terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O cuecão


Ah, o cuecão. Essa instituição centenar, que acompanhou as nossas trisavós, bisavós, avós, mães e, com algum horror meu, constato que algumas de nós. Ora, eu já tive oportunidade de manifestar a minha mais veemente repulsa por roupa interior que funcione como turn off, mas como este meu bom povo teima em não me dar ouvidos sinto-me coagida a tecer mais algumas considerações sobre o tema.
Eu sou, essencialmente, uma observadora. Posso passar horas a observar pessoas e a ouvir as suas conversas. Há quem me chame coscuvilheira, mas eu prefiro observadora.
Pois bem, estava eu a observar a família que tomava o seu brunch junto a mim, composta pela santíssima trindade de pai, mãe e filho, quando subitamente a mãe se se levanta da cadeira e eu vi. Basicamente o mundo inteiro viu. O famigerado cuecão.
Quero frisar que não falo de uma daquelas mães matrafonas de 50 e tal anos. Falo de uma mãe quiçá (ao tempo que queria utilizar esta!) mais jovem do que eu, ou se preferirem, menos velha do que eu. Ou seja, uma matrafona novinha. Mas desleixada.
Bem sei que não tenho propriamente legitimidade para criticar a forma como se cuidam as mulheres que têm filhos. Adivinho que as prioridades hão-de ser outras, e que entre pintar os lábios ou mudar de fraldas cheias de cocós estas últimas levem a dianteira. Mas a verdade é que eu estou mal habituada. É que fui parida por uma mãe que sempre foi gira, super-gira, e que ainda hoje é uma giraça. E estou rodeada de amigas que depois de ter os seus rebentos continuam a competir comigo (e dar-me grandes abadas, diga-se já) no capo da giracidade. De modo que estou habituada a mães giras. Compreendo que haja coisas difíceis de combater. O corpo mudou, o tempo para o ginásio escasseia, e por muito se corra a lei da gravidade, os pneuzinhos e as estrias são inimigos invencíveis. Mas podem continuar a ir ao cabeleireiro de vez em quanto, a cobrir a raiz (que isto de usar raiz à mostra do mundo só ficaria bem a uma Shakira loira de raiz escura… e nem mesmo a ela, convenhamos), a usar roupa apropriada para o corpo, a passar um blush ou um rimmel. Caramba, a basiquice do básico.
De modo que não se compreende que uma mamã jovem, e com um marido/companheiro/namorado/amigo colorido medianamente bem-parecido se atreva a usar um modelo de calças que levam a pensar que quem usa ali a fralda é ela e não filho. Muito menos se compreende que se atreva a sair à rua nestes preparos. E muito menos ainda que as calças que escorregam pelo rabo abaixo deixem antever o tristemente célebre cuecão, assim me dando a mim uma terrorífica imagem que me acompanhará em todas as noites de insónia.
Miúda, vê se te compões. Passa na Women’ Secret e compra uma cuequinha nova. Não tem que ser minúscula. Pode até ter cintura subida, ou mesmo uns boxers femininos. Nem toda a gente se sente confortável com um fiozinho a roçar-lhe o rabiosque. Mas, pelo amor da Santa, nada de usar cuecas que parecem ter sido usadas pela avó, tecido e mais tecido em camadas a imitar uma fralda, elásticos a ceder por todos os lados e muitas vezes um ou outro buraco a perfurar qualquer réstia de dignidade que sobeje à mulher com cuecão. Ah, and by the way, aquela cor de casquinha de ovo pode ficar bem na parede da sala, mas em cueca gigante não. Nem essa nem outra.
Não quero exagerar demais o meu tom surpreso ao ver a mãe de família atrelada ao seu cuecão. Não foi de todo a primeira vez que fui submetida a tamanha tortura visual. Quem muda de roupa em balneários públicos já por diversas vezes terá sido vítima de uma tal traumatizante experiência. Eu, pela minha parte, tenho a minha cota de cuecões, soutiens que deixas as ninas quase a bater nos joelhos e outras pérolas que tais. O cuecão ganha de longe este campeonato de mau-gosto. Ver a coleguinha de cacifo a baixa as calças e colocar perante os meus olhos limpos e puros o cuecão é uma visão que me agonia o almoço e me deixa três pensamentos. Primero, o turn off que aquele pobre companheiro sexual não sofre de cada vez que ela se digna a não ter dor de cabeça. O equivalente masculino seria uma de nós ver o tipo a despedir-se deixando antever um slip leopardo. So, I rest my case… Segundo, a humilhação que sinto como membro da espécie feminina perante tal cena lamentável. Terceiro, não deixo de reconhecer o seu importante efeito anticoncepcional (é que depois disto não há homem que consiga estar, digamos, à altura) e nesta época de crise qualquer método alternativo que permita poupar nos métodos contraceptivos comprados na farmácia é uma solução pensável.
Depois disto não me venham a dizer que usar roupa interior bonita e sexy é desejo de mulher oprimida, que é objecto sexual e todas essas coisas que algumas feministas gostam de apregoar para justificar o buço que lhes adorna a cara. Cuecão não é coisa de mulher emancipada. É antes coisa de mulher desleixada.

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