segunda-feira, 2 de maio de 2011

Mil e uma razões para não me casar contigo


Guys, o príncipe William lixou-vos e bem. Basicamente, estragou-vos toda e qualquer desculpa possível para adiar um casamento que se apresenta como mais que anunciado.
Senão, raciocinem comigo: se o herdeiro à coroa britânica, instituição de larga tradição tem um rasgo de paixão, e depois de uma atribulada relação de anos decide sentar a seu lado uma plebeia, não será que se esvaziam assim todas as eventuais desculpas que alguém pode dar para não se casar?
Comemos por concordar que a vida do príncipe herdeiro deve ser – ou melhor, é – desgraçada. Não lhe invejo a riqueza, as mordomias ou os privilégios. Uma vida em que qualquer suspiro é ouvido na outra parte do mundo, em que não pode coçar os tintins sem que o resto do planeta saiba imediatamente, não pode escolher o profissão, nem onde morar nem com quem casar, essa não seria vida para mim.
Pois bem. Se um tipo que vive debaixo de tais constrições manda tudo às urtigas para se casar com uma mulher que ama, mesmo não tendo título nem dote, que dizer dos mil milhões de desculpas que todos os dias se ouvem para fugir à aliança no dedo?
Amo-te, mas não tenho um emprego estável.
Amo-te, mas não preciso de melhorar a minha situação económica.
Amo-te, mas tenho que me divorciar primeiro.
Amo-te, mas os meus filhos não aceitariam que eu me casasse.
Amo-te, mas um dia destes posso ter que ir trabalhar para o outro lado mundo.
Amo-te, mas não sei consigo dormir todas as noites acompanhado.
Amo-te, mas acho que não consigo prescindir de todas as outras mulheres que andam por aí.
Face ao exemplo do príncipe, todos aqueles que queimaram dias, meses, anos, a protelar um casamento não têm agora outro remédio senão reconhecer: Não te amo. Não me caso contigo porque não te amo. Só por isso. Fiz-te perder estes anos todos porque tinha medo de ficar sozinho e não encontrei ninguém por quem me apaixonasse. Não porque te ame a ti.
Não existe obrigação alguma de casar. Não é um papel que vai fazer a diferença na relação. Ou melhor, se alguma diferença faz será para pior certamente, porque a pressão do “até que a morte nos separe” pode matar muitas histórias de amor. Rectifico. Pode matar muitas pseudo-histórias de amor. Porque aquelas que são de verdade resistem a muita coisa: doenças, vulcões, tornados e, obviamente, vínculos matrimonias.
As pessoas são livres de nunca se casarem. Se essa for uma escolha a dois, livre e esclarecida, nada a apontar. Podem não se querer casar por miríades de razões, e todas elas certamente legítimas, sob pena de nos erguermos em juiz das razões de um e de outro. Mas têm que invocar que razões são essas. Não podem é esconder-se atrás de falsas desculpas para esconder aquela que é, em última instância, a razão suprema: não gosto de ti o suficiente para assumir um compromisso que nos una até que a morte nos separe ou até que um advogado me consigo um bom acordo de divórcio.
O príncipe tinha todas as razões e mais algumas para não casar com a Kate, mas ponderou que nunca delas era suficiente para a perder. Porquê? Porque gostava dela. E supostamente quando as pessoas gostam uma da outra comprometem-se para vida.
Este post não é uma apologia ao casamento. Longe disso. O abrupto número de divórcios a que se assiste hoje em dia (e que nem preciso de ir procurar em qualquer estatística do INE, basta-me olhar para aqueles que me rodeiam), acrescido do imenso desgaste e sofrimento que implica para todas as partes envolvidas, faz-me ter cada vez mais certeza de que o casamento deve ficar reservado apenas àquelas pessoas que efectivamente se ama. E note-se que nem aí é garantia segura que as coisas irão correr bem, pois o ser humano ama e desama com a mesma facilidade com que expira e inspira.
A vida a dois é uma coisa muito complicada. A vida a dois com uma aliança no dedo e uma promessa de “estou contigo” na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, é uma coisa ainda mais complicada, pois a pressão de saber que é para sempre pode bem fazer com que esse tal “para sempre” termine mais depressa. Se tudo isto é tão complicado e desafiante, deve-se partir para esta batalha armado e unhas e dentes, que é como quem diz, cheio de amor, paixão, respeito, cumplicidade, carinho, cheio de tudo. Quem só quer estar, passar um tempo, dormir acompanhado, ter alguém a quem apresentar aos pais, fugir à etiqueta de “encalhado”, responder à pressão social, enfim, quem não ama, não deve casar. Deve simplesmente ir ficando e ver o tempo passar. De modo que esta reflexão não é uma apologia ao casamento. Mas é um repúdio das mentiras, das falsas desculpas e da cobardia. É um apontar de dedo a todos o que não tem tomates para dizer: Não caso porque não gosto de ti.

2 comentários:

  1. Não resisto a partilhar um comentário que me foi feito por um amigo perspicaz:
    “Neste post das 1001 razões usas uma frase "de gaja" que sempre me intrigou (sim... já a ouvi na 1.ª pessoa várias vezes): "Fazer perder" os anos todos em que se andou até a coisa acabar sem casório. É como se o não casar determinasse uma revisão retroactiva das emoções e experiências passadas. A vida de namoradas/noivas é 1 investimento calculado a pensar no casório? Bjs”

    Isto foi o que lhe respondi, e que serve de resposta a todos aqueles que foram assaltados por este mesmo pensamento:

    “Por acaso eu já ouvi este pensamento a muita gente, "gajas" e "gajos".
    O tempo perdido não é por não casar. Como dizia no tecto, isso é uma opção legítima, desde que se revelem as razões verdadeiras da opção. Repito: não era uma apologia ao casamento.
    O tempo perdido deve-se aos anos que se passaram com alguém na expectativa de eram gostados e afinal fomos apenas suportados. Estar com alguém que não gosta de nós na errada convicção de que gosta. Isto é tempo perdido, ou não?”

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  2. Concordo com o texto em numero e grau.
    E com a tua resposta ao comentário.
    Já estive com alguém que me fez promessas, juras de amor e com quem até discuti o numero de filhos. Não que eu seja uma desesperadapara casar, foi ele quem começou com o te amo tanto que te quero para minha esposa. Estava eu apaixonada e entrei na onda. Algum tempo despois descubro que o pilantra é comprometido e bla bla bla. Então nesse caso o tempo que perdi não foi porque poderia estar com alguém que vá casar comigo mas sim porque estive na ilusão de ser amada quando não era.

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