domingo, 15 de janeiro de 2012

Ama-me ou faço greve


Quando os nossos pais fizeram o 25 de Abril queriam liberdade.
A liberdade de falar, pensar, sonhar. Entre outras coisas também a liberdade de fazer greve. Mas certamente não pensaram que se chegaria ao paradoxo do direito de greve se tornar uma ditadura para todos aqueles que não querem fazer greve.
Basicamente a sociedade está refém das greves, porque mesmo quem não pactua com esta “filosofia” (e estou a ser altamente generosa com a designação escolhida) é forçada a fazê-lo involuntariamente por força da pressão das circunstâncias.
Hoje em dia toda a gente faz greve: os operários, os homens do lixo, os professores, os médicos. Até o dinheiro faz greve para entrar na minha conta bancária. Ah, e claro os senhores da CP e da TAP.
Ora, eu estou longe de ser inimiga das liberdades. Se há direitos que não estão ser cumpridos urge reivindica-los. Mas, e eis aqui o busílis da questão (há séculos que tinha o “busílis” na ponta da tecla) é preciso que os haja. Que haja direitos. Que haja bom senso. Que haja respeito.
Fácil é concluir que muitas das greves dos supostos oprimidos de hoje são, basicamente, birras. Birrinhas de meninos mimados porque não têm o que querem. Mas o problema é que não podem efectivamente ter aquilo que querem, seja por lhes está vedado por imposição legal seja porque as circunstâncias concretas assim o ditam. Mas como querer é poder, e poder é fazer greve, pois eles querem na mesma e greveam até conseguirem o que querem. Assim como um puto berra a plenos pulmões quando não lhe dão a chucha.
E pelos vistos a coisa funciona porque eles continuam a fazer greve. Se a greve não fosse uma boa arma de ataque certamente já teriam desistido da ideia e fariam uma coisa diferente, tipo… trabalhar talvez. Mas não. Como funciona. Como o mundo continua a girar ao sabor dos seus caprichos, lá continuamos nós sem comboios nem aviões.
Se não os podes vencer junta-te a eles, certo? Porque hei-de eu acordar cedinho para ir trabalhar quando posso ficar de braços cruzados? A pergunta parece-me demasiado tonta para me dignar a responde-la. De modo que como não tive subsídio de Natal o melhor é boicotar o trabalho deste mês, ainda que estejamos em época de exames. É claro que assim muitos alunos muitos alunos não poderão terminar os seus estudos do semestre mas… who cares?
Também descobri que entra o ar gelado deste Inverno pelas frestas da minha janela da sala, de modo que vou fazer greve ao pagamento da renda de casa.
O pior é que terei mesmo que ficar em casa ao frio. É que como o preço dos transportes aumentou, e o combustível também, decidi fazer greve às saídas de casa. De modo que fico em casa ao frio.
Mas não me atrevo a ficar doente. É que depois do Estado ficar para si com boa parte do meu vencimento de funcionária pública, de pagar impostos para isto e mais aquilo, e de pagar para a segurança social dos advogados, a Segurança Social teve a altíssima lata de me pedir a minha contribuição. E o mais caricato da história é que, apesar disto tudo, não tenho médico de família, de modo que adicionalmente ainda pago um seguro de saúde. Mas, como o seguro não cobre tudo nem me atrevo a ficar doente. E assim faço greve a vírus, bactérias, e tudo o que de financeiramente desastroso possa acontecer à minha saúde. Face a isto, posso fazer greve a este país de faz de conta?
Em suma, em casa fechada, gelada, e em grande esforço para não ficar doente. É sozinha, ainda para mais. É que como a minha meia-laranja não me ofereceu uma aliança de casamento decidi fazer greve sentimental.

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