segunda-feira, 5 de julho de 2010

Afinal, o problema não sou eu, é a demografia


Várias vezes tenho divagado acerca da minha “solteireice patológica”. Não sendo especialmente feia, nem especialmente burra, nem especialmente pérfida, questiono-me porque estarei sozinha. E como a auto-comiseração sempre foi bom motivo para devorar mais uma caixa de chocolates chego sistematicamente à conclusão de que a culpa é, afinal, minha. Lá está… se eu fosse um bocadinho mais paciente. Um bocadinho mais tolerante. Um bocadinho mais transigente. Um bocadinho mais calma. Um bocadinho mais normal. Se soubesse danças de salão. Se fosse boa cozinheira. Se as minhas mamas fossem maiores. Se não fossem os piercings e as tatuagens. Se os não deixasse intimidados (remeto para um escrito anterior). Se…
Tantos “ses”! A certo ponto – lá pelas tantas da madrugada – chego ao ponto de pensar “se eu não fosse eu”. Mas se eu não fosse eu provavelmente não me colocaria estas questões filosóficas porque estaria demasiado ocupada a ser mulherzinha de algum mediocrezoide, com bigode de GNR mas sem os tais dois dedos de testa.
Há umas semanas vi a luz. Ou melhor, fui iluminada por uma mente brilhante que me explicou que a culpa meus senhores, não é minha, é da demografia.
Ou seja, não é a mim que deve ser assacada a responsabilidade de todas as Passagens de Ano a beijar a taça de champanhe à meia noite, de todas os dias de namorados a oferecer presentes a mim própria e de todos os abraços que dou aos meus joelhos… à falta de melhor zona corporal a que abraçar. Não, não é a mim, nem ao meu nariz empinado, nem aos meus desvarios. É a demografia. Parece - mas digo-vos isto com ares de dado cientifico - que, embora nasçam sensivelmente tantos meninos como meninas, dois factores perturbadores vieram arruinar a minha felicidade conjugal (ou a ausência dela): a) no percurso até à idade adulta morrem mais meninos que meninas; b) o numero de gays masculinos é bastante superior ao numero de lésbicas.
Ecco! I rest my case. Todas as vezes que o meu círculo de amigos me acusou de piquinhice excessiva no momento de aparelhar… estavam profundamente errados. Não sou demasiado exigente. Não tenho é um âmbito pessoal suficientemente alargado de escolha. Pois que culpa tenho eu que o gene Y sucumba mais facilmente a acidentes e doenças? Acaso posso dominar a genética? E que culpa tenho eu que parte substancial da população masculina prefira roçar-se numa pernoca peluda ao invés de se encostar à minha perninha depilada (com cera!)?
Em boa verdade, tudo isto conta com uma explicação científica e perfeitamente traduzível em termos matemáticos: se há menos meninos do que meninas em idade adulta, é óbvio que muitas de nós teremos, necessariamente, que ficar sozinhas. Quais? Bem, não será a Angelina Jolie certamente…
Tenho alguma solução? Bem, a única que vislumbro… hoje que são 4 da tarde de uma segunda feira de calor pachorrento, é igualarmos o numero de viventes masculinos. Para isso, só vejo duas hipóteses: ou nos atiramos de um 4.º andar ou damos uma voltinha pelo outro lado da sexualidade. O suicídio ou o lesbianismo como forma de reduzirmos o nosso número. Ora, tendo em conta que acho que sou demasiado gira para morrer espalmadinha no chão… e não digo mais nada.
Hoje vivo bem mais tranquila. Afinal, eu sou perfeita. A demografia é que não.

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