domingo, 22 de janeiro de 2012

O casamento que eu não tive


Passei os últimos 10 anos da minha vida sob o peso da funesta pergunta. “Então, quando é que te casas?”. As minhas respostas, ou as minhas não-respostas (que é como quem diz, os meus silêncios) eram geralmente recebidos com um misto de desaprovação e de pena, ou um paternalista abanar de cabeça, sem prejuízo de um ou outro me ter sussurrado que eu é que sabia viver a vida.
Não sei se sabia. Não sei se sei. Até porque em boa verdade a minha solteirice deve-se em parte a uma certa aversão ao tema, em parte à impossibilidade de convencer alguém que me leve ao altar. De modo que não posso chamar para mim toda a glória neste assunto.
O mais curioso é que metade dos ditos 10 anos estive totalmente desacompanhada, o que tornava a pergunta mais mais ridícula. É que perguntar a isto a casais de namorados juntos há 2 ou 3 anos é uma coisa. Perguntar a uma miúda cujo record até ao momento era de ano e meio de lua-de-mel é outra.
Assim fui eu sendo incansável dama de honor, de braços caídos juntos ao corpo mal o bouquet era atirado aos céus, lágrima ao canto do olho quando a noiva entra na Igreja, convidada individual nas cerimónias, a tia pouco convencional de não sei quantos putos.
Hoje dou por mim ainda por casar mas (re)acompanhada por uma data de gente que casou e descasou (alguns casaram e descaram segunda vez) e hoje estão de novo solteiros. O casamento chegou ao fim, o amor chegou ao fim, e ficamos sem saber o que chegou ao fim primeiro. E não me refiro apenas àquelas uniões que desde o copo de água estavam condenadas a terminar em tribunal. Também terminaram aqueles casamentos que eram os meus role models, onde tudo parecia perfeito. Ah, e se eu acreditava com todas as forças do meu ser que aqueles dois iam ficar juntinhos até ser velhinhos com mantas pelos joelhos….
Assim, no espaço de poucos meses os meus vários grupos de amigos foi assolado por uma série de feias rupturas, divórcios mais ou menos crispados e, como não podia deixar de ser, muita dor e ressentimento.
A dar-me razão, certo?
Seria de esperar que pelo menos uma parte de mim olhasse para estas catástrofes amorosas como confirmações de boa parte das escolhas que fiz para mim. Vêm? Por isso não me casei? Agora não tenho que me divorciar. Não preciso de mudar de casa, de dividir pertences, de mudar o estado civil no Facebook e no BI. Convenhamos, posso não ter tido um casamento de vestido branco e anjos a cantar, mas também não tive um divórcio feio e com roupa suja a sair-lhe pelas entranhas.
Mas não. Bem pelo contrário. Eu, que gosto tanto de ter razão, desta vez engulo a minha vitória moral com muita angústia. Porque estas rupturas marcam também a destruição de uma convicção que me é muito cara: a de que as pessoas devem apaixonar-se e amar-se o resto da minha. Estes tipos eram até ao momento a prova viva de que esta minha convicção era realizável, e agora mandam tudo às urtigas porque não conseguem aguentar a pila dentro das calças ou porque um dia acordaram a pensar que gostam mais de comer carne do que peixe, ou porque passado 10 anos acham que preferem ser só amigos. Pois bem, se esta gente desiste, então, nada mais resta para o meu mundo de histórias de encantar. Ou seja, depois de ver desacreditados o Pai Natal e a Fada dos dentes, agora é o amor eterno que dá um trambolhão nos valores que me norteiam.
De modo que preciso de um par de alguéns que esteja feliz, que ande de mão dada, que queira ter bebés, que entrecruze os braços para beber um copo de champanhe, em suma, que faça todas aquelas coisas patéticas que as pessoas apaixonadas fazem. Preciso de uma história de amor antes que me torne descrente. É que aquele casamento a que me poupei de bem pouco me serve. Porque eu ainda o quero ter algum dia, e se vocês não o têm e não o querem ter ou não o conseguem ter aquele casamento que eu não tive torna-se no casamento que eu nunca terei.

1 comentário:

  1. Vera, Minha Querida, como sempre, ninguém escreveria melhor do que tu o que penso sobre este assunto. Em relação a casar, já o quis, já o desquis, já o pude fazer, já estive impedida de o fazer... Certo é que tb nunca o Fiz. E assim, Divórcio não consta do meu rol de feitos. Estive perto de um, fiz parecido a outro, é o que pode dizer. mas de facto, sem assinar papeis. No entanto, lá está, se formos rigorosos, "Casamento" e "Divórcio" são termos que podem ser aplicados, por analogia, a muitas situações. E podem causar ttas delícias e transtornos como se fossem no papel. às vezes até mais. O que interessa é que cada um é como cada qual, e das relações, o que interessa é o que se SENTE. Com papel ou sem ele. Os papeis causam muita chatice, na hora de resolver contratos. Mas é bonito. É tradicional e não causa estranheza de quem, muito chatamente, nos faz a tal pergunta do "qdo te casas?" . Falamos então de sentimentos? ok. parece-me mais importante do que a forma do contrato que os regimenta.... O resto é conversa. ;)

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