sábado, 31 de julho de 2010

Esse vírus chamado G.A.Y.


Antes das festas, das soirées, das mulheres e ex-mulheres de futebolistas semi-nuas em cocktaisl, a silly season deste ano iniciou-se com uma notícia bem menos ligeira, mas igualmente ridícula.
Ao que parece, o Ministério da Saúde prepara-se para manter a medida que vem afastando homossexuais do sexo masculino de darem sangue. Isto apesar de em Abril deste ano a Assembleia da República ter aprovado um diploma do Bloco de Esquerda que iria permitir que homossexuais e os bissexuais pudessem doar sangue. Mas agora, num pacóvio volte-face eis que se confirma que homens que tenham sexo com outros homens ficam impedidos de doar sangue logo na fase da triagem, uma vez que lhe será perguntado: “Se é homem, alguma vez teve relações sexuais com outro homem?” (curiosamente não está prevista a mesma questão para as mulheres, de modo que, lésbicas deste mundo , alegrai-vos, vós não sois pecadoras aos olhos do Senhor, logo, não sofrereis o castigo da SIDA).
Gays, não queremos o vosso sangue. O que se bem se compreende. Se há coisa que há por aí a rodos é sangue. Bem podemos todos ter acidentes e hemorragias e esvairmo-nos desse liquido precioso porque o país tem tanto sangue disponível que se dá ao luxo de recusar dadores de boa saúde. Fazer um teste para verificar se o sangue está ou não contaminado? Que disparate. Isso é para países civilizados. Bem… ou nem tanto. Na civilizadíssima América o presidente Bush também ordenou que os homossexuais fossem proibidos de doar esperma pelo mesmíssimo motivo. Claro que vindo a medida de quem vem já isto nos deveria fazer pensar na sua sensatez e inteligência, já para não falar na acuidade científica.
Não se culpe unicamente Ana Jorge. Afinal, anda por aí um senhor chamado Gabriel Olim, por sinal presidente do Instituto Português do Sangue, que diz para quem o quer ouvir que a homossexualidade é, em si mesma, um comportamento de risco. Será o senhor simplesmente obtuso, ou terá vivido adormecido nas últimas décadas (tipo Bela Adormecida, o que em si mesma tem qualquer coisa de gay), quando o resto do mundo chegou à conclusão que no que toca ao HIV não existem comportamentos de risco, ou, se preferirem, todos o são. Mas este espécime humano disse outra coisa ainda mais brilhante (se é que tal é possível….). E cito: “Quando uma pessoa se apresenta assumidamente como homossexual e quer dar sangue, eu interpreto como uma provocação. Quem quer vir dar sangue não vem com esta atitude”. E a cereja no topo do bolo: os homossexuais que pretendam dar sangue estão “deliberadamente [a] querer introduzir no circuito sangue contaminado”. Vou pôr as coisas nestes termos. Fosse eu um dos visados por um comentário de tal forma insultuoso e ter-lhe-ia posto um processozinho em cima por difamação. Já agora, se algum me está a ler neste momento fique sabendo que eu patrocinaria de bom grado uma acção destas.
Por conseguinte, que se lixem todos aqueles que cada dia lutam pelo fim da discriminação e da homofobia. Que se lixe a comunidade cientifica que incansavelmente assegura que “proibir totalmente os homens que fizeram sexo com homens de doar sangue é errado e em nada científico” (Dr. Mark Wainberg, ex-presidente da Sociedade Internacional de AIDA, professor universitário do Canadá e o primeiro a identificar o antiretroviral para o tratamento da doença).
Mas, e até para manter alguma congruência, eu sugiro que aos potenciais dadores de sangue se pergunte também se foram recentemente de férias para Ibiza (a capital do sexo não protegido), se o marido tem ido às putas ou a encorna com a colega do escritório (conhecem o número assustador de mulheres que são infectadas pelo marido?), ou se teve o azar de nascer hemofílico (é que nada garante que o escândalo dos anos 80 não se repetirá de novo, mau-grado as cada vez maiores cautelas).
E já agora, porque não perguntar também aos hipotéticos dadores comentar a vida dos outros, enfim, se não serão portadores daquele outro vírus chamado E.S.T.U.P.I.D.E.Z.? É que tenho para mim que também o perigo de este se transmitir por via sanguínea.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O outro homem da minha vida


Para aqueles que nós que vivemos boa parte das nossas vidas longe de quem nos é ligado pelo sangue têm sido os amigos a amparar-nos as quedas. Tenho um, em especial, que foi durante muitos anos o meu colete salva-vidas e que mesmo agora, separados por quilómetros de distância e por ainda mais quilómetros nos rumos que demos às nossas vidas, continua a ser, e sempre será, o meu Amigo.
Conhecemo-nos da forma mais inusitada possível e com escassas possibilidades de empatia, dado que quem olhava para nós via tudo menos o Pin e o Pon em que nos tornámos. Suponho que o click tenha ocorrido naquela noite de Queima em que acelerámos pelas ruas, Janis Joplis bem alto na rádio, e ele mete a cabeça de fora e grita desalmadamente, quase como um uivo, tentando acompanhar a música. Ficámos quase irmãos nesse dia e assim tem sido desde então.
Posso vangloriar-me de ter conseguido arrastar um retrossexual puro para tardes de compras (impossível esquecer o rosto de desespero no meio de uma Zara transformada em campo de batalha de mulheres enlouquecidas pelos saldos). Foi meu confidente em tudo, desde preparações de “first date” até noites terminadas a chorar no seu ombro. Aguentou-me desvarios alcoólicos, noites mal dormidas, intoxicações alimentares, desgostos de amor. Deslindou-me os mistérios do futebol, das várias preferências masculinas, da informática, da sangria e da cura de ressacas. Fomos de férias, de fins de semana, de jantares, de noitadas, fomos de tudo. Somos de tudo ainda.
Entre as mais deliciosas recordações que tenho com ele está a do dia em que me embeicei pelo senhor do carro ao lado, na bomba de gasolina, e entrei em pânico ao pensar que aquele cavaleiro andante pudesse sequer supor que nós éramos namorados, já que partilhávamos o carro em grandes gargalhas. Ainda ponderei seriamente a hipótese de o expulsar do Veramobile, mas dado que chovia torrencialmente, e ainda em desespero de causa, implorei-lhe que adoptasse qualquer gesto gay, na vã tentativa de demonstrar lá para fora que dentro daquele carro só havia fraternidade pura. Mas pedir isto a um hetero… enfim, é complicado. De modo que foi doloroso ver o pobrezinho a tentar qualquer posição mais afeminada sem perder a compostura.
Eu, que sou menos melhor pessoa do que ele, fiz o meu melhor para o fazer sentir especial na minha vida. Aguentei impávida e serena intermináveis campeonatos do mundo de futebol a ponto de conseguir discutir foras de jogo com qualquer comentador desportivo; aguentei-lhe, ainda com mais dor, um ou outro amigo ao qual só não dei o devido tratamento em nome de todo o respeito, lealdade e do sentimento imenso que tenho por ele (se bem que o magricela que me apalpou estava mesmo a pedi-las); e cheguei até a ser minimamente simpática para pseudo-namoradas terrivelmente duvidosas.
Fomos alvo de intermináveis piadas sobre a nossa suposta amizade. A verdade é que quando um azul e uma cor-de-rosa passam tanto tempo juntos acabam por enrolar-se nos lençóis. É quase uma lei de Murphy. Mas connosco nunca foi assim. Por muitos meninos-amigos que tenha tido na vida nunca me senti tão confortável como com ele. A prova viva de que efectivamente pode haver amizade genuína e pura entre os sexos. Sem querer transformar isto num tratado de psicologia asseguro aqui que este homem – lindo, devo dizer – foi o meu amigo mais íntimo sem nunca cairmos em intimidades.
Este sempre foi um ponto crucial entre nós: a questão dos amores. Neste designativo geral incluo interesses, paixões, engates, amassos, mas, sobretudo, namorados. Felizmente os meus sempre o adoraram e nunca me colocaram o mínimo obstáculo ao tempo que passo (passava) com ele. Já eu, receava o dia em que me apresentasse uma namorada a sério. Um pouco de sentimento de posse de uma irmã mais velha. Mas, principalmente, o temor de que a menina não estivesse à altura do homem fantástico que ele é, e do incrível namorado que sempre soube que ele seria. Mas coisas boas acontecem às pessoas boas, de modo que encontrou a melhor namorada que alguém pode desejar.
Botton line: O mundo dá muitas voltas, e com ele a nossa vida também. E por vezes cambalhotas desgraçadas. Mas há sempre alguém que nos diz “tem cuidado” e que nos faz pensar um pouco. No meu caso, é ele.
O texto de hoje é para o meu melhor amigo.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Não venhas tarde


“Não venhas tarde!”,
Dizes-me tu com carinho,
Sem nunca fazer alarde
Do que me pedes, beixinho
“não venhas tarde!”,
E eu peço a deus que no fim
Teu coração ainda guarde
Um pouco de amor por mim.

Quando gostamos de alguém, mas sim gostar a sério, mesmo a sério, o ponto alto do nosso dia é aquele em que estamos juntos. Telefonamos insistentemente para saber quando é que ele chega, começamos a contar os minutos com o coração palpitante e olhando várias vezes pela janela, quase levando a crer que vivemos com maior entusiasmo esse momento de ansiedade e espera do que a sua efectivação. A antecipação gera mais exultação porque guarda promessas de coisas maravilhosas que, afinal, nuca chegam a acontecer, mas cuja expectativa – e, porque não dizê-lo, a fé, alimenta as nossas horas de solidão e nos incentiva a agurdar um pouco mais.

Tu sabes bem
Que eu vou p’ra outra mulher,
Que ela me prende também,
Que eu só faço o que ela quer,
Tu estás sentindo
Que te minto e sou cobarde,
Mas sabes dizer, sorrindo,
“meu amor, não venhas tarde!”

A traição não tem que vir necessariamente de outra mulher. Ou de outro homem. Em regra vem dos amigos. Continua a ser assustados aos meus olhos de “a última das românticas” que alguém prefira uma sandes de couratos com os um bando de rebarbados na roulotte da esquina, enquanto arrota e bebe mais uma imperial, mas se há coisa que a vida em ensinou é que dificilmente os homens trocam esse fabuloso programa de fim de semana para estar comigo. Certamente haverá no planeta – quem sabe, quem sabe, na minha rua, atrevo-me mesmo a dizer com este mesmo homem – mulheres que conseguem esse feito de conseguir prender a sua atenção ao ponto de ofuscar todas as maravilhas do mundo masculino. Essa mulher nunca fui eu.
Por isso fico em casa, na minha versão moderna de fazer crochet e cozer meias – leia-se, trabalhar na tese e escrever no blog – enquanto espero que ele abra a porta. E continuo a pedir-lhe para não demorar muito naquela outra vida que ele tem, tão paralela a mim mas ao mesmo tempo tão distante.


“Não venhas tarde!”,
Dizes-me sem azedume,
Quando o teu coração arde
Na fogueira do ciúme.
“não venhas tarde!”,
Dizes-me tu da janela,
E eu venho sempre mais tarde,
Porque não sei fugir dela

E eu, tonta, incentivo as coisas. As fugas de moto. Os jogos de futebol. As jantaradas com os amigos. As férias sem mim. Porque há lado deste egoísmo imenso sobrevive aquela parte que o quer feliz. if you love somebody set them f.ree

Sem alegria,
Eu confesso, tenho medo,
Que tu me digas um dia,
“meu amor, não venhas cedo!”
Por ironia,
Pois nunca sei onde vais,
Que eu chegue cedo algum dia,
E seja tarde demais!
E quando esse dia chegar - em que eu já não olhe para o relógio, em que não anseie pelo barulho da chave na fechadura, e lhe diz, em voz cansada, “vem quando quiseres” – nesse dia saberemos que chegou ao fim.
E quando ele finalmente chegar e irei sempre achar que chegou cedo demais.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Phone, SMS, mails e o direito a ser deixado em paz


No tempo dos nossos avós aqueles tipos irritantes que teimam em fazer parte das nossas vidas quando a hipótese disso acontecer é menor do que a da Académica ganhar um título intrometiam-se espiando os nossos actos por entre arbustos, enviando cartas e bilhetinhos, tocando a campainha para logo desatar a fugir.
As novas tecnologias vieram-nos facilitar muito a vida a nós mas, infelizmente, também a visitantes indesejados. Podem ser ex-namorados que ainda não se convenceram que tudo acabou, gente ressabiada com a falta de atenção que lhe dirigimos, amigos que foram alimentando uma paixão secreta ao longo dos tempos, prestes a roçar a insanidade, ou simples desconhecidos que nos viram passar um dia. Num mundo onde a vida de cada um é cada vez mais transparente ao mundo exterior (dados recolhidos pelo marketing empresarial, redes sociais, uma ânsia imensa de fazer contactos e de estar contactável e, claro está, a boa-vontade de amigos e conhecidos) parecem já não existir portas fechadas às intromissões alheias.
A mim já me aconteceu (praticamente) tudo. Fui acordada a meio da noite por chamadas de números anónimos em que do outro lado da linha alguém arfava e suspirava como se estivesse em pleno trabalho de parto ou, pelo menos, em aulas Lamaze. Já fui alvo de toques intermitentes, que me esgotaram a bateria e a paciência. Já liguei para as redes moveis na vã tentativa de descobrir a identidade da mosca zumbidora, para me dizerem passado uma hora que se tratava de um número privado, pelo que, ou me aguentava à bronca ou ia à policia fazer queixa de ofensas psicológicas pelo telemóvel, o que sem duvida daria lugar a uma boa risada do Ministério Público, sendo certo que a reforma do Código Penal foi sensível à devasse por telemóvel. Já recebi SMS de números que não conheço de lado nenhum, e de onde ninguém atende quando ligo de volta, ou que mantêm aquele número constantemente desligado, levando a pensar quão preenchida será a vida de uma pessoa que têm um telemóvel propositadamente para estes efeitos e que só para isso o liga. Já recebi toques constantes às horas mais despropositadas. Já recebi mensagem de amor por mail, umas mais obscenas, outras mais puras e doces.
É claro que o bom e velho stalking feito pelos meios clássicos, continua a existir. Já me encheram a casa de flores, com ursos de peluche à mistura, e outros presentes igualmente despropositados, na melhor tradição dos filmes de terror. Mas isso deixo para outro post, no qual prometo contar os detalhes escabrosos. Neste o que quero referir é que em todos os tempos e lugares existiram pessoas insistentes.
Ora, tenho para mim que há que deixar bem claros os limites da inconveniência. Desde logo, as mensagens de teor sexual apenas são legítimas em contextos especificamente determinados, e devem ser particularmente banidas no âmbito dos contactos com ex-namorados, ex-flirts, enfim, ex-qualquer-coisa-e-mais-alguma. Tão-pouco são aceites face a pessoas que não nos são próximas, nem nunca foram, e em face das quais não demonstramos vontade de o sermos. Existem horas apropriadas para ligar a alguém, ou mesmo para lhe enviar uma mensagem, sendo que as madrugadas estão fora desse leque temporal. Tudo aquilo que escrevemos deve ser assinado, excepto quando entre as partes exista suficientemente proximidade para sabermos que o outro sabe imediatamente quem somos. Sou totalmente alérgica a intromissões anónimas, por mais inocente que seja o seu conteúdo.
Todos temos o direito fundamental a ser deixados em paz. A que não importunem o nosso descanso. A que não ameacem a nossa tranquilidade.
Em regra tendo a ignorar este tipo de episódios, porque nutro alguma lástima pelo desgraçadinho que pensa que assim leva algum prémio para casa. Mas a minha impaciência é lendária, de modo que rapidamente chega o dia em que penso para com os meus sapatos que não há lei jurídica, natural, religiosa, moral ou ética que nos imponha que aturemos as frustraçõezinhas alheias e dou por mim a reagir de forma mais violenta. Bem sei que deveria ser mais tolerante na medida em que em regra falamos de criaturas inadaptadas, que vivem na sombra, e que provavelmente se masturbam a pensar em nós, sob a luz fosca de uma lâmpada poeirenta. Essa parte não podemos controlar porque já cabe no direito deles próprios serem deixados em paz com as suas taras e fantasias. Agora, se há coisa que podemos exigir é que essas aberrações ficam lá fechadas no tal cantinho escuro mal iluminado porque… guess what, never gonna happen

quarta-feira, 21 de julho de 2010

AFINAL, EU JÁ TENHO 34




Reencontrei há pouco uma amiga de longa data, e no meio das usuais conversas de meninas que não se vêm há milénios lá me confidencia ela que pinta o cabelo para esconder os brancos (convenhamos… tirando o Gere e o Clooney, o comum mortal não fica lindo esbranquiçado), ao que eu respondi, com alguma mágoa - e porque não dizê-lo? Comiseração – na voz: “Afinal, já temos 34!”.
E depois parei. Porque, em última instância, what a fuck does it mean? Sim, meus senhores, que raio significa hoje ter 34 anos? No tempo das nossas mães significava estar casada, ter filhos (no caso da minha mamã tinha-me a mim já bem crescidinha), ser uma senhora recatada, com saia direita e escura pelo joelho e serões em frente às novelas enquanto se fazia crochet ou tricot. Não que por essa altura não circulasse já por certos labirintos sociais o mito das trintonas (uuuuuu!), sex-symbols mais ou menos bem conservados que as actrizes e as vizinhas do lado foram fomentando. Mas era eram, no essencial, uma sentença de morte.
Quanto a mim, não me imagino assim nem quando for sessentona. Porque os meus 34, os teus, os nossos, são diferentes. A minha mãe morre um bocadinho de cada vez que vê as minhas (mico)mini-saias. Que já não sou uma miúda, diz ela. Que me devia comportar como uma senhora, acrescenta. Que tenho responsabilidades profissionais, reforça. E eu? Eu encolho os ombros, dispo a saia e visto uns calções ainda mais curtos. A questão, my dear friends, é a seguinte: que culpa tenho eu de ainda ter pernas giras para mostrar? Pois se hoje os ginásios, os cremes e uma nova percepção da existência feminina, permitem que usemos quase ad eternum as saias que as nossas mães só vestiram nos seus tempos de teen (e note-se que a minha abusava da mini-mini, de modo que isto é genético), porque me hei-de confinar a ser uma “senhora”, seja lá o que isso signifique? O tempo há-de chegar, não o apressem.
No fundo, hoje os 30 são os 20 de ontem. E os 40 os 30. E os 40 os 50, and so on. Basicamente, é como se as gerações tivessem recuado uma década na tentativa (quiçá frustrada) de driblar o tempo e o envelhecimento. Somo o CR9 (ex-CR7) a contornar adversários, com a sorte de o fazermos melhor do que ele ainda.
De facto, hoje vivemos a perpetuação dos eternos 20 anos. Roupa a mostrar pele, sapatilhas rotas, calças rasgadas, copos e noitadas, saltar da cama às tantas. Porquê? Porque não temos a responsabilidade de um bebé a chorar ou de um marido a querer o pequeno –almoço. E mesmo quando a temos dávamos a volta à coisa. Um grande bravo a todos os papás e mamãs que eu conheço que continuam a namorar e a sair, sem isso esquecer os biberões e as mudanças de fraldas. O que não significa irresponsabilidade. A tão falada “geração rasca” veio a revelar-se responsável, competitiva e produtiva. As aparências enganam, não é avó?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Mas...


There’s always a but. Porém. Todavia. Contudo. Mas.
Começam com uma frase bonita, cheia de coisas doces e macias. Mas no final metem uma vírgula e disparam o tal “mas”.
O que mais me irrita não é a reprovação em si mesma, mas o facto de sentirem necessidade de iniciarem com um elogio para depois, finalmente, nos deitarem abaixo. Caramba. Seremos nós assim tão toscos e indefesos que não aguentemos a critica à queima roupa, e necessitemos de um paliativo que prepare a nossa carne fraca para o tiro que ainda vem? Só peço algum respeito (R-E-S-P-E-C-T, Find out what it means to me), o suficiente para me considerarem capaz de aguentar com a dura realidade. Este paternalismo bacoco mata-me. Dói-me mais que qualquer palavra.
“O vestido é lindo e assenta-te muito bem, MAS aqui atrás faz um efeito estranho” (porque estás gorda que nem um texugo e esse vestido foi feito para quem não tem carnes pendentes do esqueleto. Talvez se fechasses a matraca e comesses menos cup cakes fizesses uma figura decente com o dito).
“Gostei muito do teu artigo, MAS a certa altura perdeste-te um pouco no raciocínio (o que é visível para qualquer criatura minimamente racional, dado que até o meu filho de 5 anos teria um enquadramento mais acertado da situação. És estúpida que dói e entedio-me de cada vez que abres a boca).
“És uma boa amiga, MAS não me sinto à vontade para desabafar contigo” (porque debaixo dessa capa celestial esconde-se uma cabra imensa, e prefiro contar as minhas mágoas a um estranho que atende uma daquelas linhas telefónicas em que se paga ao segundo do que a ti).
Estes são os vários “mas” das nossas vidas. O mundo que nos rodeia é capaz de dizer as maiores barbaridades só para não se defrontar com a nossa tristeza. É que, apesar de tudo, há qualquer coisa que na nossa humanidade que evita confrontos com as dores causadas pelas nossas acções. É certo que sentimos algum regozijo com a tristeza alheia, mas só desde que não causada por nós. Porque quando o é preferimos não olhar para ela. E inventamos todas as mentiras, todos os subterfúgios, todos os “mas” só para não ficamos de frente com a nossa maldade.
“Gosto muito de ti, mas…”. De todos os “mas” que dançam nas conversas este é, sem dúvida, o melhor. O melhor no sentido do pior. O mais duro. O que mais dói. O que menos se explica. E aquele que pode ser seguido da maior pluralidade de explicações idiotas.
“Mas não me sinto preparado para uma relação”. E é preciso algum treino ou algum equipamento especial para estar com alguém?
“Mas vejo-te como uma amiga”. Ora aí está uma coisa em que deverias ter pensado antes de brincarmos às casinhas.
“Mas neste momento da minha vida tenho outras prioridades”. É perfeitamente compreensível que SuperBoks, fulanas, futebol e filmes porno sejam a coisa mais importante de uma vida.
“Mas ainda não esqueci a minha ex-namorada”. Curiosamente ela já te esqueceu a ti.
“Mas acho que procuramos coisas diferentes”. Eu procuro um homem a sério e vou encontrá-lo. Tu procuras ser um e nunca o vais conseguir.
“Mas acho que temos feitios incompatíveis”. Ainda bem. Senão namorava comigo mesma.
Ou se gosta ou não gosta. Ou se quer ou não se quer. Eu até já cheguei àquele estádio de maturidade em que me parece que nas relações há muito poucos pretos e brancos. O que predomina são os cinzentos. Mas há um mínimo de definição nas cores. E não podemos utilizar as colorações duvidosas para camuflar as nossas inseguranças e cobardias.
Podia continuar esta lista indefinidamente. Mas… tenho mais que fazer.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

E você, estaria disposto a quê?


A informação oficial diz que Cristiano Ronaldo, melhor jogador do mundo (sorry Messi, Cacá, Xavi Hernandez, Fernado Torres), excepto quando ao serviço da selecção, contratou uma mãe de substituição para ter um filho. Tenho para mim que a história está mal contada. Mas vamos supor que foi mesmo assim, isto é, que ele não comeu miúda alguma numa noite de copos e de outras coisas, que a miúda não engravidou e o tentou chantagear e que ele, para apagar este fogo, decidiu ficar com a criança e pagar à senhora o suficiente para ela poder comprar sapatinhos até ao resto dos seus dias. É um “suponhamos”. E de agora em diante vamos raciocinar na base deste relato, seja ele verídico ou não.
Pois bem, o CR contratou com uma senhora para lhe gerar uma criança com o seu esperma e depois lho entregar, abdicando de todos os seus direitos maternais. Isto – a dita maternidade de substituição – é uma prática proibida entre nós e, mais do que isso, criminosa sempre que envolva uma retribuição à mãe de substituição, como parece ser o caso. Uma vez que neste caso o comportamento teve lugar num outro pais – segundo consta, nos Estates, onde é permitida em certos Estados – coloca-se agora a questão de saber em que termos vai ser reconhecida em Portugal. Mas, pondo momenteamente de parte a questão jurídica, isto faz-me pensar nos motivos que impulsionam as pessoas a ter filhos, e a fazer coisas bizarras para os ter.
Ter filhos está na moda. Não há modelo, actriz ou star do Big Brother que não queria inchar a barriga até parecer que vai rebentar e ser fotografada a comprar roupinhas de bebés. Os socialites gostam especialmente de adoptar, e mais ainda se for uma criancinha do suposto 3.º Mundo. Provavelmente quem tem dinheiro a sério precisa destes actos de generosidade para se sentir melhor com as quantias que gasta. Pena que se nunca se tenham recordado de mim como um caso de caridade, que ainda estou em boa altura de ser adoptada pela Madona ou pelos Bradelina (Brad mais Angelina). As mães de substituir são a coisa mais in a seguir à adopção. Ora, sendo o CR um tipo muito fashion, pensou ele um dia: “Agora que já uso roupa interior da Calvin e casacos da "Gucce" só me falta mesmo uma mãe de substituição”.
As pessoas fazem coisas estranhíssimas para ter filhos. E não me refiro apenas a estas novas e imensas possibilidades oferecidas pelas técnicas actuais. Mesmo quando o fazem in the old -fashioned way . Desde mezinhas ancestrais, até posições rebuscadas, passando pela nada piedosa mentira do “não te preocupes que eu estou a tomar a pílula”. Ora, como eu disse um dia a um amigo, “quem é o idiota que acredita nas palavras de uma mulher?”. E digo isto com o maior respeito que nutro pelas mulheres, não só porque tenho esta particularidade de contar com dois cromossomas X, mas também porque acho que são criaturas admiráveis. Matreiras, porém.
Porventura estes expedientes a que recorremos para ter filhos tornaram-se inteiramente justificados num mundo onde os homens não querem ter crianças porque se portam como crianças. De modo que somos coagidas a puxar pela imaginação para deitar a mão (mera figura de estilo esta) aos bons dos espermatozóides. Mas ainda assim, e não obstante as circunstâncias estarem contra nós, continuo a pensar que essa é uma via bem pouco legítima. Não tenho qualquer censura contra a família monoparental. De entre tantas famílias disfuncionais que por aí andam estas formações familiares funcionam tão bem ou tão mal quanto as outras. O que me aborrece é a forma enganosa de chegar até ela. Sobretudo quando, em boa verdade, o que nos impele não é o puro desejo de ter um filho, mas sim o de ter um homem, um determinado homem que amamos como se fosse a última bolacha do pacote (que sabe sempre melhor do que soube a primeira, não é?), e que pensamos poder controlar por via de um bebé. Ora, de entre todas as ilusões estúpidas neste mundo esta é porventura a mais estupidamente estúpida de todas elas. Não tenho noticia que alguma vez uma relação engendrada neste termos tenha resultado noutra coisa que não seja muita dor para todas as partes envolvidas e um faustoso divórcio.
Há quem finja tomar uma pílula que não toma. Há quem abdique de carreiras fulgurantes. Há quem arrisque a vida e se submeta a tratamentos morosos e dolorosos. Há quem se comprometa com um casamento por conveniência. Há quem contrate com uma desconhecida e lhe pague fortunas. (…) O ser humano predispõe-se a coisas verdadeiramente estranhas para ter nos braços um bebé.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Os limites da legitimidade do flirt


A espécie humana nunca deixa de me surpreender. Porque será que mesmo quando profundamente apaixonados não resistimos a seguir com o olhar o outro, ou a outra? Podemos até ser irritantemente monogâmicos, mas ainda não encontrei mecanismo que nos permita resistir ao flirt, ao inocente do flirt que fazemos com o homem da bomba de gasolina, com o coleguinha de ginásio, com o empregado de café, com o desconhecido que todos os dias encontramos no elevador, com o tipo que se sentou à nossa frente no metro. O ego é tramado!
Agora a dúvida metódica: onde desenhar a linha, por vezes bastaste esbatida, que separa o flirt da traição?
Comportamentos ainda totalmente legítimos são o olhar de raspão; o sorriso, seja ele mais tímido, seja mais atrevido; a conversa banal sobre meteorologia ou futebol.
Em contrapartida, comportamentos nitidamente ilegítimos serão todos aqueles que tenham na sua origem uma intenção maliciosa, especialmente a troca de telefones ou de endereços de e-mail, a aceitação de um convite para jantar ou para ir a uma festa. Porém, repito, desde que fundados na dita intenção maliciosa, leia-se, libidinosa. Tudo pode não passar de um inocente (ainda há disso?) jantar para falar de trabalho, amigos comuns, interesses partilhados, ou só porque estagnámos na lista de amizades e procuramos novos nomes para o caderninho de moradas.
Depois temos as zonas cinzentas, onde frequentemente a doutrina se divide. Sem ter a pretensão de escrever uma dissertação sobre o tema, sempre direi que a distinção deverá radicar no elemento volitivo. Isto é, poderá haver condutas que tomadas em si mesmas são claramente provocadoras e insidiosas, mas cuja intenção que lhe está na génese não o é, ao passo que outras se apresentam com aquela aparência de ingenuidade e pureza, quando em boa verdade escondem pulsões bem pouco puras.
Creio que a maior parte das vezes flirtamos porque precisamos de ter a confirmação de que ainda somos sexys e desejáveis. A verdade é que as relações tendem a esfriar, a aquelas declarações inflamados dos primeiros tempos vão desaparecendo com a rotina do dia a dia. Pela minha parte eu gosto de ser todos os dias recordada do quanto sou amada, e faço também questão de recordar o outro disso. Imagino sempre que um dia sofro um ataque fulminante sem ter tempo de lho dizer, ou sou atropelada sem me ter despedido, de modo que gosto de o lembrar a cada dia que passa do quanto é importante para mim. Já a maioria das pessoas é bastante mais depreendida, de modo que não precisam de ouvir estas lamechices e, por maioria de razão, escusam-se de as repetir. Já estão a ver o conflito de interesses que aqui se desenha…
É assim que, pelos mais diversos motivos - insegurança pessoal, incerteza na relação, personalidades demasiado mimadas, necessidade de atenção, ou o raio que o partam - nos vemos na continência de dar atenção a outra pessoa que não o nosso outro. Fixamos o olhar mais uns segundos, coramos ligeiramente, olhamos para o chão, não nos afastamos quando ele nos toca no cotovelo.
O momento mais crítico para estes testes de fidelidade são as saídas à noite. Hoje em dia é muito moderno cada um sair sozinho, com os respectivos amigos, para os respectivos pontos de encontro. Não que as saídas a dois evitem o inevitável. O que tiver que acontecer acontece, e não tem que ser durante uma febre de sábado à noite. Mas diz a sabedoria popular que a ocasião cria o ladrão. E, de certa forma, continuas saídas à solta, em ambientes altamente sexualizados, incentivam comportamentos que de outra forma não se exteriorizariam. As solicitações nos ambientes nocturnos são mais que muitas e à vontade do freguês. O álcool puxa as desinibições, e sob a capa de um suposto anonimato muitas condutas teoricamente condenáveis torna-se, subitamente (no sábado passado) aceitáveis. Mas se pensarmos que teremos que viver com elas o resto das nossas vidas já porventura a capacidade de resistência levará a melhor sobre, vá lá, os instintos carnais, como diriam os meus amigos católicos.
Aparte estas situações limite, o flirt está de boa saúde e recomenda-se. Faz-nos sentir bem, desejados, apetecíveis. Faz-nos sentir vivos. E desde que conscientes das fronteiras que devemos respeitar – sendo que isso cabe a cada um impor a si próprio, de acordo com o tipo de relação que tem, ou não tem – pode até ser um óptimo input para uma relação que está adormecida ou a compensação possível para um outra que não nos satisfaz.
E se um desconhecido de repente lhe oferecer flores? Isso é… um flirt!

domingo, 11 de julho de 2010

Apanhando do chão pedacinhos do meu coração


Há dores imensas no mundo. Tenho uma tatuagem no fundo das costas que foi sentida como se uma lâmina em brasa me retalhasse a pele. Dizem que deixar a pilinha presa no fecho das calças implica uma dor acutilante… mas aqui vou ter que confiar nas palavras de quem o conta.
Tenho para mim que a maior dor de todas é partirem-nos o coração. Ele cá está, pequenino e vermelho, a bombear sangue e a manter-nos vivos. Mas um dia … CRASH…Rompe-se em mil pedaços, que caem no chão, e ficam as pontas aguçadas a espreitar lá de baixo para nós, prontas a espetar-se-nos no pé a cada passo mal dado. Não é só o momento em que coração se parte. Não é só a ausência, o viver sem ele. É o ter que andar pé antes pé para não nos magoarmos mais. A partir daí vivemos em piloto automático. Como um avião que ande pelos céus a voar sem rumo. Acordamos, expiramos e inspiramos, comemos (às vezes) e dormimos. Piloto automático porque já não esta o coração. Tentamos conhecer pessoas. Sair à note. Distribuir misteriosos sorrisos de Mona Lisa. Substituir quem perdemos por alguém novo. Eventualmente apaixonamo-nos mesmo. Mas não resulta. Porque os tais pedacinhos pontiagudos de coração continuam lá caídos no chão, sem nos deixar saltar nem dançar sem provocar feridas. O instinto de sobrevivência diz-nos que não podemos perder nem mais uma gota de sangue. Por isso aquela nova paixão nem o chega a ser. Melhor não mexermos os pés do que nos magoarmos nos estilhaços.
A segunda dor maior a seguir a esta é vê-lo com a outra. Onde ela, nós estivemos. Onde ela dorme, nós dormimos. Vê-lo é como andar descalça em cima dos pedacinho de coração partido.
Não lhe desejamos mal. Seria bem mais fácil ter-lhe raiva, rancor. O ódio sempre funcionou como uma grande arma de defesa e de recuperação. Tão-pouco gostamos já. Tudo o que um dia existiu já desapareceu. Afinal, ele partiu-nos o coração. O único que tínhamos. A Zara ainda não os vende. Nem sequer a D& G lançou algum último modelo de corações. Não sentimos nada. Isso é o pior, não sentir nada. Mas fica a ideia de que aquele foi o nosso lugar. E, sobretudo, um grande sentimento de frustração. Será que as rupturas amorosas nos lançam em desenfreada competição com os ex’s? Será que tudo está em saber quem se apaixona primeiro? Quem reconstrói a vida antes? Será que naquela noite, quando o vi de mão dada com ela, tudo teria sido diferente se eu tivesse uma mão na minha também? Não sei… porque não tinha. Só sei é que foi ele que me partiu o coação a mim e não o inverso. Mas agora é ele que tem alguém ao lado enquanto eu passo as noites sozinha a tentar não pisar os cacos. Onde está a divina justiça no meio disto tudo? Então ele não devia ter sido condenado pelo Tribunal dos Corações Partidos a nunca mas gostar de ninguém? E a mim, quem me arranja um coração novo? É que eu fiquei estragada. Sou a mercadoria estragada na última prateleira da loja. E ninguém quer uma mercadoria danificada. “Desculpe, venho devolver esta menina. Parecia perfeita mas falta-lhe aqui o coração, está a ver? Está a ver este buraco? Troque-a por outra por favor. Esta já não presta”.
As pessoas são muito engraçadas. Têm mil cuidados com as jóias de família, com jarrões de porcelana chinesa, com vasos de cristal. E depois usam-se umas às outras como se fossemos bonecos de borracha ou feitos de material inquebrável. Não há nada mais frágil do que uma pessoa. Estraga-se com um simples toque, não vem com peças subselentes, e é absolutamente insubstituível.
A única virtualidade de o ver com ela, a olhar para ela como um dia olhou para mim, é a de me obrigar a baixar-me e a apanhar, um a um, os pedacinhos de coração caídos do chão. Depois, percorrer meio mundo procurando uma cola sucintamente forte para reparar corações. E quando finamente a encontrar reconstruir o puzzle.
Primeiro, porque precisamos de um coração cá dentro para pôr alguma ordem na casa, que isto de viver em piloto automático, mais dia menos dia, provoca uma acidente grave. Depois, porque se caminharmos a vida toda em bicos de pés com medo de nos magoarmos de novo vão-nos passar pessoas lindas ao lado, que tivemos medo de conhecer, não fosse uma das tais pontas aguçadas espetar-se de novo em nós.
Por todas estas razões vos garanto que um destes dias vou finamente encher o meu “buraco negro” com um aglomerado de coração. Preciso dele com urgência. Não quero que os pedacinhos aguçados se intrometam entre mim, aqui quietinha a um canto, e alguma coisa possivelmente fantástica que me esteja a acontecer.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O que a Cosmo diz


O mundo das revistas femininas entra nas nossas vidas por voltas dos 14, 15 anos e, apesar das caretas que fazemos ao vê-las quando nos encontramos em público (especialmente com público masculino), estou em crer que grande parte de nós as arrastará consigo até conseguir ter olhos para as ler, que mais não seja escondidas debaixo da cama, por entre caixas de sapatos e leggings de trazer por casa.
Assim de repente veio-me à ideia a Cosmos, mas aqui cabem igualmente a Elle, a Máxima, a Activa, and so on. Excluo a Maria, porque afinal qualquer revista que se digne a responder se é ou não possível engravidar com um beijo não se destina a mulheres, mas ou a imbecis ou a crianças de 5 anos (e note-se que não os estou a equiparar).
Uma menção especial para a revista Happy. Que as revistas de meninas falam sobre sexo, já toda a gente sabe e neste aspecto a Happy não veio inovar. O apport criativo prende-se com as cenários: Paris, Dubai, Nova York. É que é completamente diferente fazer badalhoquices ali na Amadora, ou faze-las num hotel na Cidade Luz. Trair o marido com o melhor amigo durante a lua de mel (e que raio fazia o amigo connosco na lua de mel???) seria foleiro e ordinário caso a facadinha matrimonial ocorresse ali no Ibis de Alfragide, agora, se for no Four Seasons, já é muito in e sinal de gente moderna e depreendida de preconceitos.
A estrutura destas revistas não varia muito, e quase se pode adivinhar o que espreita ao virar da página. Começam em regra com uma cartinha da editora, depois as mensagens das leitoras, em regra a elogiar a publicação, seguem-se páginas e páginas de produções de moda, muitas vezes tentando criar com os modelitos das lojecas cá do bairro o que se passou na passerelle. Esta parte merece um esclarecimento adicional. É que se a ideia é aproximar o bom gosto da girl next door (eu, tu, a empregada do café da esquina) não me parece que sugerir malas de 1200 euros ou sandálias que custam uma coisa chamada “preço sob consulta” (o preço deve ser tão alto que até está doente) seja uma boa forma de nos tornar a todas fashion divas a preço de saldo.
Mas a parte que em deixa mais bem-disposta (sim, há outras coisas, para além de sapatos, que me deixam bem-disposta) são as páginas dos mandamentos. Chamo “mandamentos” àquelas famosas dicas que qualquer revistucha que se preze tem que ter, para a coisa ter um ar… educativo, digamos assim.
“20 formas de o conquistar”
“30 truques para perder 10 quilos em 30 dias”
“As 22 melhores dicas de compras da estação”
“Ele está a enganá-la? 15 sugestões para o descobrir”
“Como fingir ter menos 8 quilos do que na realidade tem em 8 tempos”
A verdade é esta: se eu seguisse os benditos mandamentos a minha vida estaria toda ao contrário: a minha anterior relação teria acabado em casamento (e passado o estado de graça, em divórcio) e a minha actual relação teria terminado um mês depois de iniciar; provavelmente já me tinha despedido, deixado de falar com perto de uma dezenas de amigos, perdido 5 quilos e depois voltado a ganhar outros 7, já teria feito uma lipoaspiração e, provavelmente ponderaria em mudar de sexo.
Isto para dizer que as revistas femininas têm que ser lidas com granu salis. Com muitas ponderação e particular atenção. Pelo menos é assim que eu leio. São sempre momentos circunspectos. Eu, besuntada de óleo bronzeador por tudo quanto é sitio, com o meu 1,63 espalhado na areia, a ler as ditas enquanto tento ouvir a conversa dos vizinhos da toalha. Ou então, sentada na sanita, a lê-la enquanto tiro verniz das unhas. Ou, por último, num gabinete de dentista, de cabeleireiro ou de depilação, algures por essa cidade. Porque, basicamente, estes são os meus momentos mais solenes: praia, casa-de-banho e salas de espera.
A minha última incursão pelo profundo mundo feminino deu-se numa bela de uma praia, com o grupinho de donzelas da praxe. Depois de termos dado pontuação aos corpinhos Danone que por ali andavam, de comermos opiparamente na esplanada como se não houvesse bikini pequeno demais para nós, e de sobrevivermos à sessão de conselhos sentimentais, saquei a revista do meu saco de Sport Billy e, enfim, foi o fim do mundo tal como o conhecemos. Espero que as crianças em redor fossem todas surdas, ainda que momentaneamente, porque o que se disse naquele bocado de praia tinha direito a uma bolinha vermelha no canto superior de um céu muito azul. É que o artigo do dia referia-se a “dicas para apimentar o sexo”. Cada sugestão era pontuada com malaguetas. Basta dizer que algumas foram premiadas com três malaguetas. Não uma. Não duas. Mas três. Aquilo fez de mim uma mulher!
Mas os meninos não se ficam a rir. É que as vossas revistas são bem mais obscenas (pardon my frech) do que as nossas. Certamente terão leituras ao nível da nossa Vogue, mas recordo sempre com um sorriso (de desdém, sublinho) aquela vez que em que tirei à socapa a revista que MBF (My Best Friend) tinha pedido no balcão de leitura do aeroporto. Não cito o nome da revista sob pena de me cair um processo em cima, mas a verdade verdadinha é que a dita tinha um artigo, cujo título, em letras bem gordas, era qualquer coisa do tipo: “Como comer a melhor amiga da sua namorada sem ela saber”. Ecco. Palavras para quê? É uma revista masculina, e está tudo isto. Ah, não termino este parágrafo sem dar conta de uma outra peça igualmente inesquecível e de alto relevo jornalístico: páginas e páginas com fotos de pénis de perfil (parece que tal como as caras, também as pilinhas têm frente e perfil, e tudo está em saber qual o enfoque mais fotogénico), descrevendo cada curvatura, cada centímetro. Aprendi mais com aquele artigo do que em anos de manuais de biologia.
Todos temos o nosso calcanhar de Aquiles. Aquelas coisas que fazemos quando mais ninguém está a ver. Seja meter o dedo no nariz, tirar o cuequinha do rabiosque ou ler revistas que, não fazendo de nós pessoas mais inteligentes, funcionam como uma espécie de fast-food intelectual. Se até as modelos quebram a sua rigorosa dieta de alface e água mineral para de vez em quando enfiar um BigMac pela goela, porque não podemos nós interromper as nossas leituras elevadas (Kundera, Sarte, as grandes obras de direito, economia ou medicina) e deixar cair o olho para a Cosmos. O Tico e o Teco agradecem o descanso.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Uma forma mais elevada de amar


O amor tende a ser egoísta. Ou melhor, a forma como eu amo tende a ser egoísta.
Quando olho para trás vejo que amei muito as pessoas a quem amei, mas, essencialmente, fi-lo por aquilo que elas me podiam dar. Reconheço que isto não abona muito a meu favor, e não há nada que eu possa dizer que consiga atenuar a gigantesca dimensão do meu ego, harmonicamente proporcional ao tamanho do meu umbigo.
Em regra penso, não no que posso fazer pelos outros, mas no que podem eles fazer por mim. Foi neste contexto que me relacionei com amigos, os grandes e os pequenos, e até com os meus pais, que me dedicaram o mais abnegado dos sentimentos. Já eu, pouco propensa a altruísmos, tenho amado, mas dentro da reserva do possível (os juristas saberão do que falo),atendendo à minha hipotética felicidade. Note-se bem: não é que o meu sentimento seja menos verdadeiro, ou até menos leal. Simplesmente, não atingiu aquele grau de desprendimento que sempre tive como uma mais elevada forma de gostar.
Até ao momento, disse eu.
Não sei se da idade, se das cabeçadas na vida, ou se até do mero passar dos anos, fui atingido uma outra forma de amar. Dou por mim a fazer coisas que sei de antemão que me vão magoar, mas faço-as assim mesmo. Não por masoquismo, conquanto tenha a minha dose de dor auto-infligida. Não por bondade, que não tão generosa assim. Mas porque retiro – sim, de novo euzinha – para mim algum tipo de satisfação do facto de contribuir para o contentamento de alguém outro que não eu. Compreendo que para a maior parte de vós este sentimento será familiar, mas para mim, que vivo concentrada em mim, é qualquer coisa de muito novo e que ainda me desconcerta.
Passo a concretizar com um exemplo.
Admito que os amores in the edge têm o sal e pimenta necessários para fazer vibrar uma paixão durante uma vida inteira. Já pensaram o que será ter sido amada pelo Jean Jacques Custeau? Pelo Neil Armstrong? Pelo Nelson Mandela? Desçamos com os pés à terra: admito que ser namoradinha de um médico que salve vidas todos os dias, de um bombeiro herói, de um arqueólogo que viaje pelo mundo, de um artista muito requisitado, há ter o seu encanto. Mas um encanto na hora da despedida, porque, em última instância, será sempre hora da despedida. É que este tipo de pessoas fascinantes têm vidas complicadas, cheias de solicitações, e nós haveremos de aparecer lá no finalzinho da lista de prioridades. As pessoas verdadeiramente interessantes dificilmente se apegam a alguém, e passam por nós como uma borboleta que se limita a poisar de vez em quando. Aposto que a cara metade destas pessoas há-de ter muito orgulho nelas, falar nos seus feitos horas a fio, extasiar-se com a sua presença e ouvir incansavelmente os seus relatos. Mas nunca a terá para si.
Já eu… eu quero a serenidade de um amor tranquilo. Quero alguém que esteja ali para mim. Sempre. Que me inscreva em primeiro lugar na sua lista. Que passe comigo fins de semana, férias, Natais e Novos Anos. Que vá comigo à mercearia. Simplificando: que esteja presente.
Mas entre aquilo que eu quero e aquilo que eu consigo vai uma distância brutal. E os amores que eu consigo alimentar são sempre pelas tais pessoas que são imensas como o mundo. A tendência natura será prende-las a mim. Pelo menos tentar. E algumas vezes é-se de facto bem sucedida. Mas se o outro fica por causa de nós, abdicando assim dos seus sonhos, que espécie de amor lhe estamos a dar? De facto, ele está aqui. Mas é como se não estivesse, tal era a importância daquela parte dele que conseguimos roubar-lhe. E volto à minha pergunta de sempre: se o outro for mais feliz sem nós, não será que o devemos deixar ir? Mesmo que para isso o tenhamos que empurrar?
Neste momento dou por mim a desejar que ele desapareça, que voe como o vento. Que parta e seja feliz. Depois tenho aqueles longos instantes em que sinto pena de mim até à medula. Lamento a minha solidão, as minhas escolhas, as minhas necessidades. E por breves momentos quase que volto atrás, e me agarro à perna dele, e choro baba e ranho. Mas depois caio em mim e percebo que não posso ter o que nunca será meu. Quando muito teria um despojo do dia. E a partir daí recomeço o meu esforço sub-humano para que ele realize o seu sonho. Como se fosse o meu sonho. Que não é. É o meu pesadelo. Mas nesta forma mais elevada de amor aquele torna-se o meu sonho, aquela torna-se a minha felicidade e até eu me torno, por um bocadinho, uma pessoa melhor.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Afinal, o problema não sou eu, é a demografia


Várias vezes tenho divagado acerca da minha “solteireice patológica”. Não sendo especialmente feia, nem especialmente burra, nem especialmente pérfida, questiono-me porque estarei sozinha. E como a auto-comiseração sempre foi bom motivo para devorar mais uma caixa de chocolates chego sistematicamente à conclusão de que a culpa é, afinal, minha. Lá está… se eu fosse um bocadinho mais paciente. Um bocadinho mais tolerante. Um bocadinho mais transigente. Um bocadinho mais calma. Um bocadinho mais normal. Se soubesse danças de salão. Se fosse boa cozinheira. Se as minhas mamas fossem maiores. Se não fossem os piercings e as tatuagens. Se os não deixasse intimidados (remeto para um escrito anterior). Se…
Tantos “ses”! A certo ponto – lá pelas tantas da madrugada – chego ao ponto de pensar “se eu não fosse eu”. Mas se eu não fosse eu provavelmente não me colocaria estas questões filosóficas porque estaria demasiado ocupada a ser mulherzinha de algum mediocrezoide, com bigode de GNR mas sem os tais dois dedos de testa.
Há umas semanas vi a luz. Ou melhor, fui iluminada por uma mente brilhante que me explicou que a culpa meus senhores, não é minha, é da demografia.
Ou seja, não é a mim que deve ser assacada a responsabilidade de todas as Passagens de Ano a beijar a taça de champanhe à meia noite, de todas os dias de namorados a oferecer presentes a mim própria e de todos os abraços que dou aos meus joelhos… à falta de melhor zona corporal a que abraçar. Não, não é a mim, nem ao meu nariz empinado, nem aos meus desvarios. É a demografia. Parece - mas digo-vos isto com ares de dado cientifico - que, embora nasçam sensivelmente tantos meninos como meninas, dois factores perturbadores vieram arruinar a minha felicidade conjugal (ou a ausência dela): a) no percurso até à idade adulta morrem mais meninos que meninas; b) o numero de gays masculinos é bastante superior ao numero de lésbicas.
Ecco! I rest my case. Todas as vezes que o meu círculo de amigos me acusou de piquinhice excessiva no momento de aparelhar… estavam profundamente errados. Não sou demasiado exigente. Não tenho é um âmbito pessoal suficientemente alargado de escolha. Pois que culpa tenho eu que o gene Y sucumba mais facilmente a acidentes e doenças? Acaso posso dominar a genética? E que culpa tenho eu que parte substancial da população masculina prefira roçar-se numa pernoca peluda ao invés de se encostar à minha perninha depilada (com cera!)?
Em boa verdade, tudo isto conta com uma explicação científica e perfeitamente traduzível em termos matemáticos: se há menos meninos do que meninas em idade adulta, é óbvio que muitas de nós teremos, necessariamente, que ficar sozinhas. Quais? Bem, não será a Angelina Jolie certamente…
Tenho alguma solução? Bem, a única que vislumbro… hoje que são 4 da tarde de uma segunda feira de calor pachorrento, é igualarmos o numero de viventes masculinos. Para isso, só vejo duas hipóteses: ou nos atiramos de um 4.º andar ou damos uma voltinha pelo outro lado da sexualidade. O suicídio ou o lesbianismo como forma de reduzirmos o nosso número. Ora, tendo em conta que acho que sou demasiado gira para morrer espalmadinha no chão… e não digo mais nada.
Hoje vivo bem mais tranquila. Afinal, eu sou perfeita. A demografia é que não.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A actual ex-namorada no nosso futuro ex-namorado


Uma das muitas coisas que podem arruinar uma relação e transformar o presente namorado num passado namorado é a ruminante da ex-namorada, que não larga o osso (ou, por vezes, é o osso que não a larga a ela, o que aumenta a frustração) por mais que a fustiguemos.
O que a seguir se dirá vale quer as ex quer para os ex, mas a verdade, meus amigos de pilinha, é que nós, as meninas, nos vemos a braços com um problema bem maior do que os senhores. Admito que não será fácil lidar com ex-namorados, especialmente quando são médicos altos, engenheiros espadaúdos, Dj’s famosos, empresários cheios de nota. Mas por mais príncipe perfeito que seja nenhum deles se compara a essa bactéria mortífera que é a ex-namorada, também conhecida por “essa cabra nojenta”. Tratar de ex-namorados é para meninos. As ex-namoradas é que são the real thing. Porque nenhum homem consegue ser tão histérico, obcecado, chato, pain in the ass, como uma mulher. Especialmente a antiga mulher da vida do nosso homem.
Ou do homem que ainda não é nosso, mas a que aspiramos a que seja. Ponhamos as coisas desta forma: se um tipo quer permanecer solteiro não há nada melhor do que andar com a ex atrás.

“A história foi mesmo assim como te conto Verinha. Demos um passeio de mão dada, um beijinho aqui e outro ali, asseguro-te que havia química entre nós, e no final da noite o tipo vira-se para mim e diz-me que a ex-namorada de quem já me tinha falado está a chegar. Vai ficar uns dias com ele. Vem passar férias a Portugal e fica com ele.”
“Jura?” perguntei eu, de olhito arregalado, e quase engasgada com o almoço.
“Assim mesmo. Ele disse que já não rolava nada entre os dois, blablabla, mas o que é certo é que vai para 3 semanas que isto se passou e ele nunca mais deu noticias… filho da puta, enh?”. Ela de olhos húmidos.
“Filha da puta ela”, respondo eu, culpando uma fulaninha que mal conheço pelos acidentes amorosos de uma amiga muito querida.

As ex são mesmo assim. Mulherio que nos estraga as ilusões. Vêm passar férias com os ex-namorados, telefonam-lhes a altas horas da noite com dramazecos pessoais de filme de 3.º categoria. Fazem festas de aniversário em casa deles. Volta e meia caem do céu (ou sobem do inferno), só para dizer um olázinho.
E é tão fácil odiá-la. Mesmo quando ela não nos fez propriamente nada. Mas… sabem aquelas alturas em que ele troca o nosso nome pelo dela? Ou conta e reconta as últimas férias que passaram juntos? Ou esbarra com ela no café e começam os dois a rir ao relembrar as memórias que têm em comum, e a fazer piadas deles, só deles, e que só eles compreendem? Ou quando ele veste a camisa que ela lhe deu e que lhe fica tão bem? Ou quando teima em manter o perfume que ela lhe escolheu? Ou quando os amigos dele falam dela com nostalgia? Ou quando a mãe dele nos sublinha como ela cozinhava bem? Ou quando encontramos fotos dos dois juntos escondidas na caixa debaixo das cama? Ou quando nos deparamos com uma antiga carta de amor, que ainda serve como marcador de livros? Ou quando um convite para casamento de um amigo que ele não vê há ainda vem ainda com o nome dela? Sabem…?
Ai, como é fácil odiá-la nessa altura. Porque é bem mais fácil odiá-la a ela do que questionarmos a nós mesma porque será que ele não esquece, porque será que não funciona entre nós. E, assim, odiamo-la. Queremos ser como ela. Mas odiamo-la.
Excepto… bem, excepto quando ela é uma querida, e nos envia mensagens pelos anos, e lhe diz a ele como nos deve cuidar e preservar. Ou se acaso ela entretanto se tornou namorada do nosso melhor amigo. Ou se acaso ela é uma heroína nacional. Ou se acaso ela está a morrer. Mas, fora estes poucos “acasos”, podem odiá-la. Isso não faz de vocês más pessoas. Apenas pessoas humanas.