sexta-feira, 29 de abril de 2011

MANIFESTAÇÕES PÚBLICAS DE CARINHO


Não tenho a mínima intenção de limpar as vísceras do meu “significant other” com a língua em locais públicos.
Assim como não baixo as calcinhas para fazer xixi no meio do bar nem aproveito o momento em que estou estendida na toalha, em plena praia, para palitar as fissuras dentárias, não faço questão que me lambuzem ou me toquem mais intimamente quando exista assistência por perto. Mais. Confesso até que fico incomodada quando sou forçada a presenciar esses episódios XXX ao mesmo tempo que bebo o meu Delta ou danço no meio da pista. Mas já confirmei que sou antiquada, logo… gimmy a break.
Isto que ficou dito acima é uma coisa.
Coisa diferente é a total proibição de manifestações de carinho em público.
Aquele beijinho tão rápido como um choque eléctrico, as mãos dadas ao andar (convenhamos…. nem sempre, mas por vezes), um abraço quando faz falta….? Porque não?
É ofensivo? É-o tanto quanto passar a mão pelo cabelo, porque em boa verdade é do mais natural que há. O ser humano foi feito para viver em comunidade, seja na sociedade de milhares seja no “couple” da cumplicidade a dois. Se não me coíbo de coçar aquela comichãozinha na ponta do nariz, porque me hei-de inibir de passar a mão pelo cabelo dele?
É embaraçoso? Apenas para quem é inseguro, em si mesmo ou no que toca à vida em conjunto. Se é verdade que não faz sentido publicitar por megafone que se está com alguém (e não temos todas amigas que gostam de nos gritar ao ouvido cada nova conquista???), também é certo que quando ele procura esconder o acontecimento do mundo lá fora é porque na verdade nada aconteceu senão no país da fantasia que reina nas nossas cabecinhas românticas.
Vai tornar-se alvo das piadas dos amigos? Nesse caso aconselho a procurar novos amigos, que preferencialmente já tenham saído da adolescência e das infindáveis horas sozinhos na casa de banho com a mão amiga que nunca os deixa mal.
Pela minha vida já passou de tudo, desde o namorado meloso que não me larga o pescoço (xooooo, chega para lá miúdo!) até ao namorado com problemas afectivos, não sei se por falta de carinho em terna idade (e sabe tão bem culpar os pais de tudo, não é?) ou porque é, simplesmente, néscio. Mas o que eu gosto é do in between, que me deixa respirar sem sufoco mas que está pronto para me sufocar ao mais leve olhar meu.
Quem se vira para mim no meio de rua e me diz, com a maior cara de pau (como sou uma senhora, não lhe posso chamar outra coisa), que se sente desconfortável com manifestações de carinho em público, e retira abruptamente a sua grande mão (sempre… gosto de homens grandes) da minha mão pequenina, merece só uma coisa. Só uma. Uma boneca insuflável. Que não lhe dê a mão, nem lhe pergunte se está triste, nem o arraste para compras, nem lhe apresente amigas chatas, em suma… que não o incomode. Na falta de boneca, ou caso se sintam desmotivadas pelo preço das ditas, aconselho uma alga. As algas fazem o mesmo efeito. E ocupam menos espaço. Em qualquer das hipótyeses, será certamente menos embaraçoso e incomodativo para eles passar na rua com a boneca ou a alga. Asseguro que nenhum delas lhe agarrará na mão.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Quanto custa este espermatozóide?


Noticia do jornal: a Maternidade Alfredo da Costa (vulgo, MAV) tenciona vender esperma.
Vá lá, podia ser pior. Podia querer vender quadros do menino da lágrima ou jarras com flores de plástico. Mas a verdade é que o povo ficou louco com a questão.
Pergunta: o que há de tão grave em vender esperma? Em vender partes, elementos ou fluidos do corpo, que sejam regeneráveis e cuja ausência não me cause dano (e com isto afasto logo à partida potenciais vendas de rins)?
Afinal, todos os dias vendo a minha capacidade intelectual, que, em bom rigor, deveria ser mais prezada com um lagartinho com cauda a agitar. As modelos – aquelas miúdas escanzeladas com olhar de veado assustado, que enchem as páginas das revistas e as passerelles deste mundo – vendem a sua imagem, os seus quilos, as suas curvas. O Cristiano vende a sua aptidão física ao clube que pagar mais e os abdominais à marca de roupa que pagar mais ainda.
Bottom line: não andamos todos, a todo o momento, a vender alguma coisa?
Porque é que vender partes do corpo (nas condições referidas, claro está) suscita tanta celeuma?
É a instrumentalização da pessoa? Não consigo pensar em gentinha mais instrumentalizada do que as tais modelos, os tais futebolistas, os tais outros que como eu vendem neurónios em troca de um carro ou de uma casa.
Dificuldade acrescida do caso: o que a mim me irritou solenemente na decisão da MAC é aquilo que não foi dito, ou foi erradamente dito. A versão contada aos jornais é que os tais 350 euros que se pretende cobrar pelo esperma é o preço que a MAC paga pelo dito ao banco ao qual o “compra”, sendo que a aplicação da técnica em si seria inteiramente grátis. Ora, isto a mim causa-me estranheza. Antes de mais, porque não há almoços grátis, nem técnicas que não sejam pagas. Depois, porque não sou propriamente perita em esperma (esta afirmação daria pano para mangas!) mas, tanto quanto sei, a coisa sai barata. Ou seja, parece que o produto em si está neste caso a ser pago a “preço de amigo”, mas na versão contrária. E assim caímos no contra-senso de ser mais caro recorrer à reprodução com esperma de dador no Serviço Nacional de Saúde do que no sector privado. São as idiossincrasias do paizinho que temos.
Pequena pedra no sapato que acresce a este problema: o esperma vem de Espanha. Nuestros hermanos são tão espertos que agora nos querem colonizar de outra forma, mais subtil mas também mais eficaz e penetrante (o que é uma bela escolha de palavras). Depois do domínio dos Filipes eis que chega o domínio dos espermatozóides. Felizmente logo alguns cidadãos preocupado com o orgulho nacional se chegaram à frente e foi ver nos sites onde a notícia vinha publicada ofertas e mais ofertas do bom homem tuga a disponibilizar-se para fazer a doação. In vivo, obviamente. Afinal, o macho lusitano não perde uma oportunidade de dar uma queca ou de se voluntariar para uma.
Mas deixem-me regressar de novo ao ponto da questão: será que o esperma se pode comprar e vender? E os óvulos? E o sangue?
Será que se eu doar material biológico por puro espírito de ablegação pessoal mereço palminhas, ma se o fizer para pagar a prestação da casa já sou uma vil interesseira? O dinheiro conspurca tudo? É que assim talvez eu devesse trabalhar de borla. Todos nós na verdade. Pagávamos as mercearias com beijinhos e os impostos com abracinhos. E em vez de caixas de ATM teríamos bancas de beijos esquina sim, esquina não. Toda uma economia baseada no sentimento. Bolsas de valores de festinhas e cafunés. Ai que felizes que seriamos! Posso garantir que os portugueses, carinhosos como são, seriam a primeira economia do mundo e não haveria FMI que metesse cá os pés. Enfim, só se fosse para uma festinha na cabeça…
Entre as muitas coisas maravilhosas que nos ficaram do catolicismo está este dogma de que o dinheiro é uma coisa feia e má, que só deve existir dentro do Vaticano e da sua opulenta riqueza. Já nós, comuns mortais, devemos viver de forma espartana. Felizmente a minha herança judaica permite-me afastar sentimentos de culpa cada vez que me dedico a uma orgia de compras. Senão seria uma alma torturada já vos digo.
Para acalmar as consciências sempre podemos dizer que a quantia paga visa compensar os incómodos sofridos pelo dador. No caso das mulheres – atendendo a que se trata de um processo doloroso e aos perigos a que se sujeitam com a recolha dos ovócitos, que em última instância e em casos raros pode até conduzir à morte – este argumento tem alguma valia. Mas no caso dos homens é mais difícil explicar a história da compensação pelos incómodos. Não os vejo consternados depois de uma sessão solitária na casa de banho com uma Gina ou coisa do tipo (não sei ao certo o que por aí circula), nem tenho notícia que algum deles tenha batido a bota enquanto batia outra coisa qualquer, a não ser que o senhor tivesse 99 anos e antes tenha tomado um Viagra.
Por isso sugiro que se chamem as coisas pelos nomes: não é uma compensação pelo incómodo, ou melhor, não é apenas disso que se trata, mas sim de um pagamento pelo produto.
No mundo tudo se compra e tudo se venda. O amor pode ser última vaca sagrada que temos, e mesmo aí nem sei se o Beatles teriam razão. You can’t buy my love. But you can buy my sperm.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Bravehearth: os heróis de hoje


Até há uns tempos atrás eu admirava a coragem daquelas que tinham decidido viver as suas vidas sozinhos. Gabava-lhes a bravura, a audácia, a capacidade de se aguentarem pela vida fora sem ajudas nem ombros onde encontra-se. De certa forma a vida a dois parecia uma muleta simpática onde amparar as agruras do dia-a-dia.
Creio que este é o entendimento do comum dos mortais. Recordo-me de a certa altura me lamentar para com uma amiga sobre a solidão e anexos da mesma, e de ela me ter olhado com certa compaixão enquanto perguntava porque raio não conseguia eu estar sozinha. Como se estar sozinha fosse uma coisa que se tivesse que se conseguir, um esforço sobre-humano, dada a grande dificuldade da aventura da solidão, em contraposição ao modo fácil de viver a vida, que seria estar acompanhado.
Eu estava errada. A minha amiga estava errada. Provavelmente metade do mundo está errado.
Porque viver sozinho é simples. It’s peanuts. O difícil é viver com alguém.
Quanto mais penso no assunto mais me convenço que a vida a solo é a opção mais fácil e mais segura. Tudo bem que tem os seus momentos de solidão. Mas nunca se cai em grandes desânimos nem em tristezas infinitas. Faz-se o que nos dá na realíssima gana sem ter que dar contas a vivalma. Podemos estar amuadas à vontade. Dormir com maquilhagem e acordar borradas. Não fazer a depilação durante meses. Ver programas lamechas todas as noites. Chegar a casa pública e explicitamente com os braços cheios de sacos de compras sem nos preocuparmos em escondê-las ou em inventar promoções/saldos/ofertas em lojas imaginárias. E não corremos o risco de nos sentirmos culpadas com algum olhar mais lascivo para o coleguinha de ginásio. Afinal, estamos livres. Livres e desimpedidas, that’s our middle name.
Não há aqui dificuldade, nem risco, nem acto de bravura.
Coragem mesmo é a de quem abre mão de tudo e se lança nesta misteriosa aventura chamada “amor”. O amor é um lugar estranho. Estranho e perigoso, cheios de areias movediças. De longas esperas por um telefonema. De concessões em férias e restaurantes. De ciúmes. De dor. De lágrimas.
Caramba, porque é que as pessoas se apaixonam? Seremos todos masoquistas, à espera de mas uma chicotada ou mais uma traição, enfim, aquilo que doer mais.
É preciso ter um coração brutal para estas coisas. Um coração enorme, do tamanho do mundo. E robusto, que se aguente à bronca com emoções fortes. Um daqueles corações inquebráveis, como os telemóveis anti-queda e os brinquedos dos bebés. Um coração que não rache nem se amolgue com qualquer embatezinho (leia-se, com traições, mentiras ou ausências).
Porque, sejamos honestos, esta gente que teima em viver a dois arrisca-se a perigos insuspeitos. Não há Boina Verde nem agente secreto que corra tamanhos riscos todos os dias. Cada manhã ao acordar se arriscar a ouvir a um “Querida, não te amo mais”, “Desculpa, estive com outra pessoa”, “Acho que devemos dar um tempo” ou “Afinal, não é isto que eu queria”.
Como é que se sobrevive a uma merda destas? Como raio é que se aguentam em cima das pernas depois deste terramoto lhes arruinar toda a vida que tinham sonhado e planeado e ansiado?
Será que há seguros de vida contra estes acidentes? Seguros contra rupturas de relações e traições? Enfim, se já há quem faça seguros às pernas e às mamas não vejo porque não se possa fazer aos corações.
Será que estas pessoas destemidas sabem naquilo que se estão a meter? Ou será que pensam que um capacete e um colete anti-bala é suficiente para as proteger? Porque se assim pensam lamento dizer-vos que estão profundamente erradas. Podem ter convosco juras de amor eternas, alianças de casamento, casa e carro comum, filhos, um cão e uma casa de cerca branca, mas nada, nadinha disto é garantia de esse amor vai permanecer para além da vossa esperança. Os amores são assim mesmo: nascem com os dias contados. São uma espécie de iogurte com o prazo de validade que, chegado ao fim tem que ser deitado fora.
Não sou a valente no meio da história. Eu escolhi o caminho fácil, onde não há desilusões, nem mágoas. Em troca desta segurança abdiquei de alguma outras pequenas coisas, é certo, mas o risco era demasiado elevado para achar que valia a pena.
Valentes são aqueles heróis de coração corajoso que vivem cada momento no fio da navalha, sem nunca saber quando irão ser trocados, atraiçoados, abandonados ou desamados.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Aquilo que eu não tenho


Aquilo que eu não tenho é exactamente aquilo que mais quero. O que é perfeitamente ridículo atendendo a tudo aquilo que tenho, que é muito, e bom, e gratificante. Mas no meio de tudo isso está o vazio daquilo que eu não tenho.
My perfect big life…
Até nas vidas perfeitas se sente a falta de alguma coisa, seja lá o que for. Porque essas vidas só são perfeitas para quem está de fora, a assistir e a invejar. As vidas dos outros parecem sempre tão melhores do que as nossas! E na inocente ignorância de espectadores pensamos que naquela felicidade imensa não poderia caber mais nada. Mas as pessoas que têm vidas perfeitas choram muitas vezes na cama, mancham a almofada de rímel (já este pormenor torna as suas vidinhas menos perfeitas), e acordam durante a noite sem saber o que fazer. As pessoas que têm vidas perfeitas vão chorar para a casa de banho e escondem as olheiras por baixo de maquilhagem, não vá o público das vidas perfeitas vaiá-las. As pessoas que têm vidas perfeitas passam muitas noites sozinhas, escondidas na sua perfeição, a olhar e a contar tudo aquilo que têm para ver se esquecem o que não têm, mas verdade é que este vazio é sempre maior que o espaço que tudo o mais ocupa.
Estou em crer que as pessoas com vidas perfeitas desejariam muitas vezes uma vida imperfeita. Daquelas onde falta dinheiro, saúde, vigor físico, amizade, amor. Porque talvez perante a falta de tanta coisa já não se notasse tanto a imensa falta que lhes faz a única coisa que não têm. E pelo menos não teriam que fingir a constante perfeição porque já ninguém esperaria que estivessem felizes o tempo todo. Poderiam chorar sem censura. Que mais se pode esperar dos coitadinhos? Chorem à vontade. Já as pessoas de vidas perfeitas nunca podem chorar. Que tamanha ingratidão chorar pela mísera migalha que se não têm quando se leva debaixo do braço um pão inteiro?
É para além de se ter tudo, sente-se a culpa de se ter tudo e, ainda mais, a culpa de não apreciar o que se tem, de querer esse tudo e um bocadinho mais. O que haverá para além do tudo? Que maravilhas insuspeitas se escondem por trás das vidas de quem tem menos (e bem menos) que tudo?
É que aquilo que não temos é o que mais falta nos faz. Podemos ter tudo, excepto aquilo que não temos, e é exactamente esse aquilo cuja ausência se torna gigante, a ponto de tudo o mais que efectivamente temos se tornar pequenino demais para encher as nossas vidas.
Aquilo que eu não tenho ofusca tudo o que eu tenho. Como é que uma coisa que não existe pode ser mais importante do que uma coisa que existe? Como pode pesar mais do que todas as coisas que existem? É a não existência mais valiosa do que a existência?
Aquilo que eu não tenho é exactamente o que mais quero. Com o perigo, porém, de depois de o ter poder deixar de o querer. Ah, mas quem pode ser feliz assim, se só quer o que não tem? Não sei. Só sei que enquanto o não tenho gasto-me e desgasto-me a descobrir formas de o ter, a lamentar-me por não o ter e inclusivamente chego a ser indulgente comigo precisamente porque o não tenho.
Ao fim ao cabo, com tão grande ausência, a tal vida perfeita não é tão perfeita assim. Ou não será que ela é perfeita precisamente em virtude da tal ausência? Será que eu estou melhor por não ter aquilo que não tenho? Será que se o tivesse a minha vida deixaria de ser perfeita? Than again, who in hell wants a perfect life?
Dêem-me aquilo que eu não tenho e deixe-me ter uma vida imperfeita.
É que a perfeição é altamente sobrevalorizada.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Íntimo e pessoal: o assunto das casas de banho


Parece que agora estão na moda as casas de banho mistas. Enfim, não exactamente mistas porque em bom rigor temos aquela fina, finíssima, parededita de contraplacado a separar as minhas águas das deles. Mas, ainda assim, casas de banho caracterizadas por uma promiscuidade com a qual não posso pactuar.
Esta modernice já não é nova para mim.
Era uma jovem e ingénua estudante em Roma, acabadinha de chegar a terras de S. Berlusconi das Donzelas Castas, quando um dia na universidade senti vontade de fazer o meu xixi. No melhor italiano que na altura expressava as minhas dúvidas e emoções lá perguntei onde era a dita, supondo que não seria necessário especificar que procurava a casinha das meninas, até porque o tamanho do meu rabo e dos saltos dos meus sapatos não deixam grandes dúvidas quanto ao sexo biológico de quem vos escreve. Segui as instruções tal qual me foram transmitidas pelo meu cérebro confuso com tanto som estranho naquela língua cantada. Mas acabei por entrar num lobby de quarto de banho onde um senhor, de costas para mim, fazia a sua mijinha no urinol.
Com suma preocupação afastei-me rapidamente do local do crime e lancei as culpas por esta situação porno-embaraçosa ao meu fraco domínio da linguagem. De modo que interceptei outro jovem e incauto estudante e de novo lhe perguntei pela casa de banho, desta feita tendo o cuidado de especificar que procurava qualquer coisa cor-de-rosa e com rendinhas. De novo segui as orientações do mapa mental que desenhara na cabeça, e … eis-me de novo à entrada da dita porta, com o dito senhor ainda de pilinha na mão, em pleno acto de necessidades (pilinha que eu não vi, faço notar, porque sou míope e o órgão em questão não tinha provavelmente tamanho suficiente para o poder vislumbrar da soleira da porta). Ali fiquei, naquele limbo, uma espécie de purgatório entre o inferno da minha bexiga prestes a rebentar e o paraíso de uma sanita semi-semi-semi-limpa.
Uma alma caridosa e sensível ao meu sofrimento de pessoa que está muito apertadinha para um xixi lá me explicou que ali na Faculdade os xixis eram feitos lado a lado. Nem queria acreditar naquilo que estava a ouvir. Quer-me V. Exc. dizer que na terra do Vaticano, do catolicismo e dos eleitos para entrar no Céu, se admitia tamanha pouca-vergonha?
Não no sentido sexual da coisa, que eu nisso sempre achei que entre adultos e com consentimento vale tudo menos tirar olhos. Eu é que não estava preparada para dar o meu consentimento a que um daqueles machos latinos ouvisse o barulho do meu xixi. Pronto. Mas como não tinha outro remédio, lá engoli em seco e me arrastei sorrateiramente para a casa de banho, onde devo ter feito o xixi mais rápido de que há memória na história da humanidade.
Já não me recordo ao certo, mas tenho para mim que durante o resto da minha estadia na universidade devo ter parado de beber água ou passado a usar fraldas para adultos incontinentes, porque a verdade é que não tenho mais nenhuma memória de outra visita à casa de banho.
Sucede porém que o meu trauma antigo foi há dias ressuscitado quando dei de caras com outras destas bárbaras obras de arquitectura num sítio que frequento … com alguma frequência, digamos assim.
Fiquei estupefacta. Que coisas dessas se façam na terra onde o líder come prostitutas menores de idade, ainda vá que não vá, mas nós somos gente séria caramba. Não gostamos de ordinarices destas. Se é para ser ordinário e lascivo, vá-se buscar um par de algemas e um chicote. Agora, coisas estranhas enquanto se trata das necessidades fisiológicas, isso não.
Numa altura em que tanto se fala de privacidade – privacidade de dados, privacidade de telecomunicações, privacidade genética – não haverá para aí também uma privacidade fisiológica?
Uma amiga ainda me explicou as possíveis vantagens deste novo paradigma na relação triangular: homem/mulher/necessidades. De facto, quem tem filhos meninos que não sejam suficientemente crescidos a ponto de já baixarem as calças sozinhos, mas já não tão crescidos a ponto de aceitarem passivamente ir com a mãe à casa de banho das meninas (mal desconfiam eles que daqui a uns anos não quererão outra coisa) sente um alivio ao poder ter ali o melhor dos dois mundos. Assim pode acompanhar o filhote varão à casa de banho sem tratamento inumano e degradante à pobre criança, quantas vezes forçada a ver senhoras velhotas ainda a subir a cinta e a combinação.
Mas como eu já sei subir e baixar as minhas calças não partilho essa alegria. E não consigo deixar de ficar constrangida com a mera ideia de casa som, de cada movimento meu, poder ser percepcionado por todo um vasto e anónimo (ou não tão anónimo) universo masculino.
A verdade é esta: há uma série de coisas que devem ficar reservadas só para nós: palitar os dentes, limpar o nariz, passar o fio dental, mudar de tampão e fazer as coisas que se fazem sentada na sanita.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Morreu em casa sozinha


No meio de tantas notícias de escândalos políticos, do FMI e outras desgraças que tal, já ninguém repara naquele pequeno quadradinho no canto inferior do jornal que relata outra morte solitária de alguém cuja falta nunca foi sentida.
E nós habituámo-nos a isto. Habituámo-nos porque aquela desgraça individual parece coisa de somenos quando comparada com a desgraça geral que afunda este país. Habituámo-nos porque depois da primeira morte, dos “ah!” e dos “ohs!” que a acompanharam, veio a banalização do relato. Como é que a nossa sociedade chegou a este ponto em que já ninguém se choca que as pessoas morram sem que se dê por isso e só muitos anos depois alguém se recorde que um dia existiu ali uma pessoa que trabalhou, amou, odiou, e depois desapareceu sem deixar rasto?
Mas creio que nos habituámos sobretudo porque sentados no café, cheios de vigor, de anos pela frente, com agendas de telemóvel repletas de contactos e não sei quantos amigos no msn, nos parece – na ignorância desta juventude que arrastamos até à meia-idade - que aquela desgraça nunca nos vai tocar a nós. A nós, que somos populares, cheios de amigos e namorados. Como poderíamos morrer sem ninguém dar conta? Certamente que alguém haveria de notar que passaram 12 horas sem postarmos nada no FB. Que mais não fosse, na 2.ª feira soaria o alarme quando não aparecêssemos no escritório e a cadeira continuasse vazia todo o dia. Como poderíamos nós ser insignificantes? Nós, que temos um namorado atencioso ou um marido dedicado, e filhos que hão-de cuidar dos nossos corpos mirrados quando formos demasiado velhinhos para o fazer por nós mesmos.
Mas… estas pessoas não tiveram também tudo isso? Será que nunca tiveram amigos? Nem namorados? Nem marido ou mulher? Nem filhos? Sobrinhos, que seja? Um patrão rabugento? Uma secretária melosa?
O que ficou de tudo isso no final? Uma conta bancária em que ninguém mexe? Um cão velho que morre de fome ao pé do corpo gelado do dono? Uma casa vazia cheia de noites de solidão?
Certamente que desde sempre morreram pessoas. E desde sempre morreram pessoas sozinhas. Duvido é que essas mortes passassem despercebidas aos olhos dos que cá ficavam.
Que mundo é este? Seremos todos crianças birrentas e egoístas que não vêm mais nada além do próprio umbigo? Ou será que nos tornámos tão irrelevantes que a nossa não ausência não é sequer sentida?
Como é que há filhos que não vêm os pais há 10 anos? Como é que há avós que nunca conheceram os netos? Como é que uma reunião com um tipo que nem conhecemos, sentado do outro lado do mundo atrás de uma webcam, se tornou mais importante do que um jantar de família?
Temo que tenhamos chegado a um ponto de não retorno. Um momento na história da humanidade em que as relações são fugazes, os casamentos momentâneos e vividos em duas casas distintas, a minha e a tua. Um momento é que os filhos são um brinquedo para nos sentirmos úteis e amados e a família não passa de uma data de gente entediante com quem somos obrigados a passar a noite de Consoada.
Provavelmente daqui a 50 anos vou estar em casa sozinha, sentada neste mesmo sofá, rodeada de fotografias dos lugares exóticos que visitei, diplomas e publicações pelas paredes, e um vazio enorme no lugar ao lado do meu, que nunca chegou a ser ocupado por ninguém. Se calhar vou partilhar este espaço com 5 gatos porque são os únicos que não se importarão de dividir comigo a sua existência. Se calhar vou passar dias na cama porque não me apetece levantar nem tenho motivo para isso. Se calhar vou esperar ansiosamente que chegue o carteiro só para ter alguém a quem dizer bom dia, porque bem sei que nunca vou receber uma carta. Se calhar uma noite vou sentir mais frio do que a noite fria que está lá fora. E provavelmente nessa altura gostaria de ter alguém ao pé de mim que me agarrasse na mão e me tranquilizasse. E de certeza que vou lamentar não haver vivalma para me dizer adeus, lamentar a minha partida e fechar-me os olhos.
E o pior de tudo isto é que nem sei ao certo como aqui chegámos, como aqui cheguei, nem sequer sei o que fazer para não ser mais uma notícia de um jornal manhoso:
“Morreu em casa sozinha. As autoridades deram pela sua ausência porque não escrevia no blog há mais de 5 anos”.

sábado, 9 de abril de 2011

Dar e receber


A queixa habitual é que damos tudo de nós, o que temos e o que não temos, e não recebemos nada em troca. Já ouvimos este lamento face a relações profissionais, familiares, de amizade… certamente até face ao cão e ao gato também já foram apresentadas este tipo de reclamações.
É bem verdade, e todos nos identificamos com este protesto. Não que demos alguma coisa, uma parte de nós em regra, com a exigência de receber qualquer coisa em troca, mas essa pressuposição acaba por existir, que mais não seja porque nos magoa dar tanto e receber tão-pouco, quase se fossemos transparentes face àqueles que nos rodeiam. Não queremos ter a expectativa de receber de volta porque é mesquinho e nós não somos mesquinhos. Mas é verdade é que temos. Somos mesquinhos… so what?
Mas hoje quero falar-vos de outra coisa. Na verdade, do oposto. Ou seja, não daqueles que tudo dão, mas daqueles que nada recebem.
Porque também isto incomoda, e magoa, e pode destruir relações que de outra forma seriam bonitas e cor-de-rosa.
E, curiosamente, não é tão raro assim não saber receber.
Quantas vezes já elogiámos o vestido de uma amiga que imediatamente se desfez em mil desculpas por aquele trapo velho e usado, que comprou baratíssimo em saldos e que insiste em usar apesar de, segundo ela, lhe ficar mal? E por mais que insistamos no generoso decote que lhe faz, ela continua a corar e a recusar o piropo que tão honestamente lhe lançámos, quase como se de uma ofensa se tratasse.
Quantas vezes quisemos ir a casa de um amigo doente, munidas de caldos de galinha, brufenes e trifenes, e nos deparámos com a flagrante recusa de uma voz a arder em febre, não se sabe se mais doente pela efectiva doença ou pelo temor se vir a ser um incómodo para alguém?
Uma vez comprei um presente a uma pessoa que me é muito querida. Terrivelmente difícil comprar-lhe presentes, exacerbadamente difícil de agradar. Andei e desandei pelas lojas todas, ainda para mais preocupada com o meu fraco orçamento, e no final lá comprei uma célebre esferográfica com uma luzinha na ponta. Kitch, bem sei, mas poupem-me, não teria eu mais que 10 anos. Naquele momento em que alguém abre um presente nosso, daqueles que escolhemos com toda a ilusão do mundo, ouvem-se rufares de tambor cá dentro da cabeça. O meu coração saltava, na ânsia de saber se iria ou não gostar de tamanha maravilha da escrita, e já quase saboreava o doce abraço que se lhe seguiria. Curiosamente – ou talvez não – não houve abraço, nem exclamações, nem sequer um agradecimento. Fui asperamente repreendida por ter gasto as magras economias uma coisa tão tonta. Bem compreendo o outro lado da história: não me onerar, não sentir que tinha que gastar dinheiro (que não tinha) em todos os aniversários e Natais. No fundo, a intenção era boa, mas, como bem dizem, de boas intenções está o Inferno recheado, e aquela pequena fúria (porque o desagrado depressa se transformou em fúria) partiu o meu pequeno coraçãozinho de compradora compulsiva.
Depois dessa vez, numa outra vez das vezes da minha vida, jantava face a alguém por quem estava muito apaixonada. Taciturno, silencioso, pressenti-lhe a tristeza e a preocupação. E num gesto tão natural como o de afastar um caracol da cara fiz-lhe uma festa na face. Ou melhor, comecei-a a fazê-la, mas não a pude terminar, porque imediatamente o rosto se afastou o suficiente para que fosse impossível tocar-lhe e, com ar ríspido, explicou-se que era deselegante ter gestos de afecto em público. Ora, eu não sou púdica, mas tão pouco exibo propriamente os meus carinhos e afectos como numa montra do Red Light District. Agora… da última vez o toque facial não é manifestação flagrante e abusiva de afecto. Uma festa é uma festa caramba. Uma carícia como se faz a um gato. Não falamos da posição de missionário, nem sequer de um beijo com línguas a voar pela garganta. Reduzi-me à minha insignificância de mera companhia de jantar e acabei o resto do prato naquele silêncio que se abate sobre nós quando queremos que a refeição termine depressa.
E depois dessa vez houve uma outra vez ainda: uma vez apaixonei-me por uma pessoa. E quis dar-lhe o mundo. Toda a admiração do mundo. Todas as esferográficas luminosas do mundo. Todas as canjas de galinha do mundo. Todas as carícias do mundo. Mas o meu dar foi rejeitado. Como nunca lhe tinham dado nada disto, nem coisa parecida sequer, ele não sabia como o aceitar. E porque não o sabia fazer… não aceitou.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Just another blond girl in Germany (ideias soltas sobre a experiencia alemã)


Por motivos de trabalho tive que me deslocar a Colónia. Contrafeita, devo dizer. Não sou fã da Alemanha, nem de alemães, nem da língua, nem de bratwurst, nem de nada, digamos assim. Aqui, de onde vos escrevo, mordo a língua por tudo o que disse. Até fazer sangue. Porque estava redondamente enganada e cheia de falsas convicções…
A primeira surpresa desta viagem foi a lista de pessoas simpáticas que fui encontrando pelo caminho. Um dos motivos pelos quais continuo a gostar tanto de viajar prende-se com o facto de sempre encontrar pessoas gentis, que estão dispostas a alterar os seus planos para me encaixar a mim. Em Colónia houve quem se desviasse do caminho de casa para me indicar uma morada; um professor conseguiu incluir-se na sua pesada agenda; uma nova amiga arranjou tempo para me mostrar a cidade. Tenho tido a sorte de me cair em cima sempre o que há de melhor nas pessoas, incluindo os alemãs (e ainda estou só na parte espiritual).
Apesar dos meus preconceitos com carnes vermelhas, lá acabei por experimentar a especialidade da casa: carne de porco fumada com cerveja alemã. Aquilo que num primeiro pensamento me daria náuseas soube-me, efectivamente, bem. Aliás, toda a comida alemã me soube bem. À minha boca e à minha anca, diga-se de passagem. Mordo a língua por todas as vezes que amaldiçoei cerveja….
Outro mito que caiu por terra foi o da suposta beleza das meninas. Minhas amigas – ressalvando as inegáveis excepções – falo-vos de criaturas feias, de gosto duvidoso e, eis aqui a melhor parte, muitas delas rodas baixas e ancas largas… just like us! Sim, a Claudia Scheiffer não é, de todo, a alemã típica.
De tanto morder a língua, falo agora na língua. Até hoje resisti heroicamente a aprender alemão. Enfim, mantenho as aparências. Increvo-me em aulas, onde não vou, compro dicionários que não folheio, e agora até me deu para pagar traduções particulares que cada mês me deixam a conta bancária mais ínfima. Isto porque sempre achei o alemão um idioma bárbaro, duro, ríspido. De repente, a suavidade daquelas sílabas indecifráveis enchem-me os ouvidos. Quase estou pronto a ler a filosfia kantiana e heideggeriana na sua versão original.
Depois, o fantasma do nazismo. Acho que foi esse o principal motivo que tanto me fazia desgostar do povo. Mas todas as sociedades têm os seus momentos negros, e não vale a pena fustigarmo-nos eternamente pelos pecados dos pais. Devo até dizer que o povo, no geral, me pareceu um pouco tonto. No bom sentido, leia-se. Como aquele colega nerd, de óculos e borbulhas, que é o melhor da turma mas teima em esbarrar nos vidros. Custa a crer que tenham tido a pretensão de dominar o mundo. E, de novo, mordi a língua.
Mas a dentada que encerrará estas breves reflexões é mesmo daquelas de fazer sangue. Porque a gaffe em que incorre até ao momento em que finalmente vi a claridade era imesna. Assumo que sempre achei os cavalheiros alemães pouco interessantes. Demasiado pálidos. Demasiado sonso. Demasiado sem-graça. Nada que se comprasse à lábia e ar gingão do macho lusitano. Minhas senhora, bastou sentar-me numa esplanada para descobrir ali maravilhas nunca antes vistas nesta nossa varanda para o Atlântico. Devo dizer que, das muitas vezes que me lamentava ao meu orientador sobre as dificuldades em aprender alemão, ele me respondia sempre, paternalisticamente: “Sabe, alemão só se aprende de duas formas: ou pelo berço (refere-se o senhor ao facto de se nascer alemão) ou por almofada (nem explico a que se refere…)”. E repetidamente tenho respondido: “Senhor Doutor, tendo em conta que eu já nasci há uns anos e que os alemães são tão feiinhos, morrerei ignorante”. Feiinhos? Agora é que mordo mesmo a língua! Ein deutch man für mich, bitte!

sábado, 2 de abril de 2011

Os despojos de uma relação


Amigo, vou embora.
Empacoto os meus livros, os meus cremes, esta minha tralha toda que durante tantos meses te tirou espaço nas prateleiras da casa de banho e nos móveis da sala.
Amigo, que pena tenho eu que nós tenhamos chegado ao fim. E no final o que ficou foi apenas isto… uma data de palavras ditas que deveriam ter ficado caladas e, quero crer, outras tantas por dizer. No fim de tudo, estes são os nossos despojos.
Eu própria me sinto como uma espécie de lixo. Aquilo que não queremos é lixo… certo? Mas estes despojos humanos têm uma particularidade importante face às latas vazias e às embalagens de leite: é que aquilo que alguém não quer acaba por ser querido por outra pessoa qualquer.
A coisa mais parecida às lixeiras humanas de relações estragadas ou passadas do prazo são os barezinhos de hotéis de duas estrelas, onde um tipo gordo vai folheando revistas pornográficas enquanto termina com a garrafa que já tem o seu nome no bar, e uma loira oxigenada revê a lista de nomes no telemóvel tentando descobrir ao quarto de quem vai dormir naquela noite. Pelo menos é isto que se vê nos filmes.
Mas a mim não há-de ser isso que me espera. Vou inscrever-me num ginásio e perder 2 quilos. Vou comprar um vestido novo e, quem sabe até, mudar a cor do cabelo. Vou sair, dançar, sorrir para homens e mulher, para no final concluir que há vida sem ti e depois de ti. Nada que teoricamente eu não saiba já, mas a minha mente de cientista exige a demonstração prática desta teoria.
Parto com o sentimento de missão cumprida. Da minha parte não poderia ter tentado mais, esperado mais e dado mais tempo. Não que não tivesse cometido erros, claro que sim. A culpa não morre sozinha, e uma relação também não. Se esta terminou foi porque não consegui ser suficiente interessante, suficientemente sedutora, suficientemente bonita, suficientemente tolerante. Não fui suficiente, pronto. Diria o Principezinho que não te soube cativar.
Mas aparte estas minhas incapacidades naturais sei que tentei, e depois tentei de novo, e voltei ainda a tentar. Porque durante todos estes meses fui empurrada por aquele secreta esperança que move os tontos e os apaixonados. De modo que eu sei que não fui eu quem te perdeu. Não fui eu que deixei morrer o que tínhamos.
Mas a verdade é que tu também não me perdeste. É que nós só perdemos aquilo que um dia tivemos ou que algum dia quisemos. Se é certo que tu me tiveste como muito pouca gente teve alguém alguma vez, já menos certa estou que algum dia me tenhas querido. Por isso ninguém perdeu ninguém.
Por isso meu amigo – porque não passamos disso mesmo – vou embora agora mesmo.
Se eu ficasse mais um dia, mais um dia que fosse, isso nada acrescentaria a tudo o que eu gosto de ti, mas diria muito acerca do que eu gosto de mim.