E quando me olho ao espelho e vejo cabelos lisos, brilhantes como seda, que me caem sobre o rosto ao invés de o esconder numa confusão danada, transformo-me. E sou mais bonita. E mais interessante. E mais poderosa.
Porém, assim como não há sofrimento que nunca acabe, tão-pouco há felicidade que sempre dure. No caso, a minha dura até tomar banho, apanhar umas gotas de chuva, transpirar ou mesmo, meramente, receber os vapores de um tacho no lume enquanto cozinho o jantar (das pouquíssimas vezes que eu efectivamente cozinho, claro está). Ou desde que passem mais de 24h, mesmo que nada disso aconteça, até porque mal rebolo com a cabeça na almofada logo o meu cabelo recém-lisinho e recém-brilhante se entrelaça, cria nós, e … encaracola. De modo que, nesses dias em que sou uma “straight hair girl” saio de casa armadilhada com chapéu de chuva, pente, escova e mais um ou dois frascos de produto supostamente alisante.
Recordo que há muitos anos atrás vi o “The Way We Were”, um filme de início dos anos 70 que entre nós ficou conhecido por “O Nosso Amor de Ontem”. O filme relata a atribulada história de amor entre a Barbara (Streisand) e o Robert (Redford), feita de encontros e desencontros ao longo de uma vintena de anos. Mas recordo com particular precisão o momento em que a nossa heroína, mulher de nariz longo e um profuso cabelo aos caracóis, depara com o seu amor de longa data do outro lado da rua, acompanhado por uma moreno de luxuriante cabelo longo e liso, e verbaliza este pensamento lapidar: “São sempre as de cabelo liso que ficam com os bons rapazes!”.
Enfim, não sei precisar se estas foram as suas exactas palavras, mas a ideia é esta: o mundo é mais cor-de-rosa para as mulheres de cabelo liso. Podem apanhar toda a chuva do mundo sem parecem caniches. Podem apanhar o cabelo de forma negligente e são lindas madeixas lisas que lhes emolduram o rosto. Podem tomar duche ou ir à praia e secar o cabelo como bem entenderem, ou nem secar de todo, ao invés de andar com difusores e cremes atrás. Podemos usar chapéu sem receio de serem confundidas com uma vassourinha. Podem tudo, na verdade.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Nem as cegonhas gostam das encalhadas


Os bebés chegam de Paris no bico de uma cegonha. Toda a gente sabe isso. O que muita gente não sabe, ou provavelmente nunca se deu ao trabalho de pensar, é que as cegonhas não gostam de mulheres solteiras, nos seus trintas, que mal conseguem ouvir os seus pensamentos tal alto é o tic-tac do relógio biológico. Em suma, nem as cegonhas gostam das encalhadas.
Chegamos a uma idade na vida em que olhamos para o lado e vemo-nos rodeadas por pessoas com as so called “vidas estabilizadas”, seja lá o que isso for. Não é de todo o facto de terem um ordenado certo no fim do mês e já não necessitarem de se preocupar com contas e dinheiro, mas sim que tenham uma pessoa certa nas suas vidas e já não tenham que se preocupar com quem vão passar férias, passagens de ano e dias dos namorados.
Como se isto tudo não bastasse – sendo que este “tudo” é imenso, brutal, violento – ainda para mais, qual cereja no topo do bolo, foram riscadas do caderninho de encargos da empresa de entregas das cegonhas. Os passarocos pura e simplesmente não querem nada connosco. E como se tudo aquilo não bastasse, e já estamos com o “aquilo” acumulado com o “tudo isto”, ainda o nosso sucesso profissional é constantemente confrontado com a pergunta (umas vezes maliciosa, outras apenas ingénua) do célebre “Então, quando é que te decides a ter filhos?”. Desculpe, repita a pergunta, mas agora sem esse tom de reprovação. Muito menos o tom de lástima.
Porventura o desfecho actual da nossa vivência é o resultado de opções pessoais, mais ou menos pensadas. Não vamos pensar que foi (tudo) obra do destino, desse maléfico destino cruel que deu indicações erradas ao nosso príncipe azul, de tal forma que o desgraçado foi bater a outra porta que não a nada. Não é fruto do acaso que nós estejamos a escolher sapatos enquanto as outras escolhem biberons.
Mas, caramba, que culpa tenho eu do meu suposto príncipe estar algures com uma fada ranhosa na cama (sem jogo de palavras, please) e que todos os outros príncipes ainda disponíveis estejam ocupados a lutar com dragões?
Um dia, enquanto partilhava estes pensamentos, o meu interlocutor olhou para mim sarcasticamente e respondeu-me que esta questão só era problemática para os homens, e que eu, sendo mulher, podia ter filhos quando bem entendesse e com quem bem entendesse. Ai é? Deixe-me ver se entendendo o que não entendi quando me disse que eu podia ter filhos quando bem entendesse: está a sugerir que eu tenha sexo com um tipo qualquer que conheço à noite? Do qual não sei nada? Nem doenças, nem historial familiar, nem forma de ver o mundo? Mais, está a sugerir que tenha sexo não protegido com o fulano, já que, tanto quanto sei, essa é a única forma de o sexo resultar em bebés? É que se está a sugerir isso certamente nunca ouviu falar de HIV e de todas as outras doenças sexualmente transmissíveis, já para não falar no desafio emocional de ter um acto tão íntimo com quem nunca vimos na vida?
Outra possibilidade é fazer isto com um velho namorado ou um amigo de longa data, mas… não soa um bocadinho a traição? Mais do que apunhalar alguém pelas costas isto seria como fuck him by the back. Claro que sempre poderíamos concretizar isto às claras, que é como quem diz, informá-lo do nosso projecto e apenas o levar avante caso ele esteja de acordo. “Olha, é o seguinte, eu gostava imenso de ser mãe, mas dada a impossibilidade de ter uma relação estável com alguém por quem me tenha apaixonado, queria perguntar-te se estarias disposto a ter sexo comigo, de forma a que eu engravidasse, sendo que não terias qualquer responsabilidade parental com a criança, aliás, nem ela saberia quem é o pai?” Reconheço: soa mal, por tantos e diversos motivos. Mas ainda que deixássemos de lado as peias morais que se suscitam a esta hipótese e sejamos meramente pragmáticos, devemos também ser realistas, e concluir que dificilmente encontraríamos alguém que entrasse neste barco connosco. Por sua vez, e ainda que assim fosse, sempre teríamos de viver com o risco permanente de o pai biológico um dia nos bater à porta, pedir um teste de ADN, e subitamente eis que temos o juiz a decretar a guarda conjunta da criança. E de repente o nosso bebé está a passar férias e fins-de-semana com uma pessoa que nunca viu, que nunca o desejou, e agarrado à saia de outra mulher.
E não se pense que em última instância podemos investir uma pipa de massa no nosso futuro emocional e recorrer às técnicas de procriação assistida. É que em Portugal, bem como na maioria dos países, o acesso às inseminações e às fertilizações in vitro restringe-se a casais heterossexuais, vivendo em matrimónio ou em união de facto (art. 6.º da lei n.º 32/2006). Ora, não nos encaixando nós em nenhuma destas categorias bem podem os médicos desenvolver técnicas médicas que nenhuma nos servirá. A inseminação com esperma de um dador anónimo está fora do nosso horizonte de soluções. A não ser que façamos uma trouxinha e passemos a fronteira para a vizinha Espanha, onde sim que é legalmente permitido que mulher sós recorram às técnicas reprodutivas, nomeadamente à doação de esperma. È verdade meus amigos, se antes íamos a Espanha para não termos meninos (recordam quantas colegas de faculdade foram comprar caramielos e fazer um aborto?), agora vamos a Espanha para os ter.
Ou seja, não é impossível, mas é complicado. Complicado, desgastante, custoso, desafiante.
Por conseguinte, volte atrás. Volte atrás e repita a sua estúpida pergunta tendo agora em mente que fazer bebés é uma daquelas poucas, pouquíssimas, e diria mesmo uniquissima, coisa na vida que não posso fazer sozinha. Eu posso viver sozinha, viajar sozinha, jantar sozinha, beber sozinha, até me posso satisfazer sozinha. Não posso é fazer filhos sozinha. De modo que, agora que se consciencializou deste facto, repita lá a sua perguntinha.
“Então, quando é que alguém se decide a ter filhos contigo?”
Obrigada, assim está melhor.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Escova de dentes, lingerie, 40 pares de sapatos


Este texto dirige-se a todas as Barbies deste mundo, que não saem de casa sem se olhar ao espelho e sem meter na bolsa o rouge para os lábios. E, convenhamos, para os metro também (onde incluo desde os decimetrosexuais até aos kilometrosexuais).
Aviso já: não me levem a sério. Aliás, nisso, sou como o Araújo Pereira (hum… paixão platónica): ninguém me leva a sério, nem mesmo eu. Mas leiam e reflictam.

Preparar uma mala de viagem é tarefa complicadíssima. Estou em crer que deveria haver pós ou masters sobre isto, porque de facto exige muito estudo e ponderação.
Primeira questão: que mala levar: um saco mais pequeno, que se possa pegar na mão, para não corrermos o risco de nos considerarem obcecadas pelos trapos? (não sei onde foram ver desta ideia…? … e aqui reviro os olhos) Ou antes um mala maior, de rodinhas, mais fácil de transportar, mas que nos marca com o estigma de aparênciodependente? É que o dito “saquinho” pode na verdade pesar quilos – o peso aumentará em directa proporção com a técnica de cada uma para enfiar muita traquitana (um must do calão) em pouco espaço – e lá teremos nós que pegar nele com o sorriso forçado de quem carrega o mundo disfarçado de pluma, dedos crispados e vergões nos braços. E esqueçam o andar sedutor… lá irão cambaleando estação fora, como eu fui do alto dos meus saltos vermelhos.
Segunda questão: adequação da indumentária à temperatura. O que parece simples pode, na verdade, tornar-se extremamente complicado sempre que a informação meteorológica da véspera não coincida com a cor do céu do próprio dia. E lá vamos nós desfazer o saco, tirar tudo cá para fora e delinear novo plano de vestuário. E quando digo tudo… é mesmo… tudo. Não apenas o trapinho em si mesmo, mas os respectivos anexos: sapatos, maquilhagem, bijutaria, roupa intima. Pois quem se lembraria de levar as mesmas sandálias cor-de-rosa, que tão lindas ficavam no vestidinho rosa e branco, para a fatiota preta e vermelha??? Please, be serious: rosa com preto e vermelho???? E o mesmo vale para os brincos rosa choque, para o batom rosa bebé, para a sombra rosa pálido…. Não tendo nós a sorte de reclamar o daltonismo (até nisso os meninos têm sorte: então não é que a maldita doença que nos livraria do pecado de misturar cores só afecta genes Y?). Nem se pense em usar um soutien preto por baixo da t-shirt branca… há que ter um mínimo de decência minhas senhoras.
Terceira questão: adequação da vestimenta às acções planeadas. Vamos caminhar pelo parque? Esquece as sandálias de 25 cm e leva antes as sabrinas. Praia? Nem te atrevas a ir dondoca e pega já nos shorts e, claro está, em 3 pares de bikinis, não vá o diabo tecê-las. Sair à noite? É óbvio que não há menina que leve para a noite a mesma roupinha que usou durante o dia, transpirada e já vista. Ao pôr-do-sol transformamo-nos em Cinderelas, saias curta e top brilhantes, eye liner e olhos fumados. Vale tudo! Menos usar o vestido que nos cobriu o dia inteiro, por mais elogiado que tenha sido.
Estas preocupações são especialmente prementes quando a companhia de viagem seja o mais que tudo. Eles não notam, é verdade. É-lhes indiferentes que andemos de avental ou com calças de bom corte. Estou até inclinada para pensar que a primeira opção lhes agradaria bem mais (ou nuas, melhor ainda). Dizem sempre que estamos bem sem sequer olhar para nós. Mas, se tudo isto é verdade (e eu confirmo) porque insistimos em mirabolantes planos de conjugação de cores e feitios para os impressionar? Pérolas a porcos? Talvez. Mas eu não jamais pensaria em fechar a minha malinha sem lingerie de vários tons, o estojo de make up e 10 pares de sapatos. Escova de dentes? Isso compra-se em qualquer sítio…