sábado, 10 de março de 2012

Casamento aberto, coração fechado?


Numa altura em que tantos casamentos terminam há-que perguntar porque é que se mantêm aqueles que se mantêm. Já sei que me vão do amor de verdade, da honestidade, da lealdade, de interesses económicos, dos filhos, da pura preguiça. Pois bem, vi há uns tempos um documentário no qual se sugeria um outro cimento: os affairs.
Repare-se que não escrevi infidelidade. Na verdade estive aqui uns bons dois minutos a pensar qua seria a palavra mais acertada. Porque infidelidade, segundo vejo as coisas, expressa uma deslealdade, uma mentira, uma coisa que se esconde. Ora, aquilo de que quero falar é antes a manutenção de relações extraconjugais - no puro sentido de relações sexuais, entenda-se – com o conhecimento, e inclusive o apoio do outro. Trata-se de abrir o casamento á intervenção de gentios e bem-parecidos terceiros, enquanto ao mesmo tempo o coração permanece (segundo parece) fechado às incursões dos ditos. Assim, não só se afasta a monotonia e se brinda o casamento com novas e emocionantes aventuras como, por outro lado, se tem absoluta certeza de que o outro permanece apaixonado pois que todos os dias vê os seus sentimentos testados.
No documentário lá aparecia o nosso casal feliz, sentados no sofá a conversar um com o outro, quando de repente toca a campainha e entre um dos vários “terceiros intervenientes”. Cumprimenta a senhora com um beijinho, um aperto de mão ao marido, e vai daí pega na mulher deste marido e vai com ela para o quarto. Não um quarto de hotel, mas um quarto ali mesmo da casa onde esse tal marido passou o resto da tarde, no sofá a ver televisão e a fazer palavras cruzadas. Enquanto isso a mulher e o terceiro lá estavam no quartinho, os dois. A fazer coisas. Daquelas com bolinha vermelha. Até que saíram cá para fora, se despediram com um bem-haja e o feliz casal voltou à sua vida banal de… feliz casal. Enfim, tudo está bem quando acaba bem.
Depois foi a vez de chegar uma terceira para fazer companhia ao senhor. E lá foram eles os dois para o dito quarto, certamente em grades acrobacias, enquanto a mulher terminava de pintar as unhas dos pés. E depois foi para a cozinha fazer o almoço, e no final da história comerem todos juntos à mesa, porventura falando das intimidades de cada um.
É isto adultério? Eu diria que não.
A ideia de um adultério consentido (e até incentivado) é uma incongruência nos termos. O adultério é, sempre e necessariamente, uma situação enganosa e desleal. Nem sequer se pode dizer que seja uma infidelidade porque na verdade as partes estão a ser fiéis ao seu projecto comum de vida. Logo, quando ambas as partes estão de acordo na intervenção de terceiras pessoas… live and let live. A verdade é que se um casamento nestes termos dura para além do tradicional prazo de validade dos sete anos, então, é porque o esquema funciona.
Dito isto, será que a relação aberta é um caminho a ponderar?
Teoricamente sim. E certamente funcionará para algumas pessoas. Mas eu continuo a achar que a monogamia está bem e recomenda-se. Pela minha parte nem consigo conceber outra forma de vida.
A questão é que eu gostava de não dizer isto. Gostava de ter um espirito tão aberto a ponto de chegar aqui e escrever maravilhas desta coisa aparentemente fantástica na qual terceiras pessoas (mais ou menos) interessantes entram e saem da relação conjugal, tornando-a mais rica, divertida e desafiante. E até, pelos vistos, mais consistente. E estaria mais que disposta a dizer isto não fosse o facto de ter a cabecinha cheia com ideias (burguesas?) que me foram incutidas por um educação parental meticulosa e por uma data de livros de príncipes, princesas e cavaleiros andantes. Ora, nunca se ouviu falar que a princesa tivesse traído o príncipe com o sapo (excepto a Lady Di, claro está). De modo que estes principiozinhos continuam a ditar a forma como vejo o mundo e, especialmente, as relações a dois, que para mim são isso mesmo e apenas isso: uma relação onde só duas pessoas existem.
Não se veja aqui qualquer censura moral face a quem adopta este estilo de vida. Há muito poucas coisas neste mundo face às quais sou intolerante e esta não é, de todo, uma delas. Partilhem o vosso amor, o vosso sexo e sejam muito felizes. Digo-o genuinamente. Mas eu não sou assim. De modo que me esperar que a minha relação fechada dure (pelo menos) tanto tempo quanto a vossa relação aberta.

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