terça-feira, 19 de outubro de 2010

Menina não. Senhora, por favor.


Bem sei que nenhum de nós quer ficar velhinho. Mas daí a que me chamem “menina” vai uma grande distância. Passo a explicar o incidente:
Quando chegou a minha vez do senhor do banco (cujo nome não divulgo, nem direi que começa por “M” e termina em “N”) me atender, mal levantou os olhos do que estava a fazer. Semi-contrariado por ter que atender outro cliente lá me remeteu para o colega. Assinei os papéis que tinha a assinar e vim embora, pouco convicta com o nível de serviços prestados pela chafarica. E, de facto, foram tão bem ou tão mal prestados que tive que regressar um par de dias depois porque, afinal, faltava uma assinatura. A mesmíssima gentileza no fino trato do senhor funcionário do banco, coroada com a seguinte resposta final, quando perguntei se era tudo. “Sim Vera, é tudo”.
Alto!!!!!!!!!! Pausa. Vera? Só “Vera”? Mas de onde é que nos conhecemos? Em que escola fomos colegas? Desculpem, mas sou só eu que desconheço as regras gerais de boa educação, que mandam que o nome de pessoas que nos são estranhas seja antecedido de “senhor” ou “senhora”? Sobretudo quando contactamos com elas a nível profissional?
O que se passa é o seguinte: as pessoas tiram muitas deduções de situações que desconhecem porque se limitam a julgar pela aparência. Acreditem, sei do que falo. Eu, os meus piercings, as minhas tatuagens, o meu cabelo ex-pink, as minhas cores divertidas, sabemos do que falamos. No banco o que os senhores engravatados e de ar carrancudo viram foi uma miúda de sabrinas, com um piercing no nariz, cabelo rebelde, e uma mochila (sorry… deveres de ginásio). Por conseguinte, acharam por bem pôr de parte as normas gerais de bom trato e manter comigo o mesmo relacionamento que mantêm com as filhas e as sobrinhas. Só faltou o tu-cá, tu-lá, mas certamente não tardaria em chegar.
Sublinho e (re)sublinho que de todo não quero ser tratada por “dra.”. Essa é uma designação profissional que deve ser relegada exclusivamente para esse plano: as relações profissionais. Fico doida quando no meu dentista me chamam por “Dra. Vera”, mas reclamei tantas vezes, e sem sucesso, que resolvi deixar o caso como está sob pena de tornar o incidente maior do que na verdade é. Mas, meus amigos, faço questão de ser “senhora”. Porque em sítios onde sou cliente e onde dou dinheiro a ganhar exijo, e não recuo, ser tratada com o mesmo respeito com que eu trato as pessoas que me dão a mim dinheiro a ganhar. Ou agora entra-me um cliente pelo escritório e chamo-lhe “Zé”?
Digo mais, exijo ser tratada com o mesmo respeito com que eu trato todas as pessoas que ganham dinheiro comigo. Para mim, os senhores que trabalham no banco foram sempre “os senhores”, não obstante nesta altura estar mais inclinada para os tratar por sujeitinhos. Qualquer empregado de mesa é para mim “senhor” ou “senhora”. Tenho por abolidos chamamentos na 2.ª pessoa do singular, porque quem serve merece exactamente a mesma deferência de quem é servido.
Nem nunca me ouvirão chamar alguém por “menina”. Só em situações muito específicas (por exemplo, no Porto, carago), de determinados contextos sociais, esta designação é correcta, e quiçá mesmo gentil. Fora disso, é abusiva. E por causa dela já me peguei com um certo grupo de advogados, num certo restaurante, porque teimaram em chamar de “menina” a senhora que nos trazia a ementa, o que me fez pensar nos ditos com meninos mal-educados.

8 comentários:

  1. Adoro , e sigo este blog inteligente e bem humorado !
    deixo aqui o meu recente e muito pequenino e humilde blog .
    um beijinho .

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  2. Adoro e sigo este blog inteligente e muito bem humorado !
    deixo aqui o meu recente , pequenino e humilde blog , na eventualidade de até poder ir lá dar "uma vista de olhos" . prazeromeunomeeines.blogspot.com
    beijinho

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  3. Inês, não te esqueceste de nada? Tipo... o link do teu blog ;)

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  4. Gostei muito. Vou passar a seguir o blog. Eu sou do Norte e realmente tratar por menina não é falta de educação nenhuma e usa-se frequentemente: "menina enfermeira", "menina" do restaurante, "menina assistente", ...

    Agora, é uma falta de educação tratar por "TU" pessoas desconhecidas, em qualquer contexto. Os meu pais podiam ter a 6ª classe, eram pessoas muito humildes, mas sempre fui educada a respeitar as outras pessoas, independentemente do seu estatuto social, e tenho orgulho nisso.

    Infelizmente dá-se muita importância à aparência, e por vezes, as pessoas julgam-se superiores às outras só de olhar. Mas como diz o velho ditado "As aparências iludem". Conheço pessoas que são tratadas por Sr. Eng. por todos (inclusive pelo Sr. do banco) sem a licenciatura terminada (e que nunca vão terminar), mas continuam com o estatuto só devido ao seu fato e gravata.

    Ora, pode não usar fato e gravata, mas cá para nós, acho que as suas "sabrinas", "piercing no nariz" e "cabelo rebelde" têm muita mais pinta que os ditos cujos.

    Beijinhos. :)

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  5. Eva, se há coisa que a senhora minha mamã adora é ir às compras ao Porto e naquela Rua de Santa Catarina ser tratada por "menina" em todas as lojas.
    :))
    Mas nesse caso, como bem dizes, é gentileza, não é abuso.

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  6. :D Hehe, bem verdade. Saudades de ir às compras na Santa Catarina*

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  7. Piercing no nariz!!! Ainda não tinha reparado! Muda de banco. No mínimo!

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  8. Ou mudo de bando ou mando o senhor funcionário ser fustigado. Ainda estou indecisa.

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