sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Se bem me lembro


Há dias encontrei uma amiga de longa data, com quem não estava há um par de anos, e foi um fartote de rir, e quase de chorar, aos reviver os nossos bons velhos tempos juntas.
“E naquele dia que tu gritaste com o empregado de mesa?”
“Ahhhhhh. O tipo esqueceu-se de trazer a minha cerveja.”
“Recordas-te que tinhas a tua carteira em cima de uma cadeira e não deixavas ninguém sentar-se?”
“Pois é, ainda discuti com a tipa da mesa ao lado”
“Lembro-me perfeitamente que tínhamos ido à praia, e até me recordo da roupa que usava nessa noite”.
“Eu também. Tinhas aquelas tuas sandálias cor-de-rosa”.
“O corpete rosa e a mini-saia branca”, gritámos as duas em uníssono.
Pois é, a memória feminina é uma coisa espantosa. Podemos sentir alguma dificuldade em recordarmo-nos de coisas relacionadas com impostos, clubes de futebol da 3.º divisão ou multas para pagar, mas nunca esquecemos as informações verdadeiramente importantes, desde logo as roupas que usámos, as roupas que qualquer outra pessoa usou na nossa frente, aquilo que dissemos e aquilo que nos foi dito, especialmente no que toca à cara-metade.
Vão dizer que o caso não tem nada de extraordinário, porque em boa verdade estávamos a recordar episódios que não tinham mais que 3 ou 4 anos. Mas posso-vos garantir que se daqui a 40 anos nos encontramos e formos duas velhinhas de joelhos a tremer continuaremos a recordar-nos deles com a mesma vivacidade e detalhe que agora.
A questão é esta: uma mulher não esquece. Pode até dizer que sim, que esqueceu, que perdoou. E não é que esteja a mentir. Simplesmente, defrontamo-nos com uma incapacidade inata para esquecer coisas.
Esta é uma habilidade que por vezes disfarçamos, sobretudo para não cair no ridículo. E dizemos qualquer coisa vaga sobre determinado acontecimento, procurando passar despercebidas. Mas eis que há sempre um tolinho que desafia o poder da nossa memória. “Olha lá, tens a certeza que foi assim que a coisa se passou?”. Nesse momento abre-se a caixa de Pandora e sai-nos pela boca um chorrilho de minuciosos detalhes sobre o evento em causa. “Claro que tenho. Eu nesse dia usava umas calças pretas que comprei em Madrid e tu estavas com o teu casaco azul e botas castanhas. Tínhamos ido almoçar àquele restaurante que fechou depois em 2010, no dia 5 de Janeiro de 2010, e eu tinha pedido o bacalhau, mas veio demasiado seco….”. E pronto, começa a saga.
No meu caso consigo descrever ao pormenor todas as roupas que usei em cada momento da minha vida. Relato com todos os pontos e virgulas as conversas que tive, e o que cada pessoa me disse, inclusivamente fazendo as caras que expressam as expressões faciais de cada um dos interlocutores. Consigo especialmente relatar conversas com a minha cara-metade, e sei exactamente em que dia e em que condições ele prometer fazer alguma, ou não fazer certa coisa, ou fazer como se não fizesse certa outra coisa, enfim, aquelas coisas que os namorados nos costumam prometer.
Aliás, se há informação que fica registada na nossa memória é precisamente as promessas que o Ele nos fez, desde anéis de brilhantes até ferias em Paris, passando pela promessa de nunca mais se esquecer do nome dos nossos amigos. E, sobretudo…. Atentem bem neste particular meninos, nunca nos esquecemos das vossas gafes. De modo que se depois de uma noite de copos – quer da nossa quer da vossa parte - têm o azar de comentar que a vizinha de cima tem um decote muito giro (note-se que estou a ser meiguinha nas palavras) podem ter como certo que o assunto vai vir à baila em todas as futuras discussões e que provavelmente dali a um par de meses estão a mudar de casa. Não interessa o quão bêbedas, perdão, ébrias, estejamos, continuamos a registar tudo com a mesma minucia.
Memória de elefante? Isso é pra meninos. Impressionante é a memória feminina.

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