sexta-feira, 23 de março de 2012

Uma droga chamada A-M-O-R


Quando andava no liceu li Os Filhos da Droga. Mentia se não dissesse que não andei semanas a fio a pensar no assunto. A história é pesada, especialmente para uma mente impressionável de 14 anos.
Estava na altura longe de supor que um dia estaria eu a tremer num canto, assacada pela ressaca da falta da minha droga. Com a diferença que a minha droga não era um pó nem um comprimido, mas uma pessoa. No meio disto tudo as drogas são o pior dos males. Porque o mal maior são mesmo as pessoas.
Tudo começa com uma curiosidade. Como será ele? Daqui do meu cantinho parece lindo, charmoso e fantástico. Será que ele é assim mesmo? Comos seria dar-lhe um beijo, saber os seus segredos, poder contar-lhe os meus?
Depois chega aquele amigo, qual dealer de drogas pesadas, a aguçar-nos o apetite. E fala-nos dele, dos seus feitos, das suas piadas. E nós ficamos de coração desfeito ansiando por ouvir uma dessas piadas. Depois daquela breve amostra do produto queremos é o produto mesmo.
Uma troca de números de telefone. Um encontro. Um jantar. Um abraço. Um fim-de-semana. E de repente já estamos agarradas fazendo planos para uma vida a dois. Parece que o alívio de todos os males das nossas vidas advém daqueles momentos juntos, ao passo que a sua ausência nos arrasta para uma ressaca que só se cura com o reencontro. É oficial: estamos viciadas no tipo.
De facto, o amor é como uma droga. Rectifico: o amor é uma droga. Um vício no qual é fácil cair, mas muito difícil sair.
Dizem os estudos científicos - juro, vi num daqueles canais para pessoas inteligentes – que quando estamos apaixonados o nosso cérebro liberta endorfinas, exactamente como se estivéssemos a tomar uma droga. Quando estamos apaixonados, e tudo está bem, e os passarinhos cantam, estamos totalmente inebriadas por essa droga, e não vemos mais nada. Descuidamos os amigos. Desinteressamo-nos do trabalho. Deixamos a dieta. A televisão já não nos prende. Basicamente, o tal aquilo torna-se a principal razão de ser da nossa existência. Ora, daqui advém sem dúvida um ponto positivo: a nossa vida fica tão preenchida que todos os problemas e frustrações desaparecem. Caramba, já nem nos recordávamos que se poderia ser assim feliz. Mas, não nos iludamos, o perigo, um perigo imenso, está sempre à espreita: é que se por algum motivo o tal amor desaparece das nossas vidas (e bem sabemos que o amor desaparece mais depressa do que um coelho numa cartola de mágico) tudo desaparece com ele, e regressam então os problemas, as frustrações, os medos, sei lá, tudo o que a vida tem de mau, e um bocadinho mais ainda.
É então que se entra na tal ressaca. Por vezes de cama mesmo. Perda de apetite e diminuição de peso. Pele macilenta. Voz arrasada. Quem sabe febre. Todo o singelo pensamento que nos passe pela cabeça vai necessariamente dar às tais endorfinas perdidas. No meio desta miséria acabamos a culpar a nossa estupida curiosidade, o tal dealer, os postais de ursinhos e corações que ele nos ofereceu. A culpar o mundo por existir.
E a nós também. Porque nos custa perceber como é que há tantos seres humanos por aí que experimenta a droga, a snifa esporadicamente, ou até mesmo todos os dias, e no entanto ali estão, rosados e felizes. São imunes à ressaca. Ganham e perdem amores sem ganhar quilos nem perder lágrimas. E nós – pobres de nós os fracos – que tombamos ao mínimo sintoma de privação.
Enquanto para os drogados medicamente reconhecidos há fármacos e centros de desintoxicação, a nós pouco mais nos resta do que maciças doses de chocolate e intermináveis conversas com amigos, que inevitavelmente terminam com um suspiro ou um choro.
Doloroso? Sem dúvida. Mas também uma grande lição de vida. Espero que ao menos nos ajude a resistir à tentação da próxima droga.

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