terça-feira, 2 de agosto de 2011

Luckily I’m in love for my best friend


Há muitos e bons motivos para se ter uma meia laranja.
Começo desde logo por sublinhar o difícil que é partilhar a vida com alguém. Sobretudo para aqueles que nós que durante grande parte da vida adulta partilharam os dias e as noites consigo mesmo. Ter alguém que de repente ocupa o nosso espaço, ignora os nossos amigos e nos “empurra” para grupos desconhecidos, ou mesmo que simplesmente se atreve a respirar o mesmo ar que nós, tudo isso pode causar um tsunami na pacata vida um solitário empedernido.
Veja-se: não seria bom poder ficar a trabalhar até mais tarde, sem remorsos, preocupações com jantares, ou telefonemas a cobrar atrasos?
Não.
Não seria.
Não é.
Não há liberdade ou desprendimento neste mundo que suplante o que é ter alguém para quem fazer o jantar (ou, no meu caso de cozinheira frustrada, que nos faz o jantar a nós). Alguém que nos liga a perguntar onde estamos. Alguém que nos cobra, nos pergunta, nos procura. Alguém que se preocupa.
Mas esse alguém não pode ser um mero alguém. O mundo está cheio de gajos, “de um tipo qualquer”, de seres humanos vá lá. Desculpa Ben Harper, but there are not so many special people in the world.
Esse alguém tem que ser o nosso melhor amigo.
Isso significa que não está lá só para as partes boas, para as comemorações, para aqueles dias em que tudo corre bem, para os anos em que formos bonitos, atléticos e saudáveis. Está lá também nas partes más. Nos dias escuros. Nos dias em que não temos emprego, nem dinheiro, nem vontade de sair da cama. Nos dias em deixamos de ter boas ideias e passamos simplesmente a idiotas. Porque, basicamente, é isso que os amigos fazem.
É claro que tem que haver mais do que a pura fraternal amizade. Caso contrário partilharíamos todos as nossas vidas com os coleguinhas da 3.º classe. Tem que haver química, faísca, sei lá, aquela coisa que nos arrepia quando tocamos alguém.
Certamente todos já sentimos solavancos físicos com certos géneros humanos, usualmente altos e bem-parecidos, com sorriso trocista e ar ligeiramente pecaminoso (para os cavalheiros a versão seria uma fulana cheia de curvas, rabiosque empinado e beicinho). A nossa parte física - animal diria mesmo – já levou muitas veze a melhor sobre a parte racional. Mas não pode levar a melhor sobre o que o nosso coração nos diz. E o coração gosta de quem nos trata bem, logo, nos faz feliz. O musculozinho cor-de-rosa não gosta de tipos deliciosos à superfície mas repugnantes no fundinho do fundo. Os nossos olhos podem gostar muito do que vêm, mas de que nos serve alguém que quando mais precisamos não está, não sabe estar, nem se importa com isso?
Para alguns de nós a vida será sempre um dilema entre uma paixão avassaladora e um amigo que nos segura na mão e nos canta ao telefone quando estamos tristes. Mas para outros de nós (…) não há escolhas a fazer. Uns porque uns se apaixonam pelo melhor amigo. Outros porque a paixão se tornou no tal melhor amigo.
Hw lucky am I?

2 comentários:

  1. Excelente. Continua a escrever, p.f.

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  2. Saudades de ler este blog!
    Este texto parece que foi escrito para mim... :) adorei!

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