quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A relevância de ser irrelevante


Todos queremos ser importantes. Alguns querem ser rei ou Primeiro-Ministro e estão dispostos a fazer um golpe de Estado por isso. Outros querem ser presidentes do Sporting, e da Câmara da Figueira, e da Câmara de Lisboa, e ainda por cima Primeiro-Ministro, e dão o golpe para isso. Outros bastam-se com ser Presidente da Junta.
Mas a maior parte de nós já se dá por feliz se for importante para alguém. Não um qualquer “alguém”. Ou seja, o padeiro, o carteiro e o vizinho da frente estão postos de lado (e daí… talvez não… mas isso é outra história). Queremos ser importantes na vida de alguém que seja importante para nós.
Ser importante é fazer a diferença. É ter a nossa ausência sentida e lamentava. É ser ouvido. Ser querido, desejado, amado, eu sei lá. É ser relevante.
Alguns estarão neste momento a dizer para convosco, ou para quem têm a felicidade de estar ao lado, que o que conta é sermos importantes para nós mesmo e caga no que resto. Enfim, que se há quem não goste algum outro ou alguma outra certamente gostará muito. Ora, eu até gostaria de assinar por baixo de semelhante afirmação, mas o máximo que consigo fazer é rabiscar uma rubrica mais ou menos ininteligível. É que a coisa não é tão simples assim.
Certamente que temos que gostar de nós, e se não gostarmos quem gostará, e blablablala… vejam o anúncio do leite Matinal e ficam com o resumo desta teoria. Mas eu gosto muito de mim há muito tempo. Não sigo desde que nasci, ou desde que me recordo dos meus raciocínios. Mas aos poucos aprendi a gostar de mim assim como sou, apaixonei-me perdidamente por mim e hoje vivo uma história de amor comigo própria. De modo que daremos por assente que já gostamos de nós.
Mas a existência humana é tramada e não se satisfaz com o amor próprio. Quer também o amor alheio. Quer ser importante na vida de alguém. Quer que alguém sinta a nossa falta quando não estamos. Que olhe para o relógio porque ainda não chegámos. Que espere por nós para jantar. Que se recorde do nosso aniversário. Que sonhe connosco. Que se preocupe com o nosso silêncio. Que anseie pela nossa opinião. Que tenha ciúmes nossos. Que nos queria para si.
É certo que esta relevância na vida de alguém nos impõe um ónus acrescido: o de estarmos à altura. E é tão simples desiludir os outros… Por algum motivo esperem sempre mais de nós do que aquilo que podemos dar. De modo que temos que andar com pezinhos de lã ao invés de fazer o que nos der na realíssima gana.
Postas as coisas nestes termos parece bem mais tentador sermos irrelevantes. Podemos chegar a casa à hora que quisermos, ou mesmo nem chegar. Passar a noite fora. Ir de férias sozinha, ou com amigas, ou com amigos, ou com alguém que acabámos de conhecer. Passar o dia em pijama e meses sem fazer a depilação. Encher a case de roupa inútil porque o espaço é todo nosso.
Tão-pouco nos termos que proteger, que nos preocupar com o dia em que deixarmos de ser importantes. Nada do que seja dito nos magoará porque nunca colocamos ninguém num sítio tal que adquira esse poder sobre nós.
Ah, ser livre como uma borboleta!
Mas será que isso é que queremos? Passar pela vida como a tal borboleta fugidia? Não havemos de querer pousar um dia, agarrar-nos a qualquer coisa? Ser prendidos? Ser arrebatados? Arrebatar?
Ser irrelevante não é nem sedutor, nem arrojado. É uma perda de tempo. É passar invisível pela vida. Incólume, é certo, porque ninguém nos magoa nem ninguém nos deixa ficar mal. Nem, por outro lado, deixamos ficar mal alguém. Porque, basicamente, nobody cares.
Sejamos honestos: não nos é irrelevante a nossa irrelevância.

5 comentários:

  1. Gostas um bocadinho de mim?!
    É uma coisa relevante para a minha pessoa, fica a saber, a tua opinião!
    Beijinho*

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  2. Tu, carissima (des)conhecida, és importante na minha vida.

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  3. Desconsidera esse prefixo. Procurava só uma for a mais eleganste e misteriosa de te referir.
    Ou melhor, (des)considera-o como uma nota de mistério na nossa relação.

    (Relação???? Isto agora soa-me mal...)

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  4. É uma relação de amizade!
    Andamos no mundo para ter relações... de muitos tipos :)
    Beijinhos*

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