quarta-feira, 30 de junho de 2010

Não, ainda não vi o Sexo e a Cidade II


Poderia debitar aqui um extenso rol de desculpas: estou assoberbada com trabalho, extenuada; mal me aguento em pé depois do sol se pôr, quanto mais sentar-se no escurinho do cinema, sítio ideal para uma soneca; fui raptada por extra-terrestres e só agora me libertaram; o cão comeu-me o trabalho de casa, eu sei lá, as típicas razões pelas quais não fazemos as coisas que deveríamos fazer.
Poderia debitá-las porque, exceptuando uma ou outra mais atrevida do ponto de vista lógico (e aqui refiro-me, obviamente, ao cansaço e ao excesso de trabalho) todas as outras são verdadeiras. Mas a mais profunda das razões pelas quais ainda não peguei no meu rabinho e o arrastei a um cinema perto de mim para ver a saga do Sex and the City é de cariz psico-emocional. O medo do fim. Por isso prefiro alimentar a esperança de ele ainda ali está, à minha espera, perfeito, tal como sobrevive na minha cabeça.
Sou tão seguidora do Sexo e da Cidade, mas tão, tão tãozinha, que no dia em que assisti ao último episódio perguntei a mim mesma se haveria vida depois daquele momento. Depois da comoção inicial lá consegui recuperar do duro golpe psicológico e da sensação de perda, até porque entretanto se começou a falar da hipótese do filme, a que assisti no meio de intensa emoção. Não me desiludiu. Dificilmente o faria, convenhamos, já que, tal como uma amante apaixonada, perdoo as pequenas falhas no guarda-roupa, algum ou outro momento menos conseguido, enfim, ao amor da nossa vida perdoa-se tudo. Mas será que continuarei a fechar os olhos às pequenas gaffes? E se eu, nesta altura do campeonato, já estiver farta das meninas? E se ao lançar os olhitos para o ecrã as achar velhas e acabadas? É que, afinal, não fui só eu que entretanto celebrei aniversários. Com a diferença de que na vida real o envelhecimento é um facto que aceitamos com maior naturalidade do que as rugas das imagens imortais que povoam o nosso imaginário. É que ver a uma Samantha enxuta a fazer sexo oral a um tipo atrás da porta mete piada, mas ver uma tipa de avançada meia-idade com a piroca de um teen na boca se calhar já repugna. Os acidentes amorosos da Carrie servem-nos de algum consolo quando estamos na casa dos 30 e ainda procuramos o príncipe encantado, mas estou em crer que quando eu tiver 40 e tal anos gostaria que os problemas dela se identificassem mais com os meus: dores de cabeça com os filhos, crises de antecipação de meia-idade, essas coisas de gente mais adulta. Confesso: tenho receio que o Sexo e a Cidade continue ad eternum a enviar-nos sequelas até ao ponto em que perca a sua magia.
Sei que os homens questionam o motivo da nossa fidelidade às histórias das meninas. Não percebem como nos podemos nós - míseras criaturas de um Portugalzinho minúsculo, a viver de salários exíguos e com o uma vida cujo pico do glamour está em fazer compras no Clud Gourmet do Corte Inglês e não no Mini-Preço – identificar com aquelas fabulosas heroínas de calçam Manolos (nesta versão, Louboutin, que parece que o menino Manolo se queixou do excesso de publicidade aos seu produto) e vestem Prada (exactamente como diabo), que bebem um Cosmopolitam que custa tanto como o meu jantar, que dormem com 10 tipos por mês, sem apelo nem agravo, como quem diz, sem remorso nem vergonha. É certo que Lisboa não é a Big Apple, nem as minhas breves reflexões são as crónicas da Carrie, nem os homens altos são necessariamente Mr.’s Big’s. Mas isso é o embrulho. Porque o conteúdo, esse, é tão comum a todos nós como a qualquer mulher de uma sociedade do chamado mundo ocidental. Quem nunca reencontrou um ex-namorado, já quase esquecido, agora papá do filho de outra mulher , e pergunta para mim mesma: “onde é que eu estava com a cabeça quando larguei este tipo?”. Quem nunca se envolveu um homem tão medíocre e cobarde que tenha acabado uma relação por mail, mensagem ou post it? Quem nunca teve a companhia de uma amiga num daqueles momentos em que nos apetece atirar para a linha do comboio (e só não o fazemos porque estamos conscientes de que lixaríamos a vida a uma série de pessoas e além disso levaríamos para o funeral um cadáver bem feiinho) e agradecemos aos céus que ela exista, e esteja ali, por nós e para nós? Quem nunca se perdeu de amores por uma carteira, um vestido, uma anel, e num acto de loucura faz um desvio dos fundos privados da conta bancária? Quem nunca sentiu uma dor quase apendicitica no coração ao ver the special someone com outra mulher?
O que eu quero dizer com isto é que aqueles dramas, e alegrias, e desgostos, e temores, e esperanças, e ansiedades, e fúrias, são de nós, de todas nós. Com mais ou menos dinheiro, com mais ou menos quilos, com mais ou menos cruzetas no guarda-vestidos, há uma essência de ser mulher. Os problemas são quase sempre os mesmos. Os pensamentos. Os desejos.
Suponho que uma das maiores críticas que nos chegam das hostes masculinas se prende com o teor das conversas femininas, tal como ali vêm retratadas. Explicitas. Cruamente explicitas. É isso que demonstra que aquilo é pura ficção? As mulheres não falam assim? Não são tão fotográficas nas descrições sexuais? Até porque as mulheres não têm aventuras nem falam se sexo, só de amor? Please… gimmy a break. Quem diz tal barbaridade, das duas uma: ou nitidamente não conhece as mulheres, ou, nitidamente também, conhece apenas senhoras de 105 anos, criadas toda a vida em colégios de freiras, e, bem provavelmente, cegas, surdas e mudas. As mulheres falam de sexo. Oh sim, se falam! Contam coisas. Descrevem coisas. Às vezes até o tamanho das coisas. De modo que… cresçam!
Aliás, nem seria má ideia que dessem uma espreitadela no filme. Pode ser que assim nos percebam um bocadinho melhor (na medida em que seja possível compreender as mulheres, claro está).

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Lá por terem inventado a democracia….


A democracia é uma coisa boa. Enfim, na maior parte das vezes apenas significa que todos os idiotas estão do mesmo lado, mas como até ao momento ainda não encontrámos nenhum outro sistema político que privilegiasse desta forma a sabedoria do homem comum lá temos todos que levar com a democracia, com dias de eleições que calham em domingos de sol em que apetece estar na praia, com campanhas eleitorais, referendos e debates televisivos.
Parece que foram os gregos que inventaram a democracia. Note-se que este foi o mesmo povo que defendeu a morte dos velhos e doentes e que incentivou práticas sexuais entre os soldados para cimentar a proximidade e tornar o exército mais coeso. Mas pronto, inventaram a democracia e parece que isto os redime de tudo o mais. Claro que também foram os primeiros a defender ideias que serviram de suporte a todos os grandes pensadores da História e construíram colunas ainda hoje estudadas nas aulas de arquitectura, o que lhes dá uns pontos a mais.
Talvez por isso os nossos amigos gregos se sintam agora no direito de nos meter a mão no bolso, e daí que ande meia Europa a custear o défice grego. Coisas da União Europeia. Isto de ser “Europeu” (seja lá o que isso for) não é só passar fronteiras sem controlos nem inspecções ao saco das compras. Volta e meia há obrigações a ser cumpridas. Mas digo isto com a serenidade de uma europeísta não (demasiado) ressabiada com a chulice grega.
Faz-me lembrar a amiga que nos emprestou um tampão naquele dia em que tivemos a triste ideia de vestir calças brancas sem nos recordarmos que se aproximava aquela altura do mês (em que está tudo bem, tudo bem, podes até andar a cavalo ou de bicicleta, não te podes é esquecer do OB’s em casa), e que agora, por causa desse gesto de bondade, não perde a oportunidade de nos pedir emprestadas peças de roupa. E depois tem o altíssimo descaramento de a s devolver com manchas estranhas que só nos fazem desejar não estarmos perante uma modalidade caseira da Monica Samille Lewinsky. Ou, se preferirem uma versão masculina da coisa, o amigo que um dia vos apresentou uma prima que parece a Soraya Chaves, mas que se despe ainda mais rápido do que ela, e que agora pensa que lhe devem copos toda a noite.
Agora, o que me irritou até à quinta casa foi a reacção do governo grego a uma notícia divulgada pelo Guardian, segundo a qual o Estado grego estaria a ponderar vender as ilhas de Míconos e de Rodes para saldar as suas dívidas. Vai daí aparece o Governo, com o seu melhor ar de Madalena arrependida, a desmentir a notícia e a dizer-se muito ofendida com tamanha calunia. Oh meus amigos, ofendida estou eu e todos os outros milhões de europeus que nesta altura do campeonato vivemos com severas limitações económicas, em países cujos Governos se debatem também com dificuldades que assomam a catástrofe financeira, e que mesmo assim temos que vos pagar uma semanada. Ofendidos? Deveriam era estar agradecidos com a sugestão.
E já agora, porque não a aproveitamos nós para resolver os nossos próprios problemas? Já estou a ver a Espanha a livrar-se, pardon my french, a “vender”, a Catalunha ou o País Basco. Quanto a nós, o que poderíamos vender? Aposto que em Lisboa se sugerirá a venda do Porto, ao passo que na Invicta sempre se dirá que melhor que ver Lisboa a arder seria mesmo vende-la. Sempre se poderá pensar em vender o Alentejo já que parece que por lá se passa pouca coisa, se bem que estou em crer que 10 milhões elegeriam a Madeira como objecto de transacção. Quem sabe vendê-la a Cuba para o Alberto João não sentir saudades demais dos cubanos do continente. Mas eu, que nasci nas planícies do baixo Tejo, voto no Alentejo mesmo. Já me estou a imaginar vendida aos espanhóis, a poder comer paella e torilha todos os dias (às onze da noite, pois então, que melhor hora para jantar?), falar inglês macarrónico, mas, apesar de tudo, inchar de orgulho com tudo o que é nacional, leia-se, espanhol?.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Grandes esperanças


Quando Dickens escreveu as “Great Expectations” estava ele longe de imaginar que a vida de muitos de nós se pauta, no seu essencial, por grandes, tolas e irritantes esperanças, sem a presença das quais estaríamos bem melhor.
Porque é que guardamos no armário aqueles jeans estreitíssimos, que vestíamos quando estávamos na universidade, há uma década atrás e uma dezena de quilos abaixo, quando, em boa verdade, nunca mais nos vamos conseguir enfiar neles, porque o nosso corpo mudou? Mesmo que por algum milagre os conseguíssemos abotoar não passaríamos de uma tripa enfiada num preservativo gigante. Mas guardamo-los porque mantemos a estúpida esperança de no próximo mês encontrar uma dieta milagrosa ou, melhor ainda, o nosso corpo começar, como por magia, a dissolver gordura ex officio, sem necessidade do estímulo exterior de uma corrida ou de uma boca fechada às refeições.
Porque é que ainda guardamos no telemóvel o número de uma antiga paixão? Porque mantemos a estúpida esperança de um dia ele ter uma contusão cerebral, olhar para o tecto e perguntar: “Onde estará aquela mulher fantástica para quem fui tão filho da puta?”
Porque é que vamos visitar um apartamento cujo preço vai muito para além do extracto mais feliz que alguma vez tenhamos tido na conta bancária? Por causa da estúpida esperança de amanhã, ou para a semana que seja, ganharmos o euro milhões. Isto apesar de nem sequer jogarmos.
Porque continuamos com alguém que sabemos já não ser a nossa meia-laranja? Alimentamos uma relação que sabemos condenada, com uma pessoa que claramente não está apaixonada por nós, ou não nos respeita, ou é, pura e simplesmente, incompatível connosco. Há medida que o tempo passa mais nos afeiçoamos a ela, de tal forma que no final a despedida será mais dolorosa ainda. E enquanto ali permanecemos - agarrados com unhas e dentes ou, mais negligentemente, apenas deixando andar porque somos “cool” – estamos a desperdiçar oportunidades de conhecer novas pessoas, quem sabe um futuro amor. Porque fazemos isto a nós próprios? Mais uma vez por causa daquela estúpida grande esperança de que, um dia, ele vai mudar. Vai-se apaixonar. Vai ver a pessoa fabulosa que tem ao lado e agradecer aos céus por isso. Vai não nos querer perder e sentir a nossa falta.
Acontece que as pessoas não mudam. Sabemos isso. Ao longo dos meus 34 anos de vida mudei várias vezes de cor de cabelo e de penteado, mudei de opinião sobre os temas fracionantes da sociedade e do direito (aborto, casamento de homossexuais), até cheguei a mudar por breves instantes de clube. Mas a essência de mim permaneceu sempre a mesma. Repito: as pessoas não mudam. Mas, muito de vez em quando (digamos, uma hipótese em 10 milhões), há uma que muda. E todos nós conhecemos casos desses (ainda que muitos são provavelmente mitos urbanos) de alguém que - perdoem-nos a pirosice de fotonovela – mudou por amor. Arggggg!!! Nem acredito que “disse” isto. Mas o título do rumor que corre no círculo dos desamados é mesmo esse: “fulano X era um imbecil, mas conheceu fulana Y e, por ela, mudou” (ou vice-versa). E invocamos de nós para nós este relato surreal para tentar justificar o que estamos a fazer da nossa vida. Tudo por causa da estúpida esperança. Tão estúpida, mas tão estúpida, e maldosa, e impiedosa, e cruel, que só me apetece matá-la. E quero ver se algum tribunal no mundo se atreve a condenar-me por esperançocidio!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Queiroz de Neve e os 7 golos (e sem bruxa má)


Parecia que não era, mas foi. Finalmente os portugueses têm alguma outra coisa em que pensar que não seja a crise. Claro que a morte do Nobel já tinha sido uma ajuda para nos distrair da desgraça (e que mal nós estamos para ser uma morte a funcionar como distracção), mas foram as 7 vezes que a bola entrou por aquela baliza adentro que verdadeiramente nos levaram para longe do PEC, da subida dos impostos, das portagens, do défice, do FMI, e de todos outros castigos que caem sobre os meninos maus que elegeram políticos ainda piores.
É sabido que somos o país dos F’s, (e não incluo aqui o bom do frango assado, nem o farfalhudo do bigode do GNR e do buço da Ti Maria, nem sequer o folclore transmontano). Mas não deixa de ser estranho que esta alegria nos seja dada por uma selecção com a qual andámos durante meses com as candeias às avessas.
Tudo começou porque o seleccionador não foi uma escolha consensual. Por muito que se tenha criticado o Felipão, certo é que ao vermos o carisma do professor muitos bradaram “volta Scolari, estás perdoado”. Afinal, o senhor poderia ter os seus defeitos, mas, pelo menos, ganhava jogos. E, basicament, é isso que se lhes pede. Tudo o mais – e neste “tudo” incluo o fenómeno social que se gerou à volta da selecção e que transformou este rectângulo num mar de janelas com a bandeira ao vento – foi apenas um bónus. Depois, as escolhas do Professor. Bem sei que não sendo nós um gigante demográfico como a China temos menos mão-de-obra disponível. Depois, falta-nos aquele específico ADN que faz com que os brasileiros e os argentinos nasçam já com uma bola nos pés. Mas, ainda assim, serão aqueles 23 os melhores que existem entre nós? Até eu sou mais prendada que o Paulo Ferreira caramba! Além do mais, é ou não verdade que demos ao mundo, num curto espaço de tempo, dois dos melhores jogadores, sendo que um deles ainda joga (e jogará enquanto as modelos e as actrizes não lhe sugarem a energia toda)? Valha-nos a escol a do Sporting, que não ganha jogos, mas cria génios. É caso para perguntar de quantos mais brasileiros necessitamos para ganhar o campeonato.
Depois temos os casos obscuros. O Nani vai e volta mais depresa do que eu me dispo num provador de roupa. Sem grandes explicações. Que isto do Mister (um must!) ser amigo do treinador do Manchester United traz consigo obrigações de silêncio, uma espécie de segredo médico que fica mal nestas coisas porque, ao fim ao cabo, o seleccionador nacional não deve lealdade a mais ninguém que não seja a todos nós, que lhe pagos aquele ordenado milionário que ainda está por justificar. É então que o português Anderson Luis de Souza comenta os actos do treinador e assim do nada surge-lhe uma lesão, na coxa direita. Perdão, na anca direita. Perdão, na anca esquerda. Pode ter havido 25 de Abril no país, mas não houve na selecção, e ai de quem falar contra o treinador. Tem que pedir desculpa. Desculpa de quê? Por pensar? Deco poderá ter sido muita coisa, entre elas inoportuno, mas ofensivo não foi. Ofensivo é o Rui Santos (devo ser a única pessoa no país inteiro que ainda gosta de o ouvir) que se esquece de comentar com suposta neutralidade, de tal forma anda cego com uma amizade com o Queiroz que lhe tira qualquer credibilidade nesta matéria.
Não vou discutir tácticas, até porque não domino suficientemente o futebol para saber se o 4-3-3 é ou não melhor do que o 3-4-3, ou se o Meireles está mais solto com o Tiago do que com o Deco. Afinal, o principal motivo pelo qual vejo os jogos são os jogadores. Especialmente quando tiram a camisola. Ou quando se chamam Roque Santa Cruz. Mas já ando nisto há tempo suficiente para não acalentar muitas esperanças com esta selecção e com este seleccionador.
Como se tudo isto não bastasse, o próprio Mundial em si parece inquinado. Ele são jornalistas e jogadores assaltados (logo os gregos, tadinhos?). Ele são selecções que se recusam a treinar. Ele são supostas deserções. Ele são jogos onde o árbitro valida um golo alimentado por duas intervenções de braço, e faz questão de dizer ao Fabiano, no meio de um sorriso trocista, que viu. Ele são jogadores com porte de porteiro de discoteca a cometer faltas graves durante 90 minutos sem um único cartão. Ele são expulsões vindas do nada quando um jogador dá a outro um ligeiro encontrão no peito e este outro se queixa calimericamente (“oh, pauvre de moi!!!”) da cara (faço notar que tudo isto num único jogo).
Dito isto, pareceria que nada de mais interessante se poderia passar neste Mundial. Mas não. Ontem à tarde passou-se uma coisa tão interessante que de repente o país parou. 10 milhões de portugueses a almoçar certeiramente ao mesmo tempo deram azo a uma euforia que até agora não tinham motivo para exprimir. E fizeram-nos 7 vezes.
Devo dizer que não esperava outra coisa. Ou melhor, esperava muitas coisas, porque desde os jogos de preparação até ao jogo com a Costa do Marfim aquele grupo transmitiu a ideia que andam todos para ali a tentar carregar com as panças (sobretudo tu Miguel). O que quero dizer é que, de quem aufere uma diária de 800 euros (o que dá 16 mil euros em três semanas), e está a gastar mais em mordomias do que todas as outras selecções (excepto a francesa, e já se viu no que dá), não se pode esperar outra coisa senão isto.
Temo que na 6.º feira, mesmo sem Kaká, o Brasil nos dê abada. É que nós jogámos bem. Mas, sobretudo, eles jogaram mal. E o Brasil, para mal das nossas conquistas pelos mares, raramente joga mal. Mas até até 6.º deixem-me viver inebriada com esta história de encantar.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Por quem as pessoas fantásticas se apaixonam


Deveria haver uma lei qualquer que impusesse uma ideia de justiça e equidade no amor, que ditasse que as pessoas fantásticas se apaixonassem por pessoas igualmente fantásticas. Mas não. O amor é cruel e arbitrário.
Claro que há histórias onde eles vivem felizes e comem perdizes. O já 20 mil vezes mencionado my best friend é uma pessoa dessas fantásticas e encontrou alguém ao seu nível. Sempre receei por ele. Temia que uma cabra impiedosa o prendesse nas suas garras e o afastasse de mim. E depois eu ia ter que a odiar, e nunca mais o via, e os nossos filhos não iam ser amigos, e aí por diante, num rol imenso de desgraças. Mas nada disso aconteceu e a forças do universo juntaram-no com uma mulher fantástica. Ainda almejo a expectativa dos nossos (futuros) filhos virem a partilhar tantas experiências como eu e ele partilhámos. Um pouco ao estilo do Will and Grace, com a diferença de eu não ser ruiva (repito, não sou ruiva) nem ele ser gay.
Mas todos nós temos histórias de amigos e amigas fantásticos (cheios de bons valores, inteligentes, corajosos, divertidos) que se apaixonam por autênticos estafermos, que só aturamos por força do respeito e admiração que lhes temos. E se forem gente menos paciente e tolerante como eu sou pode suceder que não aturem e assim se perde um amigo.
Depois há os casos em que temos por amigos duas pessoas fantásticas, sendo que uma delas está apaixonada pela outra e a outra, bem, a outra nem tanto. Esta é, basicamente, a história da minha vida. Eu, que sou uma empedernida romântica, a última das moicanas na versão love story, vejo-me sempre envolvida nestes dramas de encontros e desencontros, que depois tento desesperadamente remendar porque o meu ego me sussurra que sou uma espécie de Cupido. Bem sabemos que não podemos forçar alguém a apaixonar-se por pessoa certa e determinada. O efeito é tão contraproducente que podemos inclusive criar uma aversão onde primeiro existia uma simpatia. Até o mero incentivar, orientar e incutir pode ser perigoso neste campo. Mas repugna ver alguém a agir como uma barata tonta, à procura não sei de quê, quando aquilo que precisa está mesmo ali ao lado.
Que fazer nestas situações? Mostramos a um o que está a perder e ao outro que não está a perder assim tanto. Mas em boa verdade nunca sei como agir com este outro. Incentivamo-lo a insistir e esperar ou a partir para outra? Bem, se eu soubesse a resposta a esta pergunta estaria neste momento a trabalhar como conselheira sentimental na revista Maria. Assim basto-me com conselhos de travesseiro, dados pelo telefone, a altas horas da noite. E nem percebo bem porque é que as pessoas os seguem uma vez que, como é patente, nem a minha própria vida consigo aconselhar.
Ao contrário do que diz o Ben Harper, there is not so many special people in the world. Já é sorte encontrar uma que seja. Uma autêntica lotaria se ela calha a achar-nos piada. Um encontro apotetóico de forças cósmicas se ela se apaixona por nós. Como podemos deitar isto a perder? Em nome de quê? Em busca de quem?
E, convenhamos, nós até podemos ser pessoas fantásticas, mas isso não significa que o destino nos reserve necessariamente uma vida feliz, ou que qualquer pessoa fantástica que nos apareça pelo caminho se perca de amores por nós. De modo que, quanto assim acontece, devemos ponderar muito bem se querer abrir mão disto e continuar a dar cabeçadas na parede, protegidos sob a convicção de que o outro vai estar sempre lá. É que um dia vamos olhar para o lado e perceber que ele já não está. Cansou-se de esperar.
O que mais há por aí são pessoas fantásticas encalhadas com escroques. Tipos e tipas que os enganam, que lhes mentem, os destratam. E eles continuam a inventar desculpas ridículas para o comportamento do outro, novelas onde aparecem como vilões de um enredo onde o bobo da festa, afinal, são eles.
E nós temos que assistir a isto (mais ou menos) impávidos e serenos. É que, de facto, não nos podemos intrometer nas vidas alheias. Mas quando a desgraçada da vida alheia é de alguém de quem gostamos muito aquilo torna-se, de certa forma, a nossa vida. São também as nossas lágrimas e as nossas angústias.
Ninguém disse que as forças cósmicas são infalíveis. E pode bem suceder que a mão humana - a minha, para ser mais exacta – tenha que corrigir aquilo que o universo desconsiderou. Mas esta é apenas a minha pretensão de ser sobre-humana e de compor as coisas de modo como aparecem correctas aos meus olhos. E apesar de ser muito, muito, muito, raro, eu também me engano. Eu também falho. E, sobretudo, tenho que em convencer, de uma vez por todas, que não sou divina ao ponto de mudar o rumo das paixões. Mas posso sempre tentar.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O timing da paternidade


Os meninos e as meninas são diferentes, e este é um dado comummente aceite na comunidade científica. Eles fazem xixi de pé, nós sentadas (ou melhor, a pairar sobre a sanita, não vá o diabo tecê-las e o bichinho da infecção urinária saltar-nos para cima, ou para baixo, depende da perspectiva). Eles protegem as partes baixas ao jogar futebol, nós as partes altas (ou as que desejaríamos que fossem altas). Eles acham piada a duas mulheres a ter sexo, nós não achamos piada nenhuma a dois homens no mesmo cenário. Eles nunca estão prontos para a paternidade e nós parece que nascemos já a querer ser mães.
Como é sabido, o nosso prazo de validade no que à maternidade respeita é extremamente limitado. Como se não bastasse o facto de ser universalmente sabido, ainda temos as vozes amigas que nos recordam disso. Há um par de anos atrás fui ao casamento de uma colega de curso, sozinha e sem baby, e de repente vi-me rodeada de uma série de coleguinhas, todos com os respectivos rebentos ao colo e uma aliança no dedo (será que ainda a têm?) a perguntar-me se já tinha filhos. E por mais que eu tentasse explicar que não, porque tinha acabado de chegar de Angola, onde estivera ao serviço do Estado português, quase uma 007 ao serviço de Sua Majestade, o que verdadeiramente interessava para aquelas almas era o mero, simples e singelo facto de eu não ter procriado.
Importava para elas e para mim. Porque não obstante as viagens, as teses, os artigos, as conferências, as viagens, os sapatos, as saídas, os martinis, as carteiras, o ginásio, e tudo o mais que supostamente preenche a minha vida, também para mim isso importa. É importante. É o mais importante. Eu nasci para ser mãe.
Por isso compreenderão a minha angústia quando há dias, num daquelas almoços de trabalho onde estou sentada no meio de 20 médicos, um deles se vira para mim e mais certeiramente do que um tiro me pergunta a idade. Atirei os 34 anos para a mesa com a auto-confiança de quem sabe que parece ter bem menos, mas todo aquele fogo foi rapidamente apagado com a resposta do Xô Dtor: “ E ainda não tens filhos? Eu, se fosse a ti, pensaria em congelar os ovócitos porque estás a ficar sem tempo”. E assim me deu ele que pensar naquele almoço (já sem apetite), nas horas que se seguiram, nos dias se que seguiram. Ainda hoje penso no assunto.
A isto respondi eu, da forma mais brutalmente sincera que sou capaz: “Sabe senhor Dr., eu já teria tido filhos se houvesse por aí algum homem que os quisesse ter comigo”. Porque é isso que se passa. Os homens de hoje não querem ter filhos, não se sentem preparados para ser pais, amedronta-os a ideia de serem responsáveis por alguém que não o seu próprio umbigo. Coma minha idade já os meus papás eram pais há muito tempo. Porventura começaram cedo demais alguns. Mas não é preciso chegar à idade em que usualmente se é avô para começar a pensar em ser pais.
Quantas vezes não ouvimos já: “Anda não estou preparado”? Curioso. Para comer miúdas, andar de mota, sair com os amigos e voltar de madrugada para casa com cheiro a whisky que tresanda estão sempre preparados. A verdade é que quem não está preparado com 30 e tal anos de vida nunca o vai estar. A dura realidade é que os espécimes que supostamente deveriam ser os homens das nossas vidas são eternos putos. O que nos faz pensar na desnecessidade de termos filhos, uma vez que vamos acabar os nossos dias com tipos que têm o mesmo grau de maturidade que essas crianças que desejaríamos ter.
“Ainda não tenho estabilidade económica”. De facto, este T3 na melhor zona da cidade, o carro topo e os jantares no XL revelam alguma insuficiência económica.
“Precisamos de nos conhecer melhor”. Conhecer até onde? As raízes genealógicas até ao tataravô?
Há pouco tempo comentava-me um pai de três, da minha mesma idade: “Eh pá, não consigo pensar em excitação maior do que comprares um carro novo, ires mostrá-lo ao teu filho e dares uma volta com ele”. Porque é disso mesmo que se trata. Ficar entusiasmado com coisas diferentes daquelas que nos excitavam quando tínhamos 18 anos. Não é envelhecer, é crescer, é evoluir. É sentirmos que estamos a nossa vida está a andar para algum lado, e que nesse caminho não vamos sozinhos.
Numa altura em que tanto se fala no envelhecimento geral da população, e na preocupante diminuição de nascimentos, poderia invocar aqui argumentos de ordem demográfica, económica e social para sustentar o meu argumento. Mas não é nada disso que se trata. O meu é um argumento de necessidade pessoal.
É óbvio que hoje em dia o papel biológico de um pai é, praticamente, irrelevante. A única coisa de que ainda não conseguimos prescindir é do contributo biológico masculino, mas deixem vir a clonagem e falaremos sobre isto de novo. Agora, depois do contributo inicial, que tanto pode vir de um dador anónimo como de um encontro casual de uma noite, tudo o mais pode desenrola-se sem a presença de um homem, e eu até advogo as novas famílias e o acesso de mulheres singulares às técnicas de reprodução assistida. Pode ser assim. Mas não será a mesma coisa. Porque por muito boa mãe que eu vá ser - e disso não duvido nem um segundo – serei melhor ainda se tiver ao meu lado um apoio. Alguém que o/a leve a jogos de futebol, o/a ensine a andar de bicicleta, o/a leve às cavalitas. O papel social de um pai continua a ser tremendamente relevante. E é sintomático de uma sociedade doente que hoje em dia tantas mulheres se decidam pela maternidade singular. Raramente é uma opção livre, no sentido de opção entre muitas outras possíveis escolhas. Para a maior parte de nós a outra escolha é, simplesmente, abdicar de uma parte substancial da nossa realização pessoal .
Tudo isto porque os putos não estão preparados para serem pais.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Afinal, o Pai Natal não existe


Nunca acreditei no Pai Natal com aquela certeza com que se acreditam nas coisas quando temos 5 anos. Não que tenha sido uma criança precoce nesse sentido, mas acho que a minha veia materialista me ajudou a perceber desde cedo que quem comprava as Nancy’s (naquele tempo não havia Barbie’s) era a mamã. Mas se eu tivesse acreditado com firmeza no Pai Natal, e se um dia tivesse descoberto que afinal o único senhor velho e barrigudo da minha curta vida era o avô, certamente teria entrado em colapso nervoso. Porque é isso que acontece quando as nossas convicções mais profundas caem por terra.
Uma dessas convicções bem arreigadas entre os ventrículos e aurículos do nosso coração é a confiança que depositamos nos outros. E utilizo aqui o termo depósito no sentido próprio e jurídico da expressão, perdoem-me o que não são de direito. Diz o art. 1185.º do Código Civil que o contrato de depósito é aquele pelo qual “uma das parte entrega à outra uma coisa, móvel ou imóvel, para que a guarde, e a restitua quando for exigida”. É disso mesmo que aqui se trata. Entregamos a alguém a nossa fé, a nossa lealdade, a nossa honestidade, em suma, o nosso coração, com a condição desse outro alguém restituir tudo isto (que não é coisa pouca) quando as circunstâncias ditarem a sua exigência. Que circunstâncias são essas? Nomeadamente, a perda da confiança. A quebra do elo. O fim.
A traição é como uma lâmina aguçada a espetar-se em nós. A primeira vez que tentei descrever esta dor saiu-me “a traição é como um tiro”, mas depressa percebi que isso sabe a pouco. Não que alguma vez tenha sofrido algum destes desastres. Mas no meu imaginário, feito de muitos filmes, um tiro é uma coisa rápida, bem mais indolor do que a lenta agonia de sentir a lâmina a espetar-se na carne. Quando a pessoa que nos atraiçoa é um amigo próximo, daqueles bem próximos, daqueles que são quase como uma parte de nós, é ainda pior, porque é como se a lâmina estivesse ferrugenta.
Depois de quebrada a confiança dificilmente ela pode ser restaurada. Todos somos livre de violar os nossos compromissos, não podemos é depois esperar que a contraparte deseje novamente comprometer-se connosco.
Gostar de alguém é acreditar. Em muita coisa, em grande parte coisas impossíveis. Mas acreditamos. Acreditamos que vai durar para sempre, que vamos ser respeitados e amados. Em regra, não dura. Mas a fé estava lá, fundada nesse laço de confiança que criámos que aqueles que nos cativam. E cativar alguém traz consigo uma grande responsabilidade, já dizia o Pequeno Príncipe. De velar pelo outro, de cuidar dele, de o proteger de todos os males no mundo. Quando tudo isso desaparece fica apenas uma cratera.
Perante este cenário dantesco a única opção é pedir a restituição, nas suas devidas condições, daquilo que entregámos em depósito. Queremos o nosso coração de volta. E não é que às vezes eles não no-lo entregam? Ou o entregam já defeituoso, cheio de buracos e carcomido?
Se o Pai Natal existisse o que eu fazia era pedir-lhe um coração novo. “Querido Pai Natal, podes por favor colocar no meu sapatinho, no próximo Natal, um coração novo para eu poder amar?” Só há dois problemas com esta minha solução. Primeiro, falta muito para o Natal, e até lá eu preciso de um coração que bombeei sangue para o meu 1,63 m de corpo. Depois, o Pai Natal não existe.

terça-feira, 15 de junho de 2010

O camaleão que há em mim


Às vezes queremos as coisas com uma força tal que parece que se a vida nos trocar as voltas e aquilo não acontecer do modo como tínhamos planeado na nossa cabecinha o mundo acaba ali mesmo. Reformulo: às vezes quero as coisas com uma força tal que parece que se a vida me trocar as voltas e aquilo não acontecer do modo como tinha planeado na minha cabecinha o mundo acaba ali mesmo.
De facto, esta reflexão surge no seguimento do post anterior: é precisamente aquela intensidade que dá ritmo à minha existência a dar causa aos Armagedons que volta e meia me dão cabo da (pouca) tranquilidade que tenho.
Isto vale para as grandes e pequenas coisas, para os grandes e pequenos desejos. Suponha-se - é um “suponhamos” - que começo a partilhar jantares com um cavalheiro e que a coisa até nem corre mal, a ponto de começarmos a ser vistos juntos em público e de chegarmos a trocar fluidos bocais. Pois nesta altura começo eu a criar cá dentro a expectativa de ser ele a minha meia laranja e fazer planos sobre o que pode suceder. Planos imensos, onde a páginas tantas já escolhi os nomes dos nossos filhos e o sitio onde vamos passar a lua-de-mel. Está bem de ver que, quando passado um mês começamos a discutir até sobre o sítio onde tomar café e a love story se torna uma I don’t care story, o meu castelo de cartas desmorona-se e eu, que já me empenhara naquilo como se o homem fosse o amor da minha vida, desmorono-me um bocadinho também. O que não é mau de todo porque, afinal, perder o apetite nunca fez mal a ninguém e dá sempre jeito perder um par de quilos.
Esta era a “pequena coisa” de que falava. Agora uma “grande coisa”: vamos ficcionar porque é de mera ficção que se trata – que compro um vestido lindo, daqueles que escondem o que há que esconder, levantam o que há que levantar e fazer nascer curvas onde elas não existem e deveriam existir. Porém, com um grande senão: aquela cor, aquele azul do pequeno debruado do vestido não existe em nenhum sapato da minha colecção centenária. Claro que sempre poderia usar um sapato amarelo que, afinal, é a cor do vestido. Mas… há alguém que use sapatos da mesma cor do vestido? Ainda para mais, em amarelo? Mais vale mascarar-me de Piu-Piu de forma descarada.
O mundo está prestes a acabar!!!!! O que é que vou fazer com um vestido que me engoliu o salário se não tenho nada para calçar?.... Pensa Vera, pensa… Felizmente aparece sempre aquela amiga solicita que acabou de ver umas sandaloscas exactamente daquele azul no shopping junto à casa dela, que fica apenas… a 10 ou 20 paragens de metro… mas que se lixe! Valores mais altos se levantam! E é assim que euzinha começa logo a fazer filmes sobre o fabulosa que vou ficar com o vestido e as sandálias. E começo a pensar numa bandolete, nos brincos, na sombra, na bracelete do relógio. Em boa verdade, construo toda uma série de indumentárias com base nos sapatos novos que vou ter, e de repente, naquele mundo que existe na minha cabeça, já eu era a feliz possuidora de um guarda-fato novinho em folha. É que depois vou precisar de uma mala para dar com os sapatos, e seria um desperdício ter uma carteira amarelinha sem uma camisa que fizesse pandant, e esta, por sua vez, que bem ficaria com uma saia denim bem escuro, e aí por diante. Enfim, faço as tais 10 ou 20 estações de metro, chego à Meca que iria mudar a minha vida e, vai-se a ver, os sapatos eram feios como um liftiing mal feito, costuras imperfeitas, um material que tresandava a plástico e um salto digno do calçado Guimarães. Que posso eu dizer? Não há nenhuma lei que imponha que as amigas solícitas e simpáticas tenham igualmente bom gosto.
Ora, que fazer quando aquilo que mais queríamos – um par de sapatos amarelos, o amor da nossas vidas, um emprego, a admiração de uma amiga, um bebé tãodesejado, um laptop, a cura de uma doença, o que seja – não acontece? Que fazer quando o mundo se desmorona assim à nossa volta? Damos uma cabeçada na parede, gritamos furiosamente (aconselho a faze-lo protegida pelo toque de uma vuvuzela) e depois continuamos as nossas vidas, conformando-nos com as circunstâncias e adaptando-nos a elas. Como um camaleão.
Darwin tinha a sua razão quando advogou a selecção natural da espécie. De facto, só sobrevive o mais forte. Na selva que é a vida em comunidade só sobrevivem mantendo a sanidade mental e permitindo-se laivos de felicidade aqueles que conseguem viver com as desilusões e com as expectativas goradas. Eu, pessoalmente, tenho muita dificuldade em lidar com as frustrações. Sendo uma control freak, e metendo muito de mim em tudo aquilo que quero, o resultado óbvio são decepções brutais, equivalentes àqueles saltos em que o pára-quedas não abre e o fulano se estatela no chão. Assim sou eu. Dia sim, dia não, caio de cabeça e apercebo-me que aquele momento de felicidade brutal que tinha vivido ao convencer-me (primeiro da possibilidade e depois da efectividade) da realização de um sonho, afinal, não passa disso mesmo: um sonho. Por isso sou camaleónica. E mudo de sonho todos os dias, como quem muda de cor.

domingo, 13 de junho de 2010

A síndrome da emoção excessiva


É bem patente que fisicamente não sigo o estereótipo da mulher latina. Sim, o tamanho do rabo está cá (para mal das minhas calorias) mas o resto situa-me algures entre uma emigrante da Europa do Leste e uma princesa russa caída em desgraça.
Mas cá dentro, ah, cá dentro sou do mais latino que há. You know what I mean. O sangue ferve-me nas veias de uma forma tal que poderia estrelar um ovo no antebraço.
É claro que me reporto a concepções estereotipadas do que são os povos do norte e do sul. Conheço por aí alguns hispânicos que são tão insonsos e “indoces” como a comida da minha avó, ao passo que o meu primeiro namoradinho, um polaco de quase 2 metros (sim, a certa altura da minha vida cheguei a acreditar que o meu apelido iria ser Jacinsky) parecia um latin stallion. Mas, de modo geral, os que estão abaixo da linha do Equador ou mesmo nós, que mais perto estamos dela, partilhamos alguns traços psicológicos que nos podem tornar apaixonantes… ou exasperantes. Por tudo é nós é, simplesmente, excessivo.
Acho que nunca na minha vida estive feliz. Nem triste. Porque aquilo que os outros chamam felicidade para mim torna-se o sentimento de suprema exultação, uma orgia cá dentro que me faz pensar estar acima dos comuns mortais, que se bastam com aquele estado de superficial alegria. Tristeza? Não. Uma demência que me arrasta para as profundezas mais recônditas da alma, lugares escuros e inóspitos, que me causam sintomas físicos profundos, como se tivesse sido assaltada por uma doença mortal: insónias, dores de estômago, vómitos. O sonho de qualquer mulher em regime de dieta porque nesse estado de sonambulismo emagreço mais depressa do que a Kate Moss.
Nem sequer acho que alguma vez na minha vida estive aborrecida com alguém. Tenho fúrias mortais em relação às pessoas, dignas do “Padrinho” de um filme de mafioso. Quando me magoam as minhas mágoas levam anos a sarar, deixando cicatrizes imensas, algumas duram até hoje. Em suma, nada é levado de ânimo leve.
Dito isto, é fácil antever como sou nas paixões. Arrebatadores, loucas, possessivas. Como se em cada relação revivesse Julieta pronta a morrer pelo seu Romeu.
Não é difícil concluir que as relações comigo são, no mínimo, atribuladas. Com os amigos, com todos aqueles de quem gosto, e especialmente, com aqueles de quem mais gosto. Não sou aventura para homens mais pacatos. Todas as minhas paixões foram atribuladas, cheias de discussões constantes para depois acabarem em lágrimas, pedidos de perdão, baba e ranho por tudo quanto é sítio, cenas melodramáticas. Ora, isto pode ser extenuante. Para mim, o amor é assim, mas como as pessoas normais têm percepções bem mais saudáveis do que é a vida em relação esbarro sempre na minha incapacidade para experimentar a serenidade de um amor tranquilo. Continuo à procura.
Nem sei ao certo o que mais me conviria a mim. Se alguém tão efusivo como eu, se alguém que, com a sua placitude, acalmasse a minha índole. Quanto estou com criaturas vulcânicas percebo perfeitamente que nos levaremos facilmente à loucura e que aquela paixão tem os dias contados, sob pena de tudo terminar num crime passional. Quando estou com homens tranquilos sinto a falta daquele ímpeto e parece que vou morrendo aos poucos de tédio.
Não sei viver de outra forma. Tenho-me esforçado por ser mais comedida, mais sensata, mais serena, mas não está no meu código genético. Se a vida de alguns dava um filme indiano, já a minha dava um romance do Dostoevsky.
Não me estou a vitimizar. Na verdade, nem sei se conseguiria a vida plácida e tranquila que o ser humano médio vive. De certa forma, a possibilidade de poder exponenciar as minhas emoções quase que tem alguma coisa de divino e me aproxima dos deuses. Lá no Olimpo não havia espaço para sentimentozinhos. É verdade que a minha tristeza é sempre uma angústia, e nunca sei se não me cai em cima uma dor tão profunda e lancinante que acabe de vez comigo e com este pobre coração já tão desgastado. Mas, por outro lado, quando estou feliz a minha felicidade é maior do que a vossa. E quando estou apaixonada sinto o amor como uma autêntica Dama das Camélias.
Viva. Sinto-me sempre viva porque, afinal, sinto tudo. Nunca posso dizer que a minha existência é monótona. Viver no abismo. In the edge. Puxar a corda sempre mais um pouco. A emoção é sempre um bocadinho mais intensa. Quase que diria que sou viciada nisto. A minha heroína são os sentimentos. E o temor de uma overdose emocional está sempre à espreita.
Será isto uma doença? Uma deficiência? Será que me permite ter uns dias de baixa por cada mês? Ser-me-á permitido descontar no IRS a minha incapacidade psicológica? Ou, melhor ainda, posso ter um autocolante com um o desenho de uma cadeira de rodas na alma que me permita estacionar nos lugares para deficientes no centro comercial?

quinta-feira, 10 de junho de 2010

ANDA CÁ AO PAPÁ


Os meus amigos e as minhas amigas já sabem que eu sou mais dada a ratos de biblioteca do que a ratos de ginásio. Penso que se vos disser que a minha paixão platónica é o Ricardo Araújo Pereira deixo bem evidente quais são as minhas preferências neste campo. De modo que as minhas idas ao ginásio nunca representam qualquer perigo de escorregar por esse precipício abrupto que são as paixões lascivas. Mais depressa resvalo eu numa livraria ou numa conferência do que entre flexões e abdominais. Não que não deixe por vezes o olhar vaguear por entre os six packs, mas é exactamente isso: um mero vaguear de olhar que nunca me fez desviar daquilo que para mim é realmente importante.
Ora vai que há um par de semanas atrás a minha instrutora habitual de spinning bike, cycling, BTT (depende do que o ginásio estiver disposto a pagar pela denominação do acto de pedalar furiosamente em cima de uma bicicleta fixa, ao ritmo da música estridente e dos gritos do instrutor, de olhos fixos num espelho gigante por onde se controla quem está na engonha) não estava na sala, e em vez dela, aparecem-me dois marmanjos. Lido tão mal com as mudanças de instrutor como sempre lidei com as mudanças de professor, e basta recuarem até aos meus tempos de liceu para encontrarem vítimas destas minhas aversões naturais a gente desconhecida que subitamente substituiu alguém a quem já me tinha apegado. Mas lá subi contrafeita para o selim, lançando-lhes o meu olhar “vamos lá a ver o que conseguem fazer os meninos”. E é assim que me vejo em cima da bike, cara a cara com dois leões marinhos, musculados e de roupa justa (quase tenho um vislumbre gay com esta imagem), que eu já conheci de vista de outras paragens pelo ginásio.
A meio da aula mudámos de instrutor, ou seja, um deles cedeu o microfone ao outro, e passou este outro a dirigir a banda. Ora, eu já tinha deitado os olhitos neste segundo “interveniente” quando ele passeava com a sweat de personal trainer por entre as máquinas de fazer músculo, e pensara de mim para mim que o tipo, não sendo o melhor pedaço de carne que por ali havia, tinha certamente o seu interesse. Não sei, detectava nele uma certa aura de intelectualóide. Até posso estar enganada e a criatura ser o maior bimbo à face da terra, mas sempre achei que tinha potencial para ser aquele tipo de nerds que me a mim me arrepiam. E ali, em plena aula, não pude deixar de reparar que enquanto o outro se agitava em cima da bicicleta, balançando os músculos para tudo quanto era lado, e gritando como se o mundo acabasse ali mesmo, este ficava bem fixo a pedalar, com tudo no sitio, sem grandes espectáculos de feira. Um ponto a favor. Nisto, vai o fulaninho, pega nas rédeas da aula. Sobe o rabiosque do selim, e com aquelas gotas de suor à anúncio de roupa interior, começa a dizer “Vá lá, vá lá, anda dá. Dá-lhe!”.
E pronto(s). Foi isto.
Eu a querer concentrar-me na perda de banhoca, e o tipo, com aspecto de modelo de Playgirl, a dizer-me para ir lá ter com ele. Andá cá???? Ai, ai que eu vou mesmo…
E enquanto eu pedalava como se não houvesse amanhã, prestes a ter uma sincope cardíaca, rosto afogueado, faces rosas como as moças rudes do campo, grossas gotas de suor a pingar-me pelo nariz e o cabelo molhado, colado à cabeça - em suma, euzinha no meu melhor de ver – vinha-me à ideia o célebre “Who’s daddy? Who’s your daddy?”
Escusado será dizer que nesse dia saí da bicicleta a custo, e passei o dia distraída, com pensamentos que não posso aqui relatar.
E isto custa-me a aceitar. A sério. Custa-me aceitar que a minha concentração fique minimamente beliscada por um tipo de leggings e blusa de alças, que provavelmente nem sabe quem é Nietzsche.
Ora bem, andei eu neste insano embevecimento um pelo par de semanas quando hoje, vindo do nada, a coisa me passou. Lá estava eu no meu localzinho habitual, logo na fila da frente (habitual desde que ele passou a chefiar a aula, que eu era menina de ficar lá para as traseiras da sala), começa ele com o seu show do costume e eu… nada. Nadinha de nada. O tipo continuava com o ar seu firme e hirto (…), o seu olhar penetrante, o tentador chamamento para irmos lá ter com ele, mas a mim já tudo isso me passava ao lado. É caso para dizer que a carne é fraca, mas a fraqueza passa quando o incentivo não vai além de um meio palmo de corpo.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A VIRGINDADE RELATIVA


Tenho trabalhado muito em direito farmacêutico e durante as inumeráveis noites em que privei de perto com patentes and so on descobri que, para patentear uma invenção é requisito essencial que a coisa seja “nova”. Não vos querendo maçar com o fabuloso mundo da propriedade industrial, sempre posso avançar que será “absolutamente nova” a invenção não conhecida em nenhuma parte do mundo, e relativamente nova aquela desconhecida no país onde pretende ser registada, ainda que conhecida noutros quadrantes geográficos. Pois bem, assentemos ideias: se uma invenção pode ser nova em várias acepções, então, porque não pode uma mulher ser virgem em várias acepções? Por exemplo, a senhora Y é relativamente virgem em relação ao senhor X, mas não é absolutamente virgem já que em boa verdade varreu metade da cidade. Mas, ainda assim, é virgem. Digo eu… E assim resolvo o assunto a uma série de gente que adoptou os comportamentos que bem entendeu mas agora é incapaz de os assumir perante os outros.
Estas divagações mais ou menos estapafúrdias assaltaram-me a cabeça num domingo sonolento, estando eu semi-estendida no Micra (eu sei… carro de gaja…. ) de uma amiga, a caminho da Figeuira. Dia de praia, conversa de meninas, línguas soltas, saí-se a Leninha com o relato televisivo da temporada. E assim fiquei a saber que, algures pelo mundo, existe uma “associação recreativa” (espero que não para defesa de interesses profissionais) chamada de “Clube das Virgens”. Assim mesmo. Já não é só o Sporting (só eu sei, porque não fico em casa!!!!!!!! lalalalalalalal), o Porto, o Estrela da Amadora. Agora as virgens têm um clube. Não jogam futebol, mas de certeza que têm tantos adeptos quanto o Manchester United.
E pronto (“prontos” também é lindo!). Prometo que esta foi a minha última nota de sarcasmo. Porque o assunto é sério. A virgindade é uma coisa séria. E cabe a cada um e a cada uma abrir mão dela (é que não gosto de a ideia de “perder a virgindade”… parece-me sempre que a deixei esquecida num banco de autocarro) quando bem entender. Conheço quem o tenha feito aos 29 e quem o tenha feito aos 12. E certamente haverá quem tenha sido ainda mais lento e ainda mais apressado. É matéria do foro íntimo de cada um. O momento temporal releva menos do que a pessoa que está do outro lado. É por essa que temos que esperar, não por uma idade ou uma situação da vida. E bem pode acontecer que, mesmo não sendo absolutamente virgens, no sintamos relativamente virgens dado o grau de entrega com que nos assumimos perante alguém que encontramos em momentos mais tardios da vida. Como se fosse aquela a primeira vez e nunca antes tivesse existido outro qualquer someone. “Like a virgin, touched by the very first time…” (é sabido que o meu grau de desafinação é proporcional à minha vontade imensa de cantar).
O que me surpreende é que haja quem faça bandeira da sua virgindade e caminhe pelo mundo apregoando-a. Será que existe também por aí um “Clube das Promíscuas”? E o “Clube dos que Gostam do Sexo Assim e Assado”? E o “Clube dos que Preferem Papel Higiénico Macio”? Não me surpreenderia. . . o associativismos é realmente uma coisa fabulosa.
Este é o blog: http://clubedasvirgens.blogspot.com/ Vale a pena dar uma olhada. Sem preconceitos. Afinal, se nenhum de nós tem vergonha de entrar numa sexshop e não nos rimos ao ver o que por lá anda (ou não anda), parece-me congruente entrar no site com respeito, e até alguma admiração por quem consegue dominar os impulsos da natureza durante tanto tempo.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O melhor que há em nós


As pessoas são como o Corte Inglês: têm coisas bonitas e coisas verdadeiramente pavorosas. Nós temos defeitos feios, daqueles que nos fazem corar e que gostaríamos de esconder debaixo do tapete das nossas vidas. E temos qualidades capazes de nos fazer ganhar o Óscar de melhor pessoa do mundo. Ambas estas dimensões - chamemos-lhe o lado lunar e o lado solar – vivem cá dentro, mais ou menos misturadas, à espera que algum ímpeto exterior desperte um ou outro. Esses ímpetos são, em regra, outras pessoas.
Explicando: há seres humanos que nos fazem sentir bem e, por isso mesmo, despertam o melhor que há em nós, tornando-nos todos os dias pessoas mais bonitas e fazendo-nos sentir que estamos a crescer e a aperfeiçoar-nos; depois, há outros seres humanos que, por razões conhecidas ou desconhecidas, acendem a chama do nosso descontentamento, e fazem vir ao de cima os nossos traços mais feios, assim como a nata do leite logo emerge à superfície mal ele é aquecido.
Mas também nós temos o poder de provocar nos outros semelhante efeito, de tal forma que alguns se tornam pessoas melhores na nossa companhia, expandido ao máximo o seu potencial, ao passo que de outros só conseguimos arrancar os mais desvirtuosos defeitos.
Agora vamos à forma como tudo isto se relaciona com a minha já célebre teoria das meias-laranjas (e que, ao que parece, nem sequer é minha, porque já há muitas luas atrás a Cabala tinha avanço uma explicação semelhante para o amor mundial, se bem que gosto de pensar que a trabalhei e aperfeiçoei ao ponto de poder fazer minha).
As meias laranjas hão-de ter o poder de despertar os lados mais deliciosos que uma e outra têm. Ele faz de mim a pessoa que eu quero ser, e eu faço dele a pessoa que ele quer ser. E como a pessoa que eu quero ser coincide com a pessoa que ele quer que eu seja, e como a pessoa que ele quer ser coincide com a pessoa que eu quero que ele seja, tudo isto se harmoniza como se fosse uma palette de sobras Chanel.
Quando nos apaixonamos pelas pessoas é claro que o fazemos pelas suas qualidades e pelos seus defeitos também. Ou melhor, apesar dos seus defeitos. São as suas partes boas que nos atraem. Claro que tudo depende daquilo que cada um considera como sendo “uma parte boa”. Para alguns será um belo par de mamas ou um vigoroso par de bíceps. Para outros um cartão de crédito dourado. Quero crer que para a maior parte de nós as partes boas dos outros são a inteligência, a coragem, o sentido de humor, os bons valores.
Já lá vai o tempo em que os meus pelinhos dos braços (só esses) se arrepiavam com o primeiro filho da puta que circulasse num raio de 10km. Já lá vai o tempo em que acreditava piamente que os bad boys eram a coisinha mais sexy que Deus tinha posto neste mundo para nos tentar. Hoje em dia o que eu acho sexy, mas assim sexy, mesmo sexy, é gente bem-formada. De valores coesos, bem sedimentados. Um tipo que não mente tira-me do sério. E porque são tão difíceis de encontrar é que eu passo muito tempo séria nesta vida…
Que havemos de pensar então quando conhecemos uma pessoa assim, a bigger person so to say, que se torna a smaller person ao longo da nossa convivência? Alguém de elevado estatuto moral, com uma personalidade digna de nos fazer desejar ser como ele, alguém que admiramos e que tomamos como modelos de conduta, até ao dia em que nos apercebemos que afinal o príncipe se transformou em sapo.
Confrontados com este desfecho, só há duas conclusões possíveis. Uma é que essa pessoa nos enganou desde o primeiro momento, e que vivemos iludidos com a imagem de alguém que não existia senão nas nossas expectativas. E se fomos tão estúpidos a ponto de nos deixar burlar assim, durante meses a fio, ou mesmo anos a novelo (ou seja, uma imensidão de fios), então, merecemos mesmo aquela pessoazinha que temos ao lado, porque não pode haver clemência para os idiotas, e parece-me de suprema justiça que se contentem com as escolhas que a sua estupidez fez. Outra hipótese é que, pura e simplesmente, tivemos o (des)dom de acordar todas as coisas más e medonhas que o outro tinha dentro dele. Ou seja, em vez de o tornarmos uma pessoa melhor, tornamo-lo uma pessoa pior. Pela nossa mera presença. E o mais trágico neste drama é que se o tivéssemos deixado seguir o seu caminho com outro alguém, ou sozinho que fosse, hoje ele continuaria a ser… o que era antes de nós. Se alguma coisa podemos ainda fazer por ele é partir, e permitir-lhe voltar a ser aquele ser humano brilhante e especial que uma noite ao jantar nos roubou o coração.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Gotta find me an angel



Eu não devia acreditar em anjos. Não sou católica, não vou à missa, não rezo o terço (mas sei umas coisas da Bíblia).
Eu não devia acreditar em anjos. Mas acredito. Acredito no Pai Natal, em duendes, em nuvens de algodão doce, em bruxas más e em anjos.
Acredito porque tenho que acreditar. Porque senão já me tinha atirado deste 9.º andar abaixo. Porque senão nem me levantada da cama de manhã. Porque senão desistia e fechava os olhos.
Nunca acreditaram com todas as vossas forças que ia aparecer um ano para vos salvar da merda em que se tornou a vossa vida? Nunca souberam – com aquele grau de certeza que só os loucos e os ingénuos conseguem atingir – que iam chocar com um par de assas a qualquer momento?
Eu sei que o vou encontrar. No elevador, no táxi, no ginásio (espero que não no balneário porque não quero que o anjo veja as minhas misérias carnais), no metro, eu sei lá, até pode ser debaixo da minha cama, atafulhado entre sapatos e caixas de camisolas.
E quando ele me encontrar, ou eu o encontrar a ele (aqui tudo depende do grau de orientação do meu assudo) vai-me dizer que está tudo bem, que isto vai passar, mesmo que agora pareça o fim do mundo. E vai-me fazer festinhas na cabeça todas as noites para eu adormecer. E até se pode deixar um bocadinho ao pé de mim para afugentar os terrores nocturnos. E vai-me carregar ao colo enquanto o mundo se abate sobre a minha cabeça. E vai-me mostrar que sou mais forte do que penso. E vai-me fazer crer que sou imbatível. E vai-me pôr um curativo no coração e fazer um bypass à minha alma. E vai-me encher os pensamentos de caramelos e coisas boas. E vai-me garantir que amanhã o dia vai ser menos cinzento.
Depois de bater lá no fundo só se pode subir. E vai ficar tudo bem. O anjo vai-se certificar disso.
Gotta find me an angel, To fly away with me . Gotta find me an angel who set me free. My heart is without a home, I don't want to be alone. Gotta find me an angel in my life.
Too long have I loved so unattached within, so much that I learn That I need somebody so still I'll just go on hoping that I'll find someone. I know there must be someone, someone for me, I've lived too long without the love of someone and there's no misery, ike the misery I feel in me. Gotta find me an angel in my life. He'll be there, now don't you worry. Keep looking now just keep looking