quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Na guerra e nos saldos vale tudo
Abriu a época de saldos. Comecem as hostilidades!
Esqueçam a Primavera e os passarinhos, o Natal e as boas acções. Não há dias mais felizes e cintilantes do que os dias de saldos.
Eu sou, basicamente, uma compradora. Ora, existem dois tipos de compradoras. As que têm dinheiro suficiente para o fazer onde querem e quando querem, e que olham para os saldos com o mesmo desprezo que a mim me invade quando vejo um prato de courato. Os saldos são coisa do povo, de quem conta os tostões até ao finalzinho do mês, viaja em low cost e paga as coisas a crédito. Dizem elas. Depois há as compradoras como eu, que vivem miseravelmente infelizes por ter salários demasiado baratos para os gostos que têm. A elas, a mim, a nós, restam-nos os saldos.
Nem sempre é uma questão de “não ter dinheiro para”. Caramba, a Parfois até tem brincos de 3 euros. É aquela sedutora ideia de comprar abaixo do preço. Para quê pagar mais quando se pode pagar menos? Não sou propriamente versada em economia e finanças, mas tenho para mim que pagar metade é melhor que pagar o preço na íntegra. E isto aplica-se seja a sapatos de 300 euros seja a brincos de 3 euros.
Uma amiga disse-me um dia que não percebia como é que eu aguentava as multidões, a roupa em monte, as filas para pagar, enfim, o pacote todo que vem com os saldos. Provavelmente ela não compreende isso porque se pode dar ao luxo de gastar todo o dinheiro da sua conta. É que de onde aquele veio mais virá. Já eu, para além de não me poder dar a esse luxo, acredito que tão-pouco o faria se pudesse. Talvez seja a minha costela judaica que me faz gostar tanto desta estranha loucura de esperar até que o preço baixe ao nível dos meus calcanhares.
Agora, uma coisa é certa: é preciso ter estomago para ir saldar. Não é coisa para qualquer flor delicada. Aqui onde me vêm está uma fera sedenta de sangue escondida debaixo do ar angelical que normalmente carrego comigo. Lembrem-se: até a velhinha de olhar cândido se tornará numa temível assassina caso desconfie que estamos atrás do mesmo cardigan de malha. De modo que deixem a piedade para trás. Não há regras de cortesia, nem sequer lealdades. Posso até deixar aquele homem lindo para a minha melhor amiga que se embeiçou por ele. Mas esse par de sapatos que tenho na mão não deixo para ela nem morta. Amigos, amigos, compras à parte.
Outra boa dica para quem está pouco experienciada em saldos diz respeito à bagagem que levam convosco. Nada de sapatos altos e aprestados, roupa que custe a vestir e a despir, casados grossos que tenham que carregar nas mãos. Less is more e há que ser minimalista, até na companhia. Grandes cortejos de amigas só servem para perder tempo com as coisas pelas quais cada uma se encanta. Além disso pode ainda fomentar uma guerra mortal caso os encantamentos coincidam. Sobretudo, nada de namorados a não ser que tenham um daqueles in between que aprecia pormenores das bainhas e novas cores de sombra de olhos (nota de rodapé: este namorado não é um problema para os saldos mas, está bem de ver, é em si mesmo um problema) todos os demais se tornam uma borbulha no nosso rabo. Suspiram alto, reviram os olhos, implicam, começam a sentir fomes, arrepios e calores. A única coisa para que servem é para nos segurar a mala e as pilhas de roupa que vamos escolhendo das prateleiras antes de experimentar. Para isso admito que até mesmo namorados avessos a compras e desprovidos de bom gosto dão algum (mediano) jeito. Eu própria já me queixei numa loja pelo factos de todas as demais compradoras terem as suas respectivas caras-metade a segurar-lhes isto, aquilo e o outro, e eu, miúda emancipada e sem anexos emocionais, tive que carregar tudo com as minhas próprias mãozinhas delicadas, o que me fez perder imenso tempo naquela tarde de compras. Por isso achei por bem reclamar à gerente da loja, fazendo-a ver que empilhar assim a roupa sem sequer fornecer cestos ou sacos onde meter o espólio da baralha era discriminatório para com as mulheres sozinhas. Curiosamente, ainda não encontrei loja que explorasse esta lacuna de mercado e alugasse à entrada namorados fictícios para meia hora de acomodamento, carregamento e marcação de lugar nas filas do provador.
Última lição: nada de pesos na consciência quando virem o montante a pagar. Lembrem-se que de qualquer forma estarão sempre a economizar. De modo que nada de remorsos ou intenções de devolução. A mim tranquiliza-me sempre repetir para mim mesmo o valor que pagaria pelo preço na integra, proceder à subtracção e ver quando quanto poupei. E, meus amigos e minhas amigas, a verdade é que quanto maior for o volume das compras maior será a diferença. Conclusão (à qual cheguei depois de uma insana tarde de compras, o que talvez explique a lucidez com a qual fui agraciada): quanto mais compro mais poupo.
Tenho dito.
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