domingo, 11 de dezembro de 2011

A minha traição é melhor do que a tua


“Mas como é que ela sabe?”
“Ele disse-lhe. Foi ele que lhe disse na cara”.
“A sério?”
“Sim. Disse-lhe que não estava preparado para nada sério. O que procurava era uma amiga… uma amiga colorida”
“E como é que ela reagiu?”
“Ela já desconfiava. Afinal, que se há-de esperar de um homem que tem escrito no Facebook que quer conhecer mulheres?”
“E como reagiu ela?”
“Não reagiu mal. Respondeu-lhe que ele tinha que decidir o que queria porque ela tinha outra pessoa”.
“Mas tem?”
“Achas? Não tem nada. Disse-lhe isto para o espicaçar. E parece que ele ficou transtornado. Perguntou-se se era mesmo verdade, que não estava nada à espera disso… Enfim, ela disse-lhe que tinha outra pessoa na vida dela e que assim iria continuar, a não ser que ele quisesse outro tipo de relação”.
Nesse momento tive que sair do autocarro e não consegui saber mais nada desta relação desengonçada (só para rimar). Mas mal pisei a calçada com o meu sapatinho (não me recordo exactamente de qual, mas certamente era fantástico) pus-me a pensar o quanto as relações tinham evoluído nos últimos anos.
Tempos houve em que as pessoas mentiam para encobrir amantes e casos extra-relacionais. Hoje em dias as pessoas mentem para criar amantes e casos extra-relacionais.
Ora, quando é que ser infiel se tornou um requisito para uma relação bem-sucedida? Quando é que a promiscuidade se tornou um atributo bem cotada na bolsa de valores das relações amorosas?
Subitamente damos por nós a inventar jantares para os quais não fomos convidadas, telefonemas que não fizemos e quecas que nem pensamos em dar, só para ser mais… Mais quê? Mais interessantes? Mais apetecíveis? Mais sedutoras? Basicamente, um “melhor partido”. É como se não o facto de não flirtamos (ou sexamos, diria mesmo) com outras pessoas para além daquela com quem mantemos uma relação (mais ou menos) estável nos tornasse, de alguma forma, aborrecidas e pouco interessantes. Um coirão. As miúdas que ninguém quer. É certo que bem pode suceder que isso aconteça porque, simplesmente, não estamos interessados noutra pessoa. Mas isso seria um atestado de estupidez e de falta de sex appeal…não?
Hoje em dia, mais do que ter pessoas interessadas em nós para nos encher o ego, é preciso demonstrar publicamente que existem pessoas interessadas. Mesmo que não existam. É indiferente. Ao contrário da mulher de César não basta sê-lo, há que parecê-lo.
De modo que se não existem, inventem-nas. Criem contactos com números inexistentes e atribuam-lhe um nome que pareça terrivelmente interessante e sexualmente potente. Enviem a si próprias rosas vermelhas com um cartão escaldante, para serem recebidas na frente de muita gente mas, especialmente, na frente da “pessoa”. Recusem convites alegando hipotéticos jantares, saídas, fins-de-semana, ou qualquer coisa que vos torne mais apetecíveis. A imaginação não tem fim. E a loucura também não….
Porque é de loucura que falamos quando acreditamos que alguém vai gostar mais de nós porque se sente atraiçoado e magoado. Infelizmente, não é uma loucura da nossa cabeça, mas deste mundo em que vivemos, onde se implantou a ideia de que as pessoas mais interessantes são aquelas mais assediadas e – eis agora o grande salto filosófico – as que mais cedem aos assédios.
As pessoas já não se juntam para serem fiéis uma à outra, mas para se atraiçoarem mutuamente. Depois do tempo dos galanteios chegou o tempo das mágoas e das traições. De modo que já não há motivo para esconder facadinhas matrimoniais. Revelem-nas abertamente ao mundo. E se porventura não vos apetecer estar com mais ninguém… inventem-nas. A este estado chegámos!
Nunca pensei dizer isto, mas tenho saudades do antigamente….
Tenho saudades o tempo em que teria que inventar a suposta homossexualidade de algum cavalheiro bem-parecido com quem fosse apanhada a beber em copo. Agora a saída mais airosa para mim é debitar os vários encontros românticos que eu e o tal cavalheiro já tivemos. Caso contrário sou uma falhada. Ou, pior que isso, uma monogâmica.
De modo que se alguém perguntar onde estive nos últimos dez minutos façam o favor de não contar que os passei aqui sozinha, sentada no sofá a escrever. Peço-vos encarecidamente que espalhem aos quatro ventos que tive um jantar à luz das velas com um tipo alto, forte e espadaúdo que me convidou a ir passar com ele um fim-de-semana em Paris.

1 comentário: