A nossa vida é feita
de mitos urbanos.
São eles que ditam
boa parte das nossas existências, quer no sentido de fazer, quer no sentido de
não fazer.
Ainda hoje não me
atrevo a olhar à noite debaixo da cama porque de acordo com 10025 filmes de terror
está alguém escondido lá em baixo, pronto para me fazer falecer. Não entro em
becos escuros porque tenho receio de acordar numa banheira cheia de gelo, com
uma costura a mais e um rim a menor.
Mas os mitos que mais
arruinaram a minha vida foram aquelas estúpidas histórias românticas de
Hollywood. Miúda encontra homem alto e lindo, blablabla... e felizes para
sempre. Ora, por causa destas histórias da carochinha desperdicei boa parte dos
meus anos de miúda gira e em boa idade a correr atrás dos tipos errados, porque
há sempre aquele mitos que os tipos errados um dia acordam e passam a tipos
certos (obrigada Matthew McConaughey... tu e os teus filmes idiotas, bahhh ).
Vamos assentar num
ponto: os mitos urbanos são apenas isso, mitos. Não acontecem, a não ser em
filmes de série B (porque desde há muito que os ursos de ouro não são dados a
filmes de final feliz, de modo que não há realizador que se preze, e que preze
prémios, que hoje em dia faça filmes de final feliz).
A questão é que por mais
realistas e lógicas que queiramos ser sempre aparece uma amiga que nos fala da
prima-da-tia-da-vizinha-da-irmã-de-outra-amiga a quem um desses mitos urbanos
aconteceu. Sobretudo naqueles dias em que estamos mesmo mal, lá aparece a dita
e maldita amiga a contar-nos essas histórias e... pronto, volta a estúpida
réstia de esperança. E assim vive muita gente até que chega aos 60 anos e dá
por si perdida e sozinha, à espera do que não chega.
Este é o sermão.
Dito isto, faço uma ressalva:
eu sou o mito urbano. A tal história que todos contam, mas nunca ninguém
conheceu uma pessoa de carne e osso a quem essa historinha tivesse
acontecido...? Acontece. Aconteceu-me a mim.
Por isso nunca sei o
que dizer quando alguém me pergunta: achas que algum dia vai acontecer?
Não, não acho. É praticamente
impossível. Mais raro do que sermos atingidos por dois raios na mesma noite na
unha grande do pé. Mas vai daí... por veze acontece.
Por isso, e apesar de
tudo, eu acredito em mitos urbanos. Acredito que de vez em quando as pessoas
ficam juntas como nos filmes de série B.
Claro está que se este
mito urbano pode ser real ninguém nos garante que o Boogieman não nos espera debaixo da cama... é que alguns mitos urbanos são mesmo reais.
Mesmo.