sexta-feira, 29 de outubro de 2010

First dates: do júbilo à angústia


Ah, a magia dos primeiros encontros. A vaga sensação de que a nossa vida pode mudar depois daquela noite, quando acreditamos que tudo é possível, desde primeiros beijos à luz das velas até setas de cupido a atravessar aurículos e ventrículos. Para depois cairmos na realidade passado um mês, uma semana, ou mesmo umas horas, quando descobrirmos que aquele é, afinal, só mais um desgraçado à procura de sexo e uns copos, com alergia a compromissos e incapaz de pronunciar um “até que a morte nos separe”. Mas durante breves instantes tudo isso foi uma realidade na nossa cabecinha tonta.
Tudo começa com aquela excitazãozinha, aquele frio na barriga, cá dentro tudo a borbulhar como se fosse uma taça de champanhe. Segue-se o pânico: o que vamos vestir? O que vamos dizer? Como reagiremos a uma rejeição? Caramba, ainda hoje me pergunto como é que alguém sobrevive a estes tormentos.
Não sei ao certo como a coisa se desenrola no masculino, mas para nós, meninas, os preparativos começam cedo. Afinal, queremos ir apresentáveis, elegantes, sexys, mas não vulgares. Mostrar pele, para dar a entender que debaixo deste colosso intelectual está uma hot babe. Mas não demais, não vá o tipo pensar que lhe estamos a dar luz verde para encontros carnais na primeira noite. É que ainda que essa ideia nos passe pela cabeça todos os manuais a desaconselham vivamente, sob pena de nunca mais nos livrarmos da etiqueta de “miúda que papei logo que a conheci”. É triste, tacanho e patético, mas é mesmo assim. Ai, quão mais fácil é a vida para os meninos, especialmente num país de machos latinos, onde sexo na primeira noite não só é aceite, como incentivado.
Continuando, temos a questão do cabelo. Tenho para mim que deve ir solto, para causar mais impacto. Maquilhagem para nos esconder as imperfeições, mas que não nos esconda o sorriso. Saltos altos são imprescindíveis. Faço notar que podem perfeitamente ir de ténis, jeans e boné, e estou até em crer que a coisa correria melhor, porque logo à partida descobriríamos se o tipo está interessado na nossa inner beauty, ou nas nossas inner clothes. Mas perdia-se boa parte da magia do first date. De modo que desde que o mundo é mundo que as meninas se enchem de glamour para a baralha do primeiro encontro.
O meu maior problema sempre foi delinear a conversa. É que nos primeiros encontros há que fazer conversa. Um silêncio mais prolongado pode matar qualquer hipótese de passarmos 20 anos juntos. Ora, aqui é que me defronto sempre com problemas, porque acho as conversinhas do primeiro encontro mais complicadas que a tese de doutoramento. Senão, vejamos: há que ser suficientemente interessante para o tipo não nos confundir com uma alga, mas não tão interessante a ponto da boa da alminha se sentir intimidada. Este é um equilíbrio dificílimo de alcançar, que repousa no difícil ponto arquimédico do “quanto baste”. Estou profundamente convicta que os homens não gostam de mulheres estúpidas, limitadas, dependentes, passivas, fracas. Admiram uma personalidade forte, dois dedos de testa, sentido de humor, uma carreira. Mas, alto lá! Nada que os faça passar para segundo plano. Por isso muita atenção no momento de falar dos vossos feitos, dos achievments no trabalho, nas viagens sozinha, enfim, nessas coisas todas que nos tornam tão especiais.
No fundo, o primeiro encontro é quase como uma entrevista de emprego, onde dispomos de pouco mais de uma hora (uma longaaaa entrevista de emprego!) para fazer com que o fulano fique com vontade de nos ver de novo, e de nos contratar, a título permanente, para sua cara-metade. Com a diferença de aqui não há referências nem CV’s que lhes possamos esfregar na cara. O que, diga-se de passagem, até me beneficia, porque o meu Curriculo Vitae amoroso revela, na verdade, um bicho muito complicado.
Vai para mais de um ano que não tenho um primeiro encontro. Mas já passei (ou penei) por vários e todos eles foram, de certa forma, memoráveis. No sentido negativo da coisa, entenda-se, ou não fosse eu dona de uma vida bastante desengonçada.
Recordo hoje com um sorriso (mas na altura com muitas lágrimas e soluções à mistura) o meu first date depois de muito tempo. Estava completamente destreinada! Sei que dizem que nunca se lhe perde o jeito, que é como andar de bicicleta, mas em abono da verdade nunca fui grande ciclista. Pois bem: a tarde inteira a escolher uma roupa que me tornasse apetecível, mas não demais. Vi-me ao espelho, ensaiei posses, combinei com o meu melhor amigo a melhor estratégia de conversação, sentei-me e levantei-me do sofá. Até que finalmente chega a hora e entro no carro de uma pessoa que mal conheço, naquela vã expectativa de que seja o último encontro do resto da minha vida. Tremia tanto naquele carro que me parecia que ele iria ouvir o pum-pum do meu coração. Mas a noite até decorreu de forma bastante agradável. Nunca nos faltou conversa e rapidamente me senti suficientemente confortável para falar de mim, sem encenações nem fachadas. Olhos nos olhos toda a noite, e no final até selei a despedida com um beijo, quase uma amostra do que poderia, eventualmente, hipoteticamente, vir a suceder. Depois, sentada no sofá, telemóvel nas mãos, esperei em vão por aquela mensagem que definitivamente nos dá a pontuação da noite. É dado comummente aceite pela comunidade cientifica que depois de um bom primeiro encontro se recebe uma mensagenzinha a dizer qualquer coisa do tipo: “Boa noite, gostei muito”, ou “Quando repetimos?”, em suma, uma reacção positiva às nossas hormonas. Na ausência da mensagem, mais vale apagar o número. A minha nunca chegou. Em desânimo limpei a maquilhagem, vesti o pijama e, voltei para o meu ritual nocturno: trabalho. De repente o meu msn começa a piscar e o meu acompanhante lá escreve finalmente que gostou muito de noite, ect e tal, mas a páginas tantas deixa escapar que não éramos compatíveis. Que eu era demasiado confiante, disse ele. Que se tinha sentido intimidado, argumentou ele. Que não estava habituado a mulheres como eu, explicou-se ele. Uau, a rejeição dói! Especialmente quando se traveste com as minhas melhores qualidades. Desde quando ser confiante, bem-sucedido e batalhadora é um handicap? E, cheguei à conclusão que nunca deixamos de ser aquilo que somos, e que eu iria o resto da minha ser, simplesmente, too much.

3 comentários:

  1. Podia bastar-me em comentar aqui, mas tenho algo de substancial a retirar deste post, pelo que decidi fazer-lhe homenagem lá no poraquipasseieu. Acabo de descobrir a razão para os meus first dates nunca acabarem com a pessoa determinada a "contratar(-me), a título permanente, para sua cara-metade"!!! Obrigada! Vi a luz, querida. E foste tu que carregaste no interruptor.
    Beijos e xis*

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  2. Há só um pequeno detalhe em todo o texto que revela incoerência. Não deverias apagar o número da lista do tlm, porque na verdade ele ainda deveria estar ainda na lista das chamadas recentes e não estar registado com direito a nome, contacto e tudo...!

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  3. Miudo, os número nunca desaparecem de vez. Assim todos temos o direito ao arrependimento, que no caso em análise me escusei de exercer.

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